sexta-feira, 9 de outubro de 2020

SENÕES DOS SERTÕES - Nosso correspondente do Ceará


Mar de imprecisão

 Por Hermes Messger

Formado em filosofia e criador de cabras.

 

A vida, nas incertezas de seus futuros fatos, nos conduz em mares turbulentos com velas levantadas, em temporais que, iniciados por nós, tem na incerteza sua condução.

Ao ver a ignorância, inépcia e obscurantismo, com marcha firme e olhar altivo, como quem do vazio se orgulha, tomar o país e o mundo levando o bom senso e a razão ao descaso das massas pensaria eu... e existiria? Ou existo... se não o pensasse?

Na profundidade do pensar deixamos de perceber o avanço da inépcia como ciência e do subjetivismo como fatos.

Não nos preparamos para o mundo dos algoritmos, certos das solidas bases da sociedade e conhecimento humano. Não se percebeu que nesse novo mundo em bits o bem fundamentado não da “like” e as ideias vagas encontram eco na ágora dos idiotas. Estes sim, os idiotas encontraram um canal para voz e juntaram-se aos semelhantes.

Para os algoritmos cada opinião é um número num mar de irrelevâncias, como os idiotas sempre foram maioria, a opinião destes se somam e como uma onda conduzem a boiada da humanidade rumo ao medievo.

A tecnologia nos emburreceu quando da simplificação, em modelos matemáticos complexos (Paradoxal realmente). Quando o mais importante são os números (os iguais) e não o conteúdo (as exceções) as ideias rasas se agigantam, os imbecis se enobrecem, os cegos (de razão) apontam o caminho, e o gado, bem o gado segue ao som do berrante, dos “likes”, das curtidas e “memes”. Até que haja luz novamente em meio as trevas e fumaça... claro.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DO CIDADÃO CARIOCA - 4

Meu Casaco de Intelectual

Por João Sem Regras

 

Numa semana agitada eu vivi naqueles tempos que ainda o Rio de Janeiro tinha figuras que influenciavam os cariocas pelos jornais. Hoje vejo que ninguém mais leria essas folhas impressas mesmo antes daquela “pandemia”. Alguns ainda se aventuram a leitura dos BLOGs como se fossem cultuar uma moda retrô por um disco de vinil. Como sempre fica aquela pergunta presente na série Dark. O correto não é perguntar em que tempo estamos, mas em que mundo estamos? Pois o carioca passou por uma vivência de vários mundos paralelos sem que se saiba onde estaria a “caverna” da passagem.

Meus ilustres, fanáticos e abnegados sete leitores desde o primeiro conto devem ter percebido o quanto tenho relato como se vivo ainda estivesse. Todavia mais vivo estou por não estar nesse mundo de vocês que estariam a ler essas linhas pensando que sou um “médium” a incorporar a ironia do Bruxo do Cosme Velho. Sabemos que tudo se individualizou nas leituras e tenho como me inspirar diante de uma eterna estabilidade.

Enfim, fui me perdendo nesses devaneios e o principal seria voltar a um ponto de minhas memórias perdida quando meu amável pai cismou que eu deveria praticar um esporte aquático. Meu pai era tricolor doente por culpa do Anjo Pornográfico eu presumo ou gosto de assim dizer para dar mais uma referência labiríntica para alguns leitores “zumbis” que apareçam por aqui. Esse fanatismo paterno me fez sair do distante bairro de Bangu até a Zona Sul Carioca para tentar nadar no time de coração de meu progenitor. Pois, foi ali que conheci um jovem de minha idade ou um pouco mais jovem. O Lula....

Não seria o então líder sindical na Ditadura Militar o qual vivíamos. Era o apelido da maior promessa da natação do clube naquele momento. Curiosamente, faço aqui uma “fofoca” para que os panfletários de “fakenews” se assustem, o meu colega de escolinha de natação foi depois um adolescente que chegou a usar a estrelinha (confesso que não era a de Davi). Nada de ressentimentos com essa referência biográfica nesse momento que penso muito no que fez tudo mudar. Eu não fiquei mais de três aulas por lá. Minha vida seria vestir um casaco de intelectual nem que fosse pelas vias da ficção. E esse casaco adorei vestir aqui nesse mundo do além.

Voltemos ao ponto que vivi numa semana agitada quando revi Lula falando em reconstrução da Cidade. Ele mobilizava alguns ex-atletas numa coletiva e parecia que estava desejando fazer política eleitoreira. Reconstrução é uma linda referência a história norte-americana pós Guerra Civil que aquele nadador citava muito mais por apelo de marketing do que conhecimento da leitura do Eric Froner. Se ele ainda nada além da liberdade, avaliei que esse meu conhecido daquele tempo distante sempre gostou de competição para ganhar ou impor problemas para os adversários.

Uma semana agitada se abriu com aquela imagem e muitos nem se davam conta do quanto nem boiar um cidadão carioca poderia. Fui vestindo meu casaco e não adiantava os alertas enquanto eu ouvia o samba “Pelo Telefone” em meu playlist. Ai ai ai.... Deixemos as mágoas para trás meu rapaz. Vou saindo de fininho antes que me cancelem no Twitter sobrenatural.


sexta-feira, 11 de setembro de 2020

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DO CIDADÃO CARIOCA - 3

 

De Secretário por um dia

Por João Sem Regras

 

Numa noite distante estava eu num retiro na minha distante casa de campo. Recebi um telefonema de um antropólogo que não tinha ido para a Amazônia com teria sugerido um Ex-presidente para que considerasse uma possibilidade de alianças eleitorais. Nem mais me lembrava de como seria o Rio de Janeiro após uma semana distante. Ele estava muito jovial, pois teria visto uma possibilidade de mudança no cenário eleitoral. Estávamos em tempos de eleições e sempre gostavam de ouvir minhas opiniões para seguir caminho contrário.

Tempos de curiosidades e ternura para se falar ao telefone. Mas eram dias de operações da Justiça, Ministério Público, Polícia Civil e tudo que houver direito. Tão esperançado! Meu amigo pensou que os números eleitorais seriam somente a soma das intenções de voto em pesquisas feitas por telefone. Tinham esquecido que um Ex-Juiz, agora em desgraça nas linhas dos Pasquins Liberais, saiu do quase anonimato para a glória por causa dos grupos de Zap! Fingi muito interesse pelos argumentos, mas estava deveras cansado para meditar sobre a situação.

Numa semana agitada pelas operações de “limpeza da política” eu muito temia que aquilo tudo pudesse gerar uma monstruosidade. Ninguém parece ter lido os ensinamentos do autor de Liberalismo e Sindicato no Brasil que brincava com o a cidade do Homem Morcego. Uma pandemia teria surgido por causa de um morcego, mas a doença carioca já tinha muitos anos. Minha esposa olhava para mim com expressão de ansiedade. Sempre temia que eu descesse para a Capital como um “coronel de Esquerda” típico de alguns seletos parlamentares. Todavia, estou mais para um peão nesse tabuleiro vazio de programas.

Eu poderia estar saboreando um iogurte que por ter a marca em diminutivo poderia parecer um apelido em tempos da Universidade. Girava minha mente. E minha amorosa companheira de passeios, cada vez mais interrogativa. Então ouço a frase ao telefone.

- O pior – falava meu ilustre amigo e articulador político – é que ainda não achei secretário.

- Não? Mas secretário de que?

- Secretário para o Governo de Salvação do Rio de Janeiro.

- Ainda nem começou a campanha. Como pode pensar nisso?

- Ah! Precisamos mostrar que estamos capacitados para assumir esse barco sem “Capitão”.

- “Capitão”!?! Esse tem... Mas está no outro lado do navio. Muito bem à extrema direita.

Risos de meu interlocutor. Ele muito estava animado com a situação. Achava que abria uma janela de oportunidades numa cidade que majoritariamente teria votado num reacionário dois anos anteriores. Fui ouvindo os argumentos pensando nas conversas que eu tinha num fim de tarde com os camponeses da cidade. Até que um grito me alertou para voltar a realidade.

- Tenho uma brilhante ideia... Quer você conversar com o nosso Deputado?

Não sei o que lhe retruquei.

- Você tem perfil de “frentista” – continuou ele -, não precisa estar na cota das forças políticas. Você poderia ser um bom Secretário Municipal.

Minha alma saiu de minha matéria terrena muito mais explicitamente como estou hoje. Pensei no perigoso devaneio dessa proposta num momento de tamanha delicadeza para o Rio de Janeiro. Encarei a situação fixamente. Respirei aquele ar serrano, e não tive ânimo para dizer um “não”. Até porque nada se concretizaria nas próximas horas diante das pouca capacidade de termos notícias animadoras da cidade maravilhosa. Perderia tempo em perguntar sobra a formulação do programa ou se estavam levando em consideração os impactos de quase uma década da pandemia. Muito menos teríamos um orçamento flexível e uma hegemonia fiscalista na imprensa me assustava. Na verdade, desconfiava que de um “nada” na política um nadador poderia acabar surfando na “antipolítica” ou que por “WO” os fantasmas dos praieiros de 1848 rondariam aquele pleito. Mas fui premiado por uma pergunta.

- Você terminou seu Doutorado?

- Não. – foi minha resposta.

- Puxa! Agora ficou difícil ganharmos algo. Estávamos que essa eleição no “papo”.

De fato, fui Secretário nem por um dia, mas por algumas horas. E a Esquerda Carioca perdeu por minha culpa.

terça-feira, 8 de setembro de 2020

SÉRIE FILMES: SEMENTES - Mulheres Pretas no Poder

 

Sementes no Rio de Janeiro Cidade Aberta

Vagner Gomes de Souza

No ano de 1945, Roberto Rossellini sacudiu o cinema italiano com uma ficção sobre a resistência ao fascismo. Foi em Roma Cidade Aberta que as sementes daquilo que seria a política de “compromisso histórico” entre comunistas e democratas cristãos (só defendida por Berlinguer nos anos 70) estariam sinalizadas pelos personagens. O filme era uma ficção produzida no “calor da hora” da derrocada do fascismo no mundo. Hoje ganha um grande contorno de registro histórico para muitos.

Nesse mesmo ano, no antigo estado do Rio de Janeiro (morador de Niterói), era eleito Claudino José da Silva como Deputado Constituinte pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) que era considerado o único negro na Assembleia Nacional Constituinte que se estabeleceu na no Palácio Tiradentes (atual ALERJ). Foi ele responsável por fazer o primeiro discurso da bancada comunista nos debates constituintes. Diante de tamanha responsabilidade, o discurso foi escrito por Jorge Amado e Carlos Marighella e ganhou notoriedade por ter durado 4 horas e 25 minutos além de ter obrigado a atenção dos outros constituintes, pois não queriam ser considerados reacionários por não ouvirem um negro na tribuna.



Foram essas as referências sobre o papel do legado em política que vieram a minha mente quando assisti ao filme Sementes: mulheres pretas no poder de Éthel Oliveira e Júlia Mariano em sua estreia no Youtube. O ano é 2018. Em março daquele ano há o assassinato da Vereadora Marielle Franco num ano eleitoral. O filme documentário registra a trajetória de seis mulheres negras do campo da esquerda que entram na disputa eleitoral desse ano marcado pela vitória eleitoral da extrema direita tanto no nível federal quanto no Rio de Janeiro de Claudino José. Por isso, seu registro ganha força para um analista uma vez que expõe as dificuldades materiais e de análise de conjuntura.

Todavia, o filme não tem essa responsabilidade uma vez que é tarefa dos atores políticos fazerem valer suas designações como forças políticas da esquerda. Portanto, é um documentário mais etnográfico que político. Uma memória social de mulheres de luta enfrentando o ovo da serpente. Minhas referências europeias se distanciam da proposta americanizada de seu roteiro. Entretanto, percebemos a alma e a voz de um Glauber Rocha (“Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”) numa cena emblemática de Tainá de Paula se maquiando diante do espelho enquanto faz uma análise de conjuntura. A muito do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol no percurso das aparições da arquiteta e urbanista começando pela forma como a religiosidade de matriz africana aparece em sua entrada em cena no filme.

Contudo, mesmo com as inserções do nacional popular, a americanização do roteiro alimenta as falas de uma Monica Francisco que faz um paralelo entre as escadarias da ALERJ e o Lincoln Memorial no qual discursou Martin Luther King. Está nela a vocalização da importância de vocalização da religiosidade sem necessidade uma instrumentalização. Uma questão muito pouco aprofundada uma vez que a há muitos perfis no filme desenvolvido em três momentos: as campanhas, a apuração e posse/começo da atuação parlamentar das eleitas.

Nas três etapas dessa desenrolar etnográfico e político, muito nos espanta a ausência dos atores políticos de forma mais orgânica. Falta amadurecimento para lidar com candidaturas negras de mulheres no estado que teve Claudino como Deputado Federal eleito.  A escolha do título é relevante, pois estamos num momento de resistência para evitar que a crise da democracia brasileira descrita por Adam Pezeworski no prefácio para os brasileiros de seu livro (A Crise da Democracia) se consolide. O legado da resistência passa pela ampliação do diálogo com uma pluralidade de segmentos sociais que permitirá a consolidação das demandas da sociedade. Entretanto, precisamos dos formuladores de programas para que as sementes não acabem caindo nas rochas como nos ensinou Jesus na Parábola do Semeador.

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

ERA UMA VEZ A ANÁLISE DE CONJUNTURA

Ausência da Política dos Trabalhadores

Vagner Gomes de Souza 

Uma aprofundada observação dos meios de comunicação (tradicionais ou nas redes sociais) nos alerta para a ausência de qualquer debate dos problemas que afetam os trabalhadores. As desigualdades sociais aumentaram em grandes proporções, porém as reivindicações dos trabalhadores foram deixadas esquecidas em alguma prateleira. Elas não aparecem nos hashtags mais mencionados. Poderíamos até questionar se haveria exageros na insistência desse autor em cobrar essa existência. Contudo, há muito tempo que não se apresenta uma política dos trabalhadores.

No máximo, de tempos em tempos, algumas categorias de trabalhadores ainda organizadas consolidam uma reivindicação “defensiva” que consegue “furar a bolha”. Essa situação consolida a proliferação de alternativas “ideologizadas” seja a direita ou a esquerda pois a realidade não está sendo debatida. Esse contexto não é uma novidade imposta pelos altos índices de desemprego. Há muitos anos o artigo de Luiz Werneck Vianna, O Estado Novo do PT (2007), alertava para essa tendência de modernização sem os atores modernos.

Segundo ele,

“(...) Assim, o governo que, no seu cerne, representa as forças expansivas no mercado, naturalmente avessas à primazia do público, em especial no que se refere à dimensão da economia — marca da tradição republicana brasileira —, adquire, com sua interpelação positiva do passado, uma certa autonomia quanto a elas, das quais não provém e não lhe asseguram escoras políticas e sociais confiáveis. Pois, para um governo originário da esquerda, a autonomia diante do núcleo duro das elites políticas e sociais que nele se acham presentes, respaldadas pelas poderosas agências da sociedade civil a elas vinculadas, somente pode existir, se o Estado traz para si grupos de interesses com outra orientação.”

A crise desse mundo se fez presente a partir das manifestações de 2013 como se fosse uma “Intentona de 1935” sem uma bandeira clara para fazer valer um programa para os trabalhadores. O “assalto aos céus” abriu um cenário de reação das forças do conservadorismo do capitalismo brasileiro que muito se tornou dependente do mercado financeiro. Aos poucos, a ideia de uma “Nova Política” se configuraram como a expressão do empreendedor de sucesso coroado pela fé numa teologia da prosperidade. Essas forças “bisonhas” foram moldadas aos poucos até emergirem com muita força nas eleições de 2018 como se as conquistas da Carta Constitucional de 1988 fossem nosso principal entrave para o crescimento econômico.

As classes dominantes aderiram ao “fundamentalismo” do mercado de forma pragmática da mesma maneira que foram aderindo a outras “formas políticas” desde que não houvesse perdas de suas riquezas. Nesse momento, o debate sobre uma reforma tributária e da Renda Brasil sugere o quanto faltam linhas políticas que atendam uma política dos trabalhadores. Pelo contrário, aqueles que geram as riquezas da elite econômica aparecem sempre espelhados como um “custo Brasil”. A imagem do “bom patrão” que não consegue dormir sossegado enquanto o seu empregado muito bem goza de uma noite de sono.

O símbolo da hipocrisia que se alimenta dos erros do campo democrático em não saber construir uma oposição aos devaneios desse Ministro da Economia que prefere destruir a sociedade brasileira se puder consolidar os lucros do grande capital dos bancos. Que fazer? Essa é a pergunta sempre repetida em muitos debates sobre o momento político atual cada vez mais com poucas análises de conjuntura e mais explanações de opiniões sobre os fatos do dia a dia.

 É muito importante compreender que a aproximação das eleições municipais poderiam trazer de volta os PT (Pontos dos Trabalhadores). Para exemplo de ilustração,  seria a necessidade de creches públicas em horário integral, a ampliação do tempo dos  bilhetes únicos do transportes públicos, defesa de ações da Prefeituras nas periferias com melhorias nas habitações, incentivar o uso de espaços abertos para atividades culturais como alternativa aos impactos negativos da COVID19 na cultura, etc. Todavia, essa política se faria presente na formulação de programas para formas as alianças políticas como se deveria ser o papel de uma “esquerda positiva”.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 12

 

No País do “Ziguezague”

Por Vagner Gomes de Souza

“O velho mundo está morrendo. O novo tarda em aparecer. E nessa meia luz surgem os monstros”.

Gramsci

Um país que está com mais de 100 mil óbitos por COVID19 e milhões de desempregados. Uma economia sob o comando de um Ministro que considera livros como produto de “luxo”. Desmatamento e queimadas no Pantanal. Povos indígenas sob forte vulnerabilidade. A desigualdade social se transformando num “novo normal”. A prévia do PIB assinala uma queda acima de 10%. Como explicar a recuperação política do Presidente da República?

Os primeiros sinais dos analistas políticos sugerem que o Nordeste estaria deixando de ser “Vermelho” (referência aos votos que a oposição teve nessa região em 2018) para aderir ao Governo por causa de um “Auxílio Emergencial” que sempre incomodou (e ainda incomoda) o mandatário da República. Mais uma vez sugestão de que os mais pobres seriam “ingênuos” na política se deixando manipular. Essa é uma leitura que contradiz o clássico Coronelismo, Enxada e Voto (1948), pois Victor Nunes Leal, em sua interpretação, nos explica o quanto é fundamental a ação política da figura política do “coronel” como mediador entre o eleitor local com o Poder Executivo Federal. Não podemos deixar de considerar que a chegada dos políticos do “Centrão” agregou um elemento de “moderação” ao que poderá ser um novo “Projeto Saquarema”.

Vivenciamos um novo momento no transformismo político que não suporta a linguagem política da polarização. Apostar na política da identidade política como “acúmulo de forças” para uma eleição num universo distante de 2022 contribui, em muito, com o desligamento da realidade das camadas populares. As lições da Pandemia pediam que a solidariedade nas periferias ganhasse um programa de frente democrática. Contudo, olhar para os números evita aos analistas indicarem as responsabilidades dos atores políticos do campo democrático.

Seguimos os passos de uma sociedade num “ziguezague” constante, pois aparentemente nada se aprendeu com o chamado “desastre político” de 2018. Se os mais radicais críticos daquilo que seria ascensão do fascismo no Brasil repetem ou aprofundam a fragmentação nesse momento pré-eleitoral, a grande massa política interpreta que tudo é narrativa eleitoral sem consequências políticas. “Mas vamos tocar a vida” é o melhor lema desse cenário porque é assim que algumas lideranças também abraçaram o sectarismo político na política de alianças. Então, se o eleitor não lhe apoia seria porque ele não é “amadurecido”.

Então, não devemos nos deixar abalar com os números, mas começar a exercer a “grande política”. A “receita do bolo” não é nova, porém os sujeitos políticos serão novos e precisam emergir nesses próximos dias que antecedem as eleições de 15 de novembro (mais uma data histórica desse país de “revolução passiva”). Olhar a segunda década do século XXI como os anos 80 do século passado está demonstrando o quanto não se sabe operar de forma positiva a democracia. Urgente que a “esquerda democrática” se imponha diante dessas siglas aprisionadas ao passado.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

CARTA ABERTA AO MINISTRO INTERINO DA SAÚDE

 

Carta Aberta ao General Eduardo Pazuello

Excelentíssimo Ministro Interino da Saúde General Pazuello,

Esse é o primeiro dia útil do mês de agosto que está associado ao mês dos pais presentes ou ausentes por diversas motivações. Somos pais em um país que atravessa um difícil momento por causa da Pandemia do COVID19. Não seria momento de fecharmos os “corações” por causa de nossas diferenças diante de uma gravíssima realidade. O número de óbitos por dia no Brasil não se reduz na média móvel. Não é intenção de essa carta apontar os erros e os motivos de um resultado desfavorável. Essas linhas pretendem que a sensibilidade lhe desperte uma atitude que conforte os corações de muitas famílias que derramam lágrimas a cada dia.

Formado na Academia Militar das Agulhas Negras com 21 anos de idade, o Senhor demostrou suas qualificações ao longo da carreira militar assumindo de forma correta a coordenação das tropas do Exército nos Jogos Olímpicos de 2016. Todavia, um grande comandante deve saber o momento de fazer a retirada quando a “guerra” pode ceifar mais vidas desnecessariamente. O enfrentamento da COVID19 precisa de abrir-se para a “pacificação” que Duque de Caxias muito bem ensinou nos anais da História do século XIX com a firmeza de saber o quanto é necessário elevar os valores positivos do conhecimento e da ciência.

O Senhor jurou e abraçou a defesa dos interesses da nação brasileira. Com certeza já deve ter avaliado o quanto seria uma gravidade essa interinidade no Ministério da Saúde desde o dia 15 de maio. Não podemos colocar o legado histórico do Exército brasileiro em mãos de opiniões e disputas políticas ainda mais quando vidas estão em jogo. Um soldado cidadão cresce quando honra a unidade nacional e permite que a saúde pública seja cuidada pelos profissionais da área. Não é um simples pedido pela sua renúncia, mas um diálogo para que não se deixe renunciar a nação brasileira só por se manter fiel a “x” ou “y”. Ouça o seu coração e pese na “balança” da consciência que esse é o momento para abrir mão de uma vaga interinamente ocupada há quase 90 dias!!!

Tenho esperança que rume  pela decisão correta. Agradeço sua atenção e perdoe se tenha exagerado nas palavras sinceras de meu clamor. Foram escritas após noites de insônia de um pai.

Atenciosamente Vagner Gomes de Souza

 
 

quarta-feira, 29 de julho de 2020

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DO CIDADÃO CARIOCA - 2

Delírio do Carioca

Por João Sem Regras

 

Peço licença ao leitor para relatar um delírio que me passou antes de deixar essa vida terrena. Sei que não sou o primeiro a relatar tamanha façanha. Brás Cubas foi o pioneiro a contribuir aos curiosos da ciência. Todavia, meu delírio acompanha os sinais de desencarnação da minha cidade (Rio de Janeiro). Se você não é forte o suficiente para ler estórias de terror, saiba que lerá nas próximas linhas a mais pura narração de fenômenos mentais que se encaixam com as perdas da economia carioca. Mas espero que a sua curiosidade lhe faça ler para, quem sabe mudar aquilo que está adoecendo a sociedade carioca. Tudo se passou em minha cabeça em minutos, mas eu pude ver os anos “correrem” em minha frente.

Na figura de um escravo de ganho a mendigar na frente de uma Igreja do século XIX fui ganhando forma para encarar uma cidade de negros invisíveis para um conjunto de serviços públicos. As moradias estão desorganizadas há tempos desde muitos séculos e a cidade é um tabuleiro para os interesses imobiliários. Foi o que ouvi no meio de meus delírios quando a voz de uma rainha Jinga assumia a fisionomia de uma arquiteta que cheguei a ver na TV, mas esqueci de seu nome, pois a música do vizinho atrapalhou que eu melhor compreendesse como se chamava. Um vizinho confinado coloca Benito di Paula para atrapalhar eu ouvir aquela mulher.

Logo depois foi o momento de entrar numa trilha temporal que pensei que me levaria aos tempos da fundação de Estácio de Sá. Porém, fui parar no meio de uma viagem para um tempo mais recente. Nas ruas estudantes andavam para pedir ao Prefeito o passe livre nos ônibus para que todos pudessem ir estudar. A educação estava numa Greve de meses, pois não havia pagamento dos salários. Era a falência do Rio de Janeiro numa gestão de um Engenheiro nacionalista que chegou a ser Senador. Pensava que ali seria o momento em que a cidade se danou de vez. Na verdade, foi o ponto de partida para uma sequencia de gestões que primaram pelo ajuste financeiro das contas públicas. Uma ratazana passa em meus pés e pode se fazer ouvir.

- Esse não é ainda o momento da morte da cidadania carioca.

Insinuei que poderia ter sido coisa do “chaguismo” que sempre foi o “boi de piranha” na apresentação da política clientelista. Ou seriam outros “ismos” que povoam a cultura política carioca. Muito, melhor foi fechar meus olhos e deixar que o tempo brincasse em minha mente nas aparições de Carlos Lacerda, Negrão de Lima, José Frejat, Marcelo Alencar e tantos outros que ainda estão vivos por aí. Sinceramente, o Rio de Janeiro sempre foi mais uma “Babilônia” que o Éden. Contudo, poderíamos ver até a tenda de Abraão onde hoje fica uma Catedral de uma igreja evangélica na Avenida Dom Hélder Câmara. E os “cavalos corredores” chacinaram os indefesos ao lado da Igreja da Candelária. As mães de Acari e sua dor. Enchentes e desabamentos. Tamanha dor para se relatar e que relembrar me fez perder o fôlego mesmo não podendo mais respirar. Quem respira nas linhas do BRT? Quem respira no interior dos trens da SUPERVIA? Que situação se vive nas linhas de metrô? Todos dias os trabalhadores clamam: “Não consigo mais respirar.”

Caiu se na minha frente a imagem do caos. Um momento tenebroso que se abriu há poucos anos quando os cariocas achavam que podiam deixar qualquer “aventureiro” chegar a governança municipal. Abriu-se uma Bíblia como se fosse a “Caixa de Pandora” e a experiência de laboratório de 2016 expôs o quanto estamos prisioneiros de uma entidade que alimenta universos paralelos e se aliam as “forças ocultas” que se vincularam a diversos empreendimentos. Desabam os prédios da Muzema diante de meus olhos. Desejava ser apenas um pesadelo como outros, mas estava a compreender que a cidadania carioca estava sem viver. A ratazana interviu outra vez.

- Não te assustes com aquilo que consumado está. Viva na busca de uma saída.

- Viver? – perguntei eu, estava claro a quem derrotar.

Diante de minha interrogação as imagens se misturaram num mosaico de forças políticas sem a “grandeza política” de fazer um programa de unidade. Tudo fragmentos para fragmentos realimentar. Como viver politicamente assim? Imagina tu leitor como é doloroso ver toda uma cidade morrer como fonte de dinâmica social, pois os interesses de uma “casta” se impôs na vida pública. Controla as vias públicas em muitas comunidades. Negocia a vida e faz da informalidade um viés que alimenta um baixo clero da política carioca. Pudera eu ser um italiano daquela grande ilha. Isso mesmo um siciliano comprometido com o bem comum. Mas estou nesse turbilhão olhando para o turbilhão de vocês. Os olhos do delírio ensinam a fazer a grande política para qualquer disputa eleitoral. Um relâmpago cortou esse meu delírio. A minha atenção era para que pudesse deixar algum sinal para os que ainda caminham sob essa terra nas garras de um bloco eleitoral reacionário. Encaro a realidade que se aproxima e alerto para que haja um buraco da agulha em que as alianças precisam atravessar. Ou a colheita do mal se confirmará em 2022.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 11


Uma Receita para o Bolo
Por Vagner Gomes de Souza 

A vida só é possível
reinventada.

Cecília Meireles


Uma análise política poderia surgir de um simples bate papo com um confeiteiro. Não se surpreendam pois Lênin falava dos cozinheiros em O Estado e a Revolução (agosto de 1917) com outros objetivos. Digamos que estaríamos a pensar a partir de uma provocação feita pelo Professor Luiz Werneck Vianna no artigo “Falta uma Geringonça à Brasileira” na Revista Eletrônica Insight Inteligência (link para consulta https://insightinteligencia.com.br/falta-uma-geringonca-a-brasileira/ ). Adiantemo-nos em dizer que numa análise de conjuntura não há “receita de bolo”, mas mencionaremos alguns ingredientes políticos e possíveis atores importantes na formação de uma consequente frente democrática contra esse já mencionado na crônica werneckiana fascismo tabajara.

Vivemos um momento de muitos jovens que estão “sufocados” pela percepção de que a “Pandemia” representa a possibilidade do cancelamento de sua existência social no futuro próximo. A política se vinga contra os cartazes do “ninguém me representa” uma vez que somente a representação política cria canais de dialogo na sociedade para enfrentar essa grave crise. Pensemos numa juventude em que a desigualdade nos estudos se aprofundou nesse momento e estamos sob a ameaça da precarização dos empregos com os atalhos ultraliberais na proposta da “Carteira Verde e Amarela”. Contudo, falta o bom exercício da memória na política para perceber, repetindo o nosso mestre das Ciências Sociais, que nada que é ruim dura para sempre. Contudo, podem durar muitos anos faltou ele alertar para que as sábias ações do mundo real motivem as decisões políticas do campo democrático.

Nossa vida só não está um maior pandemônio graças ao pacto político celebrado na Constituição de 1988. Não é uma simples referência uma vez que é o Sistema Unificado de Saúde (SUS) que tem impedido uma onda muito maior de óbitos nas grandes cidades. A força da autonomia dos Três Poderes se impôs com um Congresso Nacional (com uma de suas representações mais fracas da história recente da República) buscando saídas e um STF atento a garantia da Democracia. Eis que essa fronteira inibiu as forças políticas que desejam refundar nosso país sob a marca do ultraliberalismo de viés americano.

Essa refundação impõe muitos sacrifícios às camadas populares uma vez que a capacidade de mobilização dos trabalhadores está a muito tempo reduzida por inúmeros fatores. Por outro lado, muitos sujeitos políticos levantam bandeiras fragmentárias num eterno mosaico das ruas de 2013. As ruas ainda não assumiram os corredores das instituições políticas e isso se faz ainda pelos atores políticos questionados há quase uma década. Portanto, é tempo de “reinvenção” das antigas receitas que nos fizeram sair de duas ditaduras (1930 – 1945 e 1964 – 1985) nessa trajetória de modernização conservadora no Brasil.

Não se fez uma leitura da “modernização sem moderno” (outra vez, Werneck Vianna) que nos trouxe a essa situação. Todavia, muito sabemos o quanto a ausência de um “centro político” forte está colocando a esquerda num gueto eleitoral no qual não terá condições de sair. Na verdade o “emedebismo” foi um movimento muito maior que uma interpretação que o associe ao “presidencialismo de coalização”. Trata-se de uma vértebra da articulação política da possível relação entre a democracia de massa e a democracia representativa.

Então, comecemos essa receita assumindo que um pouco de MDB não faz mal a ninguém ainda mais nesses tempos em que a proteína é vital para produção de anticorpos ao autoritarismo. A necessidade da disciplina parlamentar de um DEM é muito importante. Além disso, o PSDB de seus “pais fundadores” fez emergir muitos quadros intelectuais espalhados em muitas outras agremiações (PDT, REDE, CIDADANIA, PSB, etc.). De fato, falta essa convocatória ao espírito de democrático nacional que Ciro Gomes mobiliza e se percebe no PCdoB “raiz”. Por fim, a base social do PT é muito coesa e não se pode estar isolada seja chic ou de forma brega dessa “Geringonça”. Mas, ainda falta a sensibilidade de um Chef Gourmet na política brasileira para que toquemos essa “jangada de pedra”.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DO CIDADÃO CARIOCA

 
 
Velório de Machado de Assis
 
Memórias Póstumas do Cidadão Carioca
(Quase ficção e Quase Análise de Conjuntura)
Por João Sem Regras 
Esse é um ensaio que dedico ao “bolsominion” que primeiro celebrou sobre as frias carnes do cadáver do jeito de ser do carioca. Uma saudosa lembrança para aquele que poderia me acusar de ser um plagiador de um escritor do século XIX e muito citado pelos ativistas do movimento negro. Não serei eu um rebelde as tentações de assumir os diversos modismos, porém eis que estou no lugar de fala de um defunto diferente daquele servidor público de Salvador que ao beber da água berrou.
Não tive tempo de ler as considerações de Silvio Almeida sobre meu inacabado estudos sobre Guerreiro Ramos, pois tinha que me dirigi ao fiel leitor dessa jornada que confesso haver escrito essa quase análise de conjuntura como quase ficção uma vez que a política carioca vive (ou estaria morta!?!) sem a reinvenção. Não tenho ilusão em ser lido por mais de 100 leitores. Nem ficarei em lágrimas por ter cinquenta, e quando muito, cinco. Cinco? Simplesmente cinco delirantes leitores “encaixotados” aos sábados em imagens desse aplicativo chamado Zoom.
Tratemos de perceber que a reinvenção da política democrática no Rio de Janeiro se distancia em muito da construção coerente de uma unidade. Não que sejamos iludidos por acordos de “cotovelo” diante dessa pandemia que mata minha cidade aos poucos. A “carioquice” está adoecida por esses insanos contágios com esses germes mercadológicos que redesenharam e aprofundaram a desigualdade sutil nesse cenário que a tampa desse caixão agora me impede ver.
Contudo, eu ainda espero conquistar as simpatias dos formuladores de opinião do campo democrático carioca (ainda existiria isso!?!) evitando mencionar nomes de pré-candidaturas para o próximo mandato a Prefeitura local. O melhor remédio na análise seria não apontar o melhor nome, mas sim chamar a atenção que faltam quadros dispostos a formular melhores saídas políticas com inclusão social nesse pandemônio que está a cidade com banhistas de praia fazendo Henry David Thoreau soltar sorrisos onde estou.
Aprendi com o ilustre escritor que nasceu no Morro do Livramento que é melhor não explicar o processo extraordinário com quais essas linhas estão a serem lidas. Seria curioso, porém não atingiria o objetivo que é alertar para o fantasma que ronda as eleições cariocas que seria a “volta da antipolítica”. Ela coloca essa máscara hegeliana para se prevenir do debate das coisas reais que os números do COVID19 soterram os números orçamentários para a próxima gestão. A cidade adoecida em sua vocação cultural e turística enfrenta inúmeros desafios que não podem ser apenas solucionados por um apertar de botão da “máquina weberiana”.
A “máquina weberiana” é muito bem vinda nessa racionalização do modo de ser carioca. Entretanto, sugerimos que os “apertos” continuarão por muito tempo se a cada “aperto de botão” não seguir um diálogo com a sociedade para que tenha dimensão das dificuldades e dos limites. Essa cidade que sempre amei não está precisando só de uma liderança, mas também está refém de um empobrecimento nas articulações da política. E sem a grande política o “vírus da antipolítica” surpreende qualquer piloto num avião em meio às turbulências.
Exercitei meu inglês para conversar com o John Maynard Keynes sobre os desafios das comunidades da periferia carioca. Sendo um Lord inglês, ele muito falou da antiga fábrica têxtil de Bangu e dos desafios de um crescimento econômico numa cidade de serviços aglomerada em diversificadas iniciativas de transportes urbanos questionados. Há vida política (essa é a palavra) no mundo do além. Estou temendo que a política carioca não expresse mais sua vitalidade que precisa se fazer pelos articuladores do mundo partidário e alimentando o associativismo. Um desafio para os quadros que estariam na “jaula de ferro” do sectarismo ou do ultraliberalismo.
Fazer a unidade do campo democrático em si tudo é um desafio. Se te agradar: corajoso e fiel leitor espera que tenhamos boas novas nos próximos dias. Se não te sensibilizou, espero tenha a certeza que não lhe cobrarei pelos erros que muitos estão a repetir com um mosaico de nomes sem dizer como é difícil aceitar ser apenas um Cidadão Carioca. Portanto, cuidado!


segunda-feira, 15 de junho de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 10


A Banalidade do Surreal
Em memória de Hannah Arendt
Por Vagner Gomes de Souza

Há uma fala no filme “Destacamento Blood” de Spike Lee (disponível na NETFLIX) em que um veterano afro americano da Guerra do Vietnã informa para um vietnamita a situação de George Washington ter sido um senhor de escravos. A precisão da informação histórica justificaria a mudança do nome da Capital dos Estados Unidos? Talvez se o pensamento da “Revolução Cultural” renascesse das cinzas do autoritarismo essa ideia poderia ser concebida numa surrealista ideia de reeducação pelo exercício da destruição do espaço público como memória.
Vivemos tempos em que a valorização do conhecimento da história está sendo “aparelhada” pelo julgamento de personagens do passado retirados de seu contexto como se fosse uma sequencia de anacronismos a serviço do sectarismo político. Não adianta alimentar a destruição de estátuas ou sua simples retirada de espaços públicos se os descendentes dos escravos continuam afastados do conhecimento de sua própria História. Aliás, o debate deveria ser porque nossa sociedade banaliza a falta do conhecimento em história ao contrário de sairmos avaliando um “juízo final” sobre o que deveria ser afastado de nossos olhares seja para admirar seu conteúdo artístico, ou seja, para relembrar dos personagens do passado que um dia erraram para o contexto atual.
Os historiadores precisam pesar mais pela ética da responsabilidade do que pela ética da convicção em tempos de extremismos. Derrubar os personagens associados à escravidão em qual temporalidade e em qual tipo de escravidão? Se for toda a escravidão, o que fazer com os vestígios da Grécia Antiga e a saudosa Atenas que cresceu mantida pelo trabalho de escravos. Faremos um “Tribunal da História” em relação as estátuas daqueles que tinham escravos na Antiguidade? Teremos que aplaudir a destruição de alguma estátua dos imperadores romanos por terem sido coniventes com a escravidão? O que dizer das múmias do Egito Antigo encontradas com restos mortais de escravos porque acreditavam na ressurreição dos Faraós? Não alonguemos nas perguntas, pois seriam surreais as respostas do academicismo “neomaoista”.
Muito menos cheguemos aos dilemas históricos religiosos do mundo judaico-cristão desde a passagem do filho de Abraão com uma escrava. Sem citar outros temas controvertidos que a teologia de Jesus Cristo nos ensinaria que se deve atirar a primeira pedra aquele que nunca pecou. Essa passagem não implica em dizer que devemos concordar com as atrocidades do passado, porém devemos compreender melhor como eles se constituíram para não cair numa banalidade do mal. O conhecimento crítico nas mentes da juventude é muito mais saudável para o movimento democrático que alimentar um debate que acabará recaindo numa “sinuca de bico”.
Vejamos o caso dessa passagem abaixo:
"A escravidão caduca, mas ainda não morreu; ainda se prendem a ela graves interesses de um povo. É quanto basta para merecer o respeito."
Ela foi escrita pelo romancista José de Alencar e se encontra em “Cartas a favor da escravidão” em 1867.  Muitos intelectuais cariocas devem saber que Alencar tem uma estátua no Rio de Janeiro. Defenderemos sua retirada e atacaremos os seus livros? Não seria mais interessante para a cidadania brasileira que o conhecimento seja divulgado ao contrário de alimentar uma “caça as bruxas” do anacronismo. Se defendermos que os livros libertam o cidadão da exclusão do saber, por que temer andar com a cédula de um dólar no bolso? Esse é o momento de sugerir novas estátuas para ocupar as ruas e esqueçamo-nos das que nada representam para nossos ideais.

 

quarta-feira, 10 de junho de 2020

ERA UMA VEZ A ANÁLISE DE CONJUNTURA

 
Foto da Edição da Folha de São Paulo de 03 de fevereiro de 2017
Lula recebe visitas no Hospital Sírio Libanês durante a internação de Marisa Letícia
 
Lula e o Centro
Dedicado aos 100 anos do livro “Negrinha”, de Monteiro Lobato
Por Pablo Spinelli
No último domingo a Globonews, ao meio de manifestações que saíram do distanciamento social para a defesa da democracia e contra o racismo, apresentou um debate mediado pela jornalista Míriam Leitão com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os ex-ministros e ex-candidatos à presidência Marina Silva e Ciro Gomes. O programa, que era previsto para uma hora acabou por se estender e virou duas horas. As reações do campo progressista foram mais manifestas do que do campo reacionário. A pergunta básica tangenciou o porquê de não ter um representante da esquerda, ou mais precisamente, um petista na mesa?
Independente do espaço que petistas históricos ocupam na rede – assim como na jovem CNN Brasil – como em debates aos sábados, a resposta foi dada pelo mais famoso deles, o ex-presidente Lula que escreveu ao jornalista Bernardo Melo Franco, de O Globo, recusando o convite para uma entrevista de uma série com ex-presidentes por conta da adesão das empresas Globo a uma narrativa “golpista” e de “apoio às ações à Lava Jato”. No dia seguinte, a presidente do PT, deputada Gleise Hoffman em entrevista ao UOL, afirmou que o partido não deve subscrever nenhum manifesto pela democracia porque o “PT nasceu na luta pela democracia, na luta dos trabalhadores. O PT não precisa assinar um manifesto para dizer que é a favor da democracia.”
Exposto isso, comecemos pelo começo. A jornalista Míriam Leitão criou problemas para setores da esquerda por conta de sua adesão aos planos econômicos do governo FHC e pelo livro de um de seus filhos à Operação Lava-Jato. A ex-senadora e ex-ministra do governo PT, Marina Silva, é considerada como uma esquerda reformista, moderada ou com uma pauta única que é a ambiental. Ciro Gomes é apontado como um traidor omisso por não ter apoiado o candidato petista em 2018 no segundo turno. O presidente FHC é o pai da “herança maldita”, “privatista”, “neoliberal”. Noves fora, o que resta? A esquerda fica circunscrita a uma hegemonia que é entendida como sinônimo de poder por si mesmo.
As novas gerações ficam vulneráveis a uma panaceia sem qualquer análise crítica e histórica. Míriam Leitão fez parte do PC do B, seu então companheiro fez parte da luta armada e ela foi presa e torturada de forma violenta durante o regime militar. Marina Silva foi uma das fundadoras do PT no Acre, estado com histórico de ação de grileiros, garimpeiros, grandes empresas do agronegócio junto com o esquecido Chico Mendes. Ela comeu o pão que Asmodeu amassou com a então ministra Dilma Roussef por conta de freios que fazia ao projeto desenvolvimentista que era herdeiro de um projeto do presidente Ernesto Geisel. Ciro Gomes, que começou sua carreira na militância estudantil na UNE com a esquerda católica, foi deputado pelo PDS – contrário ao voto para governador e senador pelo seu partido – e fez parte do PMDB que apoiou a candidatura de Tancredo Neves para a primeira presidência após a ditadura militar. FHC teve uma longa trajetória com o campo democrático. Foi companheiro acadêmico de Sérgio Buarque de Holanda e de Florestan Fernandes, fundadores do PT. Participou da reorganização do MDB nos anos 1970 para que se fortalecesse o elo com o novo sindicalismo do ABC paulista liderado pelo Sindicato dos Metalúrgicos. Foi constituinte, um dos autores do agora famoso artigo 142 da nossa Constituição. Ganhou duas eleições no primeiro turno e conseguiu fazer uma das melhores transições da América Latina para seu sucessor, o qual apoiou de forma discreta, ao invés do candidato de seu próprio partido. Foi um defensor do sistema de cotas – que só virou lei em 2012 – que seria uma consequência de suas pesquisas sobre a escravidão que criticaram o “mito da democracia racial”.
Após esses dados históricos, quase “wikipedianos”, cabe a pergunta: esses atores não poderiam falar em conjunto sobre a democracia? Não poderiam defender o Estado Democrático de Direito? Suas biografias não podem ser levadas em consideração ou somente determinado campo pode ter biografias destruídas? Após muitos e muitos anos o ex-presidente Lula, num gesto de grandeza fez algo que lhe é caro, a autocrítica, quando afirmou que errou ao não deixar o deputado Ulysses Guimarães subir em seu palanque e que o seu partido errara ao expulsar três parlamentares que votaram em Tancredo Neves nas eleições indiretas de 1985. Nada poderia ser perfeito, assim, nada foi dito sobre a postura do PT quanto a Constituição de 1988.
O Lula de 2002 foi o do “paz e amor” com ampla cobertura das empresas Globo, onde seu jornal o apelidara de “nosso urso Ted”, uma referência à história da política dos EUA. A sua aliança com o empresariado foi afiançada com o industrial José Alencar, do Partido Liberal, o mesmo do também empresário e ex-candidato à presidência em 1989, Guilherme Afif Domingues que teve como colaborador o economista Paulo Guedes. Lula abraçou Maluf, Collor, Sarney em sua campanha. Tornou-se o Centro político. Gradativamente, encapsulou a sociedade civil no Estado, mas isso é outra história. Fez uma Reforma da Previdência sem ouvir o som das ruas e com uma base parlamentar heterogênea, que ia do PC do B ao PP de Maluf. Passou pelo baque do “mensalão” que foi iniciado pelo seu ex-aliado Roberto Jefferson. Petistas históricos caíram, mas nada recaiu sobre o presidente. O Judiciário lhe foi benigno. A mídia não construiu uma alternativa ao poder e enfrentou em um segundo turno o “picolé de chuchu”. A partir desses movimentos construiu uma teia de proteção social que foi referência e recebeu apoio público de Barack Hussein Obama. Foi uma referência internacional a ponto de se predispor a dialogar com aquele que chamou de “amigo” – isso não é monopólio só de um campo político -, o então presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, para fazer a ponte com os EUA. Muitas de suas políticas foram aprovadas na Câmara dos Deputados que era presidida pelo deputado Michel Temer. O sectarismo, a preservação de ideais puros na política, ficou para uma dissidência que organizou o PSOL. Lula finalmente tinha dado a entender que havia lido Maquiavel.
O Lula que ficou, por enquanto, livre, voltou às ruas como uma “ideia”. A ideia banhada em egolatria e que diminuiu o tamanho do PT, refém de políticos que fazem de tudo pela reprodução do poder pelo poder, do orçamento partidário pelo orçamento partidário. Virou um estudo de caso do relançado livro da psicanalista Maria Rita Kehl, “Ressentimento” (Boitempo Editorial, 2020). A sua fala contra setores da mídia não se contrapõem em nada ao atual presidente. Sua postura de ressentido também não o é, assim como só querer falar para iguais ou para os pajens de sempre. A prisão nem sempre faz mal. Gramsci e Graciliano Ramos mostram que da dureza pode se sair maior. Dessa forma, ao invés do “Lula Livre”, deveríamos pedir “Volta Lula”. O Lula da política do centro e não o que faz de si o centro de sua política.


sexta-feira, 5 de junho de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 9


Lula e Guilherme Boulos: duas lideranças populares em tempos de luta contra o autoritarismo no Brasil
 
Repensando a História do Antifascismo lendo Guilherme Boulos

Dedicado à memória de Carlos Lessa

Por Vagner Gomes de Souza

Guilherme Boulos é uma liderança política da esquerda que se consolida no cenário político nacional a partir de uma demanda muito importante em tempos de pandemia do COVID19. O acesso à moradia digna para os trabalhadores brasileiros nos grandes centros urbanos. Sua militância em São Paulo, principal epicentro da aceleração dos casos e óbitos na atual crise sanitária, nos faz refletir sobre um dilema weberiano na política: a ética da convicção e a ética da responsabilidade.

Sua pequena intervenção nas Redes Sociais “Diálogo com Luiz Eduardo Soares” (texto que reproduzo na íntegra na forma que recebi após esse artigo) tenta superar esse dilema em relação as próximas manifestações no domingo de 7 de junho. Seria simplismo uma polarização entre o líder do MTST (“ética da convicção”) e o autor de Elite da Tropa 1 e 2 (“ética da responsabilida”) diante de argumentos que partem de um sentimento comum de oposição a ascensão do tom autoritário do Governo Federal. O diálogo político entre ambos é muito importante porque politiza a natureza do que seria fazer parte de um movimento “antifascista” para além de animar as imagens de perfis nas redes sociais.

 O debate não é novo e a história da luta contra o fascismo sempre esteve aberta a diversas polêmicas sobre a melhor tática a ser feita. Exemplos históricos não faltam como na Guerra Civil espanhola (1936 – 1939) com aqueles que atribuem a derrota para o “franquismo” ao excesso de “moderação” enquanto que outros atribuem ao excesso de “radicalização”. Contudo, não é esse o momento de fazer uma dissertação sobre as teorias políticas que sustentam essa diversidade uma vez que desejo simplesmente me reter aos fatos históricos citados no “Diálogo...” uma vez que minha formação na História me fez repensar sobre os “fatos” ali destacados.

Boulos usa o conceito de “hegemonia fascista” que se afirma nas ruas e fez referência ao “Camisas Negras” na Itália e as milícias hitleristas na Alemanha. Aparentemente, um leitor desavisado e “sem História” deduziria que não houve manifestações de rua (em contexto diversos de estar numa Pandemia). Há inúmeras manifestações antifascistas nas ruas da Itália e nas ruas da Alemanha. Elas foram derrotadas. Por quê? Nesse ponto, ficou meu incômodo como educador na área de História uma vez que sabemos que uma interpretação sempre pode levar a conclusões distintas dependendo de como a narrativa ocorre. Ao jovem que me viesse perguntar em aula sobre essas considerações, eu sugeriria a leitura do romance histórico do volume 1 de M – O filho do século de Antonio Scuratti. E deixemos Lições sobre o Fascismo de Palmiro Togliatti para um momento mais denso no debate das ideias.
A escolha de citações de fatos históricos para argumentação da política faz parte dessas minhas advertências, pois a falta de um contexto na narrativa pode deixar o “fato” circulando como as órbitas das ilusões. Vejamos as referências relativas a História do Brasil sobre temas que são muito pouco aprofundados nos livros didáticos que nossos jovens tem acesso. E faço essa observação, pois a luta antifascista deve sensibilizar a juventude. Ela é longa e árdua. Então, temos uma referência ao movimento integralista de Plínio de Salgado (um intelectual do movimento modernista e que sempre se demonstrou “homem de Partido”). Então lemos: “Poderia ter sido assim com os integralistas de Plínio Salgado no Brasil se os comunistas não o tivessem enxotado das ruas.” Essa referência deve ser relativa a Batalha da Praça da Sé em 7 de outubro de 1934. Não nos ateremos a diversidade de “paternidades” da liderança da contramanifestação uma vez que o movimento antifascista tinha três vertentes organizadas em São Paulo naquele tempo. Simplesmente questionamos os motivos de o Integralismo continuar sendo tolerado por Getúlio Vargas. A esquerda que foi praticamente massacrada nos anos 30 desde 1935 como poderia ler em Memórias do Cárcere de Graciliano Ramos.

 
Manifestação Integralista na Praça Tiradentes - Curitiba - 1937
 
 
Foi o Estado Novo, inaugurado pelo autogolpe de 11 de novembro de 1937 como consequência de uma reação ao “fantasioso” Plano Cohen redigido por um capitão integralista com nome Olímpio Mourão Filho, que tirou os integralistas das ruas em 1938 após o fracassado levante de maio. Os fatos históricos lamentavelmente foram esses. Mesmo com o fim da Ação Integralista do Brasil (AIB), Plínio Salgado tentou negociar um acordo com Vargas até ser preso e exilado em 1939 para Portugal. Um detalhe que foge um pouco da temporalidade, porém sugere um curioso olhar para algumas capitais brasileiras. Nas eleições presidenciais de 1955, Salgado foi último colado no total de votos, mas foi o mais votado em Curitiba. Uma interessante e curiosa coincidência na história ziguezagueante da política do Centro Sul.

Em seguida, há duas referências às tentativas de atentados feitas pela chamada “linha dura” dos setores militares. Em primeiro lugar, o caso PARA SAR em 1968 que seria o planejamento de uma onda de atentado simultâneo que incluiria a explosão do gasômetro de São Cristóvão. Em seguida, o atentado do Riocentro (1981) que vitimou um Capitão e um Sargento que usava o codinome de “Agente Wagner” na continuidade de uma escalada de atentados que ocorriam naquele período. As lembranças dessas “provocações” da extrema-direita na história recente do país ficaram soltas diante da falta do contexto histórico de como as forças democráticas reagiram em momentos diversificados e com nuvens da censura e autocensura dos meios de comunicação. Há de comum nessas provocações, ressaltadas os muitos detalhes conjunturais, o objetivo de impedir a política de Frente Democrática. Portanto, esse é ponto em que a estratégia política se reforça na ampliação da frente antifascista para sufocar as aventuras extremistas. Seria incorreto insinuar que fazer parte do MDB na Ditadura Militar fosse inibir as manifestações nas ruas. Elas ressurgiram no final dos anos 70 graças a vitoriosa política de frente nas eleições de 1974. Contudo, esse é outro ponto para repensar em outro momento, pois a lição da História se alonga e intelectuais como o Carlos Lessa sempre nos ensinaram a nunca recuar na frente ampla na luta pela democracia. Por isso, esse artigo é dedicado em sua memória.

Banca de Jornal incendiada por extremistas de direita
 

ABAIXO o texto de Guilherme Boulos que foi analisado no artigo
Boulos: DIÁLOGO COM LUIZ EDUARDO SOARES - Tenho muito respeito por Luiz Eduardo, um intelectual de primeira linha e uma figura humana extraordinária. Como ele, tenho grande preocupação com a ascensão do fascismo bolsonarista e não considero as liberdades democráticas simples formalidades. Foram conquistadas com sangue e luta de toda uma geração de brasileiros. Mas discordo em relação às manifestações de domingo. O que vimos na semana passada, puxado por torcedores organizados, foi um passo fundamental na resistência ao fascismo: a demonstração de que a rua não é deles. Não basta sermos maioria na sociedade. Não basta assinarmos manifestos unitários, que julgo importantes, aliás subscrevi todos. Mas a hegemonia fascista, mesmo minoritária, se afirma nas ruas. Foi assim com os Camisas Negras de Mussolini e com as milícias hitleristas. Poderia ter sido assim com os integralistas de Plinio Salgado no Brasil se os comunistas não os tivessem enxotado das ruas. Se normalizamos gente defendendo AI-5 e agredindo opositores, jornalistas e enfermeiras em praça pública, daqui a pouco não teremos condições de dar as caras. Sei que a questão não é simples. Além do mais, estamos em meio a uma pandemia. Mas na conversa entre os organizadores da manifestação do próximo domingo, ao menos em São Paulo, haverá um enorme esforço para manter o distanciamento e as precauções sanitárias. O Povo Sem Medo organizou uma brigada de saúde para isso com centenas de voluntários. O MTST vai distribuir 4 mil máscaras na Avenida Paulista, feitas pelas cooperativas de costureiras do Movimento. A orientação da organização do ato será uma manifestação pacífica e de inibir infiltrados. Claro que sempre há um risco. Devemos fazer de tudo para minimizá-lo. Mas, convenhamos, o outro lado não precisa de pretextos nossos para endurecer. Se ficarmos parados tampouco temos qualquer garantia. Eles sempre produziram os próprios pretextos. Lembremos do Rio Centro, em 1981, quando oficiais do Exército contra a democratização iriam explodir bombas no festival do Dia do Trabalhador para culpar a esquerda. Não funcionou por imperícia. Ou do plano de explodir o gasômetro de São Cristovão, em 1968, em nome dos comunistas, só evitado pela denúncia de um oficial da Aeronáutica. É a velha tática que os nazistas inauguraram no incêndio do Reischtag. Bolsonaro avança na escalada autoritária. Sei dos riscos, mas não creio que se deixarmos as ruas para eles estaremos impedindo essa marcha. Por isso, o MTST e o Povo Sem Medo estarão nas ruas no domingo. E eu também estarei lá.