quinta-feira, 11 de março de 2021

TEXTOS DA JUVENTUDE


 Imagem da Força Expedicionária Brasileira (FEB)
Vencendo o Fascismo na Itália na Segunda Guerra Mundial

A união faz a vitória.

Por Tariq Bastos de Souza

 

Embora haja uma exaltação, nos dias de hoje, quanto ao papel dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, é indubitável que o fator decisivo para a derrota do totalitário Eixo foi a existência dos Aliados. Esta união de países, dentre eles União Soviética, França e Brasil, se destacou dos seus rivais por conta do bom gerenciamento dos bônus e ônus de cada integrante, do suporte material e emocional, e da esperança existente neles, bastante escassa naqueles tempos. Nenhuma dessas vantagens existiria sem a união das forças de cada membro do grupo.

Um dos fatores que manteve eles juntos foi a esperança, sentimento necessário em momentos de opressão. Este estado emocional é capaz de manter vivo a ideia de dias melhores, por mais difícil que seja o cenário, servindo assim como força para fazer mudança na configuração do presente. Por essa razão, regimes ditatoriais fazem uso do medo e desespero com o intuito de minar as pretensões contra o sistema, podendo chegar até a mesmo a tortura e manipulação, a exemplo da obra 1984, onde o protagonista Winston Smith é torturado pelo Partido, com o intento de quebrar qualquer pensamento oposto ao do mesmo.

Nesse contexto, gerenciar as atuações da resistência é crucial para a sua sobrevivência, assim como para a esperança e unidade do grupo, sempre posta em xeque quando há intensa repressão. Para isso, é importante saber os pros do grupo formado, porque a vantagem de unir pessoas diferentes é juntar suas habilidades distintas para melhorar qualquer empreitada, seja ela um ataque direto, seja um ato simbólico para aumentar o ânimo do time.

Portanto, fica claro que sozinho não há como vencer a opressão, sendo importante o trabalho em equipe, tanto para organizar as forças resultantes da união, quanto para manter a resistência viva, através da manutenção da esperança. Mostrando assim, o quanto reservar o mérito da vitória há uma coalizão de países é o certo.

 


O DISCURSO DE LULA


 O SALTO DO SAPO PARA O CENTRO POLÍTICO?

Por Vagner Gomes de Souza

Um escritor e diplomata escreveu certa vez que o sapo pula não por boniteza mas por necessidade. Na política estamos reféns dos erros de uma fratura da política no qual a "Lava Jato" foi sua fonte. O centro político foi cooptado por uma "facção" da burguesia retrógrada com um discurso anti-sistema. Personagens do fundo pantanoso de nossa política emergiram como se estivessem acelerar o atraso sem se importar para as desigualdades sociais. Segmentos da sociedade emergiram com a proliferação de uma vertente liberal americanizada no seu fundamentalismo religioso e de costumes. Seja à Direita como também à Esquerda pós-moderna. Uma falsa polarização pois tudo se resume em ocupar um espaço no mercado das escolhas individuais. O empreendedorismo militante das redes sociais de cada dia em poucos momentos se referem a necessidade de superar a pobreza através dos valores da República. Uma agenda de liberalismo pelos usos do Hobbes entranhados numa exposição de um país que necessita um afastamento dos "lobos" à margem da globalização. Uma sociedade de ressentidos se formou pois venderam a ilusão de uma "nova classe média" como se essa fosse formada pelo perfil de seu consumo. Mais mercado e menos democracia foi um "vírus" que alimentou muitas variantes a mediada que a economia se foi deslocando da política. 
Sem o sentido da República o liberalismo no Brasil se perverteu num mosaico de segmentos e pautas para além das bases dos trabalhadores. O neoliberalismo subiu a partir das bases da sociedade diante do esvaziamento do centro político por falta de ação do campo democrático. O Campo Democrático com uma agenda social e transformadora que inseriu esse país num longo ciclo de crescimento social. A imagem da derrota da Copa do Mundo em 1950 é a melhor metáfora que não se pode desistir de se fazer cumprir uma necessidade da humanidade. Qual seria? A humanidade precisa de nosso país como o ponto de equilíbrio nas relações internacionais. Entre 1950 e 1958 houve o tiro no coração de um Presidente acusado de crimes de responsabilidade e corrupção em 1954. Há sempre bons exemplos em nosso história para que se perceba nossa capacidade de invenção política. Sempre avançamos em benefício de todas e todos através de uma ampla frente política. Os mais "fechados" poderiam questionar a ausência de ganhos maiores, porém nunca citam exemplos dos ganhos de suas vias sectárias.
Então, a pandemia emergiu em nosso planeta num momento em que muitas lideranças críticas da democracia se posicionavam na chefia de Governos como foi a experiência de Donald Trump nos EUA. Lá se percebeu que a derrota dessa americanização pervertida do ressentimento social exigiria a busca da moderação. Em nosso país, o Parlamento voltou a ser um espaço do debate da política que muito bem reflete o perfil de nossa população. Não foi omisso no debate do Auxílio Emergencial no ano passado e não se curvou para as tentações de rasgar as conquistas sociais da Educação e da Saúde presentes na proposta de Paulo Guedes na PEC 186. Todavia a oposição ao Governo Federal passa por um longo período de "apagão político" diante a postura eleitoreira do debate colocado até por setores do mercado. A calamidade da saúde está presente a cada dia nos números de óbitos e novos contaminados. A calamidade do desemprego está presente na falta de investimentos públicos. O "teto de gastos" caiu sob as cabeças dos mais pobres empurrando muitos para baixo dos limites da miséria. 
Foi nesse momento que o ex-Presidente Lula convocou uma coletiva a Nação para se pronunciar sobre diversos pontos. Todavia, o principal em seu discurso foi o tom que negou o ressentimento e a abertura para o diálogo com todas as forças políticas nos quais receberam a confiança do eleitor brasileiro. O discurso foi para além das fronteiras de um Partido pois se pautou pela necessidade de buscar uma saída democrática para esse momento. Não se deve antecipar futuras posturas eleitorais, mas exigir que haja um avanço na articulação do entendimento nacional que isole as forças questionadoras da Ciência e da Democracia. Devemos pressionar para que um programa comece a se desenhar articulado por uma Frente. 

quinta-feira, 4 de março de 2021

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 16

 

Apagão da Oposição

Por Vagner Gomes de Souza

 

Não estamos na “segunda onda” da Pandemia, mas apenas num possível começo de um “Tsunami” de contaminações de COVID19. O Ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta já alertava para essa possibilidade há semanas atrás.  Então, vieram os números do PIB de 2020 com o terceiro maior tombo da nossa história recente. O desemprego em níveis de 14 milhões não sugere que vai recuar. O retorno às aulas presenciais se faz como se o conteúdo fosse o mais importante para inúmeros jovens em elevado índice de vulnerabilidade (abrem-se as escolas sem que se abram as mentes para essa reflexão). A vacinação é lenta e praticamente as doses são racionadas enquanto que o Ministro da Saúde anuncia uma “chuva de vacinas” para depois de julho. Não temos ainda um Orçamento Federal para o ano de 2021 aprovados. E o valor de R$ 250 para o auxílio emergencial nos faria questionar: o que melhorou nesse cenário para que se defenda a queda de R$ 350 do valor anterior? Ainda mais diante de uma carestia dos produtos da cesta básica em que muitos mencionam a situação do bolso caro.

Muitos analistas sugeririam que esse seria um momento favorável a Oposição ao Governo Federal. Então, por que não se observa a consolidação do programa de oposição? Em primeiro lugar, não nenhum programa de oposição consensual que possa motivar a ascensão da pluralizada opinião refratária ao Presidente Bolsonaro. Há uma autonomeada “oposição responsável” que é refém de uma “agenda liberal” fiscalista observando um Ministro da Economia politicamente esvaziado. Esse segmento é tímido ao combate aos impactos da pandemia em seus governos locais porque deseja disputar uma base “radicalizada” do Governo, por exemplo, no tema das atividades religiosas como essencial (curioso serem isentos no pagamento de impostos que poderiam ser investidos na saúde pública). Por outro lado, se abriu uma busca do melhor nome para derrotar o mandatário federal. A fulanização da política favoreceu ao mesmo, pois sempre consolida seu grupo de fieis apoiadores. Enquanto isso, a oposição se definha em debates internos e ressentimentos que não priorizam salvar as vidas.

Onde estaria o Centro Democrático? Esse é a pergunta daqueles que defendem uma Frente de Esquerda que se baseia nas contradições do centro político fraturado desde as eleições de 2018. Faz-se um profundo silêncio sobre a aliança vitoriosa nas eleições presidenciais 2002, pois a fulanização seria o “anticorpo” desse sectarismo. A muito de sebastianismo político vintage nas articulações de uma política eleitoral antecipada enquanto ameaçamos chegar a números acima de 2500 óbitos por dia por COVID19. Ninguém defende ao menos um Manifesto de Unidade nos pontos referentes a pandemia pois tudo pode soar como “abertura da oportunidade” de ser a cabeça de chapa de uma disputa eleitoral. Não se pode condenar a omissão da sociedade sobre muitos aspectos dos protocolos sanitários uma vez que a população pobre foi deixada abandonada por uma ampla lista explorações estrutural. Não se combate a desigualdade social, mas se faz oposição a um suposto mal de origem de nossa História. O desempregado ficou em segundo plano. A pobreza está na periferia daquilo que chamam “narrativas”.

Mais do que dialogar com o centro político, muitos segmentos da Oposição de Esquerda ficou relembrando contradições das gestões passadas. As pontes da costura política sempre são dinamitadas nas redes sociais. Todos tem um demônio moralista da “lava jato” em sua mente. A população empobrece a cada instante. Contudo, estamos com uma grande pobreza de lideranças políticas que preferem viver um mundo de stories e imagens para demonstrar trabalho. Falta demonstrar a política de Frente Democrática. Aliás, essa é a verdadeira denominação para evitar os desvios esquerdistas possíveis naqueles que falam numa Frente Ampla.

Em que essa estratégia política ainda teria validade nesses tempos? Sugerimos que não foi Bernie Sanders que conquistou a indicação do Partido Democrata em 2020 porque todo esse mundo polarizado só se supera com a “moderação da política”. A Frente Democrática tem o poder de fazer uma política de unidade dos segmentos da sociedade com as inúmeras forças políticas a partir dos valores da República. A coisa pública está acima do empreendedorismo econômico e da política. Devemos fazer essa Frente se tornar realidade no debate do cotidiano da sociedade e no parlamento. Os interesses precipitados de 2022 deu um fôlego ao fisiologismo político no Congresso Nacional. Só a ideia de República para recolocar temas urgentes da sociedade. Por exemplo, não se fala numa seguro desemprego ampliado e nem da necessidade de ampliação dos valores da multa nos casos de demissão sem justa causa. A oposição vai sair desse apagão no momento em que a Esquerda deixar as eleições do próximo ano em segundo plano. Urgente é cuidar das trabalhadoras e trabalhadores sem trabalho.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 15

 


O Diesel é Nosso

Vagner Gomes de Souza

 

O liberalismo brasileiro sempre conviveu com um “DNA” distante da ortodoxia. A intervenção dos Governos da Primeira República para a valorização do preço do café é um exemplo que os arautos da imprensa se esquecem nesses dias que procuram reviver o conceito de populismo. A militarização da PETROBRAS sugere, que sem qualquer programa econômico claro, o Governo simplesmente não deseja perder as eleições presidenciais. Seus limites seriam nessa manifestação da Hidra de Lerna em relação aos temas econômicos.

O Ministro da Economia Paulo Guedes se assemelha ao jogador de futebol no meio de uma roda de bobinho. E o mercado é a bola imaginária. Se muitos articulistas gastam inúmeros artigos para buscar decifrar as ações do Presidente da República, o maior desafio seria compreender o “dilema do prisioneiro” o qual sua equipe econômica ainda se vincula ao grupo hegemônico do Governo. Provavelmente a ausência de conteúdo programático em pauta desde a campanha eleitoral seja a melhor explicação. Nada se faz para superar uma crise econômica que se agrava com o aumento da desigualdade social. Então, temos uma política econômica ausente e sem compromisso com o investimento público. A “reserva moral” do compromisso com um ajuste fiscal que se faz no imobilismo.

A simplificação do uso do conceito de populismo para a “intervenção pessoal” do Presidente na política de preços da PETROBRAS é um desvio dos analistas. Melhor seria problematizar que nossa economia não está crescendo e que o desemprego se consolida com características crônicas. Não há interesse em ampliar os gastos públicos nem em saúde ou educação. O liberalismo sem compromisso com os valores humanos da vida está presentes nesse Governo. Aquilo que chamam de retórica “populista” é campanha eleitoral antecipada. Fazer uma oposição liberal ortodoxa em favor dessa ortodoxia empurra muitos articulistas da imprensa para um “deserto de ideias” diante dos impactos sociais da pandemia.

O Governo reforçou seus laços políticos com o “Centrão”. Escrevo REFORÇOU pois o Onyz Lorenzoni nunca foi um expoente do reaganismo no Brasil ou um Rui Barbosa do século XXI. Portanto essa aliança foi reforçada num projeto sem programa para a sobrevivência política e eleitoral de inúmeros segmentos políticos que se abrigam nas famosas bancadas do Congresso Nacional. Sem programa político claro, vivemos um “presidencialismo de cooptações”, ou seja, cada votação se coopta um grupo para sua manifestação. Nesse quadro político fraturado, ainda questionam a ausência de um centro político coeso com o compromisso democrático. Lembremos que ele foi destruído pela polarização política no qual os partidos de esquerda permitiram alimentar.

As manifestações eleitorais de 2020 sugeriram a moderação da política brasileira. Contudo, o centro democrático será reestruturado somente por um programa que tenha suas referências na Carta de 1988. Uma tarefa que deve ser feita com a provocação de uma política de alianças feita pela Esquerda, pois foi assim que chegamos a Constituinte de 1986/1987. A “roleta russa” do debate pré-eleitoral não permitiu ainda o gesto da renúncia pelo programa, pois esse é o grande ausente até na Esquerda. Não se debate mais política porque logo se CANCELA o possível aliado. Uma simplificação alimentada pela ortodoxia dos valores liberais no campo da esquerda, que renderia outro artigo.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

GRANDE POLÍTICA EM VERTIGEM


 

A Família em Vertigem

Por Pablo Spinelli

Vagner Gomes de Souza

 

“Palavras não bastam, não dá pra entender

E esse medo que cresce não para

É uma história que se complicou

Eu sei bem o porquê

Qual é o peso da culpa que eu carrego nos braços

Me entorta as costas e dá um cansaço

A maldade do tempo fez eu me afastar de você (...)”

A Noite – Tiê

 

A Pandemia do COVID19 destruiu muitas famílias com a injustificada antecipação de muitas perdas de vidas que pode ser responsabilizada pelos governantes que deviam zelar pelas famílias brasileiras. Essa não é uma contradição uma vez que é a burguesia que aboliu os laços familiares na Revolução Industrial, conforme antigo Manifesto. As crianças exploradas e definhando no espaço fabril do século XVIII tinha como meta que a economia não poderia parar. A economia já estava parada no raquítico 1% do PIB quando muitas famílias foram confrontadas com a realidade de uma emergência sanitária. Sem os elos da qualidade na educação diante da asfixia das escolas fechadas sem uma alternativa democrática de acesso ao ensino remoto, os laços familiares passaram por abalos mais do que tectônicos que pela via da antropologia abraçou a rota do conformismo nos “tumbeiros” das periferias.

A família e seus valores se arruinaram ainda mais com a precarização do mundo do trabalho. A via do trabalho massificado nas entregas por aplicativos e nos deliverys atomizaram ainda mais nossos laços sociais. A uberização de nosso país dava saltos largos. A família estava mais disciplinada para promover o “distanciamento social” no momento das comemorações da Páscoa e das Mães. Todavia, ao se negar a educação só houve a viralização do negacionsimo da ciência diante da ilusão de que não se deve temer aquilo que não se vê porque há um “ser supremo” que não se vê e está a zelar por todos. Era só o “orai” sem o “vigiai”. E no meio desse caminho há um Messias que deu um outro olhar para o que seria o empenho na defesa da família, basta ver seu silêncio para a família do senador do Rio de Janeiro que o apoiara na eleição onde ambos ganharam. O americanismo conservador de Roberto Da Matta foi se impondo aonde aquilo que se mostra uma “casa” das redes sociais desconectada com a realidade de miséria que se observa nas ruas.

As “famílias dos coletivos” teriam valores mais invejosos que Caim ao decidir matar Abel por desejar um reconhecimento do Criador. José foi vendido como escravo no Egito antigo pelos irmãos, mas soube fazer a reconciliação pois no centro estava a palavra AMOR. Antes, Noé anunciou a vinda do dilúvio para os negacionistas daquele mundo que se foi em água. Em sua arca reunia familiares e buscou salvar vidas. Enfim, eis esses primeiros exemplos para que não se espalhem as “fakenews” de que estamos a fazer um longo texto contrário aos ensinamentos do cidadão cristão do bem. Entretanto, os contágios dos atalhos dos interesses mal compreendidos levaram a essa situação no qual as famílias precisarão escolher em retomar o distanciamento social em pleno Natal. Uma vez que a ideia de uma Quarentena ou lockdown (que nunca houve no Brasil) ganhou espaço no imaginário dos jovens como um longo tempo de nada se fazer e algo a pegar, seja covid, seja uma bicicleta para entrega, seja uma arma ou uma bíblia que não seria aberta e estudada. Pesquisemos nas redes sociais, mais uma vez, que esse foi um roteiro que aos poucos virou consenso nas cabeças dos jovens ao contrário de se fazer o ensino da disciplina da paciência. Imaginemos essa juventude diante do cerco a Stalingrado em plena Segunda Guerra Mundial. O que fariam os jovens?

As famílias doloridas estão diante de uma tomada de decisão entre a celebração do material ou fazer viver a vocação do AMOR para se distanciar de seus entes queridos nessas comemorações de fim de ano. Foi nesse espírito comovente que a animação “A Vida é uma Festa” foi revista por nós por um veículo identificado com uma matriz do imperialismo cultural (a outra face do malfadado “marxismo cultural” paranoico) – o canal da Disney. Não perderemos mais palavras com esse falso debate “decolonial” pois o fundamental é a inserção do campo democrático no acolhimento da questão familiar. Sua melhor base jurídica está na sempre atacada Carta Constitucional de 1988 no qual o Artigo 226 define “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.” Esse é um elo que os descaminhos econômicos ultraliberais de Paulo Guedes ameaçam. Assim, se introduz nossa leitura dessa animação com “cores” muito adultas.

Além da morte “morrida”, termo do nosso Nordeste, a produção do diretor Lee Unkrich, há a abordagem de um tema que destoa das mortes das produções Disney e mais próximas do universo Pixar (vide Up – Altas Aventuras): a morte da memória. Os idosos precisam ser revividos e os mortos lembrados – mas, como em texto célebre de Marx, não podem nos governar -, um dos alvos preferenciais do capitalismo do século XIX adotado pelo atual governo federal e referendado pelos jornalistas de opinião em canais cujos patrocinadores são do...sistema financeiro. Agora, como trazer mais leveza num contexto de morte e perda? Música, algo que remetemos às lives para aqueles que têm acesso à internet nesses dias de pandemia. A animação mostra que a música pode ser tão universalista quanto o cristianismo; ao invés de um particularismo, o infinito universal que conecta por pétalas o mundo dos mortos com o mundo dos vivos em uma harmonia melhor que a dicotomia desses espaços na excelente animação A Noiva-Cadáver, de Tim Burton. Nesse final de ano, onde parentes estão distantes, o décimo-terceiro dos funcionários do Rio de Janeiro, ausente e um governo federal que tem vários esqueletos nos armários rachados; doentes com ou sem leito; idosos com ou sem aposentadoria; crianças sem escolas; a ciência e Jesus cantam: Lembre de mim!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 14


Desafios para a Juventude

 

“(...) Quem não se submete a uma disciplina política é precisamente matéria em estado gasoso, ou matéria poluída por elementos estranhos: portanto, inútil e prejudicial. A disciplina política faz precipitar estas impurezas e fornece ao espírito sua melhor liga, fornece à vida uma finalidade, sem a qual a vida não vale a pena ser vivida. (...)”

Disciplina e liberdade. Antonio Gramsci 1917

 

Por Vagner Gomes de Souza

Há um ensaio que o pensador italiano Antonio Gramsci escreveu para a juventude sob o título Disciplina. Um curioso texto uma vez que o marxista sardo mencionava R. Kipling (um ilustrado pensador inglês que dialogava com a colonização). Nele, ao contrário de buscar a “desqualificação” do criador de Mogli, se faz uma inversão de sua leitura sobre a sociedade hierarquizada, pois parte do reconhecimento da modernidade da organização do Estado Burguês para conferir a juventude uma cobrança pela sua liberdade de forma disciplinada. Um texto que mereceria fazer parte de muitas aulas da graduação de Administração, porém se encontra “perdido” para poucos gramscianos.

Disciplina está num conjunto de textos que foram publicados, sem assinatura, em La cittá futura (número único editado pela Federação Juvenil Socialista do Piemonte, 11 de fevereiro de 1917). Observe-se que Gramsci estaria sugerindo, num excesso de otimismo comum a sua fase juvenil, um grande futuro para a humanidade a partir da articulação da juventude com a cidade. Eis que a Revolução de Fevereiro batia as portas da Rússia czarista, mas a “Gripe Espanhola” ainda não se anunciava. Nessa linha poderíamos fazer um convite aos jovens cariocas para um grande desafio diante do momento grave em que estamos a atravessar. O Rio de Janeiro está numa grave crise econômica e social que se aprofunda nessa pandemia em que as “ondas” destroem qualquer interesse dos agentes econômicos privados em fazer investimento. Aliás, a limitada capacidade de investimento do capital privado impõe uma visão que se aproxime das sugestões de André Lara Resende em seu recente e pouco lido livro pela esquerda carioca e nacional (Consenso e contrassenso: por uma economia não dogmática).

Os desafios para a juventude partem da alarmante informação de que 1 em cada 3 jovens nem trabalham e nem estudam. Esse número se agrava nas comunidades da periferia assoladas pelo ultraliberalismo vindo de baixo. Os canais de solidariedade ensinados por Durkheim poderiam permitir uma conexão com o papel libertador da disciplina atribuída em Gramsci. “(...) Porque é essa a característica das disciplinas autonomamente assumidas, ou seja, a de serem a própria vida, o próprio pensamento de quem as observa. (...)” – Gramsci, Antonio – Escritos Políticos, vol. 1 (Organização e tradução de Carlos Nelson Coutinho). Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2004, p. 89.

Na ausência de atores políticos deslocados do eleitoralismo (uma característica que incomodava o jovem Gramsci), partir do desafio em superar a chamada geração “NEM-NEM” carioca é muito ousadia mesmo na futura gestão municipal do Rio de Janeiro com os holofotes dirigidos para a Secretaria Municipal da Juventude e a Secretaria Municipal da Educação com a indicação de dois jovens que estariam na faixa etária dos jovens dirigentes da citada Federação Juvenil em 1917. A lição da história, o qual Walter Benjamin nos chama a atenção, sugere que as contradições entre forças produtivas e relações sociais de produção chegam a níveis caóticos numa realidade de muitos jovens que acumulam elevados níveis de “analfabetismo funcional”.

Por que o “analfabetismo funcional” é uma grave característica na juventude carioca? Essa seria a chave para repensar a gestão pública juvenil em nossa cidade uma vez que baixa interpretação de leitura, dificuldade nas operações básicas de matemática e desconhecimento dos principais conceitos sobre a vida alimentam muitas ações “negacionistas”. Muitos especialistas têm estudos mais profundos sobre esse tema nas instituições universitárias cariocas. Aqui temos a PUC, UFRJ, UNIRIO e UERJ para ficar nos exemplos mais famosos. Reverter essa situação é o primeiro passo para superar outros grandes desafios.

Contudo, não podemos nos iludir do quanto esse desafio requer muito investimento público para no mínimo uma década. Por outro lado, a modernização conservadora pressionada pelas forças do dito “mercado” não deseja que se pare muito tempo para reflexões e ações. Vai se exigir muita disciplina dos sujeitos juvenis que se inserem na futura administração municipal para que tenhamos um compromisso para resgatar vidas. O resgate de vidas esquecidas e nem sempre presentes nas estatísticas que só aparecem nos momentos das tensões da violência policial que atingem crianças e jovens da periferia. 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 13


 

O Partido de Narciso

Por Vagner Gomes de Souza

 

Narciso é um personagem da mitologia grega que muito se assemelha as análises de conjuntura feitas pelos dirigentes do Partido dos Trabalhadores após as eleições municipais de 2020. A vaidade é representada nele. Ele teria nascido com uma grande força atraente, porém foi aconselhado por Tirésias a não admirar sua beleza. Todavia a beleza foi acompanhada pela arrogância e o orgulho. Nunca se apaixonou pelos outros que o admiravam e ficou perdidamente apaixonado pela sua beleza refletida num lago. A Ninfa Eco, por não ser correspondida em sua paixão, lançou um feitiço que o fez definhar olhando sua imagem no lago até a morte.

Diante da gravidade da conjuntura nacional no ano de 2020, os dirigentes do Partido dos Trabalhadores pretendem debater suas diferenças internas observando seus resultados eleitorais. Como se fosse o Narciso se admirando no lago, os dirigentes dessa agremiação partidária do campo reformista democrático perdem escrevendo linhas sobre números comparativos dos votos conquistados, prefeituras conquistadas, total de habitantes de prefeituras conquistadas ou de vereadores eleitos. Como se as contradições das classes sociais estivessem expressas nas linhas eleitorais. Um partido político é simplesmente uma fração da sociedade brasileira ainda mais num sistema partidário muito diferente tanto do “modelo europeu” e também do “modelo norte-americano”. Assim, os números refletem os gostos do narcisismo como “falsete” de análise política.

Nada nos opomos ao necessário balanço partidário que se faça de um processo político que foi histórico por ter ocorrido numa situação de pandemia. Na época da Gripe Espanhola uma expressiva massa de brasileiros não eram cidadãos ativos numa República oligarquizada que adotava um liberalismo ortodoxo na economia. Fazer esse balanço é muito importante a partir da percepção da correlação das forças políticas e sociais que estão em movimento em plena mutação de nossa estrutura econômica. As capitais brasileiras definham sua sustentabilidade econômica por terem se transformado em espaços urbanos de serviços sob o impacto recessivo da pandemia. A precarização do mundo do trabalho nas capitais sugere muito da natureza de uma possível derrota eleitoral de um partido que se diz representante dos trabalhadores. Todavia, os dirigentes do Partido alimentam seus argumentos com a arrogância e a vaidade para se realizarem lutas internas paralisantes.

Numa negação do conhecimento do mais básico marxismo de um Plekhanov, individualizam os resultados eleitorais do Partido. Seria de bom tom que se aproximassem desse ensinamento daquele que um dia inspirou Lênin. “(...) Mas, nenhuma outra particularidade provável garante a pessoas isoladas o exercício de uma influência direta sobre o estado das forças produtivas, e, por conseguintes, nas relações sociais por elas condicionadas, isto é, nas relações econômicas. Um dado individuo, quaisquer que sejam suas particularidades, não pode eliminar relações econômicas determinadas, quando estas correspondem a um determinado estado das forças produtivas. No entanto, as particularidades individuais da personalidade tornam-na mais ou menos apta a satisfazer as necessidades sociais que surgem em virtude de relações econômicas determinadas ou para opor-se a essa satisfação.(...)” (O papel do indivíduo na História). Essa longa passagem demonstra o quanto é um equívoco projetar 2022 a partir de um indivíduo que já foi Presidente da República 20 anos depois de sua primeira eleição.

Seria o momento do Partido dos Trabalhadores fazer a política de aproximação com o centro político compreendendo sua vitória de um amplo leque de forças do “Campo Democrático” nas eleições municipais de 2020. O “Campo” saiu vitorioso por nele fazer parte o PT. O PT saiu derrotado se considerar que não faz parte desse amplo campo democrático se auto isolando como um “Narciso Chic”. Nessa dialética que poderia se fazer qualquer balanço partidário de uma esquerda amadurecida ao ponto de perceber que sua função seria ser um instrumento para a emancipação da sociedade ao contrário de pensar a sociedade como reflexo de sua acumulação de força política. O eleitor demonstrou que está interessado na redução das desigualdades sociais num amplo leque de possibilidades politicas – do empreendorismo até a taxação das grandes fortunas passando pelas vertentes revisionistas da economia criativa e da renda mínima. Não inserir esses pontos num balanço partidário é fazer uma política só eleitoreira pois só se alimenta num processo de constante debate eleitoral (primeiro as eleições na sociedade para depois entrar nas eleições internas e depois retornar para as eleições gerais). Essa é uma característica muito questionada no atual mandatário presidencial que nunca sairia do “palanque” e se negando a governar para a sociedade. O narcisismo na política é o alimento da polarização que pode definhar as instituições democráticas. Portanto, o feitiço de Eco precisa ser quadrado por quadros internos ou externos ao PT como alerta do quanto esse momento impõe a necessidade da “Grande Política”.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

MEMÓRIAS POSTUMAS DO CIDADÃO CARIOCA - 5

 

 

Razão e Maluquice

Por João Sem Regras

 

Já temos muitos leitores a reclamar se essas memórias estão sendo escritas em que tempo terreno. Mas eis que lembro a todos que aonde me encontro nada há como medir o passar do tempo. Aliás, o que seria o tempo nesses dias. Outros se questionam sobre em que lugar se passa as minhas lembranças. Seria mais interessante que cada leitor pudesse imaginar o quanto tudo nesse infinito universo está relacionado por mais que haja esses diplomatas antiglobalistas a discursar suas maluquices.

Já o leitor mais atento e fiel as leituras dos depoimentos anteriores do quanto me esforço em não expor muitos outros personagens. Todavia eles existem ou existiram. Há um labirinto nas informações para aqueles que precisam estar preparado para esse “reality show” narrado dessa zona sombria. Aliás, muitos vivem na zona sombria sem ter uma noção do quanto eles existem.

Estávamos muito bem a pensar na volta de uma Razão a habitar os corações no mundo terreno. Uma ilusão que foi se deixando passar aos poucos. Eu poderia dizer que o mundo do carioca seria o suburbano universal. Nessa minha tentativa de ser um pouco antropólogo desse cotidiano que ficou sombrio nos tempos de um determinado Prefeito. Mas a astúcia de seguir o “atalho” do nacional foi a moeda de César em sua vida política. A Sandice nunca sai desse meu Rio de Janeiro com as constantes maluquices desses mascarados que ornamentam seus rostos sem propagar o amor nos discursos políticos.

Tempos em que a Razão poderia se impor na vida carioca, porém muitos se silenciam no esclarecimento das alternativas. Sem a força de uma opinião a loucura alimenta o fogo do ressentimento das camadas médias. Desse segmento que se diz conhecedor das letras sem ter condições de ler mais que os caracteres de um Twitter. Dessa geração de ativistas que cancelam quase tudo, pois a opinião está sufocada por uma nova Inquisição. Antes os debates seriam para buscar pontos de convergência. Vivi nos tempos em que cresciam as tretas. E eu falando do Twitter por onde alguns poucos de meus leitores divulgam essas linhas. Seriam elas lidas até o final?

Antes que busquem a impugnação de minhas palavras, espero que todos assumam o compromisso de pensar mais na sua cidade que sempre esteve doente e ainda mais com diversas doenças. Agora, pensemos nas casas vazias enquanto há pessoas sufocadas no pagamento de aluguel. Pensemos nos moradores de rua e nos espaços públicos vazios. Imaginemos o quanto a moradia é uma palavra curiosa no dia a dia. Reformas seriam possíveis nos Centros das cidades que poderiam animar outros centros. Eis aqui um pouco do que uma vez li num certo livro. Não me recordo ao autor. Nem sei se valerá a recordação. Mas estaria em Construir e Habitar se não me falha a memória.

Se me serviria o consolo em saber que até o Papa é ouvido, mas muito pouco é levado em consideração até pelos católicos. Desconfio que sim. Fico aqui remoendo essas linhas como a reclamar por um pouco mais de uso da Razão. Pois ela alimentaria um caminho mais sensato para o carioca pudesse resgatar seu espaço público. Falta Rex Pública numa cidade que se deixou ficar dividida em “pequenos feudos”. Um encontro entre Alberto Passos Guimarães e Nestor Duarte na sociologia da política carioca. Agora, tenho certeza que do mundo de Star Wars virão reclamações dessa minha referência ao agrarismo na política brasileira, porém me esforço a render homenagem ao grande Raimundo Santos que foi Professor e teve o nome como personagem de um romance de José Saramago. Antes que fiquem desesperados na leitura, estou fazer referência a História do Cerco de Lisboa.

Na nossa política carioca, há muito distúrbio que nessa peregrinação nos testemunhos das eleições que deveriam servir para pensar melhor a cidade como base de uma cidadania. Meu cérebro constantemente em rodopios, pois nem sei se estou a escrever a leitores fidelizados ou a outros que caíram aqui por uma curiosidade em clicar um link. Enfim, se até aqui você chegou, eu lhe atribuo muita força de vontade em fazer algo diferente de se deixar levar pelo consenso de um “partido de juízes” que levaram uma cidade sem juízo as portas do Juízo Final. Já se passaram os anos de minha juventude em que adorava dizer que seria delegado em algum encontro político. Ser delegado era por alguns dias. Todavia, uma cidade é administrada pela arte de representar uma política.

Há uma amável peregrinação que sugere que o terror ainda não passou na cidade dos golfinhos. A maluquice está em cada cantinho das redes sociais. Estamos assustados com os excessos de buscas por experiências sem ler compromissos programáticos. E os formadores de opinião parecem mais como os mágicos em meio ao Circo Místico em que todos sabem muito bem quem é o palhaço diante de uma Live numa quinta-feira qualquer.

E, escrevendo isto, travou-me a sensação de que a fábula da corrida entre o “coelho e a tartaruga” ainda não foi compreendida por alguns políticos. A maluquice pode muito bem expulsar a razão pelo grunhido de zangas daqueles que precisam deixar de falar da vida urbana. Deixemos ao leitor um momento para reflexão e que tenha consideração em se fazer pensar o Rio de Janeiro. Ainda a tempo de fazermos algo racional.

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

SENÕES DOS SERTÕES - Nosso correspondente do Ceará


Mar de imprecisão

 Por Hermes Messger

Formado em filosofia e criador de cabras.

 

A vida, nas incertezas de seus futuros fatos, nos conduz em mares turbulentos com velas levantadas, em temporais que, iniciados por nós, tem na incerteza sua condução.

Ao ver a ignorância, inépcia e obscurantismo, com marcha firme e olhar altivo, como quem do vazio se orgulha, tomar o país e o mundo levando o bom senso e a razão ao descaso das massas pensaria eu... e existiria? Ou existo... se não o pensasse?

Na profundidade do pensar deixamos de perceber o avanço da inépcia como ciência e do subjetivismo como fatos.

Não nos preparamos para o mundo dos algoritmos, certos das solidas bases da sociedade e conhecimento humano. Não se percebeu que nesse novo mundo em bits o bem fundamentado não da “like” e as ideias vagas encontram eco na ágora dos idiotas. Estes sim, os idiotas encontraram um canal para voz e juntaram-se aos semelhantes.

Para os algoritmos cada opinião é um número num mar de irrelevâncias, como os idiotas sempre foram maioria, a opinião destes se somam e como uma onda conduzem a boiada da humanidade rumo ao medievo.

A tecnologia nos emburreceu quando da simplificação, em modelos matemáticos complexos (Paradoxal realmente). Quando o mais importante são os números (os iguais) e não o conteúdo (as exceções) as ideias rasas se agigantam, os imbecis se enobrecem, os cegos (de razão) apontam o caminho, e o gado, bem o gado segue ao som do berrante, dos “likes”, das curtidas e “memes”. Até que haja luz novamente em meio as trevas e fumaça... claro.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DO CIDADÃO CARIOCA - 4

Meu Casaco de Intelectual

Por João Sem Regras

 

Numa semana agitada eu vivi naqueles tempos que ainda o Rio de Janeiro tinha figuras que influenciavam os cariocas pelos jornais. Hoje vejo que ninguém mais leria essas folhas impressas mesmo antes daquela “pandemia”. Alguns ainda se aventuram a leitura dos BLOGs como se fossem cultuar uma moda retrô por um disco de vinil. Como sempre fica aquela pergunta presente na série Dark. O correto não é perguntar em que tempo estamos, mas em que mundo estamos? Pois o carioca passou por uma vivência de vários mundos paralelos sem que se saiba onde estaria a “caverna” da passagem.

Meus ilustres, fanáticos e abnegados sete leitores desde o primeiro conto devem ter percebido o quanto tenho relato como se vivo ainda estivesse. Todavia mais vivo estou por não estar nesse mundo de vocês que estariam a ler essas linhas pensando que sou um “médium” a incorporar a ironia do Bruxo do Cosme Velho. Sabemos que tudo se individualizou nas leituras e tenho como me inspirar diante de uma eterna estabilidade.

Enfim, fui me perdendo nesses devaneios e o principal seria voltar a um ponto de minhas memórias perdida quando meu amável pai cismou que eu deveria praticar um esporte aquático. Meu pai era tricolor doente por culpa do Anjo Pornográfico eu presumo ou gosto de assim dizer para dar mais uma referência labiríntica para alguns leitores “zumbis” que apareçam por aqui. Esse fanatismo paterno me fez sair do distante bairro de Bangu até a Zona Sul Carioca para tentar nadar no time de coração de meu progenitor. Pois, foi ali que conheci um jovem de minha idade ou um pouco mais jovem. O Lula....

Não seria o então líder sindical na Ditadura Militar o qual vivíamos. Era o apelido da maior promessa da natação do clube naquele momento. Curiosamente, faço aqui uma “fofoca” para que os panfletários de “fakenews” se assustem, o meu colega de escolinha de natação foi depois um adolescente que chegou a usar a estrelinha (confesso que não era a de Davi). Nada de ressentimentos com essa referência biográfica nesse momento que penso muito no que fez tudo mudar. Eu não fiquei mais de três aulas por lá. Minha vida seria vestir um casaco de intelectual nem que fosse pelas vias da ficção. E esse casaco adorei vestir aqui nesse mundo do além.

Voltemos ao ponto que vivi numa semana agitada quando revi Lula falando em reconstrução da Cidade. Ele mobilizava alguns ex-atletas numa coletiva e parecia que estava desejando fazer política eleitoreira. Reconstrução é uma linda referência a história norte-americana pós Guerra Civil que aquele nadador citava muito mais por apelo de marketing do que conhecimento da leitura do Eric Froner. Se ele ainda nada além da liberdade, avaliei que esse meu conhecido daquele tempo distante sempre gostou de competição para ganhar ou impor problemas para os adversários.

Uma semana agitada se abriu com aquela imagem e muitos nem se davam conta do quanto nem boiar um cidadão carioca poderia. Fui vestindo meu casaco e não adiantava os alertas enquanto eu ouvia o samba “Pelo Telefone” em meu playlist. Ai ai ai.... Deixemos as mágoas para trás meu rapaz. Vou saindo de fininho antes que me cancelem no Twitter sobrenatural.


sexta-feira, 11 de setembro de 2020

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DO CIDADÃO CARIOCA - 3

 

De Secretário por um dia

Por João Sem Regras

 

Numa noite distante estava eu num retiro na minha distante casa de campo. Recebi um telefonema de um antropólogo que não tinha ido para a Amazônia com teria sugerido um Ex-presidente para que considerasse uma possibilidade de alianças eleitorais. Nem mais me lembrava de como seria o Rio de Janeiro após uma semana distante. Ele estava muito jovial, pois teria visto uma possibilidade de mudança no cenário eleitoral. Estávamos em tempos de eleições e sempre gostavam de ouvir minhas opiniões para seguir caminho contrário.

Tempos de curiosidades e ternura para se falar ao telefone. Mas eram dias de operações da Justiça, Ministério Público, Polícia Civil e tudo que houver direito. Tão esperançado! Meu amigo pensou que os números eleitorais seriam somente a soma das intenções de voto em pesquisas feitas por telefone. Tinham esquecido que um Ex-Juiz, agora em desgraça nas linhas dos Pasquins Liberais, saiu do quase anonimato para a glória por causa dos grupos de Zap! Fingi muito interesse pelos argumentos, mas estava deveras cansado para meditar sobre a situação.

Numa semana agitada pelas operações de “limpeza da política” eu muito temia que aquilo tudo pudesse gerar uma monstruosidade. Ninguém parece ter lido os ensinamentos do autor de Liberalismo e Sindicato no Brasil que brincava com o a cidade do Homem Morcego. Uma pandemia teria surgido por causa de um morcego, mas a doença carioca já tinha muitos anos. Minha esposa olhava para mim com expressão de ansiedade. Sempre temia que eu descesse para a Capital como um “coronel de Esquerda” típico de alguns seletos parlamentares. Todavia, estou mais para um peão nesse tabuleiro vazio de programas.

Eu poderia estar saboreando um iogurte que por ter a marca em diminutivo poderia parecer um apelido em tempos da Universidade. Girava minha mente. E minha amorosa companheira de passeios, cada vez mais interrogativa. Então ouço a frase ao telefone.

- O pior – falava meu ilustre amigo e articulador político – é que ainda não achei secretário.

- Não? Mas secretário de que?

- Secretário para o Governo de Salvação do Rio de Janeiro.

- Ainda nem começou a campanha. Como pode pensar nisso?

- Ah! Precisamos mostrar que estamos capacitados para assumir esse barco sem “Capitão”.

- “Capitão”!?! Esse tem... Mas está no outro lado do navio. Muito bem à extrema direita.

Risos de meu interlocutor. Ele muito estava animado com a situação. Achava que abria uma janela de oportunidades numa cidade que majoritariamente teria votado num reacionário dois anos anteriores. Fui ouvindo os argumentos pensando nas conversas que eu tinha num fim de tarde com os camponeses da cidade. Até que um grito me alertou para voltar a realidade.

- Tenho uma brilhante ideia... Quer você conversar com o nosso Deputado?

Não sei o que lhe retruquei.

- Você tem perfil de “frentista” – continuou ele -, não precisa estar na cota das forças políticas. Você poderia ser um bom Secretário Municipal.

Minha alma saiu de minha matéria terrena muito mais explicitamente como estou hoje. Pensei no perigoso devaneio dessa proposta num momento de tamanha delicadeza para o Rio de Janeiro. Encarei a situação fixamente. Respirei aquele ar serrano, e não tive ânimo para dizer um “não”. Até porque nada se concretizaria nas próximas horas diante das pouca capacidade de termos notícias animadoras da cidade maravilhosa. Perderia tempo em perguntar sobra a formulação do programa ou se estavam levando em consideração os impactos de quase uma década da pandemia. Muito menos teríamos um orçamento flexível e uma hegemonia fiscalista na imprensa me assustava. Na verdade, desconfiava que de um “nada” na política um nadador poderia acabar surfando na “antipolítica” ou que por “WO” os fantasmas dos praieiros de 1848 rondariam aquele pleito. Mas fui premiado por uma pergunta.

- Você terminou seu Doutorado?

- Não. – foi minha resposta.

- Puxa! Agora ficou difícil ganharmos algo. Estávamos que essa eleição no “papo”.

De fato, fui Secretário nem por um dia, mas por algumas horas. E a Esquerda Carioca perdeu por minha culpa.

terça-feira, 8 de setembro de 2020

SÉRIE FILMES: SEMENTES - Mulheres Pretas no Poder

 

Sementes no Rio de Janeiro Cidade Aberta

Vagner Gomes de Souza

No ano de 1945, Roberto Rossellini sacudiu o cinema italiano com uma ficção sobre a resistência ao fascismo. Foi em Roma Cidade Aberta que as sementes daquilo que seria a política de “compromisso histórico” entre comunistas e democratas cristãos (só defendida por Berlinguer nos anos 70) estariam sinalizadas pelos personagens. O filme era uma ficção produzida no “calor da hora” da derrocada do fascismo no mundo. Hoje ganha um grande contorno de registro histórico para muitos.

Nesse mesmo ano, no antigo estado do Rio de Janeiro (morador de Niterói), era eleito Claudino José da Silva como Deputado Constituinte pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) que era considerado o único negro na Assembleia Nacional Constituinte que se estabeleceu na no Palácio Tiradentes (atual ALERJ). Foi ele responsável por fazer o primeiro discurso da bancada comunista nos debates constituintes. Diante de tamanha responsabilidade, o discurso foi escrito por Jorge Amado e Carlos Marighella e ganhou notoriedade por ter durado 4 horas e 25 minutos além de ter obrigado a atenção dos outros constituintes, pois não queriam ser considerados reacionários por não ouvirem um negro na tribuna.



Foram essas as referências sobre o papel do legado em política que vieram a minha mente quando assisti ao filme Sementes: mulheres pretas no poder de Éthel Oliveira e Júlia Mariano em sua estreia no Youtube. O ano é 2018. Em março daquele ano há o assassinato da Vereadora Marielle Franco num ano eleitoral. O filme documentário registra a trajetória de seis mulheres negras do campo da esquerda que entram na disputa eleitoral desse ano marcado pela vitória eleitoral da extrema direita tanto no nível federal quanto no Rio de Janeiro de Claudino José. Por isso, seu registro ganha força para um analista uma vez que expõe as dificuldades materiais e de análise de conjuntura.

Todavia, o filme não tem essa responsabilidade uma vez que é tarefa dos atores políticos fazerem valer suas designações como forças políticas da esquerda. Portanto, é um documentário mais etnográfico que político. Uma memória social de mulheres de luta enfrentando o ovo da serpente. Minhas referências europeias se distanciam da proposta americanizada de seu roteiro. Entretanto, percebemos a alma e a voz de um Glauber Rocha (“Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”) numa cena emblemática de Tainá de Paula se maquiando diante do espelho enquanto faz uma análise de conjuntura. A muito do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol no percurso das aparições da arquiteta e urbanista começando pela forma como a religiosidade de matriz africana aparece em sua entrada em cena no filme.

Contudo, mesmo com as inserções do nacional popular, a americanização do roteiro alimenta as falas de uma Monica Francisco que faz um paralelo entre as escadarias da ALERJ e o Lincoln Memorial no qual discursou Martin Luther King. Está nela a vocalização da importância de vocalização da religiosidade sem necessidade uma instrumentalização. Uma questão muito pouco aprofundada uma vez que a há muitos perfis no filme desenvolvido em três momentos: as campanhas, a apuração e posse/começo da atuação parlamentar das eleitas.

Nas três etapas dessa desenrolar etnográfico e político, muito nos espanta a ausência dos atores políticos de forma mais orgânica. Falta amadurecimento para lidar com candidaturas negras de mulheres no estado que teve Claudino como Deputado Federal eleito.  A escolha do título é relevante, pois estamos num momento de resistência para evitar que a crise da democracia brasileira descrita por Adam Pezeworski no prefácio para os brasileiros de seu livro (A Crise da Democracia) se consolide. O legado da resistência passa pela ampliação do diálogo com uma pluralidade de segmentos sociais que permitirá a consolidação das demandas da sociedade. Entretanto, precisamos dos formuladores de programas para que as sementes não acabem caindo nas rochas como nos ensinou Jesus na Parábola do Semeador.

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

ERA UMA VEZ A ANÁLISE DE CONJUNTURA

Ausência da Política dos Trabalhadores

Vagner Gomes de Souza 

Uma aprofundada observação dos meios de comunicação (tradicionais ou nas redes sociais) nos alerta para a ausência de qualquer debate dos problemas que afetam os trabalhadores. As desigualdades sociais aumentaram em grandes proporções, porém as reivindicações dos trabalhadores foram deixadas esquecidas em alguma prateleira. Elas não aparecem nos hashtags mais mencionados. Poderíamos até questionar se haveria exageros na insistência desse autor em cobrar essa existência. Contudo, há muito tempo que não se apresenta uma política dos trabalhadores.

No máximo, de tempos em tempos, algumas categorias de trabalhadores ainda organizadas consolidam uma reivindicação “defensiva” que consegue “furar a bolha”. Essa situação consolida a proliferação de alternativas “ideologizadas” seja a direita ou a esquerda pois a realidade não está sendo debatida. Esse contexto não é uma novidade imposta pelos altos índices de desemprego. Há muitos anos o artigo de Luiz Werneck Vianna, O Estado Novo do PT (2007), alertava para essa tendência de modernização sem os atores modernos.

Segundo ele,

“(...) Assim, o governo que, no seu cerne, representa as forças expansivas no mercado, naturalmente avessas à primazia do público, em especial no que se refere à dimensão da economia — marca da tradição republicana brasileira —, adquire, com sua interpelação positiva do passado, uma certa autonomia quanto a elas, das quais não provém e não lhe asseguram escoras políticas e sociais confiáveis. Pois, para um governo originário da esquerda, a autonomia diante do núcleo duro das elites políticas e sociais que nele se acham presentes, respaldadas pelas poderosas agências da sociedade civil a elas vinculadas, somente pode existir, se o Estado traz para si grupos de interesses com outra orientação.”

A crise desse mundo se fez presente a partir das manifestações de 2013 como se fosse uma “Intentona de 1935” sem uma bandeira clara para fazer valer um programa para os trabalhadores. O “assalto aos céus” abriu um cenário de reação das forças do conservadorismo do capitalismo brasileiro que muito se tornou dependente do mercado financeiro. Aos poucos, a ideia de uma “Nova Política” se configuraram como a expressão do empreendedor de sucesso coroado pela fé numa teologia da prosperidade. Essas forças “bisonhas” foram moldadas aos poucos até emergirem com muita força nas eleições de 2018 como se as conquistas da Carta Constitucional de 1988 fossem nosso principal entrave para o crescimento econômico.

As classes dominantes aderiram ao “fundamentalismo” do mercado de forma pragmática da mesma maneira que foram aderindo a outras “formas políticas” desde que não houvesse perdas de suas riquezas. Nesse momento, o debate sobre uma reforma tributária e da Renda Brasil sugere o quanto faltam linhas políticas que atendam uma política dos trabalhadores. Pelo contrário, aqueles que geram as riquezas da elite econômica aparecem sempre espelhados como um “custo Brasil”. A imagem do “bom patrão” que não consegue dormir sossegado enquanto o seu empregado muito bem goza de uma noite de sono.

O símbolo da hipocrisia que se alimenta dos erros do campo democrático em não saber construir uma oposição aos devaneios desse Ministro da Economia que prefere destruir a sociedade brasileira se puder consolidar os lucros do grande capital dos bancos. Que fazer? Essa é a pergunta sempre repetida em muitos debates sobre o momento político atual cada vez mais com poucas análises de conjuntura e mais explanações de opiniões sobre os fatos do dia a dia.

 É muito importante compreender que a aproximação das eleições municipais poderiam trazer de volta os PT (Pontos dos Trabalhadores). Para exemplo de ilustração,  seria a necessidade de creches públicas em horário integral, a ampliação do tempo dos  bilhetes únicos do transportes públicos, defesa de ações da Prefeituras nas periferias com melhorias nas habitações, incentivar o uso de espaços abertos para atividades culturais como alternativa aos impactos negativos da COVID19 na cultura, etc. Todavia, essa política se faria presente na formulação de programas para formas as alianças políticas como se deveria ser o papel de uma “esquerda positiva”.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 12

 

No País do “Ziguezague”

Por Vagner Gomes de Souza

“O velho mundo está morrendo. O novo tarda em aparecer. E nessa meia luz surgem os monstros”.

Gramsci

Um país que está com mais de 100 mil óbitos por COVID19 e milhões de desempregados. Uma economia sob o comando de um Ministro que considera livros como produto de “luxo”. Desmatamento e queimadas no Pantanal. Povos indígenas sob forte vulnerabilidade. A desigualdade social se transformando num “novo normal”. A prévia do PIB assinala uma queda acima de 10%. Como explicar a recuperação política do Presidente da República?

Os primeiros sinais dos analistas políticos sugerem que o Nordeste estaria deixando de ser “Vermelho” (referência aos votos que a oposição teve nessa região em 2018) para aderir ao Governo por causa de um “Auxílio Emergencial” que sempre incomodou (e ainda incomoda) o mandatário da República. Mais uma vez sugestão de que os mais pobres seriam “ingênuos” na política se deixando manipular. Essa é uma leitura que contradiz o clássico Coronelismo, Enxada e Voto (1948), pois Victor Nunes Leal, em sua interpretação, nos explica o quanto é fundamental a ação política da figura política do “coronel” como mediador entre o eleitor local com o Poder Executivo Federal. Não podemos deixar de considerar que a chegada dos políticos do “Centrão” agregou um elemento de “moderação” ao que poderá ser um novo “Projeto Saquarema”.

Vivenciamos um novo momento no transformismo político que não suporta a linguagem política da polarização. Apostar na política da identidade política como “acúmulo de forças” para uma eleição num universo distante de 2022 contribui, em muito, com o desligamento da realidade das camadas populares. As lições da Pandemia pediam que a solidariedade nas periferias ganhasse um programa de frente democrática. Contudo, olhar para os números evita aos analistas indicarem as responsabilidades dos atores políticos do campo democrático.

Seguimos os passos de uma sociedade num “ziguezague” constante, pois aparentemente nada se aprendeu com o chamado “desastre político” de 2018. Se os mais radicais críticos daquilo que seria ascensão do fascismo no Brasil repetem ou aprofundam a fragmentação nesse momento pré-eleitoral, a grande massa política interpreta que tudo é narrativa eleitoral sem consequências políticas. “Mas vamos tocar a vida” é o melhor lema desse cenário porque é assim que algumas lideranças também abraçaram o sectarismo político na política de alianças. Então, se o eleitor não lhe apoia seria porque ele não é “amadurecido”.

Então, não devemos nos deixar abalar com os números, mas começar a exercer a “grande política”. A “receita do bolo” não é nova, porém os sujeitos políticos serão novos e precisam emergir nesses próximos dias que antecedem as eleições de 15 de novembro (mais uma data histórica desse país de “revolução passiva”). Olhar a segunda década do século XXI como os anos 80 do século passado está demonstrando o quanto não se sabe operar de forma positiva a democracia. Urgente que a “esquerda democrática” se imponha diante dessas siglas aprisionadas ao passado.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

CARTA ABERTA AO MINISTRO INTERINO DA SAÚDE

 

Carta Aberta ao General Eduardo Pazuello

Excelentíssimo Ministro Interino da Saúde General Pazuello,

Esse é o primeiro dia útil do mês de agosto que está associado ao mês dos pais presentes ou ausentes por diversas motivações. Somos pais em um país que atravessa um difícil momento por causa da Pandemia do COVID19. Não seria momento de fecharmos os “corações” por causa de nossas diferenças diante de uma gravíssima realidade. O número de óbitos por dia no Brasil não se reduz na média móvel. Não é intenção de essa carta apontar os erros e os motivos de um resultado desfavorável. Essas linhas pretendem que a sensibilidade lhe desperte uma atitude que conforte os corações de muitas famílias que derramam lágrimas a cada dia.

Formado na Academia Militar das Agulhas Negras com 21 anos de idade, o Senhor demostrou suas qualificações ao longo da carreira militar assumindo de forma correta a coordenação das tropas do Exército nos Jogos Olímpicos de 2016. Todavia, um grande comandante deve saber o momento de fazer a retirada quando a “guerra” pode ceifar mais vidas desnecessariamente. O enfrentamento da COVID19 precisa de abrir-se para a “pacificação” que Duque de Caxias muito bem ensinou nos anais da História do século XIX com a firmeza de saber o quanto é necessário elevar os valores positivos do conhecimento e da ciência.

O Senhor jurou e abraçou a defesa dos interesses da nação brasileira. Com certeza já deve ter avaliado o quanto seria uma gravidade essa interinidade no Ministério da Saúde desde o dia 15 de maio. Não podemos colocar o legado histórico do Exército brasileiro em mãos de opiniões e disputas políticas ainda mais quando vidas estão em jogo. Um soldado cidadão cresce quando honra a unidade nacional e permite que a saúde pública seja cuidada pelos profissionais da área. Não é um simples pedido pela sua renúncia, mas um diálogo para que não se deixe renunciar a nação brasileira só por se manter fiel a “x” ou “y”. Ouça o seu coração e pese na “balança” da consciência que esse é o momento para abrir mão de uma vaga interinamente ocupada há quase 90 dias!!!

Tenho esperança que rume  pela decisão correta. Agradeço sua atenção e perdoe se tenha exagerado nas palavras sinceras de meu clamor. Foram escritas após noites de insônia de um pai.

Atenciosamente Vagner Gomes de Souza