Ser
Senador no “Olho do Furacão”
Dedicado ao
Arquiteto que atuou na política
Jaime Lerner
(1937 – 2021)
Por Vagner Gomes
de Souza
Os mais apaixonados
pelo acompanhamento do debate político (ainda existem essas “aves raras” na
sociedade brasileira) se debruçam nas análises e observação dos depoimentos da
CPI da COVID que podem ser acessados no canal de Youtube do Senado Federal. A
relativa baixa audiência em relação ao que se passa nas oitivas presididas pelo
Senador Omar Aziz (PSD – AM) não significa que não esteja ocorrendo um impacto
político na conjuntura. A derrota do Governo Bolsonaro se faz nas trilhas de
nossa marca histórica, ou seja, gradual e lentamente com pressão das redes
sociais a via institucional - vide o exemplo das perguntas selecionadas via
Twitter pelo relator Renan Calheiros (MDB – AL).
Ao campo democrático não
serão as ruas em plena pandemia que contribuirão para o isolamento da política “negacionista”
dessa gestão caótica da crise sanitária do país. Os protestos que se articulam
podem trazer em cena a possibilidade desse momento no qual a “Guerra de Posição”
seja eclipsada pela “Guerra de Movimento”. No Senado da República está ainda se
fazendo a configuração de um processo de formação política das novas lideranças
da política nacional que deverá manter seu curso nas eleições de 2022 em que se
renovam 1/3 dos assentos da “Câmara Alta”.
A ideia de uma volta ao
modelo de uma “transição política” com os sinais de mudança mais fortes que o
de conservação nos chama a atenção nesse momento em que a política e a economia
brasileira atravessam o “olho do furacão”. Se a Constituinte (1987/988) foi a
grande marca dessa política transitória ao final da Ditadura Militar, devemos
pensar um programa econômico que supere o fundamentalismo fiscal que sempre
sugere os limites de gastos públicos para enfrentar os problemas sociais, porém
está sempre disponível para saldar as contas com pagamento dos juros aos
grandes bancos. A volta da “Política” na cena do debate da economia impõe que
não deixemos que o pensamento ultraliberal de Paulo Guedes imune aos problemas
debatidos na CPI da COVID.
A insistência em se
manter com a política do “teto de gastos” pode ser o motivo do marketing
negacionista da cloroquina. Uma disfarçada política macabra “malthusiana” na
busca da redução dos gastos previdenciários se observarmos o perfil dos que
foram a óbitos. A “mascarada” reforma administrativa no congelamento dos
benefícios dos servidores públicos incluindo a proibição de reajustes salariais
em plena pandemia e num momento de alta inflacionária. Esses seriam alguns
exemplos que há muito mais debate de política para se fazer que simplesmente
conceituar o Presidente como um adepto da “necropolítica”. Esse é o espaço de
se entender a conjuntura e perceber que não estamos numa “banca” de
pós-graduação falando para as “bolhas”. Na política se faz escolhas que nos faz
perceber que a população brasileira está onde sempre esteve: no CENTRO.
A qualificação de um
Senador com esses méritos acabam por crescer de tamanho diante da realidade
imposta por essa política de transição que pretendemos que seja republicana e
democrática. A “Grande Política” não significa fazer da disputa eleitoral para
o Senado um “puxadinho” dos palanques da disputa presidencial, pois a disputa
majoritária para o mandato de 8 anos não se faz em dois turnos. Há situações em
que um Senador poderia ser eleito com uma faixa eleitoral entre 25 – 30% a se
depender da fragmentação da disputa eleitoral em cada estado da federação. O
Campo Democrático estaria disposto a passar por esse “risco político” em não
dar atenção a essa perigosa possibilidade.
Na CPI da COVID temos
uma “vitrine” que expõe para as forças democráticas o quanto de figuras
reacionárias ganhou um espaço político por falta de compreensão da importância
da “renúncia” da disputa eleitoral em favor do ganho político. Por exemplo, não
houve “Grande Política” na disputa eleitoral nas eleições ao Senado do Rio de
Janeiro em 2018 para além de um “ensaio informal” de apoio de uma “dobradinha”
de Frente de Esquerda que empurrou a surpreendente vitória do já falecido
Senador Arolde de Oliveira (PSD). Hoje o PSD do Rio de Janeiro passa por uma
mutação que lhe pode levar a emergência de uma nova variante (que me permitam
os virologistas). Consequentemente, o espectro de Amaral Peixoto que reinou no
interior do Rio de Janeiro nos tempos do “outro” PSD pré-1964 poderá ser
decisivo.