A Busca do Milagre
Por Vagner Gomes de
Souza
Seria um “milagre” o filme “Elefante
Branco” ser exibido em qualquer sala de cinema na Zona Oeste carioca. Uma
triste conclusão diante de uma antropologia local repleta de ações individuais
inspiradas nos anseios da salvação pela fé. Nem a expectativa da visita do Papa
Bento XVI na Jornada Mundial da Juventude auxilia nesse fenômeno sobrenatural.
Afinal, o filme tem lições aos moradores que se orgulham de receber um
empreendimento comercial capaz de ser um dos maiores shoppings da América
Latina (ainda sem cinema; ainda sem teatro; ainda sem livraria). A carência
pode ser a fonte psicológica dos que anseiam por milagres nos processos
políticos sem “ator”.
Após o diagnóstico de um possível
câncer na sociedade, falemos de um filme que começa na Amazônia Peruana junto
ao tema mariateguiano dos indígenas. “Elefante Branco” leva o expectador até a
periferia de Buenos Aires. O Padre Julian, muito bem interpretado pelo ator
Ricardo Darín, faz a narrativa de mais um “sonho socialista”: a construção de um
Hospital Público proposto pelo primeiro legislador socialista da América,
Alfredo Palácios. Idas e vindas fizeram do “sonho” uma obra inacabada que
ganhou o apelido de “elefante branco” e deu origem a mais um conjunto de favelas.
Diante de diversos problemas
sociais, o milagre poderia estar próximo a realizaçãon com o uma nova obra
pública de reassentamento urbano. Saúde e moradia popular. Contudo, os sujeitos
sociais de “Elefante Branco” vivem num purgatório diante da falta de
perspectiva para a juventude que nem estuda e nem trabalha, das goteiras da
Capela em dias de chuva, da violência, das ruas de lama, dos atrasos do
pagamento aos operários da construção civil, da cúpula da Igreja Católica
interessada na beatificação de um Padre assassinado em plena ditadura militar,
etc. Em tempos de kichenerismo, seria uma visão profunda dos dilemas da fé na
ação social.
A tensão social do filme “Elefante
Branco” ajuda a despertar uma fé na necessidade de uma ação política. O Padre
Julian vai expor os limites de viver a conjuntura apenas como expectador. A
cúpula da Igreja Católica é surpreendida por sua atitude ao se unir aos
moradores de sua paróquia quando a obra pública é mais uma vez suspensa. A
velocidade das ações gradualmente ganha velocidade semelhante ao filme “Cidade
de Deus” até ao momento da “redenção”. Se Jesus deu a vida para salvar a
humanidade, outros seguem esse exemplo para deixar herdeiros para uma
transformação social sem os Centros Sociais costumeiros que testemunhamos na
Zona Oeste carioca e alhures. Porém, esse seria outro milagre.
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