quinta-feira, 26 de março de 2015

ENTREVISTA - CÉSAR MAIA


 
"A ECONOMIA AFUNDOU E SE DESDOBROU EM CRISE POLÍTICA."
 
 
Em tempos de crise o BLOG VOTO POSITIVO abriu suas páginas virtuais para as várias correntes de opinião para se manifestarem sobre a Conjuntura Nacional. Nosso objetivo é construirmos um caminho democrático para defendermos as instituições democráticas. Quem mais perde com as crises são as classes subalternas. Numa linha de pluralismo democrático entrevistamos o Vereador do Rio de Janeiro César Maia (DEM) que é uma liderança nacional de uma vertente da oposição. Com a palavra, César Maia.
 
BLOG VOTO POSITIVO- Qual a natureza da crise brasileira atual? 
 
R- Uma crise econômica produto de um keynesianismo populista aplicado a crise internacional de 2008.  Teve fôlego por 3 anos.  A economia afundou e se desdobrou em crise política. 
 
BLOG VOTO POSITIVO- O Governo Dilma tem condições de superar essa crise?
 
R-  Depende de sua resposta política. Abrir o governo organicamente ?  Apressar a conclusão do lava-jato ? 
 
BLOG VOTO POSITIVO- Os Democratas (DEM) apoiam o Ajuste Fiscal defendido por Joaquim Levy?
 

R-  Não pois são medidas pontuais desarticuladas do que é fundamental: a rearticulação política e a refederalização.  
BLOG VOTO POSITIVO- Em diversos momentos o Senhor se pronunciou que a polarização entre o PT e o PSDB seria um "falsete". O que significaria isso? Você defende uma "Terceira Via" nos moldes de Marina Silva? Ou o caminho passaria pelo PMDB?
 
R-  Na verdade era um falso binômio onde havia uma força política e social de um lado e do outro personagens. Hoje com a desintegração do PT esse único lado deixou de se sustentar e fica clara a falsa polarização. 
BLOG VOTO POSITIVO- A Crise afetará o Governo do Rio de Janeiro apenas no aspecto financeiro?
 
R- A quebra do governo estadual já tem graves implicações políticas. 
BLOG VOTO POSITIVO- Qual sua opinião sobre os "ensaios" de uma pré-candidatura presidencial antecipada do atual Prefeito do Rio de Janeiro? Ajuda superar a Crise?
 
R-  Quem se expõe muito cedo ao Sol terá queimaduras de terceiro grau. 
BLOG VOTO POSITIVO- Antes de 2018, ainda teremos que atravessar 2015. Qual o conselho que você daria para o Governo? 
 
R-  Ouvir, ouvir, ouvir. 
 
BLOG VOTO POSITIVO- Há espaço político para um Governo de Unidade Nacional para promover a Reforma Política e melhorar os indicadores econômicos?
 
R-  O problema é quem lidera. 
BLOG VOTO POSITIVO- Qual partido político poderá surpreender nas próximas eleições municipais nas Capitais? Você avalia que a REDE seja o PODEMOS brasileiro?
 
R- A REDE não se constituirá até la. No Brasil não há nenhuma força política com as características do Podemos.

BLOG VOTO POSITIVO- O voto anti-política em Romário para o Senado é uma das explicações de sua derrota nas eleições de 2014. Esse voto poderá garantir a eleição dele como Prefeito do Rio de Janeiro? 
 
R- Sim. Mas isso é irrelevante no quadro atual.  

quarta-feira, 25 de março de 2015

ENTREVISTA - PROFESSOR JAIRO NICOLAU

Professor Jairo Nicolau
 
"TEREMOS MAIS PROTESTOS POR AÍ."
 
 

O rumo da conjuntura política impõe muita astúcia dos atores políticos. Um pouco de reflexão sobre a política é fundamental para evitar "atalhos" que podem, na verdade, colocar em risco as conquistas recentes das últimas três décadas. Por exemplo, o debate sobre a redução da maioridade penal sugere o quanto as forças democratas estariam acuadas para mudar a pauta política na sociedade brasileira. Precisamos de Reformas! Entretanto, a sempre citada Reforma Política é um novelo de Ariadne. Com essa preocupação e com outras no sentido mais local o BLOG VOTO POSITIVO entrevistou, via e-mail, o Professor Jairo Nicolau. O Professor Jairo é Cientista Político especialista em sistemas eleitorais o qual se destaca desde a sua Tese "Sistemas Eleitorais Comparados: exame de proporcionalidade da representação política e seus determinantes" (1991). Atualmente leciona na UFRJ.
 
VOTO POSITIVO - Há base nos dados eleitorais de 2014 para justificar as manifestações ocorridas no dia 15 de março? A polarização PT X PSDB chegou às ruas?
 
As manifestações tem um presídio de conexões com 2014. Uma parte do eleitorado ficou frustrada com mais uma vitória do PT. Mas tem também o combustível das denúncias do escândalo da Petrobrás e, sobretudo, a piora da economia. Teremos mais protestos por aí. E antevejo um primeiro semestre danado para o país.
 
 
VOTO POSITIVO - Você concorda com a interpretação do Professor Christian Lynch que compara a polarização atual entre PT X PSDB com a cultura política polarizada entre "Saquaremas" e "Luzias" no Brasil do Segundo Reinado?
 
É uma imagem engenhosa. Mas os contextos são muito diferentes e temo estas imagens que insinuam um atavismo institucional. Partidos no Império eram organizações de elite. Hoje são organizações que intermedeiam interesses de milhões de eleitores com o governo.
 
VOTO POSITIVO- Hoje temos 32 partidos políticos (28 com representação no Congresso Nacional). Se em sua opinião, os partidos políticos envelheceram, isso fortalece ou enfraquece a democracia? A Reforma Política é a solução para a crise do "Presidencialismo de Coalizão"? Até que ponto o chamado "Distritão" poderia aprofundar essa crise?
 
O grande número de partidos não é um problema. O problema é a facilidade com que eles têm acesso aos recursos públicos (rádio, tv e dinheiro do Fundo Partidário) e conseguem eleger representantes.
O distritão é a pior proposta possível. Vai agravar o personalismo nas campanhas e enfraquecer os partidos. Defendo um aperfeiçoamento da representação proporcional, o que pode ser feito de maneira relativamente simples.
 
VOTO POSITIVO- A fragmentação da representação partidária tende a aumentar nas eleições municipais do próximo ano?
A fragmentação partidária tem aumentado paulatinamente desde o fim da década de 2000. A esta altura, acredito que o processo vai se aprofundar; agora no âmbito municipal.
O único jeito de inverter este processo é fazer uma reforma do sistema eleitoral; adotando uma cláusula de barreira nacional (1,5% já seria o suficiente) e limitada os recursos do Fundo Partidário e o tempo de propaganda apenas aos partidos coma algum grau de representatividade.
 
VOTO POSITIVO- O município do Rio de Janeiro teria um perfil de "eleitor dividido" entre aqueles que votariam na Zona Sul e os que votariam na Zona Oeste? Ou há detalhes mais complexos que não são levantados pelo senso comum?
 Este padrão foi observado em algumas disputas; por exemplo, as eleições de 1960 e 1965 e a do confronto entre Eduardo Paes e Gabeira em 2008. Mas em outras disputas o cenário é mais complexo. Cesar Maia em algumas disputas para prefeito venceu na Zona Oeste e na Zona Sul.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

CONJUNTURA - RIO DE JANEIRO

 
O Labirinto Grego na Política Carioca
Por Vagner Gomes de Souza
Inúmeras avaliações estão sendo feitas para a Política Nacional diante dos recentes impactos das eleições na Grécia. Na imprensa, defensora do Ajuste Fiscal pró-ricos, há dois caminhos: de um lado a vertente catastrofista anunciando mais incertezas de outro lado há aqueles que anunciam a futilidade de uma Coalização de Esquerda Radical ser empossada precisando do apoio de um partido Nacionalista. Ambas, visões desprezam uma abordagem da história recente de um país que se endividou muito após as Olimpíadas de Atenas. Naquele momento, houve um endividamente público que favoreceu os investimentos do Capital Privado. Nesse aspecto, há referências no "badalado" O Capital no Século XXI de Thomas Piketty.
Não há dúvidas que esse será um ano de Ajustes na economia. Não podemos ficar em silêncio diante dos testemunhos do aumento da riqueza do capital privado em tempos de baixo crescimento econômico, ou seja, os ricos precisam pagar a "conta" pera equilibrar as contas públicas. Na esteira disso, as Prefeitura do Rio de Janeiro já dá sinais de promover ajustes que avancem contra as conquistas dos servidores públicos municipais. Por exemplo, recentemente muitos servidores públicos municipais perderam a Gratificação de Difícil Acesso em inúmeres escolas públicas que, em muitos casos, estaria relacionada a necessidade garantir a presença de profissionais de educação em áreas distantes e inseguras. De um lado, o Governo municipal alega que houve avanços na mobilidade urbana e avanços com as UPP´s. Na realidade testemunhamos horas de engarrafamentos e chuvas de "bala perdida". Na verdade, trata-se de um processo de Ajuste nas Contas Públicas que vai vitimizar o trabalhador.
As medidas que desagradam os servidores públicos municipais é uma "ponta" desse Iceberg que necessita de uma ampliação da "base" política do Governo Municipal. As trocas de cargos e benefícios para antigos e novos aliados ao PMDB tem como objetivo as próximas eleições da Capital que é estratégica na manutenção de um grupo político de modernização conservadora. Tudo é feito para garantir a maximização do enriquecimento do Capital Privado na Capital. O debate sobre as Olimpíadas de 2016 deve permitir um olhar sobre qual será o peso do endividamento público da Prefeitura, fazendo uso ou não de recursos da Previdência dos Servidores Públicos municipais, a medida que a "bolha imobiliária" se instalou enriquecendo pequenos grupos ou consolidando o monopólio das empresas de ônibus nas linhas do BRT que concentram massas de trabalhadores.
Da Grécia, há muitos anos a política carioca tem construído um Labirinto onde os grupos políticos de oposição são "esvaziados" internamente e, em seguida, isolados. Outros grupos, caminham sempre para o autoisolamento do sectarismo. O Campo Democrático não se permite a mobilizar as Universidades para debater a Cidade e a periferia presencia inúmeros jovens que nem estudam e nem trabalham. Do capital dessa juventude testemunhamos jovens que rumam para a informalidade, para a base do clientelismo político e para aultraesquerda. Falta uma opinião política da Esquerda Democrática para fazer a política de forma ampla.
Tudo ainda está em aberto para a próxima sucesso municipal. Contudo é momento de avaliar as possibilidades de dialogar com setores emergentes do voto petencostal que influenciam de forma organizada um segmento considerável dos moradores e da juventude na Zona Oeste carioca. O fio de Ariadne passa por um "Compromisso Histórico" a semelhança que os italianos buscaram construir nos anos 70 do século passado.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

IDA - Crítica ao Filme




 
A Questão "Ida"
 
Por Pablo Spinelli
 

Há caminhos de ida sem volta. Há caminhos de ida ziguezagueantes. Há voltas onde o ponto de partida não é o mesmo que o ponto de chegada. Nesse aspecto apresenta-se o candidato ao Oscar de Melhor Filme estrangeiro, “Ida”.
Um filme que aparentemente não é para todos os gostos. Filme polonês. Em preto e branco. Passado nos anos 1960. Com momentos de silêncio e contemplação. Mas, como a paciência é uma virtude, o filme supera o que seriam esses obstáculos para a grande massa e nos oferece reflexões.
Uma jovem noviça antes de ser freira é aconselhada a ver a sua única parente viva, uma tia de vida aparentemente errática – bebe e fuma demais – para confirmar sua vocação religiosa. Caso a jovem achasse que o mundo católico é o seu mundo, voltaria para o convento e se firmaria como freira.
O que pode ser um fiapo de roteiro passa a se tornar instigante. A jovem, que com uma carga de julgamento ético-moral não vê com bons olhos o comportamento da tia – que dorme com homens que encontra em suas bebedeiras -, aos poucos estabelece interações com a tia e o que era rudeza caminha para a sociabilidade, usando aqui os conceitos de Georg Simmel. Do conflito pode haver coesão e não necessariamente esgarçamento (como vemos PT x Marta, entre outros). A jovem precisa de conhecer o seu passado. O espectador se depara com ousadias no roteiro. A noviça é um peixe fora d’água posto que sua origem é judaica. Partindo desse ponto, vem o grande questionamento. O que aconteceu com seus pais? A partir daí, vemos tia e sobrinha indo no coração das trevas da história da Polônia dos anos da Segunda Guerra. A tia errática assume outro papel social: é uma dura e implacável promotora pública do Estado Socialista polonês.
O que aconteceu com os pais judeus da jovem noviça? Sabe-se que estão mortos. Mas quem os matou? Aonde estão seus corpos? Temas tensos numa Polônia que viveu a situação da Floresta de Katyn nos estertores da Segunda guerra (sugerimos aos leitores dessa resenha que procurem o que foi essa polêmica histórica). Até aqui, nesse resumo, não adiantamos nada a mais do que 25 minutos do filme nos apresenta. O que era uma relação de distanciamento passa a ser de aproximação gradativa, com ressalvas e identidades. Mas aos poucos, numa provocação clara, a noviça torna-se rebelde. Sobre quem matou e o porquê deixamos aqui uma pista: não são os usual suspects. E isso faz do filme um ar de oxigênio e reflexão. A Polônia cinzenta do filme é não só uma referência aos filmes poloneses – Roman Polansky fez o seu primeiro assim e tratou do tema judaico em “O Pianista” – como também a um país de matizes, não era o branco, o preto e nem o vermelho, o branco e o azul como defendiam alguns cineastas liberais poloneses dos anos 1980. Nessa zona acinzentada há um questionamento de estereótipos que enriquecem o filme e a história. Como uma Polônia sob o jugo “totalitário” (aqui uma enorme concessão de um conceito a uma famosa filósofa de origem judaica) soviético tinha uma promotora alcóolatra e adepta de amores fugazes? Uma Polônia sob o autoritarismo do ateísmo soviético mas onde do início ao fim temos Igrejas católicas, santos, crucifixos e a liberdade de ir e vir de uma noviça nas cidades. Um pouco diferente das imagens simplificadoras das caricaturas horrorosas da Guerra Fria. Para dar mais um tempero, temos uma noviça que faz flerte (mais Simmel) com um jovem...guitarrista que toca...jazz! Bem, seria algo alegre para o nosso querido e saudoso Hobsbawm ver. Na Polônia dos anos 1960 temos jazz. Tocado em hotéis como se fossem night clubs. A pergunta que não quer calar: Essa Polônia era a descrita pelo líder sindicalista Lech Walesa?
Tolerância religiosa, culto ao prazer, aos desejos, aos corações desvelados, dúvidas religiosas, o cinza que permite pensar que uma nova geração de intelectuais poloneses pode rever para além dos discursos – nada impede a crítica ao burocratismo – aparece até um “sabe com quem está falando?” que faria um famoso antropólogo brasileiro rever seus conceitos sobre a cultura brasileira.
E a jovem noviça? Ela não tem uma máquina estatal sobre sua cabeça. Ela tem o acerto de contas do seu passado, um reajustamento do seu presente e uma ida a um futuro depois de gozar alegrias e dissabores da vida. Finalmente minha geração – e olha que havia um certo pessimismo dessa possibilidade -, ainda caudatária do discurso da Guerra Fria, pode ver nuances e redescobertas que começaram com um “Adeus, Lenin”. E assiste ainda uma certa nostalgia do mundo soviético em outros filmes, como “Busca Implacável 3”., onde o Estado levianítico (aqui uma referência a outro filme indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro, o russo “Leviatã”) gerou quase uma anomia após sua desintegração. Mas, terrivelmente o inimigo agora é outro, lembrando o maior sucesso de público do cinema do Brasil. Só que esse inimigo – os jihadistas – é um vespeiro que deixaremos para os snipers americanos. Mas isso é para outro texto.







sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

ELEIÇÕES NA GRÉCIA

Comício da Syriza
 
 
Pela Democracia na Grécia & Alhures
 
Ricardo José de Azevedo Marinho[1]
 
Os tempos fraturados, como qualificou o saudoso Eric Hobsbawm, o século XXI, tem sido de aguda crise económica, social e política, com intensas repercussões ao nível dos processos de desestruturação e desfiliação social (desemprego, precariedade, pobreza e aumento das desigualdades, enfraquecimento do Estado social), torna-se ainda mais premente o debate vivo e atualizado sobre os caminhos da sociedade global.
O Brasil, país chave nos arranjos sociais vigentes e vindouros, precisa mudar sua política científica reinante que, entre outros aspectos, vem desprezando implícita ou explicitamente o papel das ciências humanas como se vê no Programa Ciência Sem Fronteiras (CsF), precisamente quando se imporia o inverso, isto é, o aumento de recursos e de vontades para que seja possível um conhecimento científico aprofundado e sistemático das nossas sociedades, condição indispensável para a produção de políticas públicas adequadas à urgência social, devidamente qualificadas e qualificantes, solidárias e sustentáveis.
A Grécia, de igual modo, precisa defender com afinco a promoção das ciências humanas, de forma a superar a precariedade que expulsa tantos e tantas investidoras e investidores do país e do espaço europeu, comprometendo perspectivas profissionais e de vida pessoal e social e, não menos importante, diminuindo o potencial científico do país.
Isso por que a circunstância aziaga vivida na Grécia tem, entre outros móveis, o equívoco fortemente ideológico de alguns discursos utilitaristas sobre a suposta falta de sentido concreto das ciências humanas, uma vez que não encontram suporte nem na realidade empírica, nem nos inúmeros estudos realizados aqui, la e em alhures. A suposta “inutilidade” das ciências humanas é tão mais propagada quanto os resultados do conhecimento adquiridos ao longo do tempo sobre as práticas sociais incomoda os poderes instituídos, uma vez que apontam erros, insuficiências, omissões e, acima de tudo, a possibilidade de pensar e de agir de outra maneira, contra a barreira de mitos da inevitabilidade, que mais não é do que uma forma de neutralizar a história, a política e o próprio debate público.
Ora, é na discussão aberta, viva e plural sobre os caminhos do possível que se encontram os futuros socialmente disponíveis e imagináveis da Grécia. Hoje, mais do que nunca, as ciências humanas, sem tentação messiânica ou posse absoluta de qualquer verdade ou dogma, podem mobilizar um grande conjunto de conhecimentos estruturados sobre nós mesmos e sobre o nosso lugar no mundo, no lugar da Grécia na Europa e no mundo. Não por acaso, a Grécia resiste à deriva antidemocrática da União Europeia.
A Grécia move-se, por isso, com esta indestrutível energia de não parar no conhecimento único, no debate único, sem implicações públicas. A Grécia mostra que pode ser possível, com outros critérios e orientações, unir a pluralidade do conhecimento científico, das políticas públicas, dos movimentos sociais e a cidadania contra as repercussões destrutivas da crise como certa vez analisou Gramsci.
Daí que a Grécia ao viver há europeização, um processo complexo e tortuoso de transformação em curso, percebeu que sua ambivalência pois se, por um lado, permitiu à Grécia libertar-se da sombra projetada pela sua história autoritária em plena era dos extremos, por outro, criou um conjunto de efeitos colaterais, que virou a vida das pessoas ao preconizar a teoria da omelete. Pior: a europeização desenvolveu-se através da cooperação transnacional das elites com os seus próprios critérios. O resultado está à vista de todos: uma Europa sem europeus, uma Grécia avessa à cidadania grega.
O que aconteceu na Grécia, nos últimos dias de 2014, foi à falta de alguma ideia de metamorfose social. Só a sinalização de alguns passos para uma política fiscal sem passo algum para uma política de investimento social foi o que ocasionou a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições para 25 de janeiro de 2015.
Naquele momento crepuscular o Syriza, a força politica de oposição, fez exatamente contrário, ou seja, sinalizou com medidas modestas relacionadas à proteção social como renda mínima e auxilio desemprego sem apontar nada sobre a política fiscal. Agora, no transcorrer dos dias de 2015, além de seguir apontando para programas destinados a atualizar as capacidades e qualificações dos trabalhadores aponta que a Grécia a partir de agora poderia construir a sua competitividade com base na competência - e não na politica deliberada de baixos salários. Ou seja, se uma politica fiscal precisa ser realizada, ela será a partir das classes subalternas e não pelo tirocínio de alguns supostos iluminados das elites.
Assim, a Grécia dos efeitos colaterais de uma europeização por cima precisa de uma experiência de europeização construída de baixo para cima. Não sabemos o que surgirá do laboratório eleitoral de janeiro de 2015 da Grécia mas não temos dúvida de que se há um caminho a ser percorrido esse se faz com uma sociedade civil europeia forte baseada na democracia, na participação e na identificação desses cidadãos europeus com o futuro da Grécia na Europa e no mundo.
 
Rio de Janeiro, 8 de janeiro de 2015




[1] Ricardo José de Azevedo Marinho, Bacharel em História pela Universidade Federal Fluminense - UFF, Mestre em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro - IUPERJ, Doutor em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - CPDA/UFRRJ e Pós-Doutor em Políticas Públicas e Formação Humana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - PPFH/UERJ. Atualmente é Assessor da Presidência da Companhia Estadual de Águas e Esgotos - CEDAE, Professor da Universidade do Grande Rio - UNIGRANRIO e Membro do Comité Consultivo da Cátedra José Carlos Mariátegui.
          



quinta-feira, 13 de novembro de 2014

AO LEANDRO KONDER COM CARINHO

Lições políticas da Derrota – Uma homenagem a Leandro Konder
Por Vagner Gomes de Souza
 
Leandro Konder foi um célebre divulgador de ideias e introdução de pensadores marxistas em nosso país. Desde sua enfermidade até seu recente falecimento o campo marxista ficou mais debilitado na produção de reflexões e debates com os pensadores liberais até para evitar esse estigma de falsa polarização política. A principal característica de Leandro Konder sempre foi a busca do diálogo das ideias democráticas em que a dialética seria a força motriz dessa importante articulação.
 
Ele era muito mais um grande professor sobre as ideias políticas que formulador de análises da conjuntura política. Na conjuntura política ele sempre preferiu ser um observador atento de outros analistas sejam marxistas ou não. Então, se dizia um derrotado na política. Sua derrota se confunde com os desdobramentos do VII Congresso Nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB) que no início dos anos 80 interrompeu um processo de renovação interna partidária. Sua geração foi sectariamente acusada de “direita” do PCB por defenderem uma linha mais ampla na luta contra a Ditadura Militar (1964 – 1985) que seria a Frente Democrática a qual valorizava um aprofundamento da aliança com as forças liberais.
 
Derrotado na política e testemunha de uma recepção do marxismo no Brasil que, na verdade, reforçou uma nova roupagem para o positivismo brasileiro. Foi nessa trilha que Leandro Konder obteve o seu título de Doutor ao escrever A Derrota da Dialética que foi muito bem recebida pela crítica literária na época de seu lançamento. Eram tempos do avanço da política neoliberal e poucos imaginariam em que ponto político chegaria o Partido dos Trabalhadores nas duas próximas décadas. Na verdade, mais uma vez se desenvolveu um erro da esquerda brasileira: a pouca atenção a atividade reflexiva de seus intelectuais diante da necessidade pragmática de garantir bons desempenhos eleitorais.
 
Konder sempre destacava que a esquerda costumava errar. E lembrava que o grande problema era que ela se negava a aprender com o erro. A ausência da autocrítica é comum nas agremiações de esquerda no Brasil que se deixaram confundir com as bandeiras liberais, para os movimentos políticos relevantes, ou com as bandeiras marxistas sectárias, paras os agrupamentos de ultraesquerda. Ele faleceu no pior momento da história da esquerda brasileira em que os segmentos democráticos dessa corrente estão fragmentados em diversos setores ou agremiações, ou seja, não há um grande ator político que os representem. Assim, a juventude (um segmento que Leandro Konder olhava com simpatia) está com dificuldades para formular políticas democráticas que “exorcizem” as posturas autoritárias de diversas matrizes políticas que teimam em renascer. Portanto, a nossa homenagem a Leandro Konder é uma oportunidade para convocar a todos ao melhor exercício da “revolução passiva” numa chave positiva em nosso país.
 
Em 13 de novembro de 2014.




quinta-feira, 23 de outubro de 2014

ELEIÇÕES ESTADO DO RJ - SEGUNDO TURNO

 
Adesão da Juventude é uma característica da campanha de Marcelo Crivella
 
A Juventude e a Terra Prometida na Sucessão Fluminense
Por Vagner Gomes de Souza
Uma sequência de anos sob o comando de um grupo político que hegemonizou a política do Estado do Rio de Janeiro desde os anos de 1994 tanto no Executivo quanto no legislativo impediu que a “centro-esquerda” tivesse uma melhor clareza no cenário político local. As constantes intervenções do cenário nacional nas eleições locais deixaram o PT “às moscas” na renovação de quadros políticos da esquerda democrática. Nesse pragmatismo eleitoral, todas as legendas tradicionalmente vinculadas a esquerda (PT, PSB, PV, PPS, PCdoB) rumaram mais ao “centro político” se esvaziando em propostas políticas. Nas periferias da Capital e na Baixada Fluminense, não verificamos a organicidade dos eleitores do PSOL e da ultraesquerda (PSTU – PCB – PCO) o que deixou margem para que a utopia da terra fosse substituída pelo anseio da eternidade.
As forças da juventude nessas periferias se articularam ou às margens da lei ou nas associações religiosas neopetencostais. Esse segundo segmento serviu de “contrapeso” conservador nos costumes para dar certa ordem ao processo de americanização da sociedade. Trata-se de uma vertente que visa educar com os valores da ética religiosa os costumes e a participação na política. Por isso, estariam alheios ao velho modelo de máquina política que se reproduz na política fluminense desde os tempos do “chaguismo”. A sucessão fluminense é esse momento de observação de como os jovens às margens da esquerda democrática se integraram ao processo político eleitoral na adesão a candidatura de oposição do PRB. A votação de Marcelo Crivela tende a ultrapassar os marcos das pesquisas eleitorais que usam base de dados para eleitores evangélicos abaixo do que existe de fato.
Incorporando temas das manifestações de junho de 2013, eles reinventam a oposição no Rio de Janeiro e estão dispostos a fazer um “compromisso histórico” com todas as forças políticas em torno de um programa. Nas próximas horas testemunharemos esses jovens/militantes/voluntários enfrentando a “máquina eleitoral” de uma grande coligação partidária e de forças do “arcaísmo político”. Para esses jovens, Cabral, Picciani, Brazão, Paulo Melo, Eduardo Cunha e outros não representam os anseios dessa nova sociedade que está em fase embrionária no Rio de Janeiro. O sectarismo do PSOL, aos poucos, se deixa ruir com a eleição de um Cabo-bomebeiro evangélico que poderá ser uma ponte nesse processo de “moderação” política. Contudo, ainda falta muito para a travessia no deserto até chegarmos a Terra Prometida.


quinta-feira, 16 de outubro de 2014

DEBATE DILMA (PT) X AÉCIO (PSDB)

O Segundo Turno Presidencial: a política do desgosto com o Brasil
Por Vagner Gomes de Souza
 


 
O primeiro debate dos presidenciáveis veiculado na Rede Bandeirantes no dia 14 de outubro reforçou a “pequena política” do moralismo ao abordar o uso da coisa pública em nosso país. A polarização da política brasileira com o PT e o PSDB está se restringindo a uma sequência de acusações de corrupção e de “aparelhamento do Estado” seja na esfera política nacional ou nas gestões administradas pelos “tucanos”. As duas forças políticas que estão na hegemonia nacional desde 1994 não estão formulando uma campanha esclarecedora e propositiva. Falta uma esquerda democrática que intervenha nesse processo para os próximos dias sob o perigo de continuarmos com um déficit democrático.
Vivemos no “atraso da política” que permite um distanciamento da sociedade civil da participação. Uma vez que os partidos políticos hegemônicos estão se rotinizando na/para competição eleitoral, percebemos que o sistema político sofre entraves para encaminhar uma reforma mesma que seja gradual. A relação entre a democracia e a construção do Estado-Nacional se faz presente nessa análise sobre o processo em que vivemos. Em outras palavras, é a Democracia ESTÚPIDOS! Ela que está em jogo para as próximas décadas diante da presença de duas vertentes políticas herdeiras dos Luzias e Saquaremas do Século XIX.
Numa entrevista para o BLOG desenvolvimentistas (postado em 21/07/2012), Christian Lynch faz essa sugestão ao comparar o PT/Lulista aos “neosaquaremas” e os “tucanos” aos “neoluzias”. Segundo ele, “(...) para os ‘neoluzias’, o povo é a classe média, enquanto para os ‘neosaquaremas’ o povo é o trabalhador”. O debate sobre o papel do Estado é relevante para esse cenário quanto aos mecanismos de intervenção da sociedade na política, o que seria uma forma de se questionar sobre a importância de reformas pontuais na legislação partidária e eleitoral. O PT/Lulista teve muita força do moralismo em sua trajetória política o que sofreu um aggiornamento quando esse assume seus anos de Governo. A política econômica deu continuidade aos marcos macroeconômicos do PSDB com condições políticas de avançar mais no social. Enquanto isso, lideranças políticas dos movimentos sociais foram cooptadas para o interior do Estado. Assim, a recente burocratização de lideranças políticas dos segmentos sociais impediu a renovação dos quadros da esquerda e seus valores democráticos.
Os novos sujeitos sociais emergem na periferia de nossa recente ascensão capitalista sem que haja pontes com os canais de diálogo com as instituições democráticas cada vez mais arcaicas e envelhecidas. Nos dizeres de Lynch, “(...) marxistas puros são luzias de esquerda, acham que o Estado é capturado por uma classe social, que não tem vida própria”. As manifestações de junho de 2013 não reforçaram a esquerda democrática uma vez que foram mobilizações de “desgosto” com a política e a democracia em geral. Há muitos temas importantes a serem levantados nos debates políticos desses últimos dias de campanha eleitoral. Em primeiro lugar, reconhecer o esforço da atual mandatária presidencial em garantir um diálogo com segmentos da sociedade mesmo que sem suas consequências na correlação de forças políticas de seu Governo e de seu Partido. Por outro lado, a unidade das oposições tem seu papel pedagógico para que se compreendam a importância da diversidade programática.
Não se trata da ausência de uma “terceira via” que permitiu chegarmos a esse ponto. Foi a falta de mobilização do campo democrático nesses descaminhos da política contemporânea. A esquerda democrática não se deve limitar a votar seja em “neoluzias” ou “neosaquaremas”, mas é momento de reagrupar as forças democráticas liberais e socialdemocratas. Fazer a confrontação de ideias emergirem nos próximos dias e relembrar que ainda estamos construindo a democracia no Brasil.


sexta-feira, 10 de outubro de 2014

CAMPO GRANDE (RJ): ELEIÇÕES 2014

 
 
Luiz Carlos Ramos - popularmente conhecido como "O homem do chapéu"
 
O Bairro de Campo Grande (RJ) volta a eleger um Deputado Federal
Por Vagner Gomes de Souza
 Desde 1978 não é eleito nenhum político com base eleitoral no bairro carioca de Campo Grande (bairro mais densamente povoado do Rio de Janeiro). Nas eleições de 2014, foi Luiz Carlos Ramos que surpreendeu ao conseguir uma vaga para o legislativo federal pelo PSDC. O sucesso eleitoral de sua candidatura vai além da valorização do voto local/distritalizado como sugerem as primeiras observações que faremos a seguir.
Luiz Carlos Ramos teve 33221 votos em todo o estado do Rio de Janeiro e foi beneficiado pela articulação de uma coligação partidária que tinha PSDC – PMN – PTC que somou 178422 votos, ou seja, não foi um típico “puxador” de votos da coligação, porém concentrou 18,6% dos votos da coligação por uma ampla “rede” de dobradinhas com candidaturas a Deputado Estadual uma vez que preside o seu Partido no Estado.  Vereador no Rio de Janeiro (reeleito em 2012), ele teve 25545 votos distribuídos na Capital (77% do total de sua votação). Nas Zonas Eleitorais correspondentes ao bairro de Campo Grande e arredor (ZE 120, 122, 242, 244, 245) ele recebeu 8534 votos (25,7% do total de sua votação).
Na capital, o deputado eleito teve que conseguir 17011 votos para além de sua base eleitoral (66,5% da votação na capital). Sair dos limites da sua base eleitoral tradicional foi fundamental para que houvesse esse sucesso político. A atuação como “cacique” partidário lhe permitiu essa facilidade nas trocas políticas com candidaturas ao legislativo estadual. Além disso, a campanha levantou uma bandeira política que foi “Taxa ZERO para os Estacionamentos em Shopping” o que lhe distinguiu do repetido slogan “Quem mora em Campo Grande vota em político de Campo Grande”. Isso sugere a viabilidade de uma campanha que se capitalizou por outras Zonas Eleitorais da Capital.
Entretanto, a consolidação de uma base eleitoral foi importante para servir de plataforma de consolidação dessa votação. Nesse caso, a presença do filho (Luiz Carlos Ramos Filho) do Deputado Federal eleito como Administrador Regional de Campo Grande há 6 anos sugere a fomentação de recursos da máquina pública na estruturação da campanha. As trocas de favores no serviço público é uma característica da região que permitiu uma base de lançamento. Assim, em tempos de anseios pela “nova política” ou de comentários favoráveis a “reforma política”, o sucesso eleitoral do futuro parlamentar federal da Zona Oeste carioca segue as “velhas” receitas da política brasileira.
 

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Renovação no Legislativo


 
Caros leitores,
Em toda campanha eleitoral somos questionados sobre nossa posição política nas eleições majoritárias (Presidente – Governador – Prefeito). Não foi diferente esse ano em que tivemos muitas “reviravoltas”. Contudo, sempre me reservo em aguardar as horas finais para manifestar e pedir sua reflexão sobre a importância da eleição para o Legislativo. Ainda mais nesse momento em que antecipam menos de 48 horas para as eleições e ainda 75% dos eleitores não escolheram em quem votar em Deputado Federal e Deputado Estadual. Esse índice se justifica pela pulverização de inúmeras candidaturas numa “sopa de letrinhas” que dificulta nossa reflexão e definição. Contudo, não podemos deixar de lado o voto em parlamentares comprometidos com temas importantes para a sociedade uma vez que o outro lado – as candidaturas que recebem material de campanha com FACILIDADES que serão cobradas mais tarde – está ganhando força diante de nosso silêncio. Nosso SILÊNCIO pode se transformar NUM BERRO silencioso e molecular.

Indicamos que avaliem os nomes abaixo para que se somem a essa corrente que pode ser marcante nas redes sociais e nos bate-papos que antecedem as próximas horas.
APOIAMOS PARA DEPUTADO ESTADUAL  -  FILHA VOLTA PARA CASA. Número 40138 Como assim? LEIA então....
“(...) A candidatura de Luciana Torres é uma oportunidade para que você eleitor comum vote numa proposta política democrática e humana. Seu nome foi colocado para a sociedade com a intenção de abordar o tema das crianças desaparecidas. Trata-se de um problema social em que os Governos ficam em silêncio. Trata-se de um silêncio que evita abordar muitos questionamentos tanto quanto a seguridade da população mais pobre quanto ao acolhimento da infância/adolescência no nosso estado. Além disso, o tema feminino ganha outro sentido uma vez que há uma face humana para respaldar a luta política da mulher.
Luciana Torres colocou seu nome a disposição do seu julgamento meu prezado eleitor, pois conhece o tema das crianças desaparecidas no nosso Rio de Janeiro. Sua biografia confunde-se com esse momento de dor. Da dor nasceu o desejo de levantar essa bandeira como forma de levar demandas da cidadania para a Assembleia Legislativa. O seu nome na urna é FILHA VOLTA PARA CASA para marcar esse compromisso político com quem acredita nessa mudança. Agora, precisamos de sua adesão com seu voto e indicação do número 40 138 para Deputada Estadual – PSB.” (Extraído do panfleto de campanha).

 
Glauber Braga prestando contas de seu mandato.
 
Para DEPUTADO FEDERAL, APOIAMOS GLAUBER BRAGA. Número 4080. Pôr que?
1.            Glauber representa a nova forma de fazer política. Ele acredita que a política deve ser feita junto com as pessoas.
2.    Glauber presta contas do mandato através das audiências públicas. Ele sobe em um banquinho, fala o que tem feito, tira dúvidas e ouve sugestões. Glauber escuta você!
3.    Glauber criou as Emendas Participativas, que você apresenta ideias, vota e escolhe onde quer as verbas de emendas parlamentares aplicadas.
4.    Glauber é um Deputado presente durante todo o mandato e não só na época das eleições. Ele tem ações em cada Região do Estado.
5.    Como Presidente da Comissão de Educação da Câmara, conseguiu a aprovação do Plano Nacional de Educação, que determina a erradicação do analfabetismo no Brasil e outras 19 metas.
6.    Glauber é o autor da primeira Lei Nacional de Prevenção e Resposta à Desastres Climáticos: o Estatuto de Proteção e Defesa Civil.
7.    Glauber conseguiu, junto ao Governo Federal, recursos para diversas obras de recuperação e prevenção de tragédias climáticas.
8.    Glauber vota sempre em defesa do direito dos trabalhadores. Ele foi o parlamentar mais atuante em defesa dos Portuários, entre outras lutas.
9.    Glauber se preocupa com os aposentados. Por isso, ele apoia a PEC 170/12, a PEC 555/06 e o fim do fator previdenciário, em defesa dos aposentados.
10.  Glauber é autor do projeto “Lei do Banquinho”, que, se aprovado, vai obrigar todos os Parlamentares do Legislativo a prestarem contas mensalmente dos mandatos em locais públicos, como o Glauber faz.” (Fonte: www.glauber4080.com.br )
Bom VOTO POSITIVO!


quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Zona Oeste Carioca: Depois de Junho

  Agência Bancária Pichada no Natal de Campo Grande (RJ)
A Pichação Natalina da Zona Oeste carioca
Por Vagner Gomes de Souza
Há um novo ativismo político que se manifesta no mundo globalizado com fortes exemplos no levante popular das ruas de junho. Esse novo ativismo é fragmentado e individualizado. Suas bandeiras políticas ainda não se “afunilaram” uma vez que não se formou numa coletividade de ideias políticas. Na horizontalidade tudo se expõe para mostrar uma profunda indignação contra um discurso colorido de felicidades. Ainda mais em tempos de Natal, que representa um momento de estímulo ao consumo, diante de tantas injustiças. A orientação crítica aos desvios do capitalismo financeiro em pleno Natal não vem apenas da esquerda uma vez que o Papa Francisco lembrou a importância dos fiéis a Igreja a condenar o egoísmo.
A crise do capitalismo mundial em 2008 expôs um “mosaico” de indignados pelo mundo enquanto os grandes bancos eram refinanciados pelo Estado. O Ocupe Wall Street começou em setembro de 2011 para lembrar que aqueles que estavam à margem dos grandes bancos representavam 99% da sociedade. Uma onda que se espalhou pelas redes sociais nos últimos meses de 2011 antes que começasse um refluxo, mas sugerimos que os Democratas reocuparam a Prefeitura de New York City esse ano graças a esse processo de indignação.
 
No Brasil, a sequência de quedas de juros dos bancos foi interrompida pelos dilemas de uma ameaça inflacionária. As incertezas da economia no início de 2013 podem ter fomentado o “despertar das redes” ao tema de questionar tudo que aí está. A “Guerra do Tomate” (as diversas brincadeiras na Rede Social expondo o preço absurdo que o KG do Tomate tinha chegado) foi um elemento psicológico para dizer: “Não está mil maravilhas como propagandeia o Governo.” E o mesmo poderia dizer para a situação da Zona Oeste carioca diante dos eventos esportivos mundiais que se aproximam – Copa do Mundo e Olimpíadas. A AP. 5 (Deodoro – Santa Cruz) seria a fornecedora de mão de obra barata para a AP. 4 (Jacarepaguá – Recreio – Barra da Tijuca) onde se concentrará a maior parte das modalidades olímpica. A Zona Oeste carioca emerge na economia como um ser com duas cabeças onde o capital imobiliário devora tudo e a todos em qualquer espaço.
Consequentemente, o amanhecer do dia 25 de dezembro de 2013 ganha simbolismo para essa e outras reflexões quando uma pichação no Banco Itaú desejava: FELIZ NATAL!  Em seguida provocava: LIMPEM COM OS JUROS. Essa pichação no Bairro de Campo Grande não tinha assinatura de nenhum grupo político, o que demonstra a hipermodernidade do novo ativismo político, ou seja, a ação de denúncia não é feita para promover nenhum agrupamento político mesmo que possa haver. Não é a primeira ação contrária as agências bancárias no bairro, uma vez que nas jornadas de junho algumas agências do Banco SANTANDER foram depredadas. Recentemente, uma agência do Banco HSBC foi pichada com a sigla A.C.A.B. mas sem nenhum dizer uma vez que ela representa as iniciais da frase “Todos os Políciais são Bastardos” em inglês (“All Cops Are Bastards”). Uma sigla com outros significados como poderemos verificar pelas Redes Sociais, porém não implica numa organicidade anarquista apesar de alguns lugares do bairro a sigla estar acompanhada do símbolo do anarquismo.
 
Neste sentido, há novos ventos de um neoativismo político na Zona Oeste carioca estimulada pelas redes sociais. Não vislumbramos uma organicidade e sustentabilidade em padrões verticais ou na manutenção de uma bandeira política que construa consensos a partir da pressão da sociedade. A tendência a manifestação individualizada tenderia ao isolamento diante da persistência de um “mundo da política” arcaica. Por exemplo, nas vésperas do Natal uma Deputada Estadual, com base política na região e vestida de Mamãe Noel, circulava pela periferia de Campo Grande distribuindo brinquedos para crianças e promessas para os adultos reeditando o falecido Deputado Estadual Albano Reis que tinha como apelido “Papai Noel de Quintino”. A vida política está muito velha ainda mais na Zona Oeste carioca. E a hipermodernidade na periferia não está agrupando esses sentimentos críticos que desejam uma nova política. Nesse ponto, percebemos uma transição que se manifestará nas eleições do próximo ano na região diante da tendência ao aumento da abstenção eleitoral/votos brancos e nulos o “voto” vai se transformar num produto/mercado de grande valor, ou seja, campanhas eleitorais mais despolitizadas e caras na região. A saída seria reagrupar uma alternativa com todos os democratas da região debatendo ideias. Contudo, todos anseiam participar desde que não sejam eles a participar.

domingo, 22 de dezembro de 2013

DEBATENDO - As Ruas e a Democracia

  Marco Aurélio Nogueira, interprete da realidade brasileira contemporânea
Ricardo José de Azevedo Marinho[1]

Boa noite a todos. Coube a mim, a pedido do nosso anfitrião o professor Gaudêncio Frigotto, a tarefa de apresentar a vocês o professor Marco Aurélio Nogueira, diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Não é trivial falar dele para mim. Eu conheci o Marco nas páginas de um jornal que se chamava Voz da Unidade. Era um jornal comunista, ligado ao Partido Comunista (PCB) e que disputou a sua direção por ocasião de seu Sétimo Congresso.
Quando da morte de um grande amigo de sua geração, o saudoso Gildo Marçal Brandão (1949-2010)[2], dirigente daquele periódico comunista de 1980 a 1981, o Marco (que também é de 1949) talvez tenha escrito os textos que mais revelam de si mesmo e estão disponíveis tanto na revista Lua Nova do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC) como na Revista Brasileira de Ciências Sociais (RBCS) da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS).


[1] Ricardo José de Azevedo Marinho é Bacharel em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e Doutor em Ciências Sociais pelo CPDA da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). É Assessor da Presidência da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) e Professor da Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO).
[2] Nogueira, Marco Aurélio. Gildo Marçal Bezerra Brandão (1949-2010) no coração da grande política. Revista brasileira de Ciências Sociais, Fevereiro, 2010, vol.25, nº 72, p.5-7.

 

Numa daquelas publicações Marco dirá que “as gerações nos ajudam a desvendar a vida.” Na sequência afirma que

“Gerações intelectuais são feitas de amizades e companheirismo, mas não só. São feitas também de instituições e pontos de referência, simbólicos e materiais. Por essa via, trazem consigo rusgas, atritos, disputas, às vezes dilacerantes. Amizades podem até se desfazer, mas as gerações seguem em frente, como se protegidas por uma rede oculta de pequenas e grandes cumplicidades que operam no subterrâneo, ligando as agregações e cauterizando as feridas abertas pelos choques e golpes da vida.

Gerações intelectuais não são comunidades amorfas, desfibradas, insossas. São comunidades imperfeitas, forjadas no fogo. São internamente diferenciadas, múltiplas e plurais, no sentido de que, nelas, nem todas as luzes brilham ao mesmo tempo ou com a mesma intensidade. De algum modo, os representantes de uma geração dividem entre si o trabalho que estão fadados a fazer. Deixam o ar de sua graça, por isso, tanto pelo que é pensado e realizado por um ou outro de seus membros mais destacados, quanto pelo produto derivado do esforço menos perceptível do conjunto.”
 
 Gildo Marçal Brandão
 
Nessa elegante sociologia dos intelectuais ele revela o amigo e se revela.
“A morte abrupta, precoce e repentina de Gildo Marçal Bezerra Brandão, ocorrida em 15 de fevereiro de 2010, abalou ao menos uma das gerações intelectuais que se lançaram no universo das ideias e da política no início da década de 1970, no Brasil. Tenho orgulho de pertencer a ela e de ter podido trilhar um longo trecho de estrada com ele. Conhecemo-nos em 1973, praticamente no mesmo momento inaugural: o início de uma carreira acadêmica, a descoberta do jornalismo, o encontro com a política, a formação da identidade ideológica e das preferências intelectuais. Nossos símbolos e pontos de referência logo se tornaram comuns: o marxismo, a esquerda, Lukács, Gramsci, Visconti, a USP, a Escola de Sociologia e Política, a Unesp, a Livraria e Editora Ciências Humanas, o PCB, a revista Temas de Ciências Humanas, o PCI, a Folha de São Paulo, o jornal Voz da Unidade, o ensino, a pesquisa, a democracia, depois o Cedec, a revista Lua Nova, a Anpocs, a Revista Brasileira de Ciências Sociais.
Fizemos ou participamos de tantas coisas juntos que é no mínimo estranho que esteja eu aqui, sozinho, subscrevendo esse registro memorialístico em tom de homenagem póstuma.”
Só essa breve passagem já diz muito dele e de sua geração. Mas, essa outra me repõem na trajetória da minha descoberta de Marco que compartilho com vocês nessa noite. Dirá ele
“Sua geração – que é a minha e a de tantos outros que frequentam o Cedec, que leem ou lerão Lua Nova, que têm a política como valor – deixou pegadas na história brasileira. Sem cabotinismo (ah, como ele adorava essa palavra!) e sem falsas modéstias, ainda que também sem o devido reconhecimento. Foi uma geração que viveu com intensidade. Experimentou de tudo, imaginou cenários épicos, abriu muitas sendas. Atracou-se com a resistência à ditadura e a transição democrática, com a luta armada e a luta eleitoral, jogou-se nos espaços da intransigência e da negociação, construiu instituições. Absorveu praticamente todos os influxos dessa movimentação, combinados em maior ou menor medida com as ressonâncias e os desdobramentos de 1968, da Tchecoslováquia, do eurocomunismo, da cristalização da ideia de democracia como valor universal, das novas formas do movimento operário, da questão feminina, da reconstitucionalização do país, do Muro de Berlim, do desaparecimento dos partidos comunistas, da vida líquida e informacional. Não foi uma geração que se limitou a assistir a tais acontecimentos portentosos. Pôde participar deles, interferir neles, protagonizá-los. Talvez por isso tenha ido tão longe e possa, hoje, proclamar sua personalidade geracional.
Por opções e armadilhas da vida, Gildo chegou relativamente tarde ao trabalho acadêmico mais sistemático. Entre 1973 e 1989, o jornalismo e a política o consumiram. Trabalhou na Folha com Cláudio Abramo, dirigiu o jornal comunista Voz da Unidade de 1980 a 1981, ajudou a editar o Diário do Grande ABC. Especialmente na Voz, com a contribuição de um seleto grupo de colaboradores e companheiros, viveu uma intensa aventura intelectual, de que pude ser testemunha e partícipe. Entregou-se a ela com um sentido de missão que jamais cedeu à tentação do fanatismo ou da prepotência e que buscou explorar ao máximo as oportunidades que se abriam – mas que logo se fechariam – para uma reinvenção do comunismo, de sua cultura, de sua linguagem, de sua forma de comunicação com a sociedade. Perdeu uma batalha, mas nenhuma guerra.”[1]


[1] Nogueira, Marco Aurélio. O valor de uma geração. Lua Nova, 2009, nº 78, p.23-28. Todas as citações do Marco Aurélio anteriores são desse texto.

 
 Carlos Nelson Coutinho
Está claro que a batalha a que Marco se refere era aquela que ele e os seus da sua geração e de outras gerações disputaram a direção da política do PCB.
E assim, ao retornar a minha trajetória de descoberta do Marco, gostaria de agora finalizar essa breve apresentação dessa noite.
As Ruas e a Democracia, o livro e a palestra do Marco que vamos vivenciar ocorre do quase fechamento do ano de 2013. A nossa Constituição chegou nesse ano aos seus 25 anos. Não têm faltado, felizmente, comemorações à efeméride, e as magistrais passagens de As Ruas e a Democracia sobre a dita convocação de um plebiscito sem eira nem beira como resposta governamental as jornadas de junho são a comprovação cabal de que a tal propositura não passava de uma fuga para frente daquela difícil conjuntura.[1] Sabendo-se, porém, com que rapidez – qualidade a ser cultivada no presente milênio como queria Italo Calvino (1923-1985)[2] – a atenção se fatiga quando as circunstâncias lhe impõem que se aplique o exame rigoroso das questões candentes, não é arriscado prever que o interesse público pelas jornadas de junho de 2013 só venham a diminuir, dia após dia. Ao contrário, a Constituição de 1988 segue sua sina de ser o enigma decifrável da nossa democracia.
Como declaração de princípios e regras que é, a Constituição criou obrigações legais a República. Todos sabemos, porém, que essas obrigações podem acabar por ser desvirtuadas ou mesmo denegadas na ação política, na gestão econômica e na realidade social. A Constituição é geralmente considerada pelos poderes econômicos e pelos poderes políticos, como um documento cuja importância não vai muito além do grau da boa consciência que lhes proporciona.
Nestes 25 anos não parece que os Governos tenham feito pelos direitos inscritos nela tudo aquilo a que, moralmente e intelectualmente (como diria Gramsci que Marco, ao lado de Carlos Nelson Coutinho (1943-2012)[3] e Luiz Sérgio Henrique, foi responsável pela tradução para o português – de 1999 a 2002 – dos seus Cadernos do Cárcere[4]), quando não por força da lei, estavam obrigados.


[1] Nogueira, Marco Aurélio. As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo. Brasília: Fundação Astrojildo Pereira / Rio de Janeiro: Contraponto, 2013, p.76-84.
[2] Calvino, Italo. Seis propostas para o próximo milênio - Lições americanas. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
[3] Nogueira, Marco Aurélio. Socialismo e democracia no marxismo de Carlos Nelson Coutinho (1943-2012). Lua Nova, 2013, nº 88, p.11-21.
[4] Gramsci, Antonio. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999-2002.
 


Desta forma, As Ruas e a Democracia aponta, entre outros insignts, que alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os Governos, seja porque não sabem, seja porque não podem, seja porque não querem. Ou porque não lhe permitem os que efetivamente governam com suas hegemonias imperfeitas[1], as empresas multinacionais e pluricontinentais cujo poder, absolutamente não democrático, que vem reduzindo a uma forma sem conteúdo o que ainda resta de ideal de democracia. Mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos. E isso As Ruas e a Democracia também aponta. Por isso uma Constituição da democracia deve ser disputada todos os dias, inclusive nas ruas, uma vez que nenhum dos direitos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que lhes correspondem, o primeiro dos quais será exigir que esses direitos sejam não só reconhecidos, mas também respeitados e satisfeitos. Não é de se esperar que os Governos façam nos próximos 25 anos o que não fizeram nestes que comemoramos. Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra democracia e a iniciativa das ruas. Com a mesma veemência e a mesma força com que reivindicarmos os nossos direitos nas ruas, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres da democracia.

Finalmente, o Marco deve lembrar o título da sua contribuição na tribuna de debates levada a efeito na Voz da Unidade por ocasião do Sétimo Congresso do PCB. Talvez o seu As Ruas e a Democracia possa ser lido numa paráfrase daquela contribuição pois só com a devida compreensão do Brasil que temos, poderemos caminhar com passos firmes para o Brasil que queremos, para seguir tornando-o melhor em todas as nossas esquinas e instituições. Obrigado!

 

Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 2013



[1] Nogueira, Marco Aurélio. A hegemonia imperfeita. O Estado de São Paulo, 23 de novembro de 2013.