sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

LINCOLN - CRÍTICA AO FILME


Lincoln: O Resgate de O Príncipe
Por Vagner Gomes de Souza

“(...) Enquanto os operários, as verdadeiras forças [powers] políticas do Norte, permitiram que a escravatura corrompesse a sua própria república, enquanto perante o Negro — dominado e vendido sem o seu consentimento — se gabaram da elevada prerrogativa do trabalhador de pele branca de se vender a si próprio e de escolher o seu próprio amo, foram incapazes de atingir a verdadeira liberdade do trabalho ou de apoiar os seus irmãos Europeus na sua luta pela emancipação; mas esta barreira ao progresso foi varrida pelo mar vermelho da guerra civil.
Os operários da Europa sentem-se seguros de que, assim como a Guerra da Independência Americana iniciou uma nova era de ascendência para a classe média, também a Guerra Americana Contra a Escravatura o fará para as classes operárias. Consideram uma garantia da época que está para vir que tenha caído em sorte a Abraham Lincoln, filho honesto da classe operária, guiar o seu país na luta incomparável pela salvação de uma raça agrilhoada e pela reconstrução de um mundo social.
Carta de Karl Marx para Abraham Lincoln (22-29 de Novembro de 1964)

O diretor Steven Spielberg mais uma vez provoca os sectários do campo ético lembrando que a ação política é uma atuação num terreno em resposta ao mundo real. Surpreendente as comparações “anacrônicas” de jornalistas/colunistas sobre cinema ao comparar as articulações para a aprovação da Décima Terceira Emenda da Constituição dos EUA e aos fatos políticos que levaram ao chamado “mensalão” no Primeiro Governo petista. Exageros da linguagem jornalística que acabam por limitar as grandes lições que o filme concorrente de 12 Oscars nos impõe. Lamentamos que esses pretensos especialistas em cinema não tenham mencionado que em 1993 o mesmo diretor brilhou na direção de “A Lista de Schindler” (1993) que narrava os métodos “corruptos” do empresário alemão Oskar Schindler salvar uma parcela considerável de judeus dos horrores do Holocausto.
Fazer comparações simplistas em Lincoln desvia o expectador da atualidade da política americana polarizada pelos Democratas (agora no Governo) e os Republicanos (majoritários na Câmara dos Representantes). Uma polarização que está presente em diversos pontos: Reforma da Saúde, Limites das Vendas de Armas, Orçamento, etc. O primeiro mandato do primeiro presidente negro dos EUA não foi simples diante dessa polarização acompanhada por uma continuidade dos reflexos da crise econômica de 2008. Lembre-se que Spielberg lança um filme sobre a Aprovação de uma Emenda que libertou os Escravos e muitos críticos temiam que os negros depois começassem a votar. Imaginem se eles soubessem do futuro.
Fazer prognósticos sobre o futuro é uma sutileza do filme. Lutar pela aprovação de uma Emenda em “curto tempo” diante dos possíveis impactos imediatos da eminência do fim da Guerra Civil Americana. O fim da escravidão impôs uma nova condição para a “Reconstrução” da unidade nacional federativa dos EUA. Assessores não compreendiam essa rápida avaliação do Presidente Lincoln. Ator e tempo em processo de longa duração estão presentes nesse filme. Digamos que Spielberg, depois de resgatar a memória da invasão da Normandia em “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), agora realiza o resgate da Política nascida em Nicolau Maquiavel.

2 comentários:

Unknown disse...

De fato, infelizmente, algumas críticas carecem de argumento. Grande parte achou o filme um tédio. Creio que o motivo seja o fato do filme se concentrar nos findoa anos de 1865, qdo a A Guerra Civil caminha para o fim. No entanto, ainda q Spielberg não tenha dado ênfase ao assassinado de Lincon, no sentido literal, porque muitos adoram ver sangue, conspiração e "segredos de alcova", o diretor focou sim, o motivo, ou seja,no futuro conceder aos negros, o direito de voto. "O que virá a seguir, negros votando?". Nesse sentido, me resta findar com a a frase do Discurso de Gettysburg: " O governo do povo, pelo povo e para o povo".

Unknown disse...

Beleza de comentário, Vagner! Apesar de não falar propriamente de Lincoln, o filme, você teve a felicidade de fazer as devidas contextualizações, que transformam os personagens de qualquer tempo em figuras reais, de carne e osso. Nossos cronistas da imprensa devem ter cabulado todas as aulas de ética ou, como sempre gosto de dizer, jamais leram seriamente o Maquiavel. São prisioneiros de suas próprias abstrações, reelaboradas sempre por força de suas próprias convicções momentâneas.