domingo, 30 de setembro de 2012

COLEGAS - FILME (CRÍTICA)


Colegas: A americanização do cinema nacional à moda italiana
Por Vagner Gomes

O filme Colegas poderia ser um simples “Road Movie” se os protagonistas não fossem três amigos com Síndrome de Down. O filme colegas poderia ser um simples filme sentimental se não fosse humor. O filme colegas poderia ser uma sátira ao filme Thelma e Louise (Ridley Scott, 1991) se não fosse um belo filme para repensar sobre o preconceito em relação aos portadores de Down. Afinal, é um filme para dar gargalhadas sem qualquer situação piegas.
Sua justa exibição no Festival do Rio nesse ano é uma oportunidade para pensarmos numa nova geração de Cineastas que “beberam” as referências do cinema americano, porém abordam temas dramáticos fazendo um recurso ao Humor. O Diretor Marcelo Galvão estudou na New York Film Academy e foi premiado já em sua primeira longa Quarta B. Em Colegas (Premiado no Festival de Gramado desse ano) vivemos aqui uma mixagem entre os estilos americanizados de cinema e o roteiro/linguagem do cinema italiano.
Há um espectro de Ettore Scola com seus famosos “triângulos” entre amigos. Ao meio dos “triângulos”, vivemos uma comédia que é dramática, pois, para além do preconceito aos portadores de Down, testemunhamos o perfil da segurança pública em passado recente de nossa História (“Doutora, nós trabalhamos para desaparecer com pessoas. Não para encontrar desaparecidos”); o “filhinho de papai” que ascende no serviço público por ser filho de Deputado; as raízes hobbesianas do medo presentes na sociedade e o papel da mídia em propagar “novelas da vida real” onde a perseguição aos supostos delinquentes assume semelhanças a histeria americana a procura de possíveis terroristas islâmicos.
A televisão é o personagem de abertura do filme. Uma TV Preto&Branco de seletor (para os meus jovens leitores, um botão em círculo que fazia as trocas de canais sem o uso do controle remoto) e provavelmente à válvula transmitem logo que trata-se de tempos remotos o lugar da ação. Contudo, as primeiras imagens anteriores ao recurso do narrador fazem lembrar os filmes de Quentin Tarantino. Seria um PULP FICTION sem citações bíblicas. Assim, roteiro e elenco desempenham muito bem o papel para segurar a atenção do público e alimentando momentos de reflexão a cada intervalo entre as risadas.

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