domingo, 5 de maio de 2013

Sobre o Filme: SOMOS TÃO JOVENS



Somos tão americanizados
Por Vagner Gomes de Souza

Há uma estranha sensação que nunca se conheceu o a nossa História. Muito menos a relação de nossa História com alguns personagens. Imaginem pensar os anos da Abertura Política (1976 – 1982) na Capital do Brasil! Esse seria um desafio para além da imaginação de muitos jovens e cinquentões dos dias atuais. Portanto, a ousadia do diretor Antonio Carlos de Fontoura foi essa na condução da adaptação da biografia Renato Russo: O filho da revolução para o cinema. Muitos estariam aguardando o impacto dos costumes do universo da Lapa “estadonovista” do filme “A Rainha Diaba” (1974), porém o público juvenil que vai ao encontro dessa nova narrativa de Fontoura nasceu, em grande maioria, após o Plano Real (1994).
São os filhos da americanização em tempos de estabilização que reencontram a Brasília em tempos de Ditadura Militar. Muitos aguardavam um novo e longo Clipe musical, mas assistem os dilemas da classe média brasiliense diante do desmoronamento do “milagre econômico”. A temporalidade do filme é de 1976-1982. Tudo começa na simbólica queda de uma bicicleta entre as quadras da cidade projetada por Oscar Niemeyer em um esforço de relação da câmera do cineasta com a Antropologia Urbana.
Renato Russo ainda é “Reinato” Manfredini. Ele é mais um exemplo das interpretações sobre o papel da personalidade na História presente na literatura marxista russa. Contudo, o diretor deixa que escolhamos a melhor oportunidade de interpretar diante a ebulição do “movimento Punk” na Brasília em fins dos anos 70. O espectador americanizado poderia pensar em simples estilo de se vestir, mas um rápido diálogo no começo do filme demonstra que poderia ser também uma forma de protesto contra a repressão militar. Atenção a referência ao “Sex Pistols” no filme!!!



Pixação do Aborto Elétrico (Banda Punk em tempos de Ditadura Militar)

Se o ABC paulista foi palco das manifestações operárias através das greves, o filme sugere que o chamado “Rock Brasiliense” tenha sido politizado por não apenas pela influência “punk” mas também pelas condições de termos um segmento juvenil diante do dilema de ou dar continuidade aos “anéis burocráticos” emergente da repressão seja no Brasil ou em outras nações (pensem no caso do Guitarrista Petrus do “Aborto Elétrico” ao se apresentar ao serviço militar da África do Sul) ou deixar de ser como nossos pais.
O filme é uma arte de reflexão para os tempos de “neochanchada” do cinema nacional. A escolha da trilha sonora foi muito bem incorporada ao roteiro. “Faroeste Caboclo” ganha um peso de canção universal tanto para as Cidades Satélites que emergiram à margem da americanização perversa em Brasília quanto a vida cotidiana numa Zona Oeste carioca ou na Zona Leste de São Paulo. Mais uma vez a Antropologia Urbana ganha peso na narrativa cinematográfica como um importante papel no diálogo dos liberais com os excluídos.
Fomos tão americanizados que “O Homem de Ferro” ainda ganha filas de espera no duelo com “Somos tão jovens”. Entretanto, há outras possibilidades para o americanismo diante da possível reintrodução da aceitação da pluralidade contra os desvios inquisitoriais do “atraso” que tomou de assalto a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados. É possível uma versão mais democrática que hoje percebemos na consultoria de Hermano Vianna (puxa...o irmão do Hebert que está no filme!!!) ao programa “Esquenta” aos Domingos. Diante de nossa democracia juvenil  “Nem foi tempo perdido / Somos tão jovens”.