sábado, 30 de março de 2024

ESPECIAL - 1964/2024 - NÚMERO 08


                Sede da União Nacional dos Estudantes em chamas após 1964

A voz que soa de 1964

Isabella Souza da Silva


A proximidade da data do final do mês de março traz a rememoração dos fatídicos vinte e um anos do que se iniciou com discursos nacionalistas e ferozes contra o comunismo, e logo após adentrou-se aos eventos de repressão política e, do que anteriormente já foi arquitetado em ditaduras de inúmeros países latino-americano, o desmonte da democracia.

O ano sexagenário que se completará neste final do mês do golpe militar de 1964 é oportuno e de suma importância abordar novamente sobre as lacunas que esse momento emblemático enraizou no país, vigente aos velhos e novos personagens e capítulos que os quatro anos anteriores da gestão de Jair Bolsonaro transparecem no atual governo de Frente Democrático. Seu saudosismo á ditadura e seu governo militarizado foi o reflexo perigoso dessas correntes e da distante plenitude de vivermos numa democracia saudável.

Consideramos pertinente usar de um dos textos fundamentais do sociólogo Luiz Werneck Vianna, "1964". O texto onde ele nos oferece uma visão abrangente dos aspectos anteriores do deporte de João Goulart até a tomada do Estado pelos militares. Nesta dissertação, Werneck faz um apontamento acerca do período do golpe militar ser a continuação do Estado Novo de Getúlio Vargas. Embora suas semelhanças sejam pelo totalitarismo institucionalizado nos dois fatos, a certas divergências nos dois regimes. Werneck prossegue com a ideia sobre a Era Varguista ter seguido um percurso de estilo de modernização europeia e Durkheimiano, ter levado em consideração a economia, política e organização social, evitando o isolacionismo dessas esferas a qual foi conquistado pela introdução da fórmula política do cooperativismo. Neste mesmo parágrafo, Luiz Werneck faz a comparação entre Oliveria Viana e o Getúlio Vargas, que partilharam de concepções organicistas e comunitárias da ordem nacional e se mantendo obstruídos em relação ao individualismo e o mundo livre de interesses.


Luiz Werneck Vianna em campanha para Deputado constituinte (1986)

Entretanto, 1964 foi de teor americanizado e os recursos da política cooperativista era meramente instrumental, assim como se alinhou em sua base teórica da modernização social Americana. Seguindo um panorama diferente do que se antecedeu em 1937. Pois até então, a assimetria da economia, política e organização social de 1964 estavam divididas, onde a economia disparava sucessivamente e as duas últimas áreas políticas estavam paralisadas pelo autoritarismo.

Luiz Werneck finaliza o texto enfatizando que embora o golpe militar tenha ficado no passado, ainda enfrentamos problemas de construção da ordem. Uma indagação certeira diante do atentado antidemocrático a Praça dos Três Poderes em oito de janeiro de 2022, um ocorrido sucessivo a uma derrota eleitoral e que reforça as maléficas consequências do convênio entre o Estado e setores das FFAA.

Com o auxílio do texto de Werneck Vianna pudemos analisar os efeitos colaterais persistentes no núcleo da política e sociedade atual referente a modernização conservadora inserida há seis décadas atrás no nosso contexto de Revolução Passiva. Contudo, a constituinte de 1988 foi recebida com entusiasmo pelos segmentos da sociedade brasileira por ser a consequência de longa resistência da mobilização popular. De certo que ainda há muitos impasses a serem ultrapassados até o alcance de uma ordem mais justa, visto que o país possui um longo histórico de abalos democráticos e o reflexo do regime militar ainda seja visível. No entanto, a união da camada popular deve ser contínua, a fim de guiar o país em direção a um futuro com a democracia socialmente consciente pelos caminhos da cidadania.


4 comentários:

Anônimo disse...

EXCELENTE TEXTO. QUE VENHAM OUTROS! PARABÉNS PARA A AUTORA.

Anônimo disse...

Caraca muito bom espero que você ganhe reconhecimento

Anônimo disse...

Parabéns, Isa! Você arrasou! Cada dia sua escrita fica mais impactante.

Marília Pacheco disse...

Quando relembro os tempos da maldita ditadura, tenho arrepios.
Vivi esse tempo de horrores. Todos desconfiavam de todos, com medo de falar algo e ser denunciado...