domingo, 20 de agosto de 2017

O FILME DA MINHA VIDA


O Filme da Democracia
Em memória de Jerry Lewis (1926-2017)
 Por Vagner Gomes de Souza
 
Um belo presente recebe o público ao assistir o filme "O filme de minha vida" dirigido por Selton Mello. Trata-se de uma livre adaptação do livro Um pai de filme do chileno Antonio Skármeta que agrega um pouco de lirismo poético para refletirmos nossa conjuntura mundial e nacional. Esse é um filme que despolariza nossos corações em tempos de intolerantes marchas "neonazistas". O Diretor não apela para o "populismo cinematográfico" de considerar o drama nacional circunscrito a questão da violência urbana. Ele demonstra ser possível abrir uma outra perspectiva para olhar o Brasil.
 
Então, somos convidados a conhecer o Sul do Brasil. "O filme de minha vida" é uma interpretação do Sul do mundo a partir do Sul do Brasil. Um país solidário com a globalização dos de "baixo" como se percebe no jogo da prova oral sobre as capitais dos países numa cama de bordel. "- Bolívia..." Na estreia de um jovem docente nos prazeres da vida há um diálogo que nos faz lembrar desse Sul profundo.
Então, somos lembrados dos tempos em que a Rádio era uma força maior que a Televisão. Ainda mais se a estória se passa no Rio Grande do Sul da Rádio da Legalidade. Sem qualquer referência ao episódio histórico, essa leveza se permite ao concluir quando a personagem Paco faz uma crítica a vizinha que comprou uma TV. Seria uma sútil lembrança de Lorde Cigano (José Wilker) no celebrado filme circense "Bye Bye Brasil"? Eis aqui mais um giro em nossas reflexões sobre esse filme que poderia ser um olhar poético sobre a modernização sem o moderno.
 
Uma das cenas de inspiração felliniana do filme
 

Através de "O filme de minha vida" poderíamos entrar numa locomotiva de reflexões sobre nosso compromisso com a democracia. Não se faz um filme só pelo começo ou pelo final. O desenvolvimento de uma trajetória ganha relevância se observarmos que a ética da responsabilidade ganha impacto junto ao público. Celebra-se Federico Fellini ao resgatar a crítica social com o recurso da poética cinematográfica. De forma "mineira", ou seja, quase silenciosamente se opera uma interpretação democrática para se fazer uso do perdão.
Pela locomotiva, chegamos a "fronteira" como se fosse o "Velho Oeste" americano do Sergio Leone. Tudo fica melhor na companhia da belíssima fotografia de Walter Carvalho. E... Estamos no cinema acompanhando "Rio Vermelho" (1948) numa "ponte" com os elementos progressistas do americanismo. Assim, percebemos é esse o momento de reagrupar o sentimental e o reflexivo nas salas de cinemas.