domingo, 23 de dezembro de 2012

ELEIÇÕES EM ISRAEL

Foto: Parlamento em Israel

Israel: o fanatismo de coalizão

Por Vagner Gomes de Souza

Em janeiro do próximo ano haverá eleições antecipadas ao Parlamento de Israel que escolherá mais um mandato de Primeiro-Ministro. A possível reeleição de Benjamin Netanyahu sugere novos caminhos da mobilização do tema da religião ao cenário da política eleitoral. Portanto, apesar de distante geograficamente, as eleições legislativas em Israel poderá ser acompanhada como uma chave interpretativa sobre as ações políticas em sociedades influenciadas pela americanização como sugerimos no caso do Brasil (o leitor poderia ainda imaginar no “laboratório da micropolítica” da Zona Oeste carioca).
As eleições legislativas de Israel são fragmentárias. Por exemplo, após o êxito eleitoral do Labour Party em 1992 que obteve 34,7% dos votos, nenhum grupo partidário ultrapassou a marca dos 30% dos votos nas eleições posteriores (1996, 1999, 2003, 2006, 2009). Observamos um gradual “esvaziamento da base eleitoral” do Labour Party que não significou num consequente crescimento da esquerda. Pelo contrário, os votos do Labour Party e do conservador LIKUD se fragmentaram em diversas organizações políticas de vocação religiosa extremista enquanto surgiu uma “terceira via” política representada pelo “centrista” KADIMA.
Nas eleições de 2009, o Labour Party e o KADIMA cederam “espaço político” em relação as eleições de 2006 a medida que o Likud e Yisrael Beiteinu ganharam força. Identificamos no “movimento neo-sionista” do Yisrael Neitenu uma “nova direita” que emergiu em Israel com base na imigração de judeus originários do pós-fim União Soviética sob a liderança de Avigdor Lieberman. Nesse momento o Likud reassume o Governo de Israel com essa aliança mais à direita mas, sejamos claros, defensora de um reconhecimento do Estado da Palestina desde que profundamente enfraquecido em comparação até ao Tratado de Oslo.
Outras organizações políticas se somaram a coalizão de “centro-direita” com vocação fundamentalista religiosa além da participação de uma dissidência do decadente Labour Party. Essa dissidência se autodenominou “centrista” com o nome de Independent Party sob a liderança de Ehud Barak. As alianças assumiram um cálculo cada vez mais pragmático com diversas organizações seculares difundindo seu “fanatismo” centrista, mas se aliando aos “fundamentalismo” judaico, o que impede em muito a reorganização de uma força política de “centro esquerda” ter viabilidade eleitoral. Nas próximas eleições o pragmatismo do LIKUD vive o “dilema do prisioneiro” das propostas fundamentalistas e, consequentemente, ganha as eleições sem se impor politicamente. Os novos sujeitos sociais provavelmente estariam se impondo nessa reconfiguração da política israelense sob influência do “fundamentalismo religioso”.
Algo sugestivo se compararmos com algumas disputas eleitorais no Estado do Rio de Janeiro (vejam a “virada eleitoral” do PR no Segundo Turno em São Gonçalo nas eleições de 2012 com apelos ao neopetencostalismo e as campanhas proporcionais na Zona Oeste carioca). Não é estranho observarmos eleitores nessas regiões que falam sobre o povo de Israel como o “povo escolhido” segundo o Velho Testamento a viver numa Terra Prometida que fazem a mesma ponte com “Nova Sepetiba” ou as novas habitações do Programa Minha Casa Minha Vida. Tema que mereceria um estudo empírico aos “mapeadores eleitorais” da Ciência Política.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

ELEIÇÕES MUNICIPAIS - UM BREVE BALANÇO


ENTREVISTA: A Juventude Popular Socialista no Segundo Turno do Rio de Janeiro

Os cariocas não voltam as urnas no próximo dia 28 de outubro, porém setemunicípios terão segundo turno e chamam atenção quanto a uma prévia do que será a disputa eleitoral de 2014. PMDB, PT e PR, leia-se “grupo de Cabral”, Lindbergh Farias e Garotinho despontam como possíveis protagonistas do cenário eleitoral estadual. Em comum, são três forças políticas vinculadas a Base de Apoio ao Governo Federal diante de um modelo que alguns politicólogos chamam de “presidencialismo de coalizão”.
Diante da importância das novas gerações na política fluminense, o VOTO POSITIVO fez uma breve entrevista com o responsável pela Coordenação Metropolitana I da Juventude Popular Socialista do Estado do Rio de Janeiro - John Lennon (JPS Rio) que falou sobre os caminhos dos simpatizantes da JPS no segundo turno de alguns desses municípios.

VOTO POSITIVO – A JPS do Estado do Rio de Janeiro fez alguma avaliação sobre as eleições municipais desse ano?
John Lennon – Nesse momento estamos aguardando a realização do Segundo Turno. A Executiva Estadual do PPS que fará uma reunião na próxima quarta-feira (18-10). As repostas que posso lhe adiantar fazem parte de minha opinião pessoal que pretendo que seja debatida numa reunião da Executiva Estadual da JPS-RJ.

VOTO POSITIVO – A capital não terá segundo turno. Acabou o ano político para a JPS-RJ?
John Lennon – Não. O segundo turno em Niterói terá possibilidades de polarizar as forças governistas e oposicionistas. Duas candidaturas de políticos da nova geração foram para o segundo turno, Rodrigo Neves (PT) e Felipe Peixoto (PDT). A diferença está na postura mais agressiva da nossa aliança com o PDT ao trazer o tema do “mensalão” para o Segundo Turno. Indiretamente, essa “nacionalização” das eleições municipais de Niterói poderão acirrar os ânimos do desenho político estadual. A “marca” do Mensalão em Rodrigo Neves é um divisor de águas na campanha de Felipe Peixoto.

VOTO POSITIVO – Você acha que a presença do PDT na “base governista” vai ser questionada pelo PT-RJ por causa desse embate?
John Lennon – Não. Isso é muito cedo para afirmar, mas devemos sempre atuar para criar “brechas” nessa GRANDE COALIZAÇÃO nacional cujo eixo é PT-PMDB. Após as eleições, já vimos referências a possível substituição de Michel Temer pelo atual Governador do Rio de Janeiro na Chapa Governista em 2014. Uma vez que o Rio de Janeiro é o “quintal político” do lulismo. A desestruturação dessas visões localistas ocorrem com o mensalão no segundo turno de Niterói.

domingo, 30 de setembro de 2012

COLEGAS - FILME (CRÍTICA)


Colegas: A americanização do cinema nacional à moda italiana
Por Vagner Gomes

O filme Colegas poderia ser um simples “Road Movie” se os protagonistas não fossem três amigos com Síndrome de Down. O filme colegas poderia ser um simples filme sentimental se não fosse humor. O filme colegas poderia ser uma sátira ao filme Thelma e Louise (Ridley Scott, 1991) se não fosse um belo filme para repensar sobre o preconceito em relação aos portadores de Down. Afinal, é um filme para dar gargalhadas sem qualquer situação piegas.
Sua justa exibição no Festival do Rio nesse ano é uma oportunidade para pensarmos numa nova geração de Cineastas que “beberam” as referências do cinema americano, porém abordam temas dramáticos fazendo um recurso ao Humor. O Diretor Marcelo Galvão estudou na New York Film Academy e foi premiado já em sua primeira longa Quarta B. Em Colegas (Premiado no Festival de Gramado desse ano) vivemos aqui uma mixagem entre os estilos americanizados de cinema e o roteiro/linguagem do cinema italiano.
Há um espectro de Ettore Scola com seus famosos “triângulos” entre amigos. Ao meio dos “triângulos”, vivemos uma comédia que é dramática, pois, para além do preconceito aos portadores de Down, testemunhamos o perfil da segurança pública em passado recente de nossa História (“Doutora, nós trabalhamos para desaparecer com pessoas. Não para encontrar desaparecidos”); o “filhinho de papai” que ascende no serviço público por ser filho de Deputado; as raízes hobbesianas do medo presentes na sociedade e o papel da mídia em propagar “novelas da vida real” onde a perseguição aos supostos delinquentes assume semelhanças a histeria americana a procura de possíveis terroristas islâmicos.
A televisão é o personagem de abertura do filme. Uma TV Preto&Branco de seletor (para os meus jovens leitores, um botão em círculo que fazia as trocas de canais sem o uso do controle remoto) e provavelmente à válvula transmitem logo que trata-se de tempos remotos o lugar da ação. Contudo, as primeiras imagens anteriores ao recurso do narrador fazem lembrar os filmes de Quentin Tarantino. Seria um PULP FICTION sem citações bíblicas. Assim, roteiro e elenco desempenham muito bem o papel para segurar a atenção do público e alimentando momentos de reflexão a cada intervalo entre as risadas.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

CARTA ABERTA PARA A DEPUTADA LUÍZA ERUNDINA (PSB-SP)


Carta Aberta a Deputada Luíza Erundina (PSB-SP)
Por Vagner Gomes de Souza


Foram nas eleições de 1988 que você teve seu nome consagrado na eleição municipal em São Paulo. O social, que movimentava o seu partido de então, era muito mais forte na negação do “centro político” em tempos de transição. Era predominante a caracterização da Transição Democrática como uma continuidade do conservadorismo na política brasileira. Sua vitória nas urnas – diga-se de passagem, que ainda não havia a exigência da maioria dos votos válidos – criou uma sensação de outra via para “derrotar o malufismo”.
O tempo demonstrou que a esquerda democrática ainda não tinha ganhado plenamente forças na maior cidade do Brasil. Negar o centro político reforçou uma polarização que permitiu a emergência da gestão Maluf-Pitta em dois mandatos sucessivos. A tecnocratização da política chegou ao limite na eleição de um “ilustre desconhecido” sob as mãos ungidas de um líder de popularidade dos anos 90. Tenhamos coragem em assumir que o “malufismo” nunca saiu do cenário político paulista. Ele se transformou gradualmente e foi sendo assimilado pelas forças liberais tanto no campo do PSDB-DEM-PSD (atualizemos as siglas) quanto no viés centralizado da Direção Partidária do PT.
Nessa década de “yuppismo” na política brasileira, sua postura refundacionista de fazer parte do Governo Itamar Franco não foi compreendida pela “cúpula do petismo”. Expulsão! Apontada como “direitista” ou “pragmática”. Enfim, todos os qualificativos da velha “cultura petista”. Entretanto, a luta política eleitoral em São Paulo se dirigiu para novas matrizes. Na polarização PT X PSDB que fez avançar nas conquistas da cidadania e no desenvolvimento da Capital. Há uma política de governo que ambas as agremiações deram continuidade apesar das suas desavenças eleitorais. São Paulo é um “caso atípico” na política brasileira, pois “tucano” já apoiou “pefelista” contra “tucano” e o petismo já “namorou” com o Kassab.
Agora, aproximamos do tempo de definições onde os sinais políticos podem se esclarecer. Não se deve tolerar os elementos reacionários presentes no modelo capitalista defendido pelo “malufismo” que a semanas atrás defendia a “política de confronto policial” da ROTA (lembra-se!?!) para reduzir a criminalidade. Os valores reacionários dessa envergadura descredenciam qualquer aliança que nasce sem princípios programáticos. Na data de hoje (19 de junho) as fotos do encontro do Ex-presidente Lula e do Pré-Candidato do PT a Prefeitura de São Paulo estão “circulando” nas redes sociais com diversas manifestações de assombro das mais diversas figuras do campo democrático. Por isso, tomei essa iniciativa de lhe escrever essa CARTA ABERTA para que reflita sobre qual o “peso político” de uma indicação a candidatura a Vice-prefeitura nessas condições. Sua biografia não precisa dessa mácula para que outros se beneficiem por interesses cada dia mais personalista. O “lulismo” é uma realidade que está se metamorfoseando com o “malufismo” que é a política putrefata das elites paulistas. Portanto, Erundina vete o “malufismo”.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

GREVE DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS

Estudantes aprovam Greve Estudantil na UFRJ

Para uma Perspectiva Democrática na Greve das Universidades
Por Vagner Gomes de Souza
Filiado ao SEPE-RJ faz parte da CHAPA 3 – EDUCAÇÃO (as opiniões expressas nesse artigo são individuais)
A Greve nas Instituições de Ensino Superior se estenderam por todo país no mês de maio com poucas notícias na imprensa que continua “fiel” a tentativa de reedição de um “novo” Presidencialismo de Coalizão com o Governo Dilma. No entanto, Dilma não apresenta um trânsito no sindicalismo em geral e muito menos entre o setor público. A atual onda grevista nas Universidades Federais desmonta a “propaganda governista” de mundo perfeito no ensino público superior, o que demonstra o quanto o Ex-Ministro de Educação (Pré-candidato a Prefeito de São Paulo) foi apenas uma “sombra” diante dos índices de popularidade do “lulismo”. Não houve nada que além de novos cursos nas Universidade abertos com Professores Substitutos e sem muita estrutura para garantir ensino, pesquisa e extensão. A Greve expõe uma verdade de unidades universitárias sem recursos diante de uma sociedade plural que ampliou seu acesso a mesma.
Imensos contingentes de estudantes universitários ganharam acesso as Universidades Públicas. Isso é inquestionável, porém elas apresentam uma qualidade muito inferior ao que apresentavam há duas décadas. As Universidades foram abertas como uma resposta de igualitarismo social sem uma valorização da dimensão do processo republicano. Agora, os novos sujeitos juvenis que chegaram até elas se deparam com a ameaça de um Ensino Médio de Terceiro Grau se não houver maior atenção para investimentos nos Laboratórios Universitários, nos Hospitais Universitários, na modernização e informatização das Bibliotecas Universitárias, etc. A Universidade Pública gradualmente se transforma em mais anos de estudo de um mesmo ensino deficiente se não houver imediata reação das forças progressistas. Diga-se de passagem, o discurso ufanista do Governo Federal com gastos empenhados nas Bolsas de Alunos no PROUNI que “salva” algumas Universidades Particulares da falência sem uma atenção para a ampliação dos gastos nas Públicas. Trata-se de um dos efeitos da opção pela atenção do social colocando a Universidade como “Fábrica do Debate Plural” em segundo plano, pois nela estaria possíveis vertentes mais dinâmicas da construção de nossa democracia.
Momentos de Greve que questionam essa opção pelo social sem vínculos com o fortalecimento da aproximação da sociedade com a Universidade pelo caminho da democracia. Paradoxalmente a Greve está sob o comando de setores docentes que desprezam a democracia como terreno dos sujeitos e alimentam dogmas já superados pela sociedade que ingressa na Universidade. As paralisações ocorrem parcialmente nas unidades Universitárias diante da diversificação da Carreira Docente (Efetivos e Substitutos/Contratados) e da capacidade de cooptação das direções Universitárias ocupada por ex-dirigentes do sindicalismo docente. Enfrentar essa nova realidade com a velha receita do “grevismo prolongado” não contribuirá para as novas perspectivas de democracia nas Universidades Brasileiras. A cultura da pressão democrática deve combinar a Greve como uma das alternativas a mobilização uma vez que as longas greves do passado foram numa outra conjuntura sobre a oferta de emprego para o jovem. Assim, a juventude universitária não pode ser “elo de transmissão” de slogans do passado. Esse é o momento de levar a juventude universitária um discurso mais coerente com sua formação pluralista que só se resolve através de maior exercício da democracia. Lindas são as fotos da volta das assembleias estudantis lotadas. Mais belos serão os momentos em que o “assembleísmo estudantil” seja ampliado por plesbicitos em cada curso para deliberar temas como Greves Estudantis ou no momento em que a União Nacional dos Estudantes (UNE) seja finalmente declarada como superada politicamente diante dos novos tempos permitindo o pluralismo de novas organizações estudantis e/ou juvenis nas Universidades.

sábado, 5 de maio de 2012

ESTADO LAICO EM DEBATE


O Pastor, os Gays e o Juiz
Por Jessica Ladislau

Curiosamente, passando os canais, me deparei na manhã de hoje com o “raivoso” do Silas Malafaia se gloriando das conquistas em seus projetos e DEBOCHANDO da sentença do juiz federal da 24ª Vara Cível de SP.
Para quem não sabe, na Parada Gay de São Paulo foram colocadas imagens de santos católicos em posições homoafetivas, como uma infeliz forma de protesto. Obvio que esse Senhor iria se manifestar no “programinha” dele, e não fez por menos, usou todas as expressões que ele bem entendeu.
Posteriormente, os homossexuais entraram com uma a ação judicial contra o Malafaia e as coisas que ele disse na Bandeirantes. Acabou que por fim, o Juiz decidiu que as expressões “baixar o porrete” e “entrar de pau” NÃO são preconceituosas! E não satisfeito, redigiu uma sentença dando um puxão de orelha nos homossexuais, passando a mão na cabeça do “pobrezinho” do Pastor Silas Malafaia, pois é perseguido injustamente pela minoria, que dó né? Lamentavelmente, o programa de Silas Malafaia vem a público na semana em que um “extremista” Pastor norte-americano queimou um exemplar do Alcorão em exibição pela Internet. Tempos de crescimento eleitoral da extrema-direita europeia não são apropriados a isso.
Nós questionamos, os homossexuais agiram certo em usar imagens católicas como os santos gays? O Pastor Malafaia agiu certo em atacar dessa forma? O juiz agiu certo na sentença?
Em nossa opinião, todos agiram de forma equivocada, porque essa polarização entre direitos civis e religião já está passando dos limites. Os direitos estão expressos na Constituição de 1988 e é isso que tem que ser levado em consideração em nosso Estado Laico. Não o que está na Bíblia ou na postura “extremista” desse Pastor Silas Malafaia ou outros!
Por isso questiono a “Parada Gay” como forma de manifestação política. Trata-se de uma pedra no caminho dos homossexuais que lutam por direitos iguais! Ninguém vai pra Parada protestar. A maioria vai para beber e “pegar geral”! Dando espaço para os preconceituosos e conservadores nos chamarem de promíscuos e tudo mais.
Enfim, mais uma infeliz briga judicial. O Pastor Silas saiu como o certo, para quem tem “mente pequena” isso poderá servir de impulso pra agredir os homossexuais como ocorrem em muitas grandes cidades por incentivo de grupos neonazistas. Os homossexuais saíram como os ridículos: sem força para falar. E esse Juiz ,na nossa opinião, não agiu com impessoalidade!
Dia 15 vai vir mais uma luta pela aprovação da PL 122, esperamos que esse episódio não interfira no resultado. Chega dessa postura medieval! Já passou dos limites! Religião e ciência nem sempre caminham unidas como nos tempos do anúncio de que a Terra era redonda. Religião e Direito NUNCA vão andar ao lado em Estados Laicos!
O que importa, é que o Direito de um termina onde começa o do outro!

Em 05 de maio de 2012.

domingo, 15 de abril de 2012

BRASÍLIA 18%


Brasília 18% - Uma lição sobre o “conformismo”
Dedicado ao amigo Pablo Spinelli
De Vagner Gomes de Souza
A história das CPIs sobre investigações acumulam muitas fontes e interpretações nas duas últimas décadas. Por exemplo, um estudo elaborado pelo professor Wellington Oliveira indica o quanto elas produzem gastos e relativos ganhos políticos para a sociedade. A pesquisa analisou 29 comissões criadas na Câmara entre 1999 e 2007 e percebeu que foram gastos 6 bilhões de reais e 67 projetos de lei foram elaborados a partir de seus relatórios, porém nenhum foram aprovados. Da CPI de PC Farias até a provável CPI do Cachoeira uma frase sempre foi citada na imprensa que é atribuída ao Deputado Federal Ulisses Guimarães – ícone da luta pela redemocratização – “Uma CPI sabemos como começa e jamais sabemos como se termina.”
O filme Brasília 18 % (2006) é um possível convite para a interpretação desse fenômeno onde os fatos determinam as ações dos atores políticos em processo de revolução passiva. A ascensão do Governo Itamar Franco abriu caminho para a ampliação da pauta da Igualdade na Campanha de Combate a Fome de Betinho que fazia um convite a participação da sociedade organizada. Ao longo dos anos a luta pela Igualdade foi ganhando dados sociais positivos, mas a solução passou a ser gradualmente uma função estatal nas Bolsas Sociais do Governo. A igualdade social gradualmente foi assimilada como ampliação da capacidade de consumo. Enquanto isso, a ampliação da participação organizada da sociedade foi ficando “desnutrida”.
O personagem Martins Fontes sentencia no filme de Nelson Pereira dos Santos: “Se CPI funcionasse no Brasil, metade dos políticos do Congresso estaria na cadeia”. Uma frase que faz parte de um senso comum do brasileiro médio que ingressou na “fictícia” Nova Classe Média nos últimos anos. Portanto, cada escândalo político é observado como um evento natural da história da corrupção política sem que surjam grandes manifestações. Os “caras pintadas” foram a última onda das manifestações populares do Movimento das Diretas Já. Aos poucos, todos os segmentos da sociedade se identificariam no Governo numa ampla coalizão que vai de grandes burgueses até sindicalistas e movimentos sociais do campo.
O personagem Olavo Bilac num grande silêncio ao longo do filme Brasília 18% recorda o Fabiano de Vidas Secas de Graciliano Ramos. A narrativa dos fatos estão nos relatos dos outros personagens como se o humano fosse a própria neutralidade da ciência. Ciência como vocação e política como vocação é uma inspiração weberiana para esse intrigante Olavo que se encontra numa trama que se assemelha a “jaula de ferro” descrita por Max Weber. As poucas falas no personagem do filme é uma possível referência aos poucos momentos em que a sociedade expõe suas opiniões pelo voto como se fosse assinar um laudo atestando que a democracia não está morta. O roteiro do filme é essa possibilidade de se fazer uma sociologia política sobre a ausência da pressão popular pelo fim da corrupção, o que faz diversos Projetos de Lei ficar estacionados nas gavetas do Congresso Nacional. Além disso, um Governo que é avaliado negativamente em suas ações (segurança, impostos, saúde e educação) garante índices de popularidade confortáveis a Presidenta, pois essa assumiria o símbolo do “super-homem” de Nietzsche como “faxineira” política.
Não há contradição numa expressão de conformismo quando os atores políticos renunciaram levar a pauta dos problemas concretos para o debate. O Poder Legislativo teme ser o espaço do debate político de valores ou programas polêmicos, pois considera que terá prejuízos ou eleitorais (descriminalização do uso das drogas, aborto, união civil de pessoas do mesmo sexo, a homofobia, etc.) ou de apoio no financiamento da campanha (luta pela redução dos juros ao consumidor que atinge aos bancos). Os parlamentares aparentemente comungam de uma prática do desencantamento pela política mesmo estando na instituição que deveria ser o mundo da grande política.
O discurso final do fictício cineasta Augusto dos Anjos que faz uma paródia com os versos de Canção do Exílio expõe o quanto que o caminho democrático está sob uma pressão de exílio interno. Muitos setores de opinião estão exilados nas Universidades deixando a sociedade aprofundando sua característica de conformismo. Aos poucos, a democracia eleitoral rotinizada será apresentada como alto custo para a sociedade onde o STF assume um relevante papel para a defesa do Estado de Direito e a “mãe do PAC” assume uma postura racionalizadora da política com uma tecnocracia em gestação. A democracia política pode estar próxima a realizar sua canção de exilada nessa sociedade do conformismo estruturada num “fascismo de mercado”. Por isso, os exilados da opinião necessitam voltar a ação nas próximas eleições municipais.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

ELEIÇÕES NOS EUA


As prévias republicanas das eleições norte-americanas:
O que está acontecendo agora?

Ricardo José de Azevedo Marinho[1]

A última vitória de Mitt Romney deu a ele três das quatro principais regiões do país: Nordeste (New Hampshire), o Oeste (Nevada) e o Sul (Florida).
É verdade que Romney perdeu num estado do Sul, a Carolina do Sul, que é sem dúvida o mais representativo da região de Flórida. Mas relativamente poucos estados do Sul são competitivos na eleição geral. Flórida, onde Romney já ganhou, e Virgínia, onde ele e Ron Paul são os únicos candidatos na cédula e onde a demografia abastada o favorece, são as duas exceções mais importantes.
Entretanto, Romney só perde a nomeação republicana, se perder numa região que precisa vencer: o Centro-Oeste. Mas, por que isso é decisivo?
Um bloco contíguo de oito estados contendo 95 votos no Colégio Eleitoral - Indiana, Iowa, Michigan, Missouri, Minnesota, Ohio, Pensilvânia e Wisconsin - determinou os vencedores e perdedores na maioria das eleições presidenciais. Quando pelo menos seis ou sete desses estados são adicionados às bases estaduais de um candidato presidencial isso representa certa garantia de vitória. Exemplo: Barack Obama venceu em sete deles em 2008. Por outro lado, quando eles estão quase igualmente divididos, tal como em 2000 e 2004, em face de outros estados decisivos como Nevada (onde, por exemplo, Romney perdeu entre os eleitores trabalhadores que ganham menos de US$ 30.000 por ano - algo próximo de R$ 52.000 por ano / R$ 4.305 por mês), New Hampshire ou Florida - eles tendem a fazer muita diferença.
Romney perdeu em Iowa, ainda que por uma margem pequena. Ele terá mais duas oportunidades para ganhar num estado do centro-oeste.
Mas, imaginemos que Romney perca em qualquer dos outros estados. Isso faria dele um zero para uma região eleitoralmente decisiva para a nação.
Vejamos Michigan, onde Romney nasceu e que vão votar em 28 de fevereiro, seria, em teoria, uma aposta mais segura para ele. Contudo, o estado tem uma população da classe trabalhadora grande, e Romney, por vezes, foi infeliz nas declarações para esse eleitorado.
Outra repercussão dessa derrota é que tal acontecimento poderia reavivar a campanha republicana, ainda que isso não significasse nada em termos gerais para eles.
Uma vez que posições mais conservadoras dos republicanos sobre questões sociais não irão torná-los mais palatáveis a certos tipos de eleitores independentes. Estados que são moderadamente liberais em matéria de política social, como Virginia, New Hampshire, Nevada e Colorado, poderá ser mais difícil para os republicanos ganhar alguma coisa se o discurso republicano for rumo a um conservadorismo atroz.
Contudo, essas preocupações podem ser superadas se esse discurso ganhar e/ou mostrar força no Centro-Oeste - e Romney mostrar fraqueza.
Dai que para os republicanos, a esmagadora maioria dos caminhos para a convenção republicana, na Flórida, aponta para Romney. O que um discurso conservador duro pode fazer é ganhar um par de estados, barulho e coisas interessantes por algum tempo, mas sem nenhuma condição real de ganhar a nomeação, e o mais importante, a eleição presidencial.
Mas até que Romney vença no Centro-Oeste, ou pelo menos até que ele se mostre claramente favorito nas pesquisas em Michigan, devemos considerar a sua nomeação como uma possibilidade e não como uma certeza.

Brasil, 5 de fevereiro de 2012


[1] Ricardo José de Azevedo Marinho é professor da Unigranrio.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A FOTO DE PRESTES


No dia 03 de Janeiro o Sol reapareceu para a alegria dos cariocas e outros seres humanos amantes da Praia. Na Edição On-line de O Globo me fixei na foto acima sem antes ter lido a manchete. Julgava ser apenas uma ingênua reportagem sobre o doce sabor da vida numa praia. Não reconheci na primeira vista um mito que a "velha esquerda" cultuou durante décadas.
Ainda imaginando uma possível programação de final de semana, cliquei para ler a matéria. O doce sabor do lazer humano tratava-se de uma reportagem sobre a doação de arquivos ao Arquivo Nacional feitos por Maria Prestes - Viúva de Luiz Carlos Prestes. Uma doação relevante em tempos de Comissão da Verdade pois citava uma suposta lista de "torturadores" elaborada em 1975.
Contudo, a foto foi a melhor oportunidade para repensar anos da História da Esquerda Brasileira. Desde minha formação política militante na adolescência dos anos 80 tive que enfrentar um "mito" conhecido como "prestismo". Não compreendia as cisões dos comunistas naquela década de campanha de Diretas Já e apoio a candidatura de Tancredo Neves. A mitificação da Coluna Prestes povoava setores da esquerda ainda nostálgica dos tempos da luta armada como confronto a Ditadura Militar. Um anacronismo histórico fácil de denunciar mais amadurecido, porém na mentalidade juvenil tudo poderia se justificar. 
As fotos famosas de Prestes apareciam em alguns livros mais à esquerda. Ele no exílio da Coluna Prestes, Prestes solto em 1945 ou ele na Bancada do PCB da Constituinte de 1946. Tudo parecia natural. O grande dirigente que não teria momento para viver o lazer. A lenda da "virgindade" do Cavaleiro da Esperança até conhecer seu primeiro Amor (Olga Bernário) reforçava vínculos de jovens prestistas com o "catolicismo social" da Teologia da Libertação por causa desse lado celibatário em nome da causa justa para a Humanidade. A Coluna Prestes seria um "neocristianismo" com seus Apóstolos Tenentistas que fizeram História na política brasileira após 1930.
Nesse ambiente, era comum virar um "prestista" na Zona Oeste do Rio de Janeiro na adolescência (dizem que uma Deputada Estadual foi "mordida" por esse mito juvenil nessa época quando os "prestistas" foram para o PDT). Então, me deparei com essa questão: Por que não acompanhei Prestes na minha adolescência? Lembro de uma entrevista em que ele denunciava a vinda de uma "democracia burguesa" mesmo com a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral e ele sugeria a necessidade de unir as forças revolucionárias. Esse brado "dogmático" era encantador, mas ele estava ao lado de Leonel Brizola que seria um democrata porém distante de ser um legítimo revolucionário operário e camponês. Tive esse estranhamento e comecei a ficar sem compreender "falas" e "ações" do líder comunista que se afastou do PCB escrevendo Carta aos Comunistas (tentei ler essa obra por vários momentos e perdi o exemplar que me foi dado por um prestista que desejava me cooptar).
Tempo se passou e muitos elementos do prestismo me fizeram compreender que "escapei" de uma furada que a esquerda brasileira não pode evitar. Contudo, a foto de Prestes na praia  num momento humano de um brasileiro demonstra que o problema maior sempre foi a "mitificação". Nesse ponto, a Historiadora e Filha de Luiz Carlos Prestes Anita Leocádia Prestes assume um legado que representa a continuidade de um mito que impede repensar a trajetória do líder comunista. Não vejo razão para questionar a publicação das fotos através de um Juizo-Kardecista, ou seja, "se ele estivesse vivo não aprovaria isso". Será? Afinal, ele foi preso por Getúlio Vargas no Estado Novo e compreendeu o momento político de União Nacional no Movimento do Queremismo (apoio de uma Constituinte com Getúlio Vargas). A ideia de Prestes ser sóbrio não fica prejudicada por uma foto dele na praia. Afinal, ir a praia é um momento de lazer revolucionário. O espaço de lazer mais democrático que temos na sociedade brasileira. Assim, compreendo que faltou essa foto na história da esquerda brasileira para evitar tantos sectarismos.

Por Vagner Gomes de Souza -Professor de História na Rede Pública de Ensino do Rio de Janeiro