domingo, 31 de março de 2013

CÉSAR DEVE MORRER




A Política precisa Renascer

Por Vagner Gomes de Souza

Uma peça do Renascimento é inspiração para um Laboratório de Teatro num Presídio de Segurança Máxima na Itália (Rebibbia). Trata-se de “Júlio Cesar” do dramaturgo inglês William Shakespeare que inspirou o premiado “César deve Morrer”, ganhador do Urso de Ouro de Berlim de 2012. Dirigido pelos octogenários irmãos Paolo e Vittorio Taviani, o filme coloca em cena presidiários condenados por assassinatos, participação na Máfia, narcotráfico, etc. A sensibilidade do filme é muito inspiradora para aqueles que debatem politicamente os Direitos Humanos. Isso é marcada pelo predomínio do Branco&Preto no primeiro filme digital dos irmãos Taviani. Uma peça densamente dramática que gira em torno de um “tiranocídio” e seus desdobramentos deixa o expectador numa prévia tensão sobre o desenvolvimento do roteiro.
Em “César deve Morrer” a tensão aparece em elementos muito sutis e quase que atomizados. A caminhada do público para a o mundo da liberdade enquanto os detentos/atores vão para as celas. A forma em que os detentos/atores são apresentados. As falas em dialetos italianos quando um detento/ator responde “sou um cidadão do mundo”. O teatro do presídio em reforma, o que faz os ensaios ocorreram em espaços do complexo penitenciário. Uma rude discussão entre dois atores/personagens que não impede a volta ao centro. Seriam os exemplos marcantes de um filme que ensina o exercício do perdão pela arte da política ou seria a política pela arte.


Atores/detentos numa das cenas do filme

Surpreendente que “César deve Morrer” seja um filme de uma Itália em constante impasse político como a Roma do Século I A.C.. A Itália da crise de formação de um Gabinete após uma eleição parlamentar. Os ensinamentos do filme dos irmãos Taviani não chegaram a formação de atores políticos em plena capacidade de surpreender na política italiana. O Testamento de César incomoda o mundo da política contemporânea que está cada vez mais para “Romeu e Julieta” para lembrarmos-nos de outro drama de Shakespeare. Afinal, testemunhamos momentos de polarizações diante de uma “esquerda” que se cindiu entre o desencanto weberiano ou a ideologização. Assim, os temas contemporâneos não estão sendo reconhecidos nas instituições políticas aprofundando um fosso entre a sociedade e o Estado Democrático.
Nossa situação brasileira também teria muito que aprender ao assistir o filme “César deve Morrer” diante das opções polarizadas assumidas pelas duas vertentes em debate por exemplo na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. A eleição de um representante do “baixo clero” a Presidência da citada Comissão foi fruto da renúncia de atores políticos envolvidos no debate valorativo do segundo turno de 2010. Esse é um ponto que emergiu das sombras da confusa interpretação sobre a variável PL 122 (Criminalização da Homofobia entre outros temas) na campanha presidencial diante da submissão das candidaturas do PT e do PSDB ao compromisso com valores não republicanos. Agora, volta aos políticos a fala: “Ser ou não ser. Eis a questão!”




Está faltando política para fazer a Comissão de Direitos Humanos funcionar, pois interessaria aos grandes atores políticos a manutenção da ausência do debate político. Os setores da sociedade civil identificados com as causas dos Direitos Humanos devem buscar a serenidade dos detentos/atores de “César deve Morrer” para fazer a política Renascer. Uma possível saída seria formular uma pauta de trabalho sobre a situação da população carcerária no Brasil, o que é um ponto de ação comum com a atuação dos religiosos e militantes dos Direitos Humanos. Trata-se de um momento de reconhecer os pontos comuns: dignidade nas prisões, condenação a pena de morte, oposição a redução da faixa etária para a penalidade, uma política humana para casos da falta de acessibilidade e inclusão dos portadores de necessidades especiais, etc. A lista de possíveis pontos comuns é imensa se souberem exercer a política sem polarização ao contrário de “pós-modernos esquerdismos” que sugerem a renúncia dos parlamentares a atuação política na Comissão.

SERVIÇO: Se você mora no Rio de Janeiro e não assistiu ao filme “César deve Morrer”, nossa dica é que assista logo pois está em “fim de linha” no Circuito Carioca.
Semana – 29/03 – 05/04
Cine Santa Teresa: 14 h, 17:30 h
Estação Botafogo 3: 19:50 h

Um comentário:

Unknown disse...

Muito bom! Dito por um "desencantado weberiano", apesar de preso ao marxismo e quase virando franco atirador.