quarta-feira, 27 de abril de 2016

Nosso Momento Político

 
Michel Temer no fio da navalha
 
Por Vagner Gomes de Souza
 
Nem a admissibilidade do processo de impeachment foi aprovado ou rejeitado no Senado e o Vice-presidente da República atravessa um doloroso fio da navalha. Tudo indica que a atual mandadária presidencial esgotará todos os recursos políticos para em seu provável afastamento definitivo levar o governante pós-impeachment a começar muito desgastado. O Governo Interino nasce sob a pressão política de resultados imediatos que muitos especialistas muito bem sabem que é impossível. Ganha o "lulismo" um segmento político forte na sociedade que lhe garante uma base para uma futura eleição presidencial. Tudo são movimentações políticas que se encaminham numa falsa negação do "Centro Político" brasileiro.
 
O PMDB encerrou o ano de 2015 com o documento "Uma Ponte para o Futuro". Uma revisão política na tradição republicana brasileira em sua relação com a sociedade. O documento, sem uma precisa avaliação da esquerda democrática até o presente momento, foi midiaticamente divulgado como uma Plataforma de Governo a ser implementada após as eleições de 2018. Contudo, as forças ultraliberais deram uma nova tradudibilidade política ao texto: poderia ser uma plataforma de transição com fortes ajustes fiscais. O PMDB foi deixando de tar a paternidade do conteúdo programático de questionar a "estadolatria" em tempos de crise por seu viés pragmático. A vertente de crítica a "estadolatria" foi alçada ao patamar de uma guianada liberalizante. "Uma Ponte para o Futuro" seria menos Democracia com mais movimentações ao mercado.
 
Numa provável interinidade de Governo, Michel Temer já sabe que não terá a adesão majoritária das forças que hoje convergem para o Impeachment. Não há condições de adotar um Programa a ser debatido pela sociedade em plena competição eleitoral. Contudo, significativos setores das classes dominantes adotaram "Uma Ponte para o Futuro" nessa nova linha interpretativa e sinalizam para que o principal partido da Oposição (PSDB) não assuma cargos. Não há uma saída viável pela Unidade Nacional. E o PSDB se orienta, até o presente momento, para uma alternativa oportunista. Não se afasta do PMDB para forçar uma guinada de reformas sociais que deveria ser o compromisso da socialdemocracia, mas para se preservar de desgastes eleitorais e assumir um compromisso com o "tripé macroeconômico" em uma nova versão da "Carta aos Brasileiros" (divulgada pelo pré-candidato Lula em 2002).
 
O "lulismo"e o "social-liberalismo" do PSDB convergem para que o "Centro Político" seja esvaziado em tempos de profunda crise política e econômica. A ética da responsabilidade não se faz presente e muito menos poderemos crer numa ética de convicção. São duas faces de uma mesma moeda que se faz na agenda econômica Palocci - Henrique Meirelles. Trata-se de uma antecipação das eleições de 2018 sem que avance no debate das eleições municipais com crise fiscal de Governos Estaduais e Municipais como observamos no simbólico caso do Rio de Janeiro às vésperas das Olimpíadas. O "lulismo", com o slogan do "Não vai ter Golpe!", imobilizou uma parcela significativa da esquerda para debater os problemas substantivos da crise. Além disso, se confirmar a ausência de PSDB e PSB no "Ministério de Salvação Nacional", a REDE Sustentabilidade não se fará diferente na conjuntura política nacional. Salvo um "aggiornamento" dos Marineiros que eram muito críticos ao PMDB em 2014 numa improvável adesão à tese da "Salvação Nacional".
 
Contudo, do que se espera de uma provável interinidade?  Na economia, deveria voltar os elementos de confiança de que teremos condições de atravessar o deserto da recessão econômica com uma gradual redução dos juros. Na política, o PMDB deveria abrir um processo de afastamento do Deputado Federal Eduardo Cunha de seus quadros partidários. Se o rito da expulsão soaria como excessiva, uma suspensão até que o mesmo fosse julgado no STF pelas acusações que lhe são atribuídas pela Procuradoria Geral da República. Duas sinalizações para que o "Centro Político" ocupe o cenário brasileiro com um perfil democrático. Entretanto, as forças políticas do "Pântano" da política brasileira ganham espaço nesse momento nas "Bancadas da Bala" e "Bancadas Evangélicas". As forças democráticas precisam estar atentas que um fracasso do Centro na política brasileira só beneficia as aventuras autoritárias e centralizadoras. O fio da navalha de Michel Temer poderá ser o labirinto de nossa democracia.