Vagner Gomes de Souza
As instituições democráticas foram sempre questionadas pelos defensores da livre iniciativa individual e suas identidades articuladas pelo consumo. No mundo do seja uma pessoa que compre, aos poucos, muitos se atomizaram num processo de fragmentação. O campo democrático se faz no terreno do “Nós”, porém a carnavalização de algumas atitude valorizaram o mundo do “eu sozinho”. A individualização enfraqueceu o mundo do fazer a política. Assim, os atores políticos se encontram sobre um grande teste nessa onda de questionamento da globalização.
O Brasil é mais um caso em que as veias abertas do discurso autoritário se faz em muitas teias que mais fragmentam as lutas políticas o que permitiu a emergência de um “self made zé ninguém” ao qual muitos ressentidos com a prática da política se reconheceu. Não há polarização nas fontes do sectarismo, pois convivem num universo de não reconhecimento do papel de mediação das instituições democráticas na sociedade. Por exemplo, forças progressistas atuam no legislativo como se fosse o espelho de seus eleitores exclusivos ao contrário de se imaginar como representante de todas e todos.
A sociedade se deixou contaminar
por pela cultura política do espelho, ou seja, eu só busco diálogo como aquele
que é meu próprio reflexo. Muitas fakeanálises da conjuntura animadas pelo
individualismo político nos quais os partidos políticos são colocados no
cenário num “efeito carona” do contexto eleitoral. O liberalismo eleitoral
ficou mais forte uma vez que não há uma política de Estado de Bem Estar Social que
oriente o universo da política. A Democracia foi perdendo seus defensores
enquanto ganhou força as narrativas dos mosaicos das falas.
As manifestações
de 2013 fez emergir a pluralidade de cartazes e reivindicações. As multidões
traziam menos corpo político ao debate. Todos se permitiam a ter seu lugar de
fala e ninguém centralizava essas falas. Portanto, a grande política não se fez
presente de forma clara. Foram manifestações que não formaram novos quadros para
a política nacional. Não se exercitou sua intenção de renovação política no
Congresso Nacional como se observou no perfil dos congressistas eleitos em
2014. Havia um “mal estar” com a Democracia, pois ela impõe a necessidade da universalidade
republicana a cada identidade individual.
Diante desse processo
mais apropriado ao mundo do empreendedorismo, a política foi ao fundo do posso
com os movimentos liberais e conservadores daquilo que chamam de “lavajatismo”.
Os Saquaremas “moral” eram os luzias do “liberalismo econômico”. Havia um
consenso contra a prática e a análise da política. Muitos não fazem uma análise
política sem fazer referência a cálculos eleitorais. As pesquisas eleitorais
como “cocaína” da análise de conjuntura no universo dos atores políticos. Uma
vez que nem tudo é disputa eleitoral, a formação de quadros políticos para
atuar na sociedade ou na vida publica se fez no ativismo dos “influencers”. Não
há mais o voto de opinião. Também não há mais o debate do programa político. E
um militante político é um constante ativista eleitoral ao redor de seus
parlamentares eleitos sob a guarda moral de uma “bandeira qualquer”.
Afinal, o programa
político de natureza democrática e republicana exige a articulação de
interesses num movimento político maior que impõe muita reflexão sobre o
Brasil. Então, 2018 foi o derretimento da prática de fazer política num
universo no qual explodiu o ressentimento de muitos que não se sentiam
acolhidos por esse mundo individualista. O individualismo na política gerou uma
reação que aprofundo esse individualismo com um recorte autoritário, pois a
Democracia presente na Carta de 1988 não estava presente nos debates dos ativistas
políticos. Foi a ameaça do “atalho golpista” do Presidente da República que
inseriu a defesa da democracia no discurso de muitos sem que observemos ainda
as suas consequências no reagrupamento do ator político e da necessidade de
lideranças políticas como referência para a negociação.
Um trabalhador não
entra em greve para a eternidade. Por isso, os dirigentes sindicais desde o
primeiro dia articulam os canais de negociação. A sociedade brasileira não pode
ficar considerando que o Impeachment seja o tratamento precoce para a natureza
retrógrada presente no Brasil. Então, que fazer? Os partidos políticos precisam
construir um programa mínimo de enfrentamento da pandemia e de suas consequências
econômicas nas classes subalternas. A imunidade contra o autoritarismo se fará
numa longa duração a partir de uma vitória do campo democrático em 2022 (que
não está assegurada, pois há cálculos das “feiras partidárias”). A moderação
não significa renúncia da política de enfrentamento. Na verdade é outra forma
de assegurar não só um palanque para vitórias sucessivas, mas também a garantia
de uma melhor transparência na gestão pública. Não nos deixemos cair na
tentação do negacionismo de fazer a Grande Política. A vitórias das Diretas Já
(1984) só ocorreu por causa da participação no Colégio Eleitoral (1985).