domingo, 9 de junho de 2013

FAROESTE CABLOCO - O FILME (OPINIÃO)



 

Era uma vez em Brasília
Por Vagner Gomes
“Não é nossa culpa
Nascemos já com uma bênção
Mas isso não é desculpa
Pela má distribuição
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração (...)”

Faroeste Caboclo – O filme é um desafio para a geração que nasceu após a morte de Renato Russo. Um compositor talentoso que foi “levantado aos céus” como se fosse um neomessias de uma juventude sem bandeiras. Por isso, há um estranhamento quando jovens entram ao cinema para ver um filme achando que irão assistir ao “Vídeo-Clip”. Não é uma narrativa “fiel” a todos os versos da música e nem pretende ser isso em nossa avaliação.
Faroeste Caboclo é impactante pela ousadia de levar para as telas do cinema nacional o estilo do “western” ambientado numa Brasília no começo dos anos 80. Tempos de ditadura militar em que as “Cidades-Satélites” cresciam em pobreza e violência. Portanto, uma referência que logo surge em nossa mente é o diretor Sergio Leone através de duas obras: “Três Homens em Conflito” (1966) e “Era uma vez no Oeste” (1968 ).

Cena de Era uma vez no Oeste (1968)

A primeira cena do filme só faltaria uma gaita como fez Enio Moricone certa vez na história da trilha sonora dos filmes. Aliás, um bom “westen” precisa de uma boa trilha sonora que fique na cabeça do público do filme. Faroeste Caboclo – O filme acertou na trilha sob a condução do integrante da banda Plebe Rude, Philippe Seabra ao deixar a execução de Faroeste Caboclo – A música para o momento dos créditos. Outras músicas ganham destaque para reviver a memória dos contemporâneos do rock nacional e para a nova geração.
O diretor faz uma secularização de uma inspiração musical. Faz um duelo com aqueles que desejam transformar a obra de Renato Russo numa filosofia pós-moderna sem contextualizar. Portanto, a contextualização histórica aparece em alguns momentos incidentais que o público “fundamentalista” deixa passar sem muita atenção. A chegada de João de Santo Cristo em Brasília é ilustrada com cenas da época dos “quebra-quebras” em 1980 que a imprensa pouco exibia na TV. O slogan do Governo do último ditador militar, General João Baptista, aparece na narrativa – “Plante que o João Garante”. As manchetes do jornal Correio Brasiliense que servem para ilustrar as fotos na cadeia. Qual é a primeira edição? Será que os “fundamentalistas” se lembram? Muito bem, trata-se de uma referência ao atentado a bomba no RioCentro que foi importante para o isolamento político da “linha dura” do regime militar de então.

Faroeste Caboclo sem "puritanismo"


Nesse aspecto, o filme inverte o culto a Renato Russo com sua dessacralização e sua gradual aproximação ao momento político do rock nacional. Além disso, o filme aborda outros duelos da sociedade brasileira. O geracional: o Senador e a filha universitária. O social: “enquanto o rico projeta o pobre constrói”. O racial: lamentavelmente uma parcela do público na região onde assisti (Zona Oeste carioca) expressa seu “choque” com um romance intraracial entre João de Santo Cristo e Maria Lúcia. Deixemos a hipocrisia de lado. Fazer o discurso de que o filme tem cenas de sexo excessivas é um preconceito disfarçado em moralismo.

Que país é esse que observa “putaria” em uma heterodoxa história de Amor entre uma branca e um negro? Vejam a poesia das cenas de conteúdo adulto se desejar essa classificação dos tempos da CENSURA da Ditadura. O Diretor muito bem conduziu esses momentos necessários para servirem como um “soco” no estômago da nova geração de moralistas. As primeiras cenas há um contraste da pele negra com a pele branca. Num segundo momento há a engraçada brincadeira dos cômodos. Por fim, a cena da denúncia ao falso pudor. Numa sala carregada pelo cenário de inúmeros quadros sacros os dois fazem amor até que chega o Senador que expulsa os dois. Observem que não são mais de 5% da película, porém o senso comum comenta como se fosse uma “pornochanchada” dos anos 80.

O romance da citação ao Kunta Kinte

De fato, o filme expõe outras referências não captadas pelas vertentes “fundamentalistas” que vão ao cinema. A citação de Kunta Kinte nas boca de Jeremias é um convite a leitura do romance de Alex Haley para uma percepção comparativa do escravismo nos Estados Unidos e no Brasil. O balde de água vazio lembra “Vidas Secas”. Não podemos esquecer-nos de um pouco de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” se seguirmos nossa liberdade de leitura. Por fim, para não alongar mais, as drogas e a vingança lembram o Diretor Quentin Tarantino (“Pulp Fiction”, “Kill Bill Vol. 1 e 2” e “DJango Livre”).
Essa é a narração de uma história de um filme que não pode ser simplesmente descartado por uma nova forma de “fundamentalismo”. Estranhamente, uma nova geração que cultua ou pensa que cultua Renato Russo não percebeu que ele era um libertário, ou seja, não aceitaria que sua obra fosse uma doutrina ou estivesse distante da crítica social. Portanto, citamos uma passagem da música “Até quando esperar”, que está na trilha do filme, ao começo dessa resenha.

Três Homens em Conflito (1966) 

domingo, 5 de maio de 2013

Sobre o Filme: SOMOS TÃO JOVENS



Somos tão americanizados
Por Vagner Gomes de Souza

Há uma estranha sensação que nunca se conheceu o a nossa História. Muito menos a relação de nossa História com alguns personagens. Imaginem pensar os anos da Abertura Política (1976 – 1982) na Capital do Brasil! Esse seria um desafio para além da imaginação de muitos jovens e cinquentões dos dias atuais. Portanto, a ousadia do diretor Antonio Carlos de Fontoura foi essa na condução da adaptação da biografia Renato Russo: O filho da revolução para o cinema. Muitos estariam aguardando o impacto dos costumes do universo da Lapa “estadonovista” do filme “A Rainha Diaba” (1974), porém o público juvenil que vai ao encontro dessa nova narrativa de Fontoura nasceu, em grande maioria, após o Plano Real (1994).
São os filhos da americanização em tempos de estabilização que reencontram a Brasília em tempos de Ditadura Militar. Muitos aguardavam um novo e longo Clipe musical, mas assistem os dilemas da classe média brasiliense diante do desmoronamento do “milagre econômico”. A temporalidade do filme é de 1976-1982. Tudo começa na simbólica queda de uma bicicleta entre as quadras da cidade projetada por Oscar Niemeyer em um esforço de relação da câmera do cineasta com a Antropologia Urbana.
Renato Russo ainda é “Reinato” Manfredini. Ele é mais um exemplo das interpretações sobre o papel da personalidade na História presente na literatura marxista russa. Contudo, o diretor deixa que escolhamos a melhor oportunidade de interpretar diante a ebulição do “movimento Punk” na Brasília em fins dos anos 70. O espectador americanizado poderia pensar em simples estilo de se vestir, mas um rápido diálogo no começo do filme demonstra que poderia ser também uma forma de protesto contra a repressão militar. Atenção a referência ao “Sex Pistols” no filme!!!



Pixação do Aborto Elétrico (Banda Punk em tempos de Ditadura Militar)

Se o ABC paulista foi palco das manifestações operárias através das greves, o filme sugere que o chamado “Rock Brasiliense” tenha sido politizado por não apenas pela influência “punk” mas também pelas condições de termos um segmento juvenil diante do dilema de ou dar continuidade aos “anéis burocráticos” emergente da repressão seja no Brasil ou em outras nações (pensem no caso do Guitarrista Petrus do “Aborto Elétrico” ao se apresentar ao serviço militar da África do Sul) ou deixar de ser como nossos pais.
O filme é uma arte de reflexão para os tempos de “neochanchada” do cinema nacional. A escolha da trilha sonora foi muito bem incorporada ao roteiro. “Faroeste Caboclo” ganha um peso de canção universal tanto para as Cidades Satélites que emergiram à margem da americanização perversa em Brasília quanto a vida cotidiana numa Zona Oeste carioca ou na Zona Leste de São Paulo. Mais uma vez a Antropologia Urbana ganha peso na narrativa cinematográfica como um importante papel no diálogo dos liberais com os excluídos.
Fomos tão americanizados que “O Homem de Ferro” ainda ganha filas de espera no duelo com “Somos tão jovens”. Entretanto, há outras possibilidades para o americanismo diante da possível reintrodução da aceitação da pluralidade contra os desvios inquisitoriais do “atraso” que tomou de assalto a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados. É possível uma versão mais democrática que hoje percebemos na consultoria de Hermano Vianna (puxa...o irmão do Hebert que está no filme!!!) ao programa “Esquenta” aos Domingos. Diante de nossa democracia juvenil  “Nem foi tempo perdido / Somos tão jovens”.

domingo, 21 de abril de 2013

"Querida, vou comprar cigarros e volto já" - MINHA OPINIÃO



Experiência e Pobreza na vida de Ernesto

Por Vagner Gomes de Souza

“(...) Podemos agora tomar distância para avaliar o conjunto. Ficamos pobres. Abandonamos uma depois da outra todas as peças do patrimônio humano, tivemos que empenhá-las muitas vezes a um centésimo do seu valor para recebermos em troca a moeda miúda do "atual". A crise econômica está diante da porta, atrás dela está uma sombra, a próxima guerra. A tenacidade é hoje privilégio de um pequeno grupo dos poderosos, que sabe Deus não são mais humanos que os outros; na maioria bárbaros, mas não no bom sentido. Porém os outros precisam instalar-se, de novo e com poucos meios. São solidários dos homens que fizeram do novo uma coisa essencialmente sua, com lucidez e capacidade de renúncia. Em seus edifícios, quadros e narrativas a humanidade se prepara, se necessário, para sobreviver à cultura. E o que é mais importante: ela o faz rindo. Talvez esse riso tenha aqui e ali um som bárbaro. Perfeito. No meio tempo, possa o indivíduo dar um pouco de humanidade àquela massa, que um dia talvez retribua com juros e com os juros dos juros.”
Walter Benjamin (1933)

A Argentina está em “alta” diriam os entusiasmados jornalistas. Messi e Papa Francisco. Futebol e religião seriam os paradigmas mais simples de propaganda para o senso comum em nosso país. Entretanto, a Argentina “política” e “histórica” é nossa desconhecida como tantos outros desconhecimentos nossa sociedade tem sobre nós mesmos. A Argentina é o país sulamericano que já recebeu dois Oscars de Melhor Filme Estrangeiro (“História Oficial”, 1986 e “O Segredo dos seus olhos”, 2010) em Cinema e ainda tem uma presença rarefeita no circuito de distribuição de filmes apesar das recentes renovações de títulos variados em variados gêneros.
Ver um filme Argentino nos obriga a estudar uma nação limítrofe e constatar que muito podemos aprender nesses filmes se estamos inspirados pela aventura da pesquisa no “Google”. Diferentes narrativas cinematográficas tem sugerido que eles não estão satisfeitos com o “kichnerismo” além da recente polêmica do ator Ricardo Dárin referente ao patrimônio da Presidente de seu país. Agora, a comédia “Querida vou comprar cigarros e volto já” dos cineastas Mariano Cohn e Gustavo Duprat não fogem as raízes da reflexão sobre a sociedade política argentina uma vez que os mesmos dirigiram o curioso documentário “Yo Presidente” (2006) com relatos dos candidatos a Presidência da Argentina desde 1983.
Em “Querida, vou comprar cigarros e volto já” (2011), o artigo “Experiência e pobreza” do filósofo alemão Walter Benjamin estaria presente ao trazer a luz o “peso” do passado nos resultado de nossas ações presentes. Então, viria o desafio: “Você aceitaria retornar 10 anos de sua vida com os conhecimentos que tem hoje?”. Uma oferta de provavelmente de um Anjo – não se esqueçam de que Lúcifer é um “anjo caído” – que é personificado num mercador do Norte da África imortalizado por motivos que vão além da estatística. Um filme da Argentina que começa num distante passado em Marrocos prende a atenção do público desde os primeiros minutos.


 O "Anjo Sinistro" (Eusébio Poncela) e Ernesto (Emilio Disi) 


O “pacto sinistro” é oferecido a Ernesto (nome sugestivo para um argentino e para a “esquerda chavista” contemporânea), porém esse é um simples medíocre numa cidadezinha medíocre numa vida medíocre. Aliás, o roteiro permite uma narrativa que nos apresenta ao autor do Conto Original que inspirou o filme. Alberto Laiseca aparece em alguns momentos do filme para comentar as ações dos personagens e suas concepções. Temos a sugestão da influência de Woody Allen no filme argentino diante do passado da mãe que pesa nas lembranças de Ernesto e as referências ao judaísmo. No filme temos a psicanalítica referência materna nas lembranças do personagem que seriam úteis para pensar seu melancólico destino. Além disso, Ernesto é o fracassado que nos faz lembrar os personagens que Allen nos fez rir com seriedade ao longo de sua carreira como diretor. “Alter-ego” do contista argentino captado pelos diretores ou tudo seria ao mesmo tempo para perceber uma sociedade argentina no Divã após anos de “Evita” e nos tempos da “mamãe” Cristina.


Alberto Laiseca


A cada viagem de Ernesto ao passado uma forma de perceber que o tempo é imutável em seus principais fundamentos. Um sujeito histórico limitado sempre será limitado mesmo com a vantagem do conhecimento. Essa seria uma importante lição diante dos fantasmas do passado “peronista” que exorcizam os argentinos. Há uma forma diferenciada de fazer oposição democrática nos Pampas que não perdeu senso de humor. Lições benjaminianas para enfrentar outras variáveis do fascismo no século XXI que é globalizado como se percebe na última cena do filme. Uma convergência a obra de Woody Allen - “Meia-Noite em Paris” - que também é de 2011.

Sobre o filme argentino “Elefante Branco” leiam a crítica abaixo:
http://votopositivo-cg.blogspot.com.br/2013/01/elefante-braco-critica.html

domingo, 14 de abril de 2013

FUSÃO PPS-PMN (OUTROS)


Diretório Nacional Aprova Resolução Política de 13 de Abril

A Política de Oposição e a Morte do PPS
Por Vagner Gomes de Souza[i]

A Conferência Política do PPS, encerrada em 13 de abril de 2013, teve o sugestivo título: “A Esquerda Política pensa o Brasil” e teria o objetivo de formular uma política clara para as forças oposicionistas diante de anos da hegemonia de um liberalismo social (Governos FHC somados aos 10 anos de Governo de Coalizão sob direção do PT). A antecipação da campanha eleitoral de 2014 influenciou na divulgação da Conferência e em algumas intervenções da mesma. No final, a Oposição continuou sem um discurso político que faça sua diretriz na política, pois não ficou claro se devemos aprofundar uma crítica “ultra-liberal” a gestão atual da economia ou se devemos ocupar uma postura à esquerda ao atual governo ou se devemos pautar pela Carta Constitucional de 1988 ou refundar o nacional-desenvolvimentismo Grão-Capitalista ou defender bandeiras temáticas...Enfim, o saldo da Conferência Política foi reafirmar uma UNIDADE sem política uma vez que se evitou um balanço político das ações do Governo no sentido de antecipar o debate eleitoral já que os atores políticos da oposição se sucumbiram na mesma equivocada ação.
Inúmeros políticos de diversas legendas estiveram nas tribunas da Conferência Política do PPS, mas foi raro os momentos em que a invenção política esteve presente. O cálculo eleitoral ou “eleitoreiro” contaminou o debate e as articulações ao longo da Conferência a medida que referência a “Esquerda Democrática” soava mais a um momento de retórica para um público interno. A “fulanização” da política foi uma de suas características mais lamentáveis ao ponto de promoverem uma Enquete sobre quem o PPS poderia apoiar nas próximas eleições presidenciais. A ideia de derrotar o Governo sob hegemonia do PT foi confundido pela política de buscar uma forma de derrotar a Presidente Dilma sem que houvesse uma percepção de que ambos poderiam estar em contradição nesse momento político. As sugestões recentes dos artigos do sociólogo Luiz Werneck Vianna não couberam nas reflexões da Conferência Política do PPS. O discurso oposicionista continua “vazio” e da política democrática. Portanto, as demais consequências e desdobramentos na Reunião do Diretório Nacional do PPS na tarde do dia 13 de abril revelaram o quanto a Oposição está trilhando o caminho impróprio aos antigos valores da formulação da Grande Política do antigo PCB (extinto no seu X Congresso em 1992).
A Resolução Política do Diretório Nacional do PPS de 13 de abril de 2013 é o legado da morte anunciada em tantos momentos da política pecebista na reflexão do PPS. O primeiro parágrafo da mencionada Resolução “fulaniza” a política na passagem “O país vem sentindo as consequências da irresponsabilidade que marcou as gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, (...)”. Um início fraco para uma possível formulação política que indica problemas no campo econômico e institucional. A retórica sem política recai numa denúncia de “golpismo” nas articulações do Governo no Parlamento o que é um perigoso recurso.
Vejam a passagem abaixo:

“(...)Na última semana, por exemplo, o Parlamento foi palco de uma escandalosa tentativa de golpe patrocinada pelo Palácio do Planalto, com pressões para que fosse aprovado um projeto de lei cujo intuito mais evidente é inviabilizar a criação de novos partidos, alterando regras vigentes e praticadas na atual legislatura.” (Grifos nossos)

Na verdade, trata-se de uma postura casuísta patrocinada pelo Governo e alguns partidos governistas (nunca citados na Resolução e a título deque temos essa ausência de nomeação) referente a regulamentação de uma postura sobre criação e/ou fusão de partidos políticos para inibir determinadas “janelas”. Contudo, já houve momentos que o mesmo PPS questionou esse processo de perda de tempo e recursos do Fundo Partidário que estaria sendo vedado na mencionada lei. Lembrem-se do caso da época da formação do PSD. Portanto, seria interessante dosar na retórica em relação a crítica ao “golpismo” pois trata-se de umas das consequências políticas da antecipação do debate eleitoral de 2014 no Parlamento brasileiro. Até o “Baixo Clero” renasceu na Comissão de Direitos Humanos com a inapropriada eleição do Deputado Federal Marcos Feliciano (PSC-SP) a sua Presidência, porém não podemos confundir esse outro casuísmo com “golpismo”. Sugerimos que a Resolução Política “aterroriza” para justificar seu próprio casuísmo político de convocar um Congresso Extraordinário na próxima quarta-feira (17-04) para numa fusão com o PMN e/ou outra ou outras agremiações políticas. A palavra “golpe” é mais presente na retórica diante de um estranho silêncio sobre “A esquerda democrática pensa o Brasil”.
Tudo indica que a “esquerda democrática” está anos-luz de distância dessa fusão sem política que faz os saudosos da cultura pecebista relembrar que o Golpe de 1964 encontrou na esquerda seus limites para pensar a democracia. A Frente Democrática construída no antigo MDB foi uma invenção que superou tantas limitações na Legislação de Organização dos Partidos Políticos uma vez que tinha um programa de oposição claro para ser apresentada a sociedade. Hoje, a retórica sobre o “golpismo” é em defesa do que? A passagem abaixo pode indicar algo sobre isso:

“(...)a tentativa de golpe busca atingir o PPS e o PMN, que vêm discutindo abertamente, já há alguns anos, a possibilidade de fusão e a criação de um partido de esquerda democrática. (Grifos nossos)

Uma postura de defesa do “corporativismo partidário” diante da ausência de um programa de reformismo forte. Há diversos exemplos de que trata-se de uma forma disfarçada de “janela da infidelidade” em benefício de parlamentares descontentes na “partilha” da hegemonia do Poder. Afinal, as coligações políticas não foram proibidas. Logo PPS e PMN poderiam estra aliados nas próximas eleições parlamentares. O PPS e o PMN poderiam formar um BLOCO no Parlamento Brasileiro para defender um Programa Alternativo de Oposição. Os partidos citados e outros poderiam manter suas identidades programáticas até as próximas eleições, porém desejam uma “fusão” sem política de oposição. Uma nova sigla para a “acomodação” de políticos reconhecidos na sociedade pelo pragmatismo uma vez que não lemos nenhum Manifesto Político convocando parlamentares de qualquer segmento político. Fica a dúvida no ar. Seja de Esquerda, Centro ou Direita, todos seriam bem vindos ao PCB (Partido da Confusão Brasileira) desde que afirmem ser oposição?
A morte do PPS nessa conjuntura é mais um sinal de antecipação da derrota da Oposição nas próximas eleições. Não se alimenta uma formação de opinião política sobre a situação que a sociedade está vivendo diante da carestia nos Supermercados. O importante é “correr contra o relógio” pensando que antecipar os fatos em política garante a garantia de uma “virtu”. O PPS não poderia sair do cenário político brasileiro nesse momento sem que tenha feito um balanço sobre os caminhos a seguir a Esquerda Democrática. Esse era para ser tempo de Refundação ao contrário de fusão. O Governo teria mais dificuldades de se firmar no campo da “centro-esquerda” se o PPS resgatasse a memória da Transição Democrática. Contudo, a sobrevivência dos mandatos de Parlamentares em aliança com a antiga “máquina partidária” está falando mais alto diante dos gritos que a falta de reflexão política. Essa morte joga uma História ao esquecimento em benefício das “hienas” que circulam na “Pântano” do Parlamento Brasileiro.



[i] Mestre em Sociologia pelo CPDA-UFRuralRJ e ex-militante do PCB de 1985 até 1992.

domingo, 31 de março de 2013

CÉSAR DEVE MORRER




A Política precisa Renascer

Por Vagner Gomes de Souza

Uma peça do Renascimento é inspiração para um Laboratório de Teatro num Presídio de Segurança Máxima na Itália (Rebibbia). Trata-se de “Júlio Cesar” do dramaturgo inglês William Shakespeare que inspirou o premiado “César deve Morrer”, ganhador do Urso de Ouro de Berlim de 2012. Dirigido pelos octogenários irmãos Paolo e Vittorio Taviani, o filme coloca em cena presidiários condenados por assassinatos, participação na Máfia, narcotráfico, etc. A sensibilidade do filme é muito inspiradora para aqueles que debatem politicamente os Direitos Humanos. Isso é marcada pelo predomínio do Branco&Preto no primeiro filme digital dos irmãos Taviani. Uma peça densamente dramática que gira em torno de um “tiranocídio” e seus desdobramentos deixa o expectador numa prévia tensão sobre o desenvolvimento do roteiro.
Em “César deve Morrer” a tensão aparece em elementos muito sutis e quase que atomizados. A caminhada do público para a o mundo da liberdade enquanto os detentos/atores vão para as celas. A forma em que os detentos/atores são apresentados. As falas em dialetos italianos quando um detento/ator responde “sou um cidadão do mundo”. O teatro do presídio em reforma, o que faz os ensaios ocorreram em espaços do complexo penitenciário. Uma rude discussão entre dois atores/personagens que não impede a volta ao centro. Seriam os exemplos marcantes de um filme que ensina o exercício do perdão pela arte da política ou seria a política pela arte.


Atores/detentos numa das cenas do filme

Surpreendente que “César deve Morrer” seja um filme de uma Itália em constante impasse político como a Roma do Século I A.C.. A Itália da crise de formação de um Gabinete após uma eleição parlamentar. Os ensinamentos do filme dos irmãos Taviani não chegaram a formação de atores políticos em plena capacidade de surpreender na política italiana. O Testamento de César incomoda o mundo da política contemporânea que está cada vez mais para “Romeu e Julieta” para lembrarmos-nos de outro drama de Shakespeare. Afinal, testemunhamos momentos de polarizações diante de uma “esquerda” que se cindiu entre o desencanto weberiano ou a ideologização. Assim, os temas contemporâneos não estão sendo reconhecidos nas instituições políticas aprofundando um fosso entre a sociedade e o Estado Democrático.
Nossa situação brasileira também teria muito que aprender ao assistir o filme “César deve Morrer” diante das opções polarizadas assumidas pelas duas vertentes em debate por exemplo na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. A eleição de um representante do “baixo clero” a Presidência da citada Comissão foi fruto da renúncia de atores políticos envolvidos no debate valorativo do segundo turno de 2010. Esse é um ponto que emergiu das sombras da confusa interpretação sobre a variável PL 122 (Criminalização da Homofobia entre outros temas) na campanha presidencial diante da submissão das candidaturas do PT e do PSDB ao compromisso com valores não republicanos. Agora, volta aos políticos a fala: “Ser ou não ser. Eis a questão!”




Está faltando política para fazer a Comissão de Direitos Humanos funcionar, pois interessaria aos grandes atores políticos a manutenção da ausência do debate político. Os setores da sociedade civil identificados com as causas dos Direitos Humanos devem buscar a serenidade dos detentos/atores de “César deve Morrer” para fazer a política Renascer. Uma possível saída seria formular uma pauta de trabalho sobre a situação da população carcerária no Brasil, o que é um ponto de ação comum com a atuação dos religiosos e militantes dos Direitos Humanos. Trata-se de um momento de reconhecer os pontos comuns: dignidade nas prisões, condenação a pena de morte, oposição a redução da faixa etária para a penalidade, uma política humana para casos da falta de acessibilidade e inclusão dos portadores de necessidades especiais, etc. A lista de possíveis pontos comuns é imensa se souberem exercer a política sem polarização ao contrário de “pós-modernos esquerdismos” que sugerem a renúncia dos parlamentares a atuação política na Comissão.

SERVIÇO: Se você mora no Rio de Janeiro e não assistiu ao filme “César deve Morrer”, nossa dica é que assista logo pois está em “fim de linha” no Circuito Carioca.
Semana – 29/03 – 05/04
Cine Santa Teresa: 14 h, 17:30 h
Estação Botafogo 3: 19:50 h

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

LINCOLN - CRÍTICA AO FILME


Lincoln: O Resgate de O Príncipe
Por Vagner Gomes de Souza

“(...) Enquanto os operários, as verdadeiras forças [powers] políticas do Norte, permitiram que a escravatura corrompesse a sua própria república, enquanto perante o Negro — dominado e vendido sem o seu consentimento — se gabaram da elevada prerrogativa do trabalhador de pele branca de se vender a si próprio e de escolher o seu próprio amo, foram incapazes de atingir a verdadeira liberdade do trabalho ou de apoiar os seus irmãos Europeus na sua luta pela emancipação; mas esta barreira ao progresso foi varrida pelo mar vermelho da guerra civil.
Os operários da Europa sentem-se seguros de que, assim como a Guerra da Independência Americana iniciou uma nova era de ascendência para a classe média, também a Guerra Americana Contra a Escravatura o fará para as classes operárias. Consideram uma garantia da época que está para vir que tenha caído em sorte a Abraham Lincoln, filho honesto da classe operária, guiar o seu país na luta incomparável pela salvação de uma raça agrilhoada e pela reconstrução de um mundo social.
Carta de Karl Marx para Abraham Lincoln (22-29 de Novembro de 1964)

O diretor Steven Spielberg mais uma vez provoca os sectários do campo ético lembrando que a ação política é uma atuação num terreno em resposta ao mundo real. Surpreendente as comparações “anacrônicas” de jornalistas/colunistas sobre cinema ao comparar as articulações para a aprovação da Décima Terceira Emenda da Constituição dos EUA e aos fatos políticos que levaram ao chamado “mensalão” no Primeiro Governo petista. Exageros da linguagem jornalística que acabam por limitar as grandes lições que o filme concorrente de 12 Oscars nos impõe. Lamentamos que esses pretensos especialistas em cinema não tenham mencionado que em 1993 o mesmo diretor brilhou na direção de “A Lista de Schindler” (1993) que narrava os métodos “corruptos” do empresário alemão Oskar Schindler salvar uma parcela considerável de judeus dos horrores do Holocausto.
Fazer comparações simplistas em Lincoln desvia o expectador da atualidade da política americana polarizada pelos Democratas (agora no Governo) e os Republicanos (majoritários na Câmara dos Representantes). Uma polarização que está presente em diversos pontos: Reforma da Saúde, Limites das Vendas de Armas, Orçamento, etc. O primeiro mandato do primeiro presidente negro dos EUA não foi simples diante dessa polarização acompanhada por uma continuidade dos reflexos da crise econômica de 2008. Lembre-se que Spielberg lança um filme sobre a Aprovação de uma Emenda que libertou os Escravos e muitos críticos temiam que os negros depois começassem a votar. Imaginem se eles soubessem do futuro.
Fazer prognósticos sobre o futuro é uma sutileza do filme. Lutar pela aprovação de uma Emenda em “curto tempo” diante dos possíveis impactos imediatos da eminência do fim da Guerra Civil Americana. O fim da escravidão impôs uma nova condição para a “Reconstrução” da unidade nacional federativa dos EUA. Assessores não compreendiam essa rápida avaliação do Presidente Lincoln. Ator e tempo em processo de longa duração estão presentes nesse filme. Digamos que Spielberg, depois de resgatar a memória da invasão da Normandia em “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), agora realiza o resgate da Política nascida em Nicolau Maquiavel.

domingo, 13 de janeiro de 2013

NO - CRÍTICA AO FILME



Sem Medo de ser Alegre
Por Vagner Gomes de Souza
“Não deve ser, portanto, crédulo o príncipe, nem precipitado, e não deve amedrontar-se a si próprio, e proceder equilibradamente, com prudência e humanidade, de modo que a confiança demasiada não o torne incauto e a desconfiança excessiva não o faça intolerável.”
Nicolau Maquiavel, O Príncipe.
O que o Chile teria a ensinar ao Brasil? O que o Brasil ensinou ao Chile em termos de transição política? Essas seriam duas perguntas que devem encantar aos especialistas acadêmicos brasileiros ao estudar a história chilena. O filme “No”, de Pablo Larraín, demonstra a força de um individualismo em processo de longa duração. A luta pela democracia em momento de americanização perversa.
Se a “revolução dos interesses” emergiu no interior da Ditadura Militar brasileira ao ponto de testemunharmos ao nascimento de um partido político após as greves do ABC, a campanha do Plebiscito de 1988 no Chile teria captado essa “revolução dos interesses” que estaria silenciada na sociedade por uma anacrônica polarização política diante de uma economia vencedora. Fugir da polarização política seria uma forma de captar os ganhos individuais de uma “nova economia”. O filme “No” instiga a pensar numa manifestação política antiditadura Pinochet próxima ao paradigma do individualismo metodológico proposto por John Elster.
No Brasil, o “sindicalismo de resultados” é anterior a publicidade política de um Duda Mendonça. Numa chave oposta, a “transição política de resultados” seria um processo posterior ao “marqueteiro” René Saavedra. Elementos de psicologia social em cenários políticos estariam presentes naqueles anos. A democratização chilena seria uma conquista para o indivíduo viver alegre no futuro.




“No” é um filme instigante nesse sentido. Os velhos atores políticos da oposição chilena estão expostos ao anacronismo de sua mensagem para a sociedade (qualquer semelhança com outras oposições políticas seria mera coincidência?). Particularmente inicialmente há uma rejeição das mulheres e da juventude ao Plebiscito e/ou campanha do No. Justamente os segmentos mais “abertos” as novidades e modas do mercado e tecnologia. Então, a linguagem da publicidade refunda essa oposição onde a “ética da convicção” foi cedendo espaço para a “ética da responsabilidade”.
Seria puro oportunismo? Seria René mais um ex-exilado político que se virou mercenário? Afinal, por que fazer uma campanha sem o objetivo de ganhar? Essas perguntas surgem em nossas mentes enquanto assistimos ao filme e compartilhamos da luta individual do protagonista em reconquistar o Amor da mãe de seu filho. Uma trama secundária que demonstra que o sucesso publicitário não lhe conferiu ganho na intimidade diante da cultura política ao qual sua ex-mulher era filiada.
As peças publicitárias da campanha do No são originais e foram inseridas na narrativa do filme sem que percebamos. Uma técnica cinematográfica que gradualmente dialoga com as convicções do público: qual seria o mal menor? A cópia da cópia da cópia da cópia da cópia....A sociedade já estaria pasteurizada e cada vez mais individualizada na condição de consumidor. Assim, os atores políticos foram transformados em cores de “arco-íris” numa mesma concertação. Porém não se enganem com o protagonista uma vez que ele também é sectário. Uma cena do filme ilustra esse sectarismo com a presença do líder da Democracia Cristã nas gravações da campanha. Então, mais uma vez, é a cultura política das alianças que aparece pela boca de um personagem identificado com o “comunismo” e faz prevalecer a política de unidade.
Alguns diriam que o filme reflete os tempos da pós-modernidade na política. “No” teria observado uma antecipação desses novos tempos no Chile onde o discurso político vira um produto a ser “vendido”. A escolha política estaria no mesmo nível que apresentar as vantagens do micro-ondas ou do Tablet nos dias atuais. Contudo, a cena de uma pichação na casa do publicitário o acusava de ser um marxista. Então, lembremos que Karl Marx foi instigante ao fazer a crítica da economia política no primeiro capítulo de O Capital dedicado “A Mercadoria”.

ELEFANTE BRANCO - CRÍTICA




A Busca do Milagre
Por Vagner Gomes de Souza
Seria um “milagre” o filme “Elefante Branco” ser exibido em qualquer sala de cinema na Zona Oeste carioca. Uma triste conclusão diante de uma antropologia local repleta de ações individuais inspiradas nos anseios da salvação pela fé. Nem a expectativa da visita do Papa Bento XVI na Jornada Mundial da Juventude auxilia nesse fenômeno sobrenatural. Afinal, o filme tem lições aos moradores que se orgulham de receber um empreendimento comercial capaz de ser um dos maiores shoppings da América Latina (ainda sem cinema; ainda sem teatro; ainda sem livraria). A carência pode ser a fonte psicológica dos que anseiam por milagres nos processos políticos sem “ator”.
Após o diagnóstico de um possível câncer na sociedade, falemos de um filme que começa na Amazônia Peruana junto ao tema mariateguiano dos indígenas. “Elefante Branco” leva o expectador até a periferia de Buenos Aires. O Padre Julian, muito bem interpretado pelo ator Ricardo Darín, faz a narrativa de mais um  “sonho socialista”: a construção de um Hospital Público proposto pelo primeiro legislador socialista da América, Alfredo Palácios. Idas e vindas fizeram do “sonho” uma obra inacabada que ganhou o apelido de “elefante branco” e deu origem a mais um conjunto de favelas.
Diante de diversos problemas sociais, o milagre poderia estar próximo a realizaçãon com o uma nova obra pública de reassentamento urbano. Saúde e moradia popular. Contudo, os sujeitos sociais de “Elefante Branco” vivem num purgatório diante da falta de perspectiva para a juventude que nem estuda e nem trabalha, das goteiras da Capela em dias de chuva, da violência, das ruas de lama, dos atrasos do pagamento aos operários da construção civil, da cúpula da Igreja Católica interessada na beatificação de um Padre assassinado em plena ditadura militar, etc. Em tempos de kichenerismo, seria uma visão profunda dos dilemas da fé na ação social.
A tensão social do filme “Elefante Branco” ajuda a despertar uma fé na necessidade de uma ação política. O Padre Julian vai expor os limites de viver a conjuntura apenas como expectador. A cúpula da Igreja Católica é surpreendida por sua atitude ao se unir aos moradores de sua paróquia quando a obra pública é mais uma vez suspensa. A velocidade das ações gradualmente ganha velocidade semelhante ao filme “Cidade de Deus” até ao momento da “redenção”. Se Jesus deu a vida para salvar a humanidade, outros seguem esse exemplo para deixar herdeiros para uma transformação social sem os Centros Sociais costumeiros que testemunhamos na Zona Oeste carioca e alhures. Porém, esse seria outro milagre.

domingo, 23 de dezembro de 2012

ELEIÇÕES EM ISRAEL

Foto: Parlamento em Israel

Israel: o fanatismo de coalizão

Por Vagner Gomes de Souza

Em janeiro do próximo ano haverá eleições antecipadas ao Parlamento de Israel que escolherá mais um mandato de Primeiro-Ministro. A possível reeleição de Benjamin Netanyahu sugere novos caminhos da mobilização do tema da religião ao cenário da política eleitoral. Portanto, apesar de distante geograficamente, as eleições legislativas em Israel poderá ser acompanhada como uma chave interpretativa sobre as ações políticas em sociedades influenciadas pela americanização como sugerimos no caso do Brasil (o leitor poderia ainda imaginar no “laboratório da micropolítica” da Zona Oeste carioca).
As eleições legislativas de Israel são fragmentárias. Por exemplo, após o êxito eleitoral do Labour Party em 1992 que obteve 34,7% dos votos, nenhum grupo partidário ultrapassou a marca dos 30% dos votos nas eleições posteriores (1996, 1999, 2003, 2006, 2009). Observamos um gradual “esvaziamento da base eleitoral” do Labour Party que não significou num consequente crescimento da esquerda. Pelo contrário, os votos do Labour Party e do conservador LIKUD se fragmentaram em diversas organizações políticas de vocação religiosa extremista enquanto surgiu uma “terceira via” política representada pelo “centrista” KADIMA.
Nas eleições de 2009, o Labour Party e o KADIMA cederam “espaço político” em relação as eleições de 2006 a medida que o Likud e Yisrael Beiteinu ganharam força. Identificamos no “movimento neo-sionista” do Yisrael Neitenu uma “nova direita” que emergiu em Israel com base na imigração de judeus originários do pós-fim União Soviética sob a liderança de Avigdor Lieberman. Nesse momento o Likud reassume o Governo de Israel com essa aliança mais à direita mas, sejamos claros, defensora de um reconhecimento do Estado da Palestina desde que profundamente enfraquecido em comparação até ao Tratado de Oslo.
Outras organizações políticas se somaram a coalizão de “centro-direita” com vocação fundamentalista religiosa além da participação de uma dissidência do decadente Labour Party. Essa dissidência se autodenominou “centrista” com o nome de Independent Party sob a liderança de Ehud Barak. As alianças assumiram um cálculo cada vez mais pragmático com diversas organizações seculares difundindo seu “fanatismo” centrista, mas se aliando aos “fundamentalismo” judaico, o que impede em muito a reorganização de uma força política de “centro esquerda” ter viabilidade eleitoral. Nas próximas eleições o pragmatismo do LIKUD vive o “dilema do prisioneiro” das propostas fundamentalistas e, consequentemente, ganha as eleições sem se impor politicamente. Os novos sujeitos sociais provavelmente estariam se impondo nessa reconfiguração da política israelense sob influência do “fundamentalismo religioso”.
Algo sugestivo se compararmos com algumas disputas eleitorais no Estado do Rio de Janeiro (vejam a “virada eleitoral” do PR no Segundo Turno em São Gonçalo nas eleições de 2012 com apelos ao neopetencostalismo e as campanhas proporcionais na Zona Oeste carioca). Não é estranho observarmos eleitores nessas regiões que falam sobre o povo de Israel como o “povo escolhido” segundo o Velho Testamento a viver numa Terra Prometida que fazem a mesma ponte com “Nova Sepetiba” ou as novas habitações do Programa Minha Casa Minha Vida. Tema que mereceria um estudo empírico aos “mapeadores eleitorais” da Ciência Política.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

ELEIÇÕES MUNICIPAIS - UM BREVE BALANÇO


ENTREVISTA: A Juventude Popular Socialista no Segundo Turno do Rio de Janeiro

Os cariocas não voltam as urnas no próximo dia 28 de outubro, porém setemunicípios terão segundo turno e chamam atenção quanto a uma prévia do que será a disputa eleitoral de 2014. PMDB, PT e PR, leia-se “grupo de Cabral”, Lindbergh Farias e Garotinho despontam como possíveis protagonistas do cenário eleitoral estadual. Em comum, são três forças políticas vinculadas a Base de Apoio ao Governo Federal diante de um modelo que alguns politicólogos chamam de “presidencialismo de coalizão”.
Diante da importância das novas gerações na política fluminense, o VOTO POSITIVO fez uma breve entrevista com o responsável pela Coordenação Metropolitana I da Juventude Popular Socialista do Estado do Rio de Janeiro - John Lennon (JPS Rio) que falou sobre os caminhos dos simpatizantes da JPS no segundo turno de alguns desses municípios.

VOTO POSITIVO – A JPS do Estado do Rio de Janeiro fez alguma avaliação sobre as eleições municipais desse ano?
John Lennon – Nesse momento estamos aguardando a realização do Segundo Turno. A Executiva Estadual do PPS que fará uma reunião na próxima quarta-feira (18-10). As repostas que posso lhe adiantar fazem parte de minha opinião pessoal que pretendo que seja debatida numa reunião da Executiva Estadual da JPS-RJ.

VOTO POSITIVO – A capital não terá segundo turno. Acabou o ano político para a JPS-RJ?
John Lennon – Não. O segundo turno em Niterói terá possibilidades de polarizar as forças governistas e oposicionistas. Duas candidaturas de políticos da nova geração foram para o segundo turno, Rodrigo Neves (PT) e Felipe Peixoto (PDT). A diferença está na postura mais agressiva da nossa aliança com o PDT ao trazer o tema do “mensalão” para o Segundo Turno. Indiretamente, essa “nacionalização” das eleições municipais de Niterói poderão acirrar os ânimos do desenho político estadual. A “marca” do Mensalão em Rodrigo Neves é um divisor de águas na campanha de Felipe Peixoto.

VOTO POSITIVO – Você acha que a presença do PDT na “base governista” vai ser questionada pelo PT-RJ por causa desse embate?
John Lennon – Não. Isso é muito cedo para afirmar, mas devemos sempre atuar para criar “brechas” nessa GRANDE COALIZAÇÃO nacional cujo eixo é PT-PMDB. Após as eleições, já vimos referências a possível substituição de Michel Temer pelo atual Governador do Rio de Janeiro na Chapa Governista em 2014. Uma vez que o Rio de Janeiro é o “quintal político” do lulismo. A desestruturação dessas visões localistas ocorrem com o mensalão no segundo turno de Niterói.

domingo, 30 de setembro de 2012

COLEGAS - FILME (CRÍTICA)


Colegas: A americanização do cinema nacional à moda italiana
Por Vagner Gomes

O filme Colegas poderia ser um simples “Road Movie” se os protagonistas não fossem três amigos com Síndrome de Down. O filme colegas poderia ser um simples filme sentimental se não fosse humor. O filme colegas poderia ser uma sátira ao filme Thelma e Louise (Ridley Scott, 1991) se não fosse um belo filme para repensar sobre o preconceito em relação aos portadores de Down. Afinal, é um filme para dar gargalhadas sem qualquer situação piegas.
Sua justa exibição no Festival do Rio nesse ano é uma oportunidade para pensarmos numa nova geração de Cineastas que “beberam” as referências do cinema americano, porém abordam temas dramáticos fazendo um recurso ao Humor. O Diretor Marcelo Galvão estudou na New York Film Academy e foi premiado já em sua primeira longa Quarta B. Em Colegas (Premiado no Festival de Gramado desse ano) vivemos aqui uma mixagem entre os estilos americanizados de cinema e o roteiro/linguagem do cinema italiano.
Há um espectro de Ettore Scola com seus famosos “triângulos” entre amigos. Ao meio dos “triângulos”, vivemos uma comédia que é dramática, pois, para além do preconceito aos portadores de Down, testemunhamos o perfil da segurança pública em passado recente de nossa História (“Doutora, nós trabalhamos para desaparecer com pessoas. Não para encontrar desaparecidos”); o “filhinho de papai” que ascende no serviço público por ser filho de Deputado; as raízes hobbesianas do medo presentes na sociedade e o papel da mídia em propagar “novelas da vida real” onde a perseguição aos supostos delinquentes assume semelhanças a histeria americana a procura de possíveis terroristas islâmicos.
A televisão é o personagem de abertura do filme. Uma TV Preto&Branco de seletor (para os meus jovens leitores, um botão em círculo que fazia as trocas de canais sem o uso do controle remoto) e provavelmente à válvula transmitem logo que trata-se de tempos remotos o lugar da ação. Contudo, as primeiras imagens anteriores ao recurso do narrador fazem lembrar os filmes de Quentin Tarantino. Seria um PULP FICTION sem citações bíblicas. Assim, roteiro e elenco desempenham muito bem o papel para segurar a atenção do público e alimentando momentos de reflexão a cada intervalo entre as risadas.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

CARTA ABERTA PARA A DEPUTADA LUÍZA ERUNDINA (PSB-SP)


Carta Aberta a Deputada Luíza Erundina (PSB-SP)
Por Vagner Gomes de Souza


Foram nas eleições de 1988 que você teve seu nome consagrado na eleição municipal em São Paulo. O social, que movimentava o seu partido de então, era muito mais forte na negação do “centro político” em tempos de transição. Era predominante a caracterização da Transição Democrática como uma continuidade do conservadorismo na política brasileira. Sua vitória nas urnas – diga-se de passagem, que ainda não havia a exigência da maioria dos votos válidos – criou uma sensação de outra via para “derrotar o malufismo”.
O tempo demonstrou que a esquerda democrática ainda não tinha ganhado plenamente forças na maior cidade do Brasil. Negar o centro político reforçou uma polarização que permitiu a emergência da gestão Maluf-Pitta em dois mandatos sucessivos. A tecnocratização da política chegou ao limite na eleição de um “ilustre desconhecido” sob as mãos ungidas de um líder de popularidade dos anos 90. Tenhamos coragem em assumir que o “malufismo” nunca saiu do cenário político paulista. Ele se transformou gradualmente e foi sendo assimilado pelas forças liberais tanto no campo do PSDB-DEM-PSD (atualizemos as siglas) quanto no viés centralizado da Direção Partidária do PT.
Nessa década de “yuppismo” na política brasileira, sua postura refundacionista de fazer parte do Governo Itamar Franco não foi compreendida pela “cúpula do petismo”. Expulsão! Apontada como “direitista” ou “pragmática”. Enfim, todos os qualificativos da velha “cultura petista”. Entretanto, a luta política eleitoral em São Paulo se dirigiu para novas matrizes. Na polarização PT X PSDB que fez avançar nas conquistas da cidadania e no desenvolvimento da Capital. Há uma política de governo que ambas as agremiações deram continuidade apesar das suas desavenças eleitorais. São Paulo é um “caso atípico” na política brasileira, pois “tucano” já apoiou “pefelista” contra “tucano” e o petismo já “namorou” com o Kassab.
Agora, aproximamos do tempo de definições onde os sinais políticos podem se esclarecer. Não se deve tolerar os elementos reacionários presentes no modelo capitalista defendido pelo “malufismo” que a semanas atrás defendia a “política de confronto policial” da ROTA (lembra-se!?!) para reduzir a criminalidade. Os valores reacionários dessa envergadura descredenciam qualquer aliança que nasce sem princípios programáticos. Na data de hoje (19 de junho) as fotos do encontro do Ex-presidente Lula e do Pré-Candidato do PT a Prefeitura de São Paulo estão “circulando” nas redes sociais com diversas manifestações de assombro das mais diversas figuras do campo democrático. Por isso, tomei essa iniciativa de lhe escrever essa CARTA ABERTA para que reflita sobre qual o “peso político” de uma indicação a candidatura a Vice-prefeitura nessas condições. Sua biografia não precisa dessa mácula para que outros se beneficiem por interesses cada dia mais personalista. O “lulismo” é uma realidade que está se metamorfoseando com o “malufismo” que é a política putrefata das elites paulistas. Portanto, Erundina vete o “malufismo”.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

GREVE DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS

Estudantes aprovam Greve Estudantil na UFRJ

Para uma Perspectiva Democrática na Greve das Universidades
Por Vagner Gomes de Souza
Filiado ao SEPE-RJ faz parte da CHAPA 3 – EDUCAÇÃO (as opiniões expressas nesse artigo são individuais)
A Greve nas Instituições de Ensino Superior se estenderam por todo país no mês de maio com poucas notícias na imprensa que continua “fiel” a tentativa de reedição de um “novo” Presidencialismo de Coalizão com o Governo Dilma. No entanto, Dilma não apresenta um trânsito no sindicalismo em geral e muito menos entre o setor público. A atual onda grevista nas Universidades Federais desmonta a “propaganda governista” de mundo perfeito no ensino público superior, o que demonstra o quanto o Ex-Ministro de Educação (Pré-candidato a Prefeito de São Paulo) foi apenas uma “sombra” diante dos índices de popularidade do “lulismo”. Não houve nada que além de novos cursos nas Universidade abertos com Professores Substitutos e sem muita estrutura para garantir ensino, pesquisa e extensão. A Greve expõe uma verdade de unidades universitárias sem recursos diante de uma sociedade plural que ampliou seu acesso a mesma.
Imensos contingentes de estudantes universitários ganharam acesso as Universidades Públicas. Isso é inquestionável, porém elas apresentam uma qualidade muito inferior ao que apresentavam há duas décadas. As Universidades foram abertas como uma resposta de igualitarismo social sem uma valorização da dimensão do processo republicano. Agora, os novos sujeitos juvenis que chegaram até elas se deparam com a ameaça de um Ensino Médio de Terceiro Grau se não houver maior atenção para investimentos nos Laboratórios Universitários, nos Hospitais Universitários, na modernização e informatização das Bibliotecas Universitárias, etc. A Universidade Pública gradualmente se transforma em mais anos de estudo de um mesmo ensino deficiente se não houver imediata reação das forças progressistas. Diga-se de passagem, o discurso ufanista do Governo Federal com gastos empenhados nas Bolsas de Alunos no PROUNI que “salva” algumas Universidades Particulares da falência sem uma atenção para a ampliação dos gastos nas Públicas. Trata-se de um dos efeitos da opção pela atenção do social colocando a Universidade como “Fábrica do Debate Plural” em segundo plano, pois nela estaria possíveis vertentes mais dinâmicas da construção de nossa democracia.
Momentos de Greve que questionam essa opção pelo social sem vínculos com o fortalecimento da aproximação da sociedade com a Universidade pelo caminho da democracia. Paradoxalmente a Greve está sob o comando de setores docentes que desprezam a democracia como terreno dos sujeitos e alimentam dogmas já superados pela sociedade que ingressa na Universidade. As paralisações ocorrem parcialmente nas unidades Universitárias diante da diversificação da Carreira Docente (Efetivos e Substitutos/Contratados) e da capacidade de cooptação das direções Universitárias ocupada por ex-dirigentes do sindicalismo docente. Enfrentar essa nova realidade com a velha receita do “grevismo prolongado” não contribuirá para as novas perspectivas de democracia nas Universidades Brasileiras. A cultura da pressão democrática deve combinar a Greve como uma das alternativas a mobilização uma vez que as longas greves do passado foram numa outra conjuntura sobre a oferta de emprego para o jovem. Assim, a juventude universitária não pode ser “elo de transmissão” de slogans do passado. Esse é o momento de levar a juventude universitária um discurso mais coerente com sua formação pluralista que só se resolve através de maior exercício da democracia. Lindas são as fotos da volta das assembleias estudantis lotadas. Mais belos serão os momentos em que o “assembleísmo estudantil” seja ampliado por plesbicitos em cada curso para deliberar temas como Greves Estudantis ou no momento em que a União Nacional dos Estudantes (UNE) seja finalmente declarada como superada politicamente diante dos novos tempos permitindo o pluralismo de novas organizações estudantis e/ou juvenis nas Universidades.

sábado, 5 de maio de 2012

ESTADO LAICO EM DEBATE


O Pastor, os Gays e o Juiz
Por Jessica Ladislau

Curiosamente, passando os canais, me deparei na manhã de hoje com o “raivoso” do Silas Malafaia se gloriando das conquistas em seus projetos e DEBOCHANDO da sentença do juiz federal da 24ª Vara Cível de SP.
Para quem não sabe, na Parada Gay de São Paulo foram colocadas imagens de santos católicos em posições homoafetivas, como uma infeliz forma de protesto. Obvio que esse Senhor iria se manifestar no “programinha” dele, e não fez por menos, usou todas as expressões que ele bem entendeu.
Posteriormente, os homossexuais entraram com uma a ação judicial contra o Malafaia e as coisas que ele disse na Bandeirantes. Acabou que por fim, o Juiz decidiu que as expressões “baixar o porrete” e “entrar de pau” NÃO são preconceituosas! E não satisfeito, redigiu uma sentença dando um puxão de orelha nos homossexuais, passando a mão na cabeça do “pobrezinho” do Pastor Silas Malafaia, pois é perseguido injustamente pela minoria, que dó né? Lamentavelmente, o programa de Silas Malafaia vem a público na semana em que um “extremista” Pastor norte-americano queimou um exemplar do Alcorão em exibição pela Internet. Tempos de crescimento eleitoral da extrema-direita europeia não são apropriados a isso.
Nós questionamos, os homossexuais agiram certo em usar imagens católicas como os santos gays? O Pastor Malafaia agiu certo em atacar dessa forma? O juiz agiu certo na sentença?
Em nossa opinião, todos agiram de forma equivocada, porque essa polarização entre direitos civis e religião já está passando dos limites. Os direitos estão expressos na Constituição de 1988 e é isso que tem que ser levado em consideração em nosso Estado Laico. Não o que está na Bíblia ou na postura “extremista” desse Pastor Silas Malafaia ou outros!
Por isso questiono a “Parada Gay” como forma de manifestação política. Trata-se de uma pedra no caminho dos homossexuais que lutam por direitos iguais! Ninguém vai pra Parada protestar. A maioria vai para beber e “pegar geral”! Dando espaço para os preconceituosos e conservadores nos chamarem de promíscuos e tudo mais.
Enfim, mais uma infeliz briga judicial. O Pastor Silas saiu como o certo, para quem tem “mente pequena” isso poderá servir de impulso pra agredir os homossexuais como ocorrem em muitas grandes cidades por incentivo de grupos neonazistas. Os homossexuais saíram como os ridículos: sem força para falar. E esse Juiz ,na nossa opinião, não agiu com impessoalidade!
Dia 15 vai vir mais uma luta pela aprovação da PL 122, esperamos que esse episódio não interfira no resultado. Chega dessa postura medieval! Já passou dos limites! Religião e ciência nem sempre caminham unidas como nos tempos do anúncio de que a Terra era redonda. Religião e Direito NUNCA vão andar ao lado em Estados Laicos!
O que importa, é que o Direito de um termina onde começa o do outro!

Em 05 de maio de 2012.

domingo, 15 de abril de 2012

BRASÍLIA 18%


Brasília 18% - Uma lição sobre o “conformismo”
Dedicado ao amigo Pablo Spinelli
De Vagner Gomes de Souza
A história das CPIs sobre investigações acumulam muitas fontes e interpretações nas duas últimas décadas. Por exemplo, um estudo elaborado pelo professor Wellington Oliveira indica o quanto elas produzem gastos e relativos ganhos políticos para a sociedade. A pesquisa analisou 29 comissões criadas na Câmara entre 1999 e 2007 e percebeu que foram gastos 6 bilhões de reais e 67 projetos de lei foram elaborados a partir de seus relatórios, porém nenhum foram aprovados. Da CPI de PC Farias até a provável CPI do Cachoeira uma frase sempre foi citada na imprensa que é atribuída ao Deputado Federal Ulisses Guimarães – ícone da luta pela redemocratização – “Uma CPI sabemos como começa e jamais sabemos como se termina.”
O filme Brasília 18 % (2006) é um possível convite para a interpretação desse fenômeno onde os fatos determinam as ações dos atores políticos em processo de revolução passiva. A ascensão do Governo Itamar Franco abriu caminho para a ampliação da pauta da Igualdade na Campanha de Combate a Fome de Betinho que fazia um convite a participação da sociedade organizada. Ao longo dos anos a luta pela Igualdade foi ganhando dados sociais positivos, mas a solução passou a ser gradualmente uma função estatal nas Bolsas Sociais do Governo. A igualdade social gradualmente foi assimilada como ampliação da capacidade de consumo. Enquanto isso, a ampliação da participação organizada da sociedade foi ficando “desnutrida”.
O personagem Martins Fontes sentencia no filme de Nelson Pereira dos Santos: “Se CPI funcionasse no Brasil, metade dos políticos do Congresso estaria na cadeia”. Uma frase que faz parte de um senso comum do brasileiro médio que ingressou na “fictícia” Nova Classe Média nos últimos anos. Portanto, cada escândalo político é observado como um evento natural da história da corrupção política sem que surjam grandes manifestações. Os “caras pintadas” foram a última onda das manifestações populares do Movimento das Diretas Já. Aos poucos, todos os segmentos da sociedade se identificariam no Governo numa ampla coalizão que vai de grandes burgueses até sindicalistas e movimentos sociais do campo.
O personagem Olavo Bilac num grande silêncio ao longo do filme Brasília 18% recorda o Fabiano de Vidas Secas de Graciliano Ramos. A narrativa dos fatos estão nos relatos dos outros personagens como se o humano fosse a própria neutralidade da ciência. Ciência como vocação e política como vocação é uma inspiração weberiana para esse intrigante Olavo que se encontra numa trama que se assemelha a “jaula de ferro” descrita por Max Weber. As poucas falas no personagem do filme é uma possível referência aos poucos momentos em que a sociedade expõe suas opiniões pelo voto como se fosse assinar um laudo atestando que a democracia não está morta. O roteiro do filme é essa possibilidade de se fazer uma sociologia política sobre a ausência da pressão popular pelo fim da corrupção, o que faz diversos Projetos de Lei ficar estacionados nas gavetas do Congresso Nacional. Além disso, um Governo que é avaliado negativamente em suas ações (segurança, impostos, saúde e educação) garante índices de popularidade confortáveis a Presidenta, pois essa assumiria o símbolo do “super-homem” de Nietzsche como “faxineira” política.
Não há contradição numa expressão de conformismo quando os atores políticos renunciaram levar a pauta dos problemas concretos para o debate. O Poder Legislativo teme ser o espaço do debate político de valores ou programas polêmicos, pois considera que terá prejuízos ou eleitorais (descriminalização do uso das drogas, aborto, união civil de pessoas do mesmo sexo, a homofobia, etc.) ou de apoio no financiamento da campanha (luta pela redução dos juros ao consumidor que atinge aos bancos). Os parlamentares aparentemente comungam de uma prática do desencantamento pela política mesmo estando na instituição que deveria ser o mundo da grande política.
O discurso final do fictício cineasta Augusto dos Anjos que faz uma paródia com os versos de Canção do Exílio expõe o quanto que o caminho democrático está sob uma pressão de exílio interno. Muitos setores de opinião estão exilados nas Universidades deixando a sociedade aprofundando sua característica de conformismo. Aos poucos, a democracia eleitoral rotinizada será apresentada como alto custo para a sociedade onde o STF assume um relevante papel para a defesa do Estado de Direito e a “mãe do PAC” assume uma postura racionalizadora da política com uma tecnocracia em gestação. A democracia política pode estar próxima a realizar sua canção de exilada nessa sociedade do conformismo estruturada num “fascismo de mercado”. Por isso, os exilados da opinião necessitam voltar a ação nas próximas eleições municipais.