segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A Marcha de 30 dias


Até a posse da nova legislatura na Câmara dos Deputados há um longo mês de janeiro pela frente. A festa da posse é garantia de noticiário positivo para o novo Governo, mas, logo em seguida, começam os dilemas de Dilma. Algo indica que eles estejam resolvidos diante do silêncio “cavernoso” que ela adotou nesse período da Transição desde o discurso da vitória. Um respeito a despedida do “lulismo” que se afastará de suas decisões que tendem a desagradar segmentos da população ao contrário do que foram esses 16 anos de “marasmo da política”.
A primeira reunião da Diretoria do Banco Central em janeiro terá a pauta do aumento ou não dos Juros diante dos efeitos da chamada “guerra cambial”. Não há sinais claros de uma política de fortalecimento da Indústria Brasileira, porém verificaremos isso ao longo de 2011. Há um problema não resolvido no mundo sindical diante da suspensão da Greve dos Areoviários para o dia 10 de janeiro, o que medirá o grau de articulação das lideranças sindicais que integram a “máquina governista”. As escolhas do segundo escalão estão adiadas para após as eleições da Presidência da Câmara dos Deputados pois a nova mandatária nacional não pode começar um Governo sem maior peso nas articulações políticas do Congresso Nacional.
Antonio Palocci ganharia força nessa articulação do Congresso Nacional diante de um Ministério sem luz própria com escolhas de quadros políticos já com máculas no uso indevido do dinheiro público. A indicação de Alexandre Padilha no Ministério da Saúde é um lance político importante uma vez que tramita no Congresso Nacional a Emenda Constitucional 29 (maiores recursos para a Saúde) e há sempre a hipótese de uma volta da CPMF.
No meio dessa marcha aparece uma pequena pedra, ou melhor, um “Bloquinho” parlamentar (PSB/PDT/PCdoB/PRB) contemplados com apenas 3 ministérios apesar de reunirem mais deputados que o PT e o PMDB. A possibilidade da candidatura alternativa em torno de Aldo Rabelo (PCdoB-SP) é uma situação que nem a oposição do PSDB e DEM (sempre acusadas de raivosa pelo atual Presidente) apóiam, mas poderá ganhar força nessa marcha de 30 dias em janeiro. Lembremos que os partidos que compõem esse bloco parlamentar controlam segmentos do mundo sindical enquanto o PRB é uma legenda que representa uma parcela da nova classe média de pequenos negócios e vinculada ao petencostalismo. As contradições no interior da base governista indicariam uma polarização entre a aliança camadas dominantes e grupos sindicais burocratizados X novas camadas médias e grupos sindicais periféricos o que aprofundará as contradições na política econômica no futuro governo.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Carta aberta sobre “O Poder de Transformação da Leitura”


Dedico a memória de Luiz Ignácio Maranhão Filho

Há tempos um artigo não era muito lido e comentado no BLOG SENTIDO OESTE. “O Poder de Transformação da Leitura” atingiu esse grau de envolvimento com antigos e novos leitores daquele BLOG. Aplaudindo ou questionando, o importante que o ato de ler esse artigo exerce elementos transformadores que alguns críticos apressados não se permitem em analisar. Talvez seja resultado do “adestramento” do viés europeu que percorrem as correntes liberais de nossa esquerda.
Não há motivo de explicar a qualidade do texto, pois sua divulgação pelo twitter feita por Luiz Eduardo Soares é um exemplo que há leitores nas Ciências Sociais que abraçam o sentido político do texto. Esse é um detalhe que podemos observar no título ao usar a palavra “transformação” ao contrário da palavra “revolução”. Há uma inocente proposta reformista que pode empurrar a sociedade brasileira para além dos paradigmas envelhecidos do academicismo. Ventos de um Gramsci juvenil que estava na infância da interpretação da política de sua Itália onde vivia uma Questão Meridional.
No artigo da jovem Carolina Pimentel, um clamor pela Zona Oeste carioca é um dado a ser sublinhado com a chamada em cena do educador Paulo Freire (foto que ilustra esse artigo) - um “intelectual nacional popular” muito conhecido no país e internacionalmente que sensibiliza uma geração do campo democrata da esquerda na região. As raízes católicas de Paulo Freire podem explicar sua fácil inserção na construção do argumento da autora, o que surpreende na “orfandade” da “esquerda de matriz cristã” na região. Há um convite a análise da conjuntura política na passagem “(...)Paulo Freire, educador do século XX diz que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra” , é essa a ideia.
Uma idéia que críticos e simpáticos ao artigo não perceberam sua força mas sabemos que é uma transformação criar uma juventude que tenha costume na leitura de opiniões. Maior é atingir o desafio de criar autores na faixa da juventude numa cultura política rarefeita de organicidade. A reinvenção de uma cultura democrática da esquerda é heterodoxa se assumirmos a citação de Vargas Llosa feita no artigo, pois os “esquerdistas de plantão” veriam nessa passagem uma capitulação a ideologia dominante neoliberal do autor de Lituma nos Andes. Entretanto, o jovem Llosa formou-se numa cultura política avessa ao militarismo e a falta de democracia, o que tem seu paralelo, nas devidas proporções, com as ameaças de um despotismo da maioria sob controle político das classes dominantes da Zona Oeste carioca. Enfim, o artigo é uma aposta de novos sentidos para a organização da juventude nessa localidade.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

“A Revolução de 30” no PT


A crise da República Velha (1889-1930) teve uma oposição que nasceu pela atuação de grupos políticos de Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Eles se somaram a uma dissidência “liberal” paulista e aos dissidentes nordestinos. Tamanha coincidência ocorreu essa semana na “seara do petismo”. Essa pode fazer parte de uma “peça” na luta pela Presidência da Câmara dos Deputados após o “terremoto de desgaste” do reajuste de mais de 62% nos salários. Fala-se em revanchismo do “Bloco” e numa candidatura avulsa do chamado Bloco da Esquerda (PSB-PDT-PCdoB-PRB) com a volta de Aldo Rabelo (PCdoB-SP) apoiado pela “Bancada Ruralista”. Não se espantem diante dessa última informação que reatualiza as críticas de Caio Prado Junior a uma vertente de nossa esquerda.
A futura bancada de Deputados Federais do Partido dos Trabalhadores esteve reunida no dia 14 de dezembro para deliberar quem seria o indicado do partido às eleições da Presidência da Câmara dos Deputados. A surpresa foi a escolha de Marco Maia que é Deputado Federal pelo Rio Grande do Sul. Sua surpreendente vitória foi “desenhada” quando o postulante Arlindo Chinaglia (PT-SP) renunciou a disputa e declarou apoio ao petista gaucho que contava com apoio de deputados mineiros e nordestinos.
A imprensa invocou uma luta contra o “paulistério” na indicação ministerial. Segundo alguns analistas há uma lógica de luta política interna. Sustentam essa explicação na federação de grupos políticos que estão no interior do PT, porém não podemos esquecer o peso do pensamento político gaucho na história republicana. Na República, a Câmara dos Deputados foi presidida por apenas três Deputados Federais (Flores da Cunha nos anos 50; Nelson Marchesan na Ditadura Militar e Ibsen Pinheiro no início dos anos 90). Se forem aprofundar as pesquisas, verificarão que foram políticos que estiveram em momentos críticos da nossa história republicana.
Se nascer como uma questão interna, nada fará que a política se mova pela lógica do petismo na indicação do gaucho Marco Maia para a disputa a Câmara de Deputados. Há uma tendência de uma presença maior de uma interpretação do mundo do direito nessa indicação pela atuação do Deputado na Comissão de Direitos Humanos e o apoio recebido do ex-ministro da Justiça Tarso Genro (RS) e do indicado Ministro da Justiça José Eduardo Cardoso (SP).
Tarso Genro e José Eduardo fazem parte da corrente Mensagem ao PT, mas representariam uma leitura “bobbiana” do pensamento de Gramsci no campo da social-democracia ainda presente no petismo. Entretanto, são filhos do direito com a herança do positivismo brasileiro, ou seja, o petismo seria uma fase na harmonização da sociedade brasileira. Enfim, há muito de superestrutura política nessa indicação como se fosse a busca por uma “dualidade de poderes” se desenhando no futuro núcleo do futuro governo medindo forças o grupo pragmático de Palocci e o grupo de princípios de José Eduardo Cardoso/Tarso Genro e outros. Temos certeza de que é o começo de algumas turbulências na política do Governo pós-Lula ou prenúncio de uma Revolução feita por cima na estrutura do partido.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

CARTAS DE UM NOVO ABOLICIONISMO


Temas sobre o Conformismo
Por Joaquim Ocuban
Uma rápida leitura nas anotações de Antonio Gramsci sobre o “conformismo” nos Cadernos do Cárcere permite atuar nesse mundo de despolitização. O estudo da filosofia da práxis era o método de intervenção política do dirigente comunista italiano em tempos de fascismo. Em primeiro lugar, ele ressalta que fazemos parte de um senso comum apropriado a sermos conformados com pensamentos de longa data. Sua crítica estaria na sedimentação passiva desses elementos opinativos do passado. A formação de um sentimento de conformismo social poderia ser um registro da sociedade de massas. Estamos percebendo que há aqui um bom tema de filosofia política para interpretar gerações formadas coletivamente por um processo educativo em déficit com o elemento crítico.
A intervenção humana é importante nesse sentido para que teses conformistas sejam questionadas em seu conteúdo conservador ou mitificador. Os mitos são fáceis de se proliferar diante do medo do Leviatã que a sociedade sofre nos grandes centros urbanos. A legalidade e a institucionalidade estão em segundo plano diante de uma formação conformista que está na base da luta cotidiana pela sobrevivência do ser humano.
Entretanto, essa postura fortalece a dinâmica de grupos a serviço de uma acumulação selvagem de riqueza que rotiniza ações violentas e o afastamento dos mais pobres da participação política. A herança maldita do conformismo pode se expressar no individualismo e/ou na falta de ações coletivas. Para além disso, muitos expressam um discurso anti-democrático sem se dar conta. Vejamos o exemplo do questionamento dos direitos humanos para os “apenados” entre os mais pobres que são manipulados pelos meios de comunicação de massas. Não percebem que os direitos humanos é uma luta para toda a sociedade e que implica na libertação de outras prisões. A prisão do assistencilismo, a prisão do voto como sistema de troca de favores, a prisão do medo de grupos para-militares que atuam como novas GESTAPO privatizadas como observamos em Tropa de Elite 2. Um filme que representa uma aula sobre o “mercado do voto” para milhões de jovens que pediam um Capitão Nascimento do Apocalipse do tráfico. Um professor ganha importância no enredo dessa trama contra o conformismo.
Diante dos fatos recentes na política carioca, nada justifica viver um mundo das trevas em pleno século XXI. Isso implica em convidar os leitores a serem reflexivos em suas ações. E, mais importante, não deixar de agir por mudanças mesmo que moleculares. Um pouco mais de democracia é saudável na sociedade brasileira. Um pouco mais de cultura política pela ampliação da democracia. Nesse momento, verificamos que a educação tem um papel importante na competição com as forças do conformismo. Os professores são pequenos intelectuais a serem disputados pelas forças democráticas, porém uma categoria que está na prisão do economicismo salarial também pode conviver com seus fantasmas conformistas. Por isso, um movimento juvenil é necessário que suplante esses limites para enfrentar uma visão gerencial e economicista da educação brasileira. Educação como formação de trabalhadores e jovens críticos é nossa proposta diante de todas essas propostas educacionais de massificação do ensino conformista.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A "mosca azul" carioca

Do esgoto sem tratamento do Complexo Alemão há a hipótese de uma rota de fuga de centenas de traficantes do Comando Vermelho. Algo, que se confirmado, demonstra os elementos surreais do cotidiano carioca. Nem o Capitão Nascimento poderia imaginar tamanho infortúnio numa operação policial. Entretanto, os lances do acaso na política que são variados e nem sempre eles são bem sucedidos, pois uma “mosca azul” do citado esgoto deve ter pousado na mesa do Governador do Rio de Janeiro. Os ventos da “fantástica” derrota do crime organizado (com grande silêncio da mídia sobre “jogo do bicho”, “lavagem de dinheiro”, “prostituição infantil”, “grupos paramilitares, etc.) sinalizariam para um projeto político muito maior para o reeleito governante do Rio de Janeiro. Diante das incertezas sucessórias de 2014 quanto os passos políticos do atual Presidente em fim de mandato, nada impediria a função de “Coringa” na vaga da Vice-presidência como ponte para outros vôos políticos. Do Jaburu ao Planalto há uma longa caminhada. Do Palácio da Guanabara até o Palácio Jaburu há um caminho que se constrói desde sempre apostando nos índices da “fortuna” ao seu favor.

Assim, o encontro de Sérgio Cabral Filho com a Presidente Eleita Dilma foi muito mais do que um diálogo sobre pontos operacionais da Operação Militar na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Seu apoio político atinge índices superiores a 85%, o que se assemelha a aprovação dos Republicanos norte-americanos na intervenção militar no Afeganistão e no Iraque. Diante dos bombardeios da mídia, a economia norte-americana caminhava para uma crise. Hoje a “mosca azul” do Governador não lhe fez impedir a derrota na votação da Partilha dos Royalties. As manchetes da imprensa em silêncio sobre esse revés do Pré-Sal. Afinal, o governador negociava seu futuro político com a inoportuna indicação de Sergio Cortes ao Ministério da Saúde. A saúde mereceria um nome com exemplos de conquistas na rede pública de saúde, porém a lotação dos hospitais estaduais não representam uma luta contra o “crime organizado” da máfia da saúde.

Tudo caminhava para uma indicação a ser confirmada, pois a oposição fluminense ao Governador do Rio de Janeiro passa por um discurso evasivo e contraditório diante de uma disputa na ALERJ que se dará entre os quadros do PMDB estadual. Enfim, a “mosca azul” já teria condições de bater suas asas e começar seus possíveis vôos na provável captação de recursos políticos e financeiros para lançar Sergio Cabral Filho ao cenário político nacional. Contudo, a raposa da política não se deixa levar pela sorte e impõe que todo movimento político no PMDB deve seguir um rito como nos velhos tempos do PSD do pré-1964. Uma reunião da bancada de Deputados Federais do partido de Michel Temer definiu que a “cota” da Saúde, caso seja confirmada, seria a cota pessoal da Presidente Eleita. Recuos e delimitações. O governador recebeu o recado de não deixar seus desejos eleitorais irem além sem “beijar a mão” das raposas. Uma lição de política para aqueles que julgam incapazes de fazer oposição ao “neochaguismo”.