terça-feira, 22 de junho de 2021

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DO CIDADÃO CARIOCA - 6


Desconstrução do Eu

Por João Sem Regras

 

Eu falo para vocês que não muito fácil aceitar que não estava mais no meio da realidade. Na verdade, nunca estive presente na vida real e nos seus debates de forma concreta. Fui alimentando meu ego na medida em que se foi passando o tempo. Tentei seguir a carreira militar, pois tinha me inspirado num Ministro do meu país. Ele ficou um bom tempo respondendo pela Saúde sem nada compreender sobre esse tema. Achei que eu poderia desempenhar essa ou outra bela função de Estado com essa característica de evasivas constantes.

A sociedade adoeceu antes mesmo que eu pudesse perceber de meu desencarnar. De meu desconstruir. Todavia, não fui aprovado na avaliação médica ao Colégio Militar, pois tinham descoberto que eu era daltônico. Para mim o mundo era todo vermelho e só as cores verde e amarela de nossa bandeira que eu conseguia distinguir. O diagnóstico foi uma frustação em meus desejos em nada continuar fazer algo pelo meu país. Meus sonhos frustrados foram alimentando mais e mais outras iniciativas empreendedoras. Na fase da rebeldia juvenil fui um forte debatedor nas redes sociais. Tudo deveria ser destruído nesse sistema podre mesmo que tivéssemos que escolher um carro que se descarrilhe em direção ao abismo.

Não sei muito bem mais se era opinião, porém dizia ser minha liberdade. Ser livre era pensar só em mim e no desejo de estar aninhado em alguma função no qual eu seria o menos capacitado a exercer. Para isso, era simplesmente necessário se aproveitar do  profundo desprezo dos concidadãos pela leitura e aprofundamento do conhecimento. Nada como as teorias simples para se fixarem nas mentes das pessoas.  Falar em liberdade como se fosse se defender de minha incompetência em ter argumentos. Só dizer que a liberdade estava sendo ameaçada porque outros queriam ter a chance em sobreviver.

Fui muito bem acolhido por uma legião de ressentidos. “Esse é o meu país.” “Todos são canalhas!” “Aqui é mundo dos espertos.” Eram frases que repetia em meus comentários políticos para, aos poucos, naturalizar todas as escolhas políticas que eu fui assumindo. Meu narcisismo alimentava um ódio na política e pela política. Nada de democracia, mas sempre era bom citar sobre as instituições que estariam vendidas ao sistema. Tudo sob controle das “forças ocultas”. Não é novidade na história de meu país o uso dessa retórica. Não assumi nenhuma função no “Gabinete do Ódio”, pois esse sentimento já estava naturalizado em mim pelos inúmeros reveses em minha vida que depois percebi que foram frutos por não me dedicar a estudar.

Eu tinha um profundo ódio quando alguém citava Machado de Assis que deveria ter sido bruxo em vida. Como entender um país que tivesse um escritor como referência de uma época distante. Novas tecnologias. Escrever num Twitter era minha poesia. E teve um momento de meu desempenho na assessoria em que sugeri para um Senador a fazer uma emenda com inúmeras palavras sem uso da vírgula simplesmente para dificultar a possibilidade do chamado veto parcial. Essa postura me valeria uma cadeira na Academia Brasileira dos Canastrões. Então, foi muito difícil perceber que a compaixão estaria desconstruindo meu mundo. E fui aos poucos me dedicando a reações mais nervosas e mais destemperadas. Até que sucumbi no chão em plena via pública.

sexta-feira, 18 de junho de 2021

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 21


Vista da hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu, Brasil
Imagem Paulo Whitaker/Reuters

                                     A Política para Evitar o Apagão

Por Vagner Gomes de Souza

 

Nesse momento a MP 1031/2021 sobre o tema da privatização da ELETROBRÁS retorna para ser apreciada na Câmara de Deputados sem tempo hábil para amadurecer as modificações aprovadas no Senado Federal. Todavia foi o Poder Executivo que fez essa temerosa opção de fazer uso de uma Medida Provisória para a desestatização de uma empresa de importância estratégica na política pública de acesso a energia elétrica para as populações de baixa renda e na construção da retomada do crescimento nacional. A tramitação via Projeto de Lei pode ser mais longa, mas permite ao representante eleito melhor condições de analisar a situação que se agrava com os novos relatórios sobre a eminência de uma crise hídrica no país. Estamos sob a possibilidade de um apagão da energia elétrica num momento crucial para tentar criar empregos.

Não se pensava numa crise hídrica mais severa que a vivida pelo país há 20 anos quando a MP foi apresentada  em fevereiro desse ano. A situação política modificou de uma forma em que aqueles deputados federais que votaram SIM em maio desse ano precisam estar cientes que estão recebendo praticamente uma Medida Provisória com a variante do atraso energético. Essa variante do atraso poderá levar milhares de brasileiros a conviver com a escuridão diante de custos que recaem no orçamento familiar em tempos de uma Pandemia que apresenta tamanha resistência. Muitos que votaram pelo SIM em maio pensando numa “modernização da economia” agora estão sob a pressão do tempo diante de modificações que devem a agravar nossa capacidade de operação política no enfrentamento do Apagão sem precisar do impopular racionamento. 
                                 

Não são vozes de esquerda que apresentam a proposta da MP como um fiasco. Políticos do centro liberal já alertam para os custos aos consumidores e analistas de economia alertam para perdas para os cofres públicos como se o Estado fosse Investir na Privatização. Seria o mesmo que reformar um carro ao dobro de seu valor de mercado para vendê-lo em seguida. Esses alertas devem se somar aos custos políticos de estarmos sob a pressão da bandeira vermelha. As contas de energia aumentam nesse faixa o que está pressionando uma escalada inflacionária acima da meta desse ano. O perigo do Apagão é um motivo para que a política se imponha diante dos cálculos dos tecnocratas uma vez que não podemos sobreviver dos restos como se fosse o essencial na vida humana.

A MP simplesmente pode “caducar” (não ser apreciada no prazo) e permitir que um Projeto de Lei seja apresentado e Audiências Públicas sejam realizadas para analisar se esse seria o melhor momento para privatizar a ELETROBRÁS diante dos problemas aqui expostos. Os Deputados não pode se votar num “cheque em branco” sobre um tema complexo numa conjuntura que exige muita moderação nas decisões. O crescimento econômico com justiça social é o que alimentará nossa população a partir de fontes energéticas limpas. Precisamos fazer do exercício da política um “ponto de equilíbrio” que evite um passo adiante que empurre o Brasil para as trevas do Apagão.


segunda-feira, 14 de junho de 2021

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 20


Uma proposta de Reforma Política – Voto para Senador

Por Vagner Gomes de Souza

 

Acompanhar a CPI da COVID19 é um exercício para aqueles que demonstram muita imunidade para alguns discursos retrógrados de senadores que poderiam ser apelidados de Bancada dos Músicos do Titanic. Uma referência a cena do filme ganhador do Oscar de 1998 em que músicos tocavam enquanto o navio se afundava. Acrescentaria que o gesto dos músicos não significa que eles negavam a situação de calamidade, mas buscavam aguardar de forma resignada um desfecho para a situação.

Na versão atual da Bancada dos Músicos do Titanic com ilustríssimos senadores Marcos Rogério (DEM - RO), Eduardo Girão (PODEMOS - CE), Luís Carlos Heize (PP - RS) e Marcos do Val (PODEMOS - ES), na ausência de botes e coletes salva-vidas, eles estariam distribuindo algum remédio de tratamento precoce. Tamanha negação da ciência expõe o medievalismo dessa “ponta” de Iceberg de um mosaico de políticos que emergiram num momento eleitoral para negar a política das instituições democráticas. Percebemos neles o discurso comum de muitos brasileiros que não acreditam na democracia política e valorizam o “atalho” da centralização. A defesa da liberdade dos antigos é muito forte para defender o direito em explorar a classe dos trabalhadores. Eles são o retrato do embrutecimento do debate político ao ponto de achar que perguntas sobre Ciência apresentadas pelo Senador Otto Alencar (PSD-BA) teria sido feitas para agredir uma médica. Desconhecem a Ciência e assumem essa postura, pois são agressivos e apoiam um Presidente que uma vez afirmou que não estuprava uma Deputada por ela não merecer. Seriam adeptos de o cinismo desconhecer essa polêmica de 2014 ainda mais se decidiu ascender ao Senado da República.




Todavia, lá eles chegaram porque as forças progressistas aparentemente consideravam que em 2018 as eleições seriam tranquilas. Contribuíram com o ressentimento ao votar e no lançamento de uma variedade de candidaturas que fragmentaram o campo democrático. Então, os senadores acima citados forma eleitos com o seguinte percentual de votação: Marcos Rogério, 24,06%; Eduardo Girão, 17,09; Luís Carlos Heinze, 21,94% e Marcos do Val, 24,08%. O último foi eleito numa sigla que tinha Socialista na nomenclatura e depois migrou de Partido. Observamos que nem 1 em cada 4 votos eles tiveram porque a fragmentação partidária aumentou muito desde a Constituição de 1988 que não prevê a eleição de Senador em dois turnos.

 Essa deveria ser uma urgente Reforma Política, ou seja, a eleição para o cargo de Senador em dois turnos uma vez que é único cargo majoritário que não exige uma votação mínima para se ocupar o cargo. Imagine-se o aprofundamento da fragmentação das eleições ao Senado no futuro com a vitória de Senadores com menos de 15% dos votos. O Senador da República representa o Estado da Federação. Ser eleito com menos de 50% dos votos do Estado o aprisiona mais ao grupo político que o elegeu ao contrário de forçá-lo a ter uma visão mais ampliada para lhe qualificar o cargo. Menos representante da República e mais “chefe de facção” esse é o perigo caso não se pense nesse item como Reforma Política.

 

sábado, 5 de junho de 2021

LIÇÕES DE POLÍTICA E HISTÓRIA - NÚMERO 1

                                               Combate a epidemia de Cólera em Hamburgo 


                               Pandemias, Democracias & Repúblicas

Em memória do meu filho Ricardo Góes Magalhães Marinho (1988-2017), vítima de outra pandemia.

 

Ricardo José de Azevedo Marinho[1]

 

Cólera, a despeito de algumas discussões entre nós historiadores, é geralmente aceita que foi uma doença inteiramente nova no século XIX, pelo menos para a Europa e a América. Tendo sida identificada em Bengala desde a Antiguidade e observada nas campanhas de Alexandre, o Grande e depois por outros viajantes para a Índia. Mas só veio para a Europa como resultado da abertura de novas rotas comerciais através do Afeganistão e da Pérsia após a conquista britânica do norte da Índia, saindo assim de Bengala em 1817.

Logo, em meados da década de 1820, foi interrompido o suposto cordão sanitário militar estabelecido pelos russos, mas o comércio seguiu crescendo na região e em 1827 a cólera estava movendo-se ao longo do Volga e chegando a São Petersburgo e daí para Alemanha em 1831 e Grã-Bretanha e França em 1832.

Assim que chegou à Europa, a cólera rapidamente se alicerçou em outro aspecto decisivo da sua expansão no século XIX. A industrialização ajudou a mover a cólera rapidamente de um lugar para outro, primeiro ao longo dos rios e canais que eram as principais artérias de transporte nas décadas de 1820 e 1830, e em seguida, ainda mais rapidamente ao longo das linhas ferroviárias que começaram a ser construídas em toda a Europa a partir da década de 1840 em diante, esse processo que seria brilhantemente sintetizado num famoso texto de 1848 que expressou o sentimento de que tudo que era solido desmanchava no ar.

A coincidência dessas grandes epidemias de cólera com períodos de guerra, agitação e revolução é muito óbvia para ser ignorada e foi observada em uma variedade de maneiras pelos contemporâneos. Em 1848-1849, ela seguiu as forças da ordem, incluindo mais uma vez as tropas russas, que ajudaram a derrotar a Primavera dos Povos. A coincidência não passou despercebida aos contemporâneos, que compararam a grande limpeza da Europa após a epidemia com o retrocesso da maré revolucionária pelas forças da reação, lideradas pela Prússia e pela Áustria. A epidemia de 1854-1856, que de forma semelhante varreu a Europa da Rússia ao Ocidente, foi também o único que se espalhou pela Europa de Ocidente a Oriente, levado para a Turquia, Bulgária e Oriente Médio por tropas britânicas e francesas que lutaram na Guerra da Crimeia. As epidemias de 1866 e 1871 foram espalhadas pelas guerras de Bismarck para a unificação alemã. Em 1892, a cólera chegou ao oeste e depois para a Europa Central com uma onda de migrantes em fuga da perseguição, em particular a perseguição antissemita, na Rússia e à procura de um novo lar na América, através do porto marítimo alemão de Hamburgo. Portanto, mais uma vez, como na historia da Peste Negra, tanto a guerra quanto o comércio levaram as doenças a novas vítimas.

O miasma, como era conhecido, naturalmente apelava aos interesses de qualquer estado que estivesse particularmente preocupado com os efeitos econômicos da quarentena, e nada mais do que a cidade-estado autônoma de Hamburgo, no norte da Alemanha, o maior porto marítimo do continente europeu e o mais rico do mundo depois dos de Londres, Liverpool e Nova York.

O Conselho Médico de Hamburgo, sob a poderosa influência das famílias de comerciantes, garantiu ao longo das décadas de 1870 e 1880 que nenhum médico fosse nomeado para um cargo oficial, a menos que fosse adepto da teoria do miasma sobre as doenças e sua transmissão.

Em 1890, as opiniões do médico bacteriologista Robert Koch (1843-1910) haviam conquistado o Império, refletindo a virada do governo alemão de 1879, para uma maior intervenção na economia e na sociedade, e Berlim estava oficialmente apoiando a teoria do contágio da cólera, colocando em prática planos para quarentenas e medidas de desinfecção caso a doença surja em qualquer parte da Alemanha. Mas os poderes do governo Imperial sobre os estados federados eram limitados, tal qual numa república democrática. Berlim não poderia forçar Hamburgo a aceitar seus pontos de vista. Em agosto de 1892 a doença chegou a Hamburgo via Rússia em um trem de migrantes. Logo atingiu o ponto de captação de água da cidade, espalhou-se através dos reservatórios e foi bombeada para as casas de toda a cidade antes que as autoridades médicas viessem a tomar quaisquer medidas para diagnosticar a doença nas primeiras vítimas e/ou tomar providenciais para combatê-la ou alertar as pessoas de sua presença. Logo as vítimas estavam sendo recolhidas aos milhares em lares infectados e levadas ao hospital, e em 50% dos casos nunca mais voltaram.

A legitimidade da administração do Estado de Hamburgo foi severamente atingida pela epidemia. Koch foi enviado pelo governo nacional a Hamburgo para impor quarentena, desinfecção e outras medidas, incluindo a distribuição de água não contaminada e gratuita e instruções aos cidadãos para ferver toda a água antes de usá-la - medidas que tiveram algum impacto para o fim da epidemia. Hamburgo foi forçado a reformar seu sistema de administração e nomear os adeptos das teorias de Koch para postos-chave no serviço médico.

Foi notável em 1892 que as pessoas comuns em Hamburgo não levantassem objeções às medidas tomadas por Koch. Mas as classes trabalhadoras da cidade apoiaram esmagadoramente o Partido Socialdemocrata da Alemanha, que, como movimento político progressista de massa, acreditava na legitimidade da ciência moderna e cooperou plenamente com Koch e as autoridades no combate à epidemia. Os efeitos políticos da epidemia não foram encontrados em protestos estéreis contra A ou B, mas na lembrança constante desse desastre pelos socialdemocratas que apontaram, além disso, a pilhagem da administração do estado para servir aos interesses de uma minoria rica e negligenciar a saúde e a seguridade do cidadão comum. Nas eleições nacionais de 1893, todas as cadeiras do Reichstag da cidade foram para os socialdemocratas.

Essa é a lição que nos vem dessa experiência para que não fiquemos perdidos em agitações estéreis (de rua ou não só), sem repararmos que eppur si muove, que o movimento da Terra que traz consigo a mudança das estações, que não sentimos, na frase famosa de Joaquim Nabuco, mas este movimento de intelectuais-massa que aí está não dá para não perceber.

Niterói, 5 de junho de 2021



[1] Professor da Unyleya Educacional e do Instituto Devecchi.                         

quinta-feira, 27 de maio de 2021

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 19


 Senador Renan Calheiros ajusta a gravata do Senador Omar Aziz sob olhar do Senador Randolfe Rodrigues (Foto Jefferson Rudy/Agência Senado)

Ser Senador no “Olho do Furacão”

Dedicado ao Arquiteto que atuou na política

Jaime Lerner (1937 – 2021)

Por Vagner Gomes de Souza

 

Os mais apaixonados pelo acompanhamento do debate político (ainda existem essas “aves raras” na sociedade brasileira) se debruçam nas análises e observação dos depoimentos da CPI da COVID que podem ser acessados no canal de Youtube do Senado Federal. A relativa baixa audiência em relação ao que se passa nas oitivas presididas pelo Senador Omar Aziz (PSD – AM) não significa que não esteja ocorrendo um impacto político na conjuntura. A derrota do Governo Bolsonaro se faz nas trilhas de nossa marca histórica, ou seja, gradual e lentamente com pressão das redes sociais a via institucional - vide o exemplo das perguntas selecionadas via Twitter pelo relator Renan Calheiros (MDB – AL).

Ao campo democrático não serão as ruas em plena pandemia que contribuirão para o isolamento da política “negacionista” dessa gestão caótica da crise sanitária do país. Os protestos que se articulam podem trazer em cena a possibilidade desse momento no qual a “Guerra de Posição” seja eclipsada pela “Guerra de Movimento”. No Senado da República está ainda se fazendo a configuração de um processo de formação política das novas lideranças da política nacional que deverá manter seu curso nas eleições de 2022 em que se renovam 1/3 dos assentos da “Câmara Alta”.

A ideia de uma volta ao modelo de uma “transição política” com os sinais de mudança mais fortes que o de conservação nos chama a atenção nesse momento em que a política e a economia brasileira atravessam o “olho do furacão”. Se a Constituinte (1987/988) foi a grande marca dessa política transitória ao final da Ditadura Militar, devemos pensar um programa econômico que supere o fundamentalismo fiscal que sempre sugere os limites de gastos públicos para enfrentar os problemas sociais, porém está sempre disponível para saldar as contas com pagamento dos juros aos grandes bancos. A volta da “Política” na cena do debate da economia impõe que não deixemos que o pensamento ultraliberal de Paulo Guedes imune aos problemas debatidos na CPI da COVID.

A insistência em se manter com a política do “teto de gastos” pode ser o motivo do marketing negacionista da cloroquina. Uma disfarçada política macabra “malthusiana” na busca da redução dos gastos previdenciários se observarmos o perfil dos que foram a óbitos. A “mascarada” reforma administrativa no congelamento dos benefícios dos servidores públicos incluindo a proibição de reajustes salariais em plena pandemia e num momento de alta inflacionária. Esses seriam alguns exemplos que há muito mais debate de política para se fazer que simplesmente conceituar o Presidente como um adepto da “necropolítica”. Esse é o espaço de se entender a conjuntura e perceber que não estamos numa “banca” de pós-graduação falando para as “bolhas”. Na política se faz escolhas que nos faz perceber que a população brasileira está onde sempre esteve: no CENTRO.

A qualificação de um Senador com esses méritos acabam por crescer de tamanho diante da realidade imposta por essa política de transição que pretendemos que seja republicana e democrática. A “Grande Política” não significa fazer da disputa eleitoral para o Senado um “puxadinho” dos palanques da disputa presidencial, pois a disputa majoritária para o mandato de 8 anos não se faz em dois turnos. Há situações em que um Senador poderia ser eleito com uma faixa eleitoral entre 25 – 30% a se depender da fragmentação da disputa eleitoral em cada estado da federação. O Campo Democrático estaria disposto a passar por esse “risco político” em não dar atenção a essa perigosa possibilidade.

Na CPI da COVID temos uma “vitrine” que expõe para as forças democráticas o quanto de figuras reacionárias ganhou um espaço político por falta de compreensão da importância da “renúncia” da disputa eleitoral em favor do ganho político. Por exemplo, não houve “Grande Política” na disputa eleitoral nas eleições ao Senado do Rio de Janeiro em 2018 para além de um “ensaio informal” de apoio de uma “dobradinha” de Frente de Esquerda que empurrou a surpreendente vitória do já falecido Senador Arolde de Oliveira (PSD). Hoje o PSD do Rio de Janeiro passa por uma mutação que lhe pode levar a emergência de uma nova variante (que me permitam os virologistas). Consequentemente, o espectro de Amaral Peixoto que reinou no interior do Rio de Janeiro nos tempos do “outro” PSD pré-1964 poderá ser decisivo. 



sexta-feira, 7 de maio de 2021

NOTA SOBRE O OCORRIDO NO JACAREZINHO

 

Foto: Fabiano Rocha retirada do site www.vozdascomunidades.com.br

O Carandiru Carioca

 

Há uma urgência pelo esclarecimento do uso de forças de segurança com a intenção de se levar a paz as comunidades cariocas quando se é a mais letal da história do Rio de Janeiro. Lembremo-nos do que foi a “Chacina do Carandiru” ocorrida em 1992 em que nem ainda tínhamos nascido. Uma rebelião que foi sufocada num banho de sangue em tempos anteriores a existência do controle do PCC nos presídios de São Paulo. Os efeitos brutais do Carandiru não melhoraram a vida da população paulistana.

No dia de ontem, o fantasma do “Mão Branca” (personagem dos grupos de extermínio na Ditadura Militar) se fez presente na “invasão” da comunidade do Jacarezinho na cidade do Rio de Janeiro. Não se explica com ficha policial os atos bárbaros narrados pelos moradores daquele bairro. Não se explica que em plena a Pandemia uma ação considerada excepcional seja feita com tamanha barbaridade e nenhuma sinalização do Governo Estadual de que irá apurar se houve possíveis excessos ou outros interesses. Simplesmente se declara que se cumpriu o “PROTOCOLO”.

Balas Perdidas não obedecem “Protocolo”! Um trauma que se gera nas crianças por causa pela tamanha brutalidade não é a melhor maneira de resgatar crianças e adolescentes do sugerido “aliciamento do tráfico de drogas”. Não se pode ficar em silêncio diante das denúncias de execução feita seja por qual motivo. Delicado silêncio não se pode fechar nos “fichamentos” da vida sob livros repletos de dor.

Soam em nós as palavras de Frida Kahlo: “Pés, para que os quero, se tenho asas para voar”. Essas palavras convidam a nossa juventude a refletir sobre a ausência de natureza republicana de uma gestão estadual no mínimo atrelada a outros interesses, pois tudo se encerra em seis linhas de uma Nota do Governador. Nossa “alma carioca” está ferida pela apropriação indevida das almas.

A ALERJ, como poder legislativo independente e representativo da sociedade do Rio de Janeiro na sua mais ampla pluralidade, não se pode intimidar de buscar esclarecimentos sobre o que se ocorreu e de outros eventos “suspeitos”. Nem que o caminho seja a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para que a transparência se faça presente. O ativismo da Democracia se faz necessário nesse momento em que nos solidarizamos a todos que vivem sob esse caos e incluímos os familiares dos policiais civis e militares que são vítimas colaterais da ausência de uma verdadeira Política de Segurança Pública no Rio de Janeiro.

 

FRENTE DEMOCRÁTICA JOVEM


quinta-feira, 22 de abril de 2021

OSCAR 2021 - ENTREVISTA COM O PROFESSOR PABLO SPINELLI

A  entrevista que se segue com o Professor Pablo Spinelli mantem uma iniciativa desse BLOG de alguns anos em trazer uma opinião sobre o OSCAR para motivar que novas gerações observem nas produções cinematográficas o registro de uma época. 


1) Em sua opinião,  quais foram os impactos da Pandemia da COVID19 que teriam influenciado nas indicações do Oscar de 2021?

O primeiro e mais óbvio, a falta de público. Os filmes não passaram pelo olhar do público e aí temos o segundo impacto. A elitização daqueles que podem fazer o tradicional “bolão” – pelo menos para os mais velhos -, pois os filmes estão circunscritos ao mundo do streaming, portanto, quem tem acesso à Netflix ou Amazon Prime sai na frente nas apostas. Creio que um terceiro impacto seja a escolha por produções mais autorais, diferentes de um Pantera Negra ou Corra! que casaram bilheteria com autoria.

 

2) Na categoria de indicados a Melhor Filme de 2021, haveria algum filme que foi “esquecido”? Qual seria o favorito e o “azarão”?

O favorito é geralmente aquele escolhido pelos Sindicatos de Produtores, Atores, Diretores e Roteiristas que têm em inglês o sugestivo nome de guildas. Saiu na frente o filme “Nomadland”, que está em algumas sessões de cinemas para os mais corajosos, que é dirigido por uma chinesa. A China está em alta. Um filme que os jovens deveriam ver pensando não só nos avós, mas no que pode ocorrer aqui e alhures para quando chegarem aos 60 anos. A diretora, Chloé Zhao, é uma jovem chinesa, filha de um executivo rico em Pequim, uma geração dos anos 80, que cresceu fazendo mangás e se formou em Ciência Política. Creio que ouviremos falar mais de Zhao.

Azarão é o filme “Meu Pai”. Um filme que apesar de muito bem interpretado pelo Anthony Hopkins, uma atuação verdadeira como ele nos deu em “O Silêncio dos Inocentes” e em “Os Dois Papas”, não tem chance.

Dois filmes foram um pouco esnobados. “Relatos do Mundo”, com Tom Hanks e “Uma Noite em Miami”. Poderiam estar na lista de melhores filmes.

 

3) A tendência ao multiculturalismo continua nas indicações desse ano para atender a quem?

A todos. Uma cerimônia que tem uma marca interessante. A primeira com uma vice-presidente negra e que tem duas diretoras indicadas – uma chinesa e uma negra. Um ator negro falecido que vai ganhar o Oscar. Seu colega de “Pantera Negra”, forte favorito para ator coadjuvante. Um comediante inglês que tem uma das melhores comédias dos últimos anos indicado a roteiro adaptado. Um dinamarquês muito talentoso indicado a diretor. Agora, o ponto é que o limite entre aquilo que tem que ser representado na cerimônia e o que realmente deveria estar lá é tênue. Arte não é corrida de cavalo. Oscar é uma aposta da indústria. Cannes, Berlim, Veneza são mais artísticos. Não adianta ter 150 minorias indicadas e 50 000 filmes sem elas. Mas acho que isso vai mudar pelo tempo do mundo e não pelo tempo das imposições. 


Cena do filme Os 7 de Chicago

4) Além da Pandemia, 2020 foi marcada pelo movimento do “Vidas Negras Importam”. Quais indicações ao Oscar 2021 tem uma melhor contribuição para esse debate?

Temos “Judas e o messias negro”, sobre um infiltrado nos Panteras Negras, quase um complemento ao filme do Spike Lee sobre a Klan; “A voz suprema do blues” que fala de uma diva negra e seus músicos com personalidades distintas em uma época muito complicada, cerca de um século atrás, mas quem sai na frente é o filme da Regina King, “Uma noite em Miami”. Creio que as personalidades envolvidas, as discussões, as diversas camadas dos personagens tenham muito a nos dizer. Não à toa que o ator que fez Sam Cooke foi o indicado. O xadrez verbal e a excelência das atuações mostram que todos ali importam muito na construção do tema racial, só que há opções entre a ética da convicção e a ética da responsabilidade.

5) Na categoria Melhor Direção, não seria estranha a ausência de Spike Lee?

A Academia pune. Spike Lee tem um gênio difícil. Não se esqueceram do que ele fez ao não ter vencido o Oscar pelo filme anterior. Ele fez um filme brilhante, o primeiro sobre algo jamais abordado, a participação negra no Vietnã; o negro que vota no Trump, o peso do passado; a miscigenação que a guerra gerou – e as consequências para os filhos dos invasores americanos. É um dos seus melhores filmes, mais maduro. Mas pagou com a língua.

Chloe Zhao

6) Esse será o primeiro ano de Cerimônia do Oscar após o falecimento de Ennio Morricone. A relação entre a música e o cinema ganhou força para o Oscar 2021?

Morricone (“Os oito odiados”; “Era uma vez no Oeste”, “Cinema Paradiso”) fechou uma geração. Só falta o John Williams (compositor de “Tubarão” e “Star Wars”, dentre outros). Temos ainda Danny Elfman em suas colaborações com Tim Burton; Hans Zimmer, Alan Menkel. Mas acho que se perde aquela trilha que sobrevive ao filme, que tem vida própria. Bernard Hermann deu vida à Psicose. Morricone era o Oeste dos italianos. O que seria de “O Poderoso Chefão” sem Nino Rota ou dos filmes do David Lean, como Lawrence da Arábia sem Maurice Jarre ou Missão Impossível sem o argentino Lalo Schifrin? Os jovens não sabem, mas antigamente havia uma coisa chamada disco e se vendia disco só de trilhas sonoras. A trilha dos filmes da Disney ou a da Marvel são inesquecíveis? Não estou pessimista. Coisas boas surgem, mas a relação que você citou se diluiu. Tudo o que era música desmanchou no ar.

 

7) Por que Itália, França, Espanha e Alemanha estariam ausentes nas indicações de Melhor Filme Estrangeiro?

Não foi a pandemia. É triste para mim, amante do cinema italiano, ver o que os anos Berlusconi geraram naquela cultura. Eu dou aula de Cinema & Sociedade para os meus alunos e quando falo do Neorrealismo eles captam imediatamente a mensagem, alguns ficam curiosos, sabem que aquilo nos diz algo. Imagine um ladrão de bicicleta fazer um furto em um entregador do Ifood? Esse filme é perene. A Itália e a França – e nós, que você não perguntou – seguiram um caminho determinado pela TV (Fellini previu em “Ginger e Fred”) e o riso fácil. Comédias picarescas que temos que espremer com muita generosidade para dali sair algo. Uma França que perdeu um Truffaut e ganhou um François Ozon é muito duro. Espanha depende da criatividade do Almodóvar. Veja o catálogo da Netflix. Eles estão lá, dentro da fórmula que atenda os metadados. “A Casa de Papel” é uma série cheia de referências dessas escolas, os jovens desavisados, acham que tudo é Tarantino, mas Tarantino vem de Godard, de Sergio Leone, de Einsenstein. Porque os espanhóis não arriscam? A Alemanha é a mais feliz no seu cinema, tem seu festival, investe. Mas chamo a sua atenção. Assim como os romances policiais, o cinema dos escandinavos só tem melhorado. Dinamarca está lá merecidamente. 


 Maria Bakalova

8) Quais seriam suas “apostas” para Melhor Ator e Melhor Atriz seja na categoria principal e na coadjuvante? Por que?

Chadwick Boseman ganha por uma questão afetiva. Ele fez um belo trabalho, percebe-se que está doente, mas vai até o fim. Mas ele fez melhor em “Pantera Negra” e “Destacamento Blood”. Acho a atuação do Hopkins melhor, mais difícil, mais cheia de camadas. A bolsa de apostas coloca o jovem Daniel Kaluuya como o ator coadjuvante. Ele é muito bom, vimos isso em “Corra!” e em outras produções. Vejo um sucessor do Denzel Washington. Frances McDormand tem vencido tudo, deve ser a terceira vez a ganhar o prêmio, mas vejo poucas nuances de suas últimas interpretações. Uma excelente atriz. Basta ver Fargo ou Três Anúncios para um Crime ou Mississipi em Chamas para ver isso Viola Davis está no páreo, mas o trabalho mais difícil, na minha ignorância, foi o da Vanessa Kirby em "Pieces of a woman". A atriz coadjuvante deve ser um dos poucos Oscar de “Mank”, a Amanda Seyfried, que é uma aposta e ainda não fez harmonização facial, o que lhe dá mais tempo para fazer outras interpretações dignas. Minha favorita é a cara-de-pau Maria Bakalova, de Borat. Saber que essa jovem só entrou porque o Sacha Cohen tinha sido reconhecido e a entrada dela resolveu o filme, merecia. Agora, posso estar ranzinza pela pandemia, mas foi uma das piores seleções dos últimos anos, especialmente se há alguma pretensão em renovar o público. Tem filmes bons (“Os 7 de Chicago” é o meu favorito), mas os jovens vão preferir o Tik Tok a ver duas peças filmadas; um filme sobre aborto; outro sobre alcoolismo; a Hollywood dos anos 1940; os sem-teto nos EUA; ou ainda sobre Alzheimer ou outro sobre surdez. E a animação favorita é kardecista. Faltou leveza, mas há esperança. É ainda o rescaldo do último ano da gestão Trump.


quarta-feira, 14 de abril de 2021

EPÍSTOLA NÚMERO 1


 

De @velhoprotestante para @jovemevangélico

 

Por Eremildo de São Cristóvão (1)

 

Prezado jovem, que a Paz esteja contigo. E é sobre a paz o tema dessa epístola. Escreveu Paulo, em Efésios, especificamente no capítulo 6 e a partir do verso 10 podemos ver as orientações da Palavra de como devemos viver a relação entre dois mundos. O espiritual e o nosso mundo.

Ali, Paulo faz a famosa descrição da vestimenta dos cristãos de acordo com o que o autor de Efésios via dos romanos. Armadura, sandálias, espada, escudo, capacete. E, em uma poética analogia, Paulo transforma o que seriam símbolos da violência em instrumentos de luta espiritual. Nesse ponto, meu jovem, há uma referência há muito esquecida por nossos irmãos que protestam pela liberdade de culto que teria sido negada recentemente e nunca o foi, pois é cláusula pétrea da Constituição a liberdade de culto e de religião. Cabe a você, jovem evangélico, quem sabe no meio de livros de uma biblioteca, ensinar aos seus contemporâneos que o país que vivemos é tão rico, complexo e diverso que, quem criou essa cláusula pétrea foi um comunista ateu acusado de macumbeiro. Mas isso é em outra epístola, quem sabe?

A referência esquecida pelos cruzadistas que não estão de capacete, de sandálias, cinto, armadura ou espada – mas com uma camisa da seleção brasileira ou empunhando cartazes de idolatria que faria Baal ficar satisfeito – é que a luta dos cristãos não é contra carne e sangue. Não é contra o outro. Mas é contra as potestades, os dominadores dos mundos de trevas, aqueles que tem a maldade no mundo celestial. Nesse ponto, Paulo é claro. Fiquemos INABALÁVEIS depois de fazermos de TUDO.

Fé, estudo, Espírito, orações, súplicas, atenção, perseverança. Essa é a munição do autor de Efésio que estava preso em correntes. Coragem. Não é uma arma apontada, uma defesa de mais presídios, de uma verborragia indefensável nas redes sociais. Os espíritos maus que nos rondam tem poderes. Mas que agem por padrões de comportamento – e não devemos pensar só no mau que atinge o indivíduo – que estão num sistema do MUNDO.

E nisso, há o poder da potestade. A captura de formas de pensar e de agir que de tal forma uma pessoa cristã, pia, sábia, pode se despersonalizar no grupo do whatsapp ou do facebook e acreditar em remédios milagrosos semelhantes aos que Lutero tanto criticara há pouco mais de 500 anos. Temos as relíquias vendidas no mundo virtual. Do feijão ao voto. Do gargarejo com limão ao uso heterodoxo do ozônio. A potestade da ignorância urge em ser abatida. E sua geração tem um compromisso com isso, meu jovem. E além das orações, a perseverança nos estudos, no despertar coletivo, no fortalecimento das comunidades, no esclarecimento – Faça-se a Luz! – para aqueles que tanto necessitam para não caírem em discursos de ódio, alimento dessa potestade. Estudo e diálogo coadunados com as armas espirituais.

Outra potestade que nos assola é a fome. A fome derivada da negligência das autoridades políticas, da classe empresarial e até, jovem evangélico, de algumas igrejas. Os vendilhões do templo e os falsos profetas foram denunciados mais de uma vez por Jesus. A trajetória pública de Jesus tem uma coincidência que nos assombra. Sua primeira ação política – essa palavra no seu sentido mais amplo, jovem – é contra os vendilhões do templo. Essa também será a sua última intervenção antes do calvário. A desconfiguração do templo foi algo que incomodou o Cordeiro, que deixou sua mansidão e se irou, mas não pecou. Por que as igrejas abertas nesse momento pior do que ano passado? Não quero colocar os termos liberais do comércio. Vamos pensar diferente. Que tipo de intervenção várias igrejas poderiam dar em momentos pandêmicos, do poder das potestades da fome e da discórdia?

Jovem evangélico, já pensou quantas igrejas tem acesso à internet e que poderiam ajudar ou ter ajudado os jovens da rede pública a não ter tanta perda de instrução? Ou ainda, aquelas confecções que fazem bandeiras em épocas de eleição não poderiam ter seu uso para máscaras com um versículo, uma cruz? E somos humanos. Não multiplicamos os pães e nem modificamos o sabor do vinho. Mas qual tipo de arrecadação de distribuição pública de alimentos e remédios, de álcool e água, os vereadores e deputados cristãos fizeram com a administração pública para chegar o pão na casa de quem precisa?

Essas potestades nos tiraram a sensibilidade para uma média de 3 000 mortes diárias. Perdemos realidades diversas. A manifestação da potestade da morte está aí. O desemprego estrutural, onde auxílios não dão conta das necessidades diárias com essa alta do custo de vida. Há uma corrupção sistêmica e que está mais ligado ao mundo dos mercadores do que do mundo da política, jovem cristão. Há jantares ao meio da fome pedindo por portas abertas em corações fechados.

Essas potestades nos tiram a sensibilidade de pensar em famílias que não podem ficar em casa e não estão porque querem nas estações de trem, do BRT, não é uma aglomeração pela balada insensível dos jovens. Essas pessoas estão ali porque querem e precisam da sobrevivência. Jovem evangélico, porque quem se preocupa com o STF não questiona que menos de 30% do crédito para as pequenas e médias empresas não chegou porque esse dinheiro público ficou no sistema financeiro? Faça-se a luz, jovem cristão.

Vivemos em um momento de heróis. Abraão, Noé, Raabe, Abel, Davi, Samuel são os “heróis” da Bíblia. Mas temos um problema com a personagem heroica, meu caro jovem. O herói é amado por um lado e tem por consequência o ódio de outro. A polarização não deixa salvação e amor surgirem dessa forma. Nesse cenário os demônios ficam “desamarrados”. Jovem evangélico, demonstre que não adianta amarra a potestade no mundo celestial se a liberamos no nosso meio, que por onde age. Jesus ao repreender Satanás que estava em Pedro mostrou que agiu no mundo do aqui, do agora. E contra essa potestade é que somos chamados a enfrentá-la. No fortalecimento do poder do Senhor, mas também da lucidez, da verdade cuja  ciência é uma demonstração de Sua presença – “o médico dos médicos” – e acreditar que esse deserto que atravessamos no momento e entender que Jesus não grita nas praças, é o cordeiro, não é o mito do herói, é o santo de Deus. Precisamos nos separar como santos da intolerância, pagar o mal com o bem, se somos do Príncipe da Paz precisamos ficar separados, distanciados socialmente, conscientes do amor ao próximo. Recomendo orar e ação, teoria e prática para seguir a carreira e fazer o bom combate com estudo, perseverança, fé, corajosamente e com ousadia podemos lutar contra as potestades sem timidez, oração sem ação é pensamento mágico. Lembre-se que as igrejas medievais eram locais de oração e de conhecimento, de ação política e de generosidade.

 

(1) Doutor em Filosofia com a tese “Materialismo Dialético e Histórico nas Epístolas Paulinas”. Autor do ensaio – A Filosofia da Práxis no Apóstolo Paulo em breve publicação pela Ed. JUERP.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 18


Manifesto, Entrevista de Lula e A Terra Prometida

Por Vagner Gomes de Souza

 

Foi uma semana que um “contragolpe” se fez realizar no silêncio das ruas por causa das restrições da ocupação das ruas nesse “Tsunami” da pandemia. A elite econômica da sociedade brasileira, aos poucos, se aproxima de realidade de que a política é fundamental para que as forças da produção tenham investimentos. O capital produtivo se deslocou do capital rentista após um ano de recessão econômica e falsas expectativas sobre um programa de reformas por trás do programa autoritário e conservador nos costumes da Presidência da República. O liberalismo econômico vocalizado por essa fração da burguesia precisa de se alimentar da vida dos consumidores para que seus lucros ampliem. Diante disso, o “Poder Moderador” das Forças Armadas foi colocado em “teste” na demissão do Ministro da Defesa Fernando Azevedo. Troca nas FFAA enquanto o Vice-presidente Hamilton Mourão se vacinava e garantia que o Exército pertencia a normalidade democrática.

O pior não ocorreu porque o Centro político ressuscitou mesmo que sem que tenha atores políticos em condições de melhor lhe fazer representar. Há um “arco” amplo de forças centristas que se deixaram seduzir pelo atalho da “antipolítica”, mas agora reocupa o espaço diversificado de uma oposição moderada que estava muito silenciosa até a volta da elegibilidade do ex-presidente Lula. Por outro lado, o mantra do “Impeachment” da Esquerda parecia um recurso a “cloroquina” política. A Democracia se consolida com a “vacinação” das alianças ampliadas contra os segmentos autoritários e obscuros que emergiram por muito de ressentimento e pela ilusão de alguns segmentos defensores de um individualismo liberal extremado que se faz pela defesa de posturas não civilizatórias. Expansão de bases sociais populares pela via do fator religioso esteve muito vinculado ao desejo de ter mais segurança para seus familiares. Mais indivíduo numa comunidade mercantil e menos limites civilizatórios do Estado Democrático. Hobbes soberano como um Deus no Livro das Revelações em aliança com as sutilezas de um Adam Smith com suas mãos armadas que controlam as periferias das grandes cidades nos grupos milicianos.



Se o Centro político reapareceu para impor seu ponto de equilíbrio, o “Centrão” também se faz cada vez mais presente para que relembremos nossa característica política muito dependente do clientelismo. A Democracia política consolidou numa Carta Constitucional com a presença de Roberto Cardoso Alves, pois o Brasil é um mosaico no qual as mudanças precisam ser construídas numa longa duração. A “nova geração” do Centrão aprende a trilha da sobrevivência pela “Guerra de Posição” do Orçamento com um olhar para a renovação do Parlamento em 2022. Com a moderação da sociedade, não toleram que uma nova onda de “vozes novas” da política reduza seus assentos quase que mantidos pelos resquícios de um feudalismo político. Esse é um “fio da navalha” que as forças democráticas devem saber atravessar na busca de desobstruir uma nova Transição Política em nosso país.

Então, precisaremos olhar para uma Terra Prometida que está ao fim de uma longa travessia. Nesse momento, o Manifesto assinado por prováveis presidenciáveis de 2022 em favor do compromisso com a Democracia divulgado é um ponto importante que as forças progressistas precisam saudar mesmo que tenha ocorrido um sectarismo na exclusão ao convite aos nomes do Partido dos Trabalhadores (Lula, Fernando Haddad ou Jacques Wagner). O tom do texto é relevante para demonstrar o quanto o isolamento político de Bolsonaro se faz presente, pois o deslocamento dessas lideranças políticas segue o sentido do eleitor de centro que precisa ser conquistado para essa nova etapa de ampliação da democratização. Mas deixemos os tópicos programáticos para mais adiante, pois é necessário ainda abrir o “Mar Vermelho” com o “cajado” da estratégia da Frente Democrática.

Moisés e Josué foram importantes na longa travessia rumo a terra prometida. Por isso, ouvir a entrevista de Lula no programa de Reinaldo Azevedo foi outro momento importante desse “contragolpe” para isolar as forças do obscurantismo. O Ex-Presidente fez uma grande sinalização ao relembrar da aliança que lhe fez vitorioso em 2002, a partir da indicação do empresário mineiro José de Alencar. Duas fortes referências para um posicionamento ao Centro da Política (o empresário liberal-democrata e o estado de Minas Gerais). Não foi o momento único em que Lula se colocou aberto ao Centro Político o que reforça a necessidade de um encontro entre o Grupo do Manifesto e o ex-presidente, pois não se deve fazer da Grande Política um reflexo dos cálculos eleitorais porque o fundamental é a derrota do inimigo comum. Enfrentar as “Pragas do Egito” nesse século XXI que assolam nossa nacionalidade. Ainda termos que ter muita imaginação ainda a se construir para fortalecer o campo democrático, que se fará com uma necessária mobilização da juventude para fora das posturas individualistas seja à extrema-direita ou na Esquerda. Superar uma tendência a uma militância juvenil burocratizada em movimentos sociais alheios aos ventos da moderação da política. Lula deu a receita ao abordar os assustadores números de desempregados que na juventude está em níveis catastróficos.  

quarta-feira, 31 de março de 2021

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 17


 

Lições sobre a Frente Democrática

Vagner Gomes de Souza

 

No ano da antipolítica, 2018, nas comemorações dos 30 anos da Constituição do Brasil, tive a lembrança daqueles anos marcados pela esperança na conquista da democracia e na superação das desigualdades sociais. Estávamos a 48 horas da realização do Primeiro Turno das Eleições Gerais em nosso país e a ansiedade era compartilhada por muitos ao meu redor em relação ao que estava por vir. Havia uma ausência de um balanço crítico das lições da derrota política do autoritarismo que se fez nas instituições democráticas numa sociedade conservadora.  Enfim, entremos num Segundo Turno sem debate programático que favoreceu uma onda da “nova política” que, na verdade, expressou os ressentimentos de segmentos sociais contrários a inclusão social.

Naquele momento, o legado da Nova República inaugurada na derrota da Ditadura Militar (1964 – 1985) através do corajoso comparecimento ao Colégio Eleitoral foi colocado em risco. Os desdobramentos dos fatos políticos dessa semana confirmam essa percepção. Em décadas de negociações, os indicadores sociais foram melhorando e uma pluralidade de leis consolidaram direitos para muitas pessoas simples. A elite econômica se deixou levar pelos cânticos da “sereia do autoritarismo” numa manifesta intenção de resolver o custo Brasil com a imposição da flexibilização. Mais mercado e menos valores democráticos.

Essa é a oportunidade de dialogar com amplos setores sobre a crise da representatividade em que o país se envolveu desde as jornadas de 2013. Os germes da metamorfose da política brasileira não teriam sido captados em sua profundidade. Começou um lento esvaziamento do Centro Político brasileiro manifestado numa polarização eleitoral instrumentalizada pelos seus principais atores políticos em 2014. Em seguida, a Operação Lava Jato (com fortes desdobramentos no Rio de Janeiro) permitiu que a mídia pavimentasse um processo de desqualificação da política. Emergiu a figura de um “tenentismo togado” a procura de um ator político que sintetizasse através da manifestação da fúria do voto.

O processo eleitoral em curso no Brasil tem semelhanças com os casos estudados por Manuel Castells em seu livro “Ruptura – A crise da democracia liberal” lançado em 2018. Os efeitos da crise econômica mundial alimentam a crise da legitimidade das forças políticas em curso. Aqui, a queda eleitoral das forças do Centro permitiu a emergência de forças obscuras de um passado que se considerava superado. Os conservadores se oferecem como alternativa fazendo a releitura da centralização política e como possibilidade de viabilizar a concentração da renda. Esses setores de linha reacionária sempre existiam às margens da política brasileira sufocados pela prática da política de um Centro comprometido com a democracia.

As mudanças na sociedade efetivadas pelas conquistas democráticas vivem esse risco de sofrer retrocesso diante das manifestações do voto de fúria. Os trabalhadores têm seus direitos ameaçados e precisam realizar alianças com outros segmentos da sociedade. Essa ponte era feita pelo Centro político que agora se faz necessário renascer das cinzas da política nacional. Os quadros políticos do liberalismo democrático ainda sobrevivem em muitos setores e precisamos dialogar com eles. Não é fácil numa época de informação em rede praticamente instantânea fazer uma opinião democrática prevalecer. Contudo, é tempo de reinventar a Frente Democrática que enfrentou a Ditadura Militar demonstrando que o discurso simplificado do “Nós contra Eles” está a serviço da elite econômica.

A Frente Democrática articula forças políticas e da sociedade na defesa da Democracia e a favor de reformas que beneficiem um gradual processo de distribuição de renda. A linha do desenvolvimento econômico com mais conquistas sociais sustentam um amplo “pacto na sociedade”. Seriam equivocados aqueles que limitem o debate da Frente nas negociações eleitorais. O tema eleitoral é precedido do tema político maior que sempre será o aprofundamento das instituições democráticas. Portanto, o recente discurso do Ex-presidente Lula mobilizou pontos de unidade com o centro político que não podem ser desprezados pelo sectarismo seja de qualquer coloração.

 

Nota: esse é um artigo atualizado a partir de “Lições sobre a Frente Democrática” que está originalmente publicado em meu livro A sagrada política / Vagner Gomes de Souza. – 1.ed. – Rio de Janeiro: Albatroz, 2019. Pp. 64 – 66. Houve uma motivação diante de uma nova geração de jovens que me perguntam o que seria essa Frente.

quinta-feira, 18 de março de 2021

TEXTOS DA JUVENTUDE


                                                       Qual é o valor da morte?

Por Lucas Soares

 

”A vergonha já é uma revolução; [...] Vergonha é um tipo de ira voltada para dentro. E se toda uma nação realmente tivesse vergonha, ela seria como um leão que se encolhe para dar o bote” (MARX, 2015, p. 14).

 

“Não se humaniza a vida numa sociedade como a nossa sem conflito”. Foram estas as palavras proferidas pelo líder religioso e membro da Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo, Júlio Renato Lancelotti quando tomado por críticas e ataques do campo reacionário, derivadas de suas ações assistencialistas em prol dos moradores de rua, em setembro de 2020, na cidade de São Paulo. Curiosamente, sob aquele mesmo contexto, encontrava-se o Brasil otimista em virtude do segundo mês de involução nos números de óbitos pelo vírus que devastava todo o mundo e colocava em xeque, como em uma partida de xadrez, peões e reis.

 Oposto ao jogo de origem asiática onde elementos inanimados do exército, separados em dois segmentos, batalhavam por posições no tabuleiro em prol da vitória de seus respectivos reis, o novo contexto pandêmico, ao contrastar peças políticas de forças nada equivalentes, evidenciava cada vez mais um velho dilema: Quem deve sobreviver? Os Peões  ou os Reis; A Grande Burguesia ou o Trabalhador; A economia ou vida; Seriam estes, utilizando a categoria de Georg Lukács, existências reificáveis? Existia mesmo uma linha tênue entre os pólos? Era realmente preciso salvar um, ao preço da morte do outro? Analogias e questionamentos à parte se sabem que hoje, seis meses após a declaração do muitíssimo bem intencionado pároco da pequena Igreja São Miguel Arcanjo, decidiu-se, no bojo de declarações das autoridades federais, dotadas de omissão e negacionismo ao conhecimento científico, por uma política pública desumanizante que tenta desastrosamente dar vida ao mercado e ao “empreendedorismo tacanho” enquanto transforma em números a morte de milhares de seres humanos.

Exposta a catastrófica e fúnebre conjuntura a qual nos encontramos, realinhemos nosso foco ao que motiva a declaração de Júlio Lancelotti  e consequentemente traz a tona nossos questionamentos: A defesa da vida. O que a sociedade civil, respeitando as respectivas impossibilidades de nossa realidade pandêmica, tem mobilizado para efetivamente conflitar essa sociedade que, como dissera Rousseau, mais se assemelha a uma “selva habitada por feras selvagens”? A reabilitação do amor ao próximo, - sentimento assiduamente presente nos sermões e ensinamentos de um importante personagem histórico – quase uma utopia frente à ideologia individualizante do neoliberalismo, deve servir como a base da retomada pela valorização da vida e para o enfrentamento das contradições resultantes do processo reificante dos setores que não estão protegidos pela invisible hand, resultando, sendo assim, em incontáveis mortes chanceladas por um discurso de irresponsabilidade teórica e por seguidas demissões no cargo que deveria capitanear as gestões de risco e, sobretudo, salvar vidas.

Por fim, reitero a necessidade do compromisso com a defesa do Sistema Único de Saúde, como política pública de caráter social; com a manutenção da autonomia e dos investimentos nos institutos públicos de pesquisa; e na seguridade da fraturada democracia que vez ou outra se encontra em ameaça da “cadela do fascismo” que, segundo o dramaturgo Bertold Brecht, está sempre no cio.

quinta-feira, 11 de março de 2021

TEXTOS DA JUVENTUDE


 Imagem da Força Expedicionária Brasileira (FEB)
Vencendo o Fascismo na Itália na Segunda Guerra Mundial

A união faz a vitória.

Por Tariq Bastos de Souza

 

Embora haja uma exaltação, nos dias de hoje, quanto ao papel dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, é indubitável que o fator decisivo para a derrota do totalitário Eixo foi a existência dos Aliados. Esta união de países, dentre eles União Soviética, França e Brasil, se destacou dos seus rivais por conta do bom gerenciamento dos bônus e ônus de cada integrante, do suporte material e emocional, e da esperança existente neles, bastante escassa naqueles tempos. Nenhuma dessas vantagens existiria sem a união das forças de cada membro do grupo.

Um dos fatores que manteve eles juntos foi a esperança, sentimento necessário em momentos de opressão. Este estado emocional é capaz de manter vivo a ideia de dias melhores, por mais difícil que seja o cenário, servindo assim como força para fazer mudança na configuração do presente. Por essa razão, regimes ditatoriais fazem uso do medo e desespero com o intuito de minar as pretensões contra o sistema, podendo chegar até a mesmo a tortura e manipulação, a exemplo da obra 1984, onde o protagonista Winston Smith é torturado pelo Partido, com o intento de quebrar qualquer pensamento oposto ao do mesmo.

Nesse contexto, gerenciar as atuações da resistência é crucial para a sua sobrevivência, assim como para a esperança e unidade do grupo, sempre posta em xeque quando há intensa repressão. Para isso, é importante saber os pros do grupo formado, porque a vantagem de unir pessoas diferentes é juntar suas habilidades distintas para melhorar qualquer empreitada, seja ela um ataque direto, seja um ato simbólico para aumentar o ânimo do time.

Portanto, fica claro que sozinho não há como vencer a opressão, sendo importante o trabalho em equipe, tanto para organizar as forças resultantes da união, quanto para manter a resistência viva, através da manutenção da esperança. Mostrando assim, o quanto reservar o mérito da vitória há uma coalizão de países é o certo.

 


O DISCURSO DE LULA


 O SALTO DO SAPO PARA O CENTRO POLÍTICO?

Por Vagner Gomes de Souza

Um escritor e diplomata escreveu certa vez que o sapo pula não por boniteza mas por necessidade. Na política estamos reféns dos erros de uma fratura da política no qual a "Lava Jato" foi sua fonte. O centro político foi cooptado por uma "facção" da burguesia retrógrada com um discurso anti-sistema. Personagens do fundo pantanoso de nossa política emergiram como se estivessem acelerar o atraso sem se importar para as desigualdades sociais. Segmentos da sociedade emergiram com a proliferação de uma vertente liberal americanizada no seu fundamentalismo religioso e de costumes. Seja à Direita como também à Esquerda pós-moderna. Uma falsa polarização pois tudo se resume em ocupar um espaço no mercado das escolhas individuais. O empreendedorismo militante das redes sociais de cada dia em poucos momentos se referem a necessidade de superar a pobreza através dos valores da República. Uma agenda de liberalismo pelos usos do Hobbes entranhados numa exposição de um país que necessita um afastamento dos "lobos" à margem da globalização. Uma sociedade de ressentidos se formou pois venderam a ilusão de uma "nova classe média" como se essa fosse formada pelo perfil de seu consumo. Mais mercado e menos democracia foi um "vírus" que alimentou muitas variantes a mediada que a economia se foi deslocando da política. 
Sem o sentido da República o liberalismo no Brasil se perverteu num mosaico de segmentos e pautas para além das bases dos trabalhadores. O neoliberalismo subiu a partir das bases da sociedade diante do esvaziamento do centro político por falta de ação do campo democrático. O Campo Democrático com uma agenda social e transformadora que inseriu esse país num longo ciclo de crescimento social. A imagem da derrota da Copa do Mundo em 1950 é a melhor metáfora que não se pode desistir de se fazer cumprir uma necessidade da humanidade. Qual seria? A humanidade precisa de nosso país como o ponto de equilíbrio nas relações internacionais. Entre 1950 e 1958 houve o tiro no coração de um Presidente acusado de crimes de responsabilidade e corrupção em 1954. Há sempre bons exemplos em nosso história para que se perceba nossa capacidade de invenção política. Sempre avançamos em benefício de todas e todos através de uma ampla frente política. Os mais "fechados" poderiam questionar a ausência de ganhos maiores, porém nunca citam exemplos dos ganhos de suas vias sectárias.
Então, a pandemia emergiu em nosso planeta num momento em que muitas lideranças críticas da democracia se posicionavam na chefia de Governos como foi a experiência de Donald Trump nos EUA. Lá se percebeu que a derrota dessa americanização pervertida do ressentimento social exigiria a busca da moderação. Em nosso país, o Parlamento voltou a ser um espaço do debate da política que muito bem reflete o perfil de nossa população. Não foi omisso no debate do Auxílio Emergencial no ano passado e não se curvou para as tentações de rasgar as conquistas sociais da Educação e da Saúde presentes na proposta de Paulo Guedes na PEC 186. Todavia a oposição ao Governo Federal passa por um longo período de "apagão político" diante a postura eleitoreira do debate colocado até por setores do mercado. A calamidade da saúde está presente a cada dia nos números de óbitos e novos contaminados. A calamidade do desemprego está presente na falta de investimentos públicos. O "teto de gastos" caiu sob as cabeças dos mais pobres empurrando muitos para baixo dos limites da miséria. 
Foi nesse momento que o ex-Presidente Lula convocou uma coletiva a Nação para se pronunciar sobre diversos pontos. Todavia, o principal em seu discurso foi o tom que negou o ressentimento e a abertura para o diálogo com todas as forças políticas nos quais receberam a confiança do eleitor brasileiro. O discurso foi para além das fronteiras de um Partido pois se pautou pela necessidade de buscar uma saída democrática para esse momento. Não se deve antecipar futuras posturas eleitorais, mas exigir que haja um avanço na articulação do entendimento nacional que isole as forças questionadoras da Ciência e da Democracia. Devemos pressionar para que um programa comece a se desenhar articulado por uma Frente.