O
resto é engodo
Vagner Gomes de
Souza
Quem vai ter um “papo
reto” com a juventude? A quatro anos do anúncio da pandemia da COVID 19 pela
OMS ainda muito temos que falar sobre o segmento da juventude que estaria na
faixa de 16 a 34 anos. Nos primeiros momentos, tinha-se a ilusão que esse segmento
estaria imune de níveis de letalidade. Apesar de muitos esforços em contrário,
foi um segmento que pouco se apercebeu do que estava a ocorrer ao seu redor com
as devidas exceções e aos casos de lutos familiares.
Uma parte desses jovens
perderam momentos de convívio escolar num processo que impactou o desempenho escolar
de muitos. Há um escandaloso “silêncio” sobre crianças e adolescentes que são analfabetos,
ou seja, temos uma situação muito grave na educação. Não satisfeitos com isso,
a implementação de uma reforma no ensino médio seguiu suas trilhas diante de
alunos que estavam sem aulas no ensino fundamental. Escolhas ainda são feitas
por jovens que consideram que copiar trechos de um artigo seria estar
expressando opinião. Temos um exército de copiadores como nos antigos mosteiros
da Idade Média.
Aliás, é essa a
sensação que muitos educadores percebem ao vivenciar o dia a dia escolar. Aulas
de Ciências reduzidas ou sem conexão com o ensino de humanidades nos faz
testemunhar jovens que não validam a importância da vacinação. O negacionismo
da ciência dos setores extremados é compactuado pelos defensores de uma
austeridade educacional com ajustes na grade curricular. A vida está muito pior
para os jovens e acham que os estudos de Projeto de Vida seriam a melhor saída.
Provavelmente, para as editoras que já vendem livros com para essa inovadora
disciplina. Na Ditadura Militar, período que um em cada 10000 jovens não saberá
definir o que foi esse momento da história brasileira, tinha Moral e Cívica e
OSPB como se fosse a solução para formatar a sociedade de crescimento econômico,
mas de profunda concentração de renda.
A concentração da
riqueza é a marca de nossa modernização. Crescemos ainda hoje para além das
previsões, porém não é para todo esse mundo paradisíaco da prosperidade. Não
teremos prosperidade diante de um quadro de “morte” do emprego como vemos emergir
das seguidas revoluções industriais. Hoje estamos numa transição que causa esse
incômodo social que explica em muito as figuras extravagantes que aparecem no
cenário político com grande simpatia entre o eleitorado da juventude. Afinal,
fazer uma política pública voltada para os jovens não é como se fosse fazer um “pé
de meia”. O que virá depois?
Sabemos que a leitura
está cada vez mais perdendo espaço na humanidade. No nosso país, até aqueles
jovens que gostam e amam os livros veem suas vidas podadas por uma ausência de
uma Política Cultural que abra espaços para a leitura. Ler e compartilhar livros
com aqueles que não podem ler. Uma ideia simples, mas temos um arquipélago de
Editais de Cultura formando “caixotes identitários”. Editais para aqueles que
tenham condições de fazer prestação de contas, ou seja, um conhecimento acima do
adequado ou que contrate especialistas. E os livros possivelmente a
compartilhar não gera um cargo comissionado sequer.
Cobramos a distância da
juventude da prática e valorização da democracia. Tememos que tenhamos um “ovo
da serpente” a se chocar. Mas, o que as forças do campo democrático tem feito
para fazer um “papo reto” com esse segmento? As chamadas juventudes partidárias
faliram com os atores políticos pois servem para renovar quadros de assessorias
parlamentares ou de alguns órgãos do executivo. Temos uma Secretaria Nacional
da Juventude que se silencia diante da falência da educação. Talvez achem que
os jovens apareçam pelo número de likes marcadas por “bolhas” de si. Sejamos
francos. Não há um sorriso para nossa juventude.
Se me vierem com números
da Conferência Nacional da Juventude, muito facilmente se pode dizer que no “socialismo
real” os números maravilhosos eram sempre divulgados. E, em 1989, de que lado
estava a juventude do Leste Europeu? Fez seu salto para a abertura do
capitalismo e entramos nos estagnados anos 90. Os jovens foram se envelhecendo
e se entregando a uma “guerra de narrativas” se afastando da sua própria
realidade. Individualização cada vez mais marcante e os atores pretéritos da
juventude com “Escola de Líderes” de gabinetes. Então, um choque de realidade
se fez presente no século XXI. Esse século que ainda não trouxe um momento de
bons ares para a humanidade. Do fundamentalismo islâmico a outros que vieram a
se somar. A juventude mundial cada vez mais se deixou levar por uma teia da
morte.
A Inteligência
Artificial é uma realidade cada vez mais próxima e há um ano alguns jovens
ainda riam quando qualquer educador lhe dissesse que ela viria para ficar em
suas vagas de emprego. A precarização do trabalho ainda é uma fase de transição
para o fim desse universo para muitos, porém ainda querem nos colocar num
debate sobre o “decolonial”, o “biopoder” ou outros devaneios. Na verdade, o
silêncio dessa juventude agudiza o tema da democracia ainda mais diante do
envelhecimento da população.
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