sexta-feira, 17 de julho de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 11


Uma Receita para o Bolo
Por Vagner Gomes de Souza 

A vida só é possível
reinventada.

Cecília Meireles


Uma análise política poderia surgir de um simples bate papo com um confeiteiro. Não se surpreendam pois Lênin falava dos cozinheiros em O Estado e a Revolução (agosto de 1917) com outros objetivos. Digamos que estaríamos a pensar a partir de uma provocação feita pelo Professor Luiz Werneck Vianna no artigo “Falta uma Geringonça à Brasileira” na Revista Eletrônica Insight Inteligência (link para consulta https://insightinteligencia.com.br/falta-uma-geringonca-a-brasileira/ ). Adiantemo-nos em dizer que numa análise de conjuntura não há “receita de bolo”, mas mencionaremos alguns ingredientes políticos e possíveis atores importantes na formação de uma consequente frente democrática contra esse já mencionado na crônica werneckiana fascismo tabajara.

Vivemos um momento de muitos jovens que estão “sufocados” pela percepção de que a “Pandemia” representa a possibilidade do cancelamento de sua existência social no futuro próximo. A política se vinga contra os cartazes do “ninguém me representa” uma vez que somente a representação política cria canais de dialogo na sociedade para enfrentar essa grave crise. Pensemos numa juventude em que a desigualdade nos estudos se aprofundou nesse momento e estamos sob a ameaça da precarização dos empregos com os atalhos ultraliberais na proposta da “Carteira Verde e Amarela”. Contudo, falta o bom exercício da memória na política para perceber, repetindo o nosso mestre das Ciências Sociais, que nada que é ruim dura para sempre. Contudo, podem durar muitos anos faltou ele alertar para que as sábias ações do mundo real motivem as decisões políticas do campo democrático.

Nossa vida só não está um maior pandemônio graças ao pacto político celebrado na Constituição de 1988. Não é uma simples referência uma vez que é o Sistema Unificado de Saúde (SUS) que tem impedido uma onda muito maior de óbitos nas grandes cidades. A força da autonomia dos Três Poderes se impôs com um Congresso Nacional (com uma de suas representações mais fracas da história recente da República) buscando saídas e um STF atento a garantia da Democracia. Eis que essa fronteira inibiu as forças políticas que desejam refundar nosso país sob a marca do ultraliberalismo de viés americano.

Essa refundação impõe muitos sacrifícios às camadas populares uma vez que a capacidade de mobilização dos trabalhadores está a muito tempo reduzida por inúmeros fatores. Por outro lado, muitos sujeitos políticos levantam bandeiras fragmentárias num eterno mosaico das ruas de 2013. As ruas ainda não assumiram os corredores das instituições políticas e isso se faz ainda pelos atores políticos questionados há quase uma década. Portanto, é tempo de “reinvenção” das antigas receitas que nos fizeram sair de duas ditaduras (1930 – 1945 e 1964 – 1985) nessa trajetória de modernização conservadora no Brasil.

Não se fez uma leitura da “modernização sem moderno” (outra vez, Werneck Vianna) que nos trouxe a essa situação. Todavia, muito sabemos o quanto a ausência de um “centro político” forte está colocando a esquerda num gueto eleitoral no qual não terá condições de sair. Na verdade o “emedebismo” foi um movimento muito maior que uma interpretação que o associe ao “presidencialismo de coalização”. Trata-se de uma vértebra da articulação política da possível relação entre a democracia de massa e a democracia representativa.

Então, comecemos essa receita assumindo que um pouco de MDB não faz mal a ninguém ainda mais nesses tempos em que a proteína é vital para produção de anticorpos ao autoritarismo. A necessidade da disciplina parlamentar de um DEM é muito importante. Além disso, o PSDB de seus “pais fundadores” fez emergir muitos quadros intelectuais espalhados em muitas outras agremiações (PDT, REDE, CIDADANIA, PSB, etc.). De fato, falta essa convocatória ao espírito de democrático nacional que Ciro Gomes mobiliza e se percebe no PCdoB “raiz”. Por fim, a base social do PT é muito coesa e não se pode estar isolada seja chic ou de forma brega dessa “Geringonça”. Mas, ainda falta a sensibilidade de um Chef Gourmet na política brasileira para que toquemos essa “jangada de pedra”.

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