domingo, 22 de dezembro de 2013

DEBATENDO - As Ruas e a Democracia

  Marco Aurélio Nogueira, interprete da realidade brasileira contemporânea
Ricardo José de Azevedo Marinho[1]

Boa noite a todos. Coube a mim, a pedido do nosso anfitrião o professor Gaudêncio Frigotto, a tarefa de apresentar a vocês o professor Marco Aurélio Nogueira, diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Não é trivial falar dele para mim. Eu conheci o Marco nas páginas de um jornal que se chamava Voz da Unidade. Era um jornal comunista, ligado ao Partido Comunista (PCB) e que disputou a sua direção por ocasião de seu Sétimo Congresso.
Quando da morte de um grande amigo de sua geração, o saudoso Gildo Marçal Brandão (1949-2010)[2], dirigente daquele periódico comunista de 1980 a 1981, o Marco (que também é de 1949) talvez tenha escrito os textos que mais revelam de si mesmo e estão disponíveis tanto na revista Lua Nova do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC) como na Revista Brasileira de Ciências Sociais (RBCS) da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS).


[1] Ricardo José de Azevedo Marinho é Bacharel em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e Doutor em Ciências Sociais pelo CPDA da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). É Assessor da Presidência da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) e Professor da Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO).
[2] Nogueira, Marco Aurélio. Gildo Marçal Bezerra Brandão (1949-2010) no coração da grande política. Revista brasileira de Ciências Sociais, Fevereiro, 2010, vol.25, nº 72, p.5-7.

 

Numa daquelas publicações Marco dirá que “as gerações nos ajudam a desvendar a vida.” Na sequência afirma que

“Gerações intelectuais são feitas de amizades e companheirismo, mas não só. São feitas também de instituições e pontos de referência, simbólicos e materiais. Por essa via, trazem consigo rusgas, atritos, disputas, às vezes dilacerantes. Amizades podem até se desfazer, mas as gerações seguem em frente, como se protegidas por uma rede oculta de pequenas e grandes cumplicidades que operam no subterrâneo, ligando as agregações e cauterizando as feridas abertas pelos choques e golpes da vida.

Gerações intelectuais não são comunidades amorfas, desfibradas, insossas. São comunidades imperfeitas, forjadas no fogo. São internamente diferenciadas, múltiplas e plurais, no sentido de que, nelas, nem todas as luzes brilham ao mesmo tempo ou com a mesma intensidade. De algum modo, os representantes de uma geração dividem entre si o trabalho que estão fadados a fazer. Deixam o ar de sua graça, por isso, tanto pelo que é pensado e realizado por um ou outro de seus membros mais destacados, quanto pelo produto derivado do esforço menos perceptível do conjunto.”
 
 Gildo Marçal Brandão
 
Nessa elegante sociologia dos intelectuais ele revela o amigo e se revela.
“A morte abrupta, precoce e repentina de Gildo Marçal Bezerra Brandão, ocorrida em 15 de fevereiro de 2010, abalou ao menos uma das gerações intelectuais que se lançaram no universo das ideias e da política no início da década de 1970, no Brasil. Tenho orgulho de pertencer a ela e de ter podido trilhar um longo trecho de estrada com ele. Conhecemo-nos em 1973, praticamente no mesmo momento inaugural: o início de uma carreira acadêmica, a descoberta do jornalismo, o encontro com a política, a formação da identidade ideológica e das preferências intelectuais. Nossos símbolos e pontos de referência logo se tornaram comuns: o marxismo, a esquerda, Lukács, Gramsci, Visconti, a USP, a Escola de Sociologia e Política, a Unesp, a Livraria e Editora Ciências Humanas, o PCB, a revista Temas de Ciências Humanas, o PCI, a Folha de São Paulo, o jornal Voz da Unidade, o ensino, a pesquisa, a democracia, depois o Cedec, a revista Lua Nova, a Anpocs, a Revista Brasileira de Ciências Sociais.
Fizemos ou participamos de tantas coisas juntos que é no mínimo estranho que esteja eu aqui, sozinho, subscrevendo esse registro memorialístico em tom de homenagem póstuma.”
Só essa breve passagem já diz muito dele e de sua geração. Mas, essa outra me repõem na trajetória da minha descoberta de Marco que compartilho com vocês nessa noite. Dirá ele
“Sua geração – que é a minha e a de tantos outros que frequentam o Cedec, que leem ou lerão Lua Nova, que têm a política como valor – deixou pegadas na história brasileira. Sem cabotinismo (ah, como ele adorava essa palavra!) e sem falsas modéstias, ainda que também sem o devido reconhecimento. Foi uma geração que viveu com intensidade. Experimentou de tudo, imaginou cenários épicos, abriu muitas sendas. Atracou-se com a resistência à ditadura e a transição democrática, com a luta armada e a luta eleitoral, jogou-se nos espaços da intransigência e da negociação, construiu instituições. Absorveu praticamente todos os influxos dessa movimentação, combinados em maior ou menor medida com as ressonâncias e os desdobramentos de 1968, da Tchecoslováquia, do eurocomunismo, da cristalização da ideia de democracia como valor universal, das novas formas do movimento operário, da questão feminina, da reconstitucionalização do país, do Muro de Berlim, do desaparecimento dos partidos comunistas, da vida líquida e informacional. Não foi uma geração que se limitou a assistir a tais acontecimentos portentosos. Pôde participar deles, interferir neles, protagonizá-los. Talvez por isso tenha ido tão longe e possa, hoje, proclamar sua personalidade geracional.
Por opções e armadilhas da vida, Gildo chegou relativamente tarde ao trabalho acadêmico mais sistemático. Entre 1973 e 1989, o jornalismo e a política o consumiram. Trabalhou na Folha com Cláudio Abramo, dirigiu o jornal comunista Voz da Unidade de 1980 a 1981, ajudou a editar o Diário do Grande ABC. Especialmente na Voz, com a contribuição de um seleto grupo de colaboradores e companheiros, viveu uma intensa aventura intelectual, de que pude ser testemunha e partícipe. Entregou-se a ela com um sentido de missão que jamais cedeu à tentação do fanatismo ou da prepotência e que buscou explorar ao máximo as oportunidades que se abriam – mas que logo se fechariam – para uma reinvenção do comunismo, de sua cultura, de sua linguagem, de sua forma de comunicação com a sociedade. Perdeu uma batalha, mas nenhuma guerra.”[1]


[1] Nogueira, Marco Aurélio. O valor de uma geração. Lua Nova, 2009, nº 78, p.23-28. Todas as citações do Marco Aurélio anteriores são desse texto.

 
 Carlos Nelson Coutinho
Está claro que a batalha a que Marco se refere era aquela que ele e os seus da sua geração e de outras gerações disputaram a direção da política do PCB.
E assim, ao retornar a minha trajetória de descoberta do Marco, gostaria de agora finalizar essa breve apresentação dessa noite.
As Ruas e a Democracia, o livro e a palestra do Marco que vamos vivenciar ocorre do quase fechamento do ano de 2013. A nossa Constituição chegou nesse ano aos seus 25 anos. Não têm faltado, felizmente, comemorações à efeméride, e as magistrais passagens de As Ruas e a Democracia sobre a dita convocação de um plebiscito sem eira nem beira como resposta governamental as jornadas de junho são a comprovação cabal de que a tal propositura não passava de uma fuga para frente daquela difícil conjuntura.[1] Sabendo-se, porém, com que rapidez – qualidade a ser cultivada no presente milênio como queria Italo Calvino (1923-1985)[2] – a atenção se fatiga quando as circunstâncias lhe impõem que se aplique o exame rigoroso das questões candentes, não é arriscado prever que o interesse público pelas jornadas de junho de 2013 só venham a diminuir, dia após dia. Ao contrário, a Constituição de 1988 segue sua sina de ser o enigma decifrável da nossa democracia.
Como declaração de princípios e regras que é, a Constituição criou obrigações legais a República. Todos sabemos, porém, que essas obrigações podem acabar por ser desvirtuadas ou mesmo denegadas na ação política, na gestão econômica e na realidade social. A Constituição é geralmente considerada pelos poderes econômicos e pelos poderes políticos, como um documento cuja importância não vai muito além do grau da boa consciência que lhes proporciona.
Nestes 25 anos não parece que os Governos tenham feito pelos direitos inscritos nela tudo aquilo a que, moralmente e intelectualmente (como diria Gramsci que Marco, ao lado de Carlos Nelson Coutinho (1943-2012)[3] e Luiz Sérgio Henrique, foi responsável pela tradução para o português – de 1999 a 2002 – dos seus Cadernos do Cárcere[4]), quando não por força da lei, estavam obrigados.


[1] Nogueira, Marco Aurélio. As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo. Brasília: Fundação Astrojildo Pereira / Rio de Janeiro: Contraponto, 2013, p.76-84.
[2] Calvino, Italo. Seis propostas para o próximo milênio - Lições americanas. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
[3] Nogueira, Marco Aurélio. Socialismo e democracia no marxismo de Carlos Nelson Coutinho (1943-2012). Lua Nova, 2013, nº 88, p.11-21.
[4] Gramsci, Antonio. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999-2002.
 


Desta forma, As Ruas e a Democracia aponta, entre outros insignts, que alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os Governos, seja porque não sabem, seja porque não podem, seja porque não querem. Ou porque não lhe permitem os que efetivamente governam com suas hegemonias imperfeitas[1], as empresas multinacionais e pluricontinentais cujo poder, absolutamente não democrático, que vem reduzindo a uma forma sem conteúdo o que ainda resta de ideal de democracia. Mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos. E isso As Ruas e a Democracia também aponta. Por isso uma Constituição da democracia deve ser disputada todos os dias, inclusive nas ruas, uma vez que nenhum dos direitos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que lhes correspondem, o primeiro dos quais será exigir que esses direitos sejam não só reconhecidos, mas também respeitados e satisfeitos. Não é de se esperar que os Governos façam nos próximos 25 anos o que não fizeram nestes que comemoramos. Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra democracia e a iniciativa das ruas. Com a mesma veemência e a mesma força com que reivindicarmos os nossos direitos nas ruas, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres da democracia.

Finalmente, o Marco deve lembrar o título da sua contribuição na tribuna de debates levada a efeito na Voz da Unidade por ocasião do Sétimo Congresso do PCB. Talvez o seu As Ruas e a Democracia possa ser lido numa paráfrase daquela contribuição pois só com a devida compreensão do Brasil que temos, poderemos caminhar com passos firmes para o Brasil que queremos, para seguir tornando-o melhor em todas as nossas esquinas e instituições. Obrigado!

 

Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 2013



[1] Nogueira, Marco Aurélio. A hegemonia imperfeita. O Estado de São Paulo, 23 de novembro de 2013.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

DEMOCRATAS DA ESQUERDA


Os Democratas da Esquerda: O Programa (Começo de um debate)

Por Vagner Gomes de Souza

As jornadas nas ruas iniciadas em junho demonstraram que os partidos políticos do campo democrático e da esquerda se distanciaram do debate das mudanças a partir de um programa. Muitos segmentos e lideranças se deixaram contaminar pelo “cálculo eleitoral” minimizando sua plataforma política. Exemplo extremo está nas agremiações partidárias que levantam o tema da “decência na política” como sinalizador de sua adesão política. As massas nas ruas não tinham programa e nem uma liderança. Uma eclosão da “revolução dos interesses” de segmentos das periferias urbanas e da prática política.
A “agenda eleitoral” antecipada em fevereiro pelo antecessor da Presidente da República foi “congelada” naquele momento. A sociedade civil inorganicamente comparece as manifestações e programaticamente não se reformulou. Os segmentos políticos foram equivocadamente nomeados como “fascistas”, “anarco-punks”, “anarquistas”, “extremistas, etc. Nos seus desdobramentos de um Congresso Nacional formado ainda sob os métodos do clientelismo. Nesse ponto, o “interesse” do voto do eleitor se faz prevalecer e tudo se desmancha no ar.
As lições da política partidária devem ser aprendidas diante das idas e vindas da REDE de Sustentabilidade. Mobilizar um “mosaico” de intenções de “boa vontade” da sociedade não se faz na realidade. E, gradualmente, os elementos do nosso liberalismo doutrinário se faz representar até nas forças políticas que deveriam defender o socialismo. A política ainda está anos-luz afastados da sociedade e um “caldeirão” de problemas se faz por aguardar soluções. Por exemplo, a massas de trabalhadores continuam o cotidiano da Avenida Brasil engarrafada e dos trens da SUPERVIA lotados/danificados, mas a pauta imposta pela mídia, uma vez que não há vozes da esquerda, é a Perimetral.
Não há um Programa dos Democratas da Esquerda, seja qual forem as agremiações que ocupem esse segmento, para a sociedade brasileira. Na passagem dos 25 anos da Constituição de 1988, percebemos o quanto seus valores democráticos ainda não foram todos regulamentados. A recente Greve dos Servidores Públicos da Educação no Rio de Janeiro demonstra o quanto o legislativo ficou uma geração sem “tomar partido” sobre a regulamentação do Direito de Greve aos Servidores Públicos. Haja “bandeiras” progressistas a se levantar no Parlamento que aprofundem as conquistas da Carta Democrática de 1988, porém, mais uma vez, os “cálculos” estão na Sucessão Presidencial.
O tema da violência policial nos grandes centros urbanos levanta o debate sobre a desmilitarização da Segurança Pública no país, porém teme-se pelo seu arquivamento diante de um Congresso Nacional sem pressão do debate da sociedade através de uma campanha de opinião. As eleições legislativas são fundamentais para a emergência de um “polo” de Democratas da Esquerda que se encontram espalhados em diversos segmentos partidários e da sociedade. Acumular forças no legislativo para gradualmente pressionar uma Reforma Política que acabe com o “voto escravizado”, ou seja, o voto a serviço do “balcão de negócios”.
A disposição política para levantar esse debate deve partir da sociedade articulando uma ponte com os partidos políticos da esquerda até o centro-liberal. Apresentar um programa se faz necessário. Esse é o ponto relevante para além de indicar nomes para a sucessão presidencial que só empolgará ao eleitor no mês de setembro de 2014. Agora, é momento de fazer circular ideias e perguntar: que Brasil terá com o envelhecimento gradual da população? Como será a Previdência Social na próxima década? A saúde pública vai conviver com as terceirizações? Por que o Plano Decenal de Educação não avança no Parlamento? Quais seriam as conquistas aos trabalhadores? Vamos continuar com o mesmo modelo de sindicalismo unicitário? Quem mais lucra não deveria pagar mais? Enfim, há inúmeras perguntas que ajudariam a formular um programa dos Democratas da Esquerda que mobilizaria as redes sociais e a militância na sociedade para definir o “voto útil” em lideranças políticas fundamentais a continuarem ou para ingressarem no Congresso Nacional. Uma Lista de um “movimento multipartidário” com diálogo na sociedade. Os partidos políticos da esquerda não devem temer que “não filiados” votem e participem de seus encontros/plenárias de formação de programa. Uma oportunidade de formar novas lideranças na formação de uma cultura cívica. Esse é o começo de um debate programático que devemos ajudar a alimentar nos nossos locais de trabalho, militância, estudo, moradia, exercício de nossa fé religiosa, etc.

sábado, 31 de agosto de 2013

ELEIÇÕES RIO DE JANEIRO

Pesquisa DATAFOLHA (Junho 2013) que poderia ser comparada com a GERP citada por DEMOCRACIA e SOCIALISMO
 
Dialogando com o BLOG DEMOCRACIA E SOCIALISMO
Por Vagner Gomes de Souza
(Coordenador Político da Frente Popular Amigos da Zona Oeste – FREPAZO)
 
O artigo “Jandira, Governadora do Rio de Janeiro” de Adelson Vidal Alves foi postado no dia 29 de agosto no BLOG DEMOCRACIA E SOCIALISMO (http://democraciaesocialismo.blogspot.com.br/2013/08/jandira-governadora-do-rio.html). Trata-se de uma instigante análise de conjuntura estadual que abre a oportunidade para o debate das próximas eleições estaduais a partir da avaliação da pré-candidatura da Deputada Federal Jandira Feghali (PCdoB).
A análise da conjuntura estadual é um desafio que VOTO POSITIVO reconhece e assume num diálogo com o artigo citado acima. Em primeiro lugar, avaliamos que muitos fatores vão influenciar as eleições de 2014 que ainda estão em curso. Comecemos pelas eleições presidenciais que não temos ainda o quadro definido nem para as forças governistas (Fica Dilma X Volta Lula) ou na oposição (sai a REDE SUSTENTABILIDADE?, Serra se candidatará pelo PPS? , Eduardo Campos (PSB) será mesmo candidato?). Há muitas dúvidas que vão ainda impactar na organização do Palanque Estadual. Portanto, não esqueçamos que o PCdoB será “fiador” de uma aliança histórica com o PT nacional desde as eleições de 1989, o que sugere para onde o PT nacional rumar o PCdoB local levará seus dirigentes e militantes.
No momento, o Bloco Governista Fluminense passa por uma série crise. Isso não implica que ele está “fora do jogo”. Por dois fatores: 1) o artigo não avalia a hipótese de afastamento por renúncia do atual Governador em janeiro próximo o que permitirá a melhor articulação do Vice-Governador na reformulação de sua base política (“mudar para conservar” com a máquina pública mais presente no processo político ainda mais costurando apoio no interior onde diversos Prefeitos está receosos de perdas de mandato pelo TRE como cita o articulista de DEMOCRACIA  E SOCIALISMO); 2) a realização da Copa do Mundo é um fator de Antropologia Política que não foi ainda dimensionado pelos analistas políticos. Para o bem ou para o mal. Romário está no “banco de reserva” da política estadual aguardando convocação e poderia ser um “outsider” emergente das ruas e das periferias. O “lulismo” na expressão Bonapartista.
No Rio de Janeiro, apesar da crise política, não há um novo bloco de forças progressistas se articulando. Esse é o desejo que verificamos e compartilhamos em DEMOCRACIA E SOCIALISMO, porém o sábio Garrincha perguntava: “foi combinado com os Russos?”.  Nesse particular, nomeamos o PSOL que tem ocupado espaços de um eleitor de  “centro-esquerda” e até faixas eleitorais de conservadores defensores da “ética na política” mas não apresentam um programa político mais claro de aliança democrática. Uma vez que, a apresentação desse programa seria a fragmentação dessa organização política.
PDT, PPS, PSB estranhamente ou justificadamente (cabe aos seus Diretórios Regionais responderem) são abordados pela imprensa fluminense como defensores dos cálculos políticos de seus principais dirigentes locais. Engatinham no debate da sucessão, mas estão atônicos com as mobilizações das ruas que se fazem distantes dos movimentos sociais que alguns militantes desses partidos ainda têm referência. São agremiações políticas que se afastaram da juventude por priorizarem “fazer Deputado Federal” e apresentam sérias dificuldades de se abrirem e conduzirem os anseios surgidos após as Jornadas de Junho.
Portanto, o elemento novo ainda estaria na candidatura própria do PT que poderia ser o “calcanhar de Aquiles” da coalizão PT-PMDB nacional. DEMOCRACIA E SOCIALISMO abordou de forma “tímida” essa luta interna do PT-RJ. A trajetória política do Pré-candidato do PT do RJ é um exemplo de quadro político que transitou do “partido da Ação” para o “partido da Moderação”, o que pode dar outra dinâmica ao debate de um Programa de Transição para o Rio de Janeiro que precisa de mais articulação entre Governo e Sociedade reforçando as instituições de consulta da população que surgiram com a Constituição de 1988. Além disso, há o elemento do Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Constituição Estadual do Rio de Janeiro que não foi plenamente colocada em prática. E consideramos importante o resgate de um Orçamento Participativo estadual no Rio de Janeiro como forma de enfraquecer as forças políticas do clientelismo estadual.


domingo, 25 de agosto de 2013

GREVE NA REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO - RJ


Histórica Audiência do SEPE com um Prefeito

A Metamorfose Ambulante da Greve na Rede Municipal de Educação Carioca

Por Vagner Gomes de Souza – Escola Municipal Charles Dickens

As mobilizações de junho empreendeu um novo gás as sujeitos da sociedade. No primeiro momento uma multiplicidade de reivindicações foram transbordadas nas ruas e levantadas por diversos segmentos sociais e vertentes políticas. Os campos políticos extremos Esquerda e Direita voltaram a cena das análises dos colunistas políticos e cientistas sociais num quadro de “raquitismo” da política. Entre os diversos questionamentos das manifestações estavam a ausência de um “padrão FIFA” para a Educação brasileira.
No Rio de Janeiro, a luta política se avolumou e recebeu uma nova dinâmica com as multidões que acolheram a Jornada Mundial da Juventude em julho. Uma cidade onde há um histórico de conflitos sociais sem luta de classes que marca a história local desde sempre em diversos exemplos (Revolta da Vacina, Revolta de Chibata, Revolta do Forte de Copacabana, Insurreição de 1935, Revolta dos Bondes em 1956, etc.). Os pronunciamentos do Papa Francisco sobre temas de um olhar mais humano para o capitalismo é outro elemento que sensibilizou a todos independente de vínculos religiosos.
Muitos anteciparam o esgotamento das manifestações, porém não perceberam que elas estão em metamorfose ambulante nas diversas mobilizações que ocorrem na sociedade brasileira. Todas convergem para um mesmo caminho que não implicará em rupturas ou retrocessos. E a Educação Pública? Na questão nacional, ela apareceu na pauta da aplicação dos Royalties do Petróleo e nas tentativas de aprovação do novo Plano Nacional de Educação. Uma continua revolução/restauração no processo em curso sobre as mudanças na Educação que passará por uma reinterpretação do Profissional de Educação como Intelectual “fordizado”.
 
 
Nessa correlação, a greve dos profissionais da educação do município do Rio de Janeiro é um momento de revelação de como o transformismo se faz presente. A rede municipal de educação do Rio de Janeiro não estava em Greve há cerca de duas décadas. Muitos analistas defendiam que era uma categoria profissional majoritariamente em estágio de conformismo. Seguidas orientações pedagógicas foram implementadas de forma centralizadora ao ponto de reduzirem ao extremo a autonomia pedagógica das unidades escolares, mas a categoria estava sob o peso do “Partido da Moderação” uma vez que atuava na Rede Estadual de Educação como o “Partido da Ação”. Em resumo, esse seria o estranho modus operandus de um setor dos servidores públicos em suas recentes mobilizações.
Contudo, o novo momento da rede municipal de educação, em greve desde 8 de agosto, é de plena metamorfose diante do silenciosos momentos de adaptabilidade com o que foi o “cesarismo” (implementado desde 1992) e de adesismo ao discurso fácil do pós-cesarismo. Há um momento de reorganização da base da categoria que cria contradições tanto o Governo Municipal quanto nas correntes majoritárias do Sindicato. Entretanto, diante de uma proposta de “acordo”, seria o momento de refletir para o longo curso de uma mobilização que não se limita em parar as atividades. Há muitas coisas ainda por ganhar num processo de longa duração. Essa é a realidade ao compreender que devemos saber mediar nossos interesses, pois há outros sujeitos em jogo. Por isso, não devemos trilhar pelo sectarismo que desgastará nossas forças. A queda da popularidade do Governo Municipal já está em reversão a medida que o mesmo se distancia de seu “padrinho” no Governo Estadual. Trata-se de ter a astúcia de dar um passo atrás para dar dois passos adiante. Se for verdade que estamos reaprendendo a fazer uma Greve. Devemos começar a aprender a sair dela forte para sempre tê-la como um forte dispositivo de pressão.

domingo, 9 de junho de 2013

FAROESTE CABLOCO - O FILME (OPINIÃO)



 

Era uma vez em Brasília
Por Vagner Gomes
“Não é nossa culpa
Nascemos já com uma bênção
Mas isso não é desculpa
Pela má distribuição
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração (...)”

Faroeste Caboclo – O filme é um desafio para a geração que nasceu após a morte de Renato Russo. Um compositor talentoso que foi “levantado aos céus” como se fosse um neomessias de uma juventude sem bandeiras. Por isso, há um estranhamento quando jovens entram ao cinema para ver um filme achando que irão assistir ao “Vídeo-Clip”. Não é uma narrativa “fiel” a todos os versos da música e nem pretende ser isso em nossa avaliação.
Faroeste Caboclo é impactante pela ousadia de levar para as telas do cinema nacional o estilo do “western” ambientado numa Brasília no começo dos anos 80. Tempos de ditadura militar em que as “Cidades-Satélites” cresciam em pobreza e violência. Portanto, uma referência que logo surge em nossa mente é o diretor Sergio Leone através de duas obras: “Três Homens em Conflito” (1966) e “Era uma vez no Oeste” (1968 ).

Cena de Era uma vez no Oeste (1968)

A primeira cena do filme só faltaria uma gaita como fez Enio Moricone certa vez na história da trilha sonora dos filmes. Aliás, um bom “westen” precisa de uma boa trilha sonora que fique na cabeça do público do filme. Faroeste Caboclo – O filme acertou na trilha sob a condução do integrante da banda Plebe Rude, Philippe Seabra ao deixar a execução de Faroeste Caboclo – A música para o momento dos créditos. Outras músicas ganham destaque para reviver a memória dos contemporâneos do rock nacional e para a nova geração.
O diretor faz uma secularização de uma inspiração musical. Faz um duelo com aqueles que desejam transformar a obra de Renato Russo numa filosofia pós-moderna sem contextualizar. Portanto, a contextualização histórica aparece em alguns momentos incidentais que o público “fundamentalista” deixa passar sem muita atenção. A chegada de João de Santo Cristo em Brasília é ilustrada com cenas da época dos “quebra-quebras” em 1980 que a imprensa pouco exibia na TV. O slogan do Governo do último ditador militar, General João Baptista, aparece na narrativa – “Plante que o João Garante”. As manchetes do jornal Correio Brasiliense que servem para ilustrar as fotos na cadeia. Qual é a primeira edição? Será que os “fundamentalistas” se lembram? Muito bem, trata-se de uma referência ao atentado a bomba no RioCentro que foi importante para o isolamento político da “linha dura” do regime militar de então.

Faroeste Caboclo sem "puritanismo"


Nesse aspecto, o filme inverte o culto a Renato Russo com sua dessacralização e sua gradual aproximação ao momento político do rock nacional. Além disso, o filme aborda outros duelos da sociedade brasileira. O geracional: o Senador e a filha universitária. O social: “enquanto o rico projeta o pobre constrói”. O racial: lamentavelmente uma parcela do público na região onde assisti (Zona Oeste carioca) expressa seu “choque” com um romance intraracial entre João de Santo Cristo e Maria Lúcia. Deixemos a hipocrisia de lado. Fazer o discurso de que o filme tem cenas de sexo excessivas é um preconceito disfarçado em moralismo.

Que país é esse que observa “putaria” em uma heterodoxa história de Amor entre uma branca e um negro? Vejam a poesia das cenas de conteúdo adulto se desejar essa classificação dos tempos da CENSURA da Ditadura. O Diretor muito bem conduziu esses momentos necessários para servirem como um “soco” no estômago da nova geração de moralistas. As primeiras cenas há um contraste da pele negra com a pele branca. Num segundo momento há a engraçada brincadeira dos cômodos. Por fim, a cena da denúncia ao falso pudor. Numa sala carregada pelo cenário de inúmeros quadros sacros os dois fazem amor até que chega o Senador que expulsa os dois. Observem que não são mais de 5% da película, porém o senso comum comenta como se fosse uma “pornochanchada” dos anos 80.

O romance da citação ao Kunta Kinte

De fato, o filme expõe outras referências não captadas pelas vertentes “fundamentalistas” que vão ao cinema. A citação de Kunta Kinte nas boca de Jeremias é um convite a leitura do romance de Alex Haley para uma percepção comparativa do escravismo nos Estados Unidos e no Brasil. O balde de água vazio lembra “Vidas Secas”. Não podemos esquecer-nos de um pouco de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” se seguirmos nossa liberdade de leitura. Por fim, para não alongar mais, as drogas e a vingança lembram o Diretor Quentin Tarantino (“Pulp Fiction”, “Kill Bill Vol. 1 e 2” e “DJango Livre”).
Essa é a narração de uma história de um filme que não pode ser simplesmente descartado por uma nova forma de “fundamentalismo”. Estranhamente, uma nova geração que cultua ou pensa que cultua Renato Russo não percebeu que ele era um libertário, ou seja, não aceitaria que sua obra fosse uma doutrina ou estivesse distante da crítica social. Portanto, citamos uma passagem da música “Até quando esperar”, que está na trilha do filme, ao começo dessa resenha.

Três Homens em Conflito (1966) 

domingo, 5 de maio de 2013

Sobre o Filme: SOMOS TÃO JOVENS



Somos tão americanizados
Por Vagner Gomes de Souza

Há uma estranha sensação que nunca se conheceu o a nossa História. Muito menos a relação de nossa História com alguns personagens. Imaginem pensar os anos da Abertura Política (1976 – 1982) na Capital do Brasil! Esse seria um desafio para além da imaginação de muitos jovens e cinquentões dos dias atuais. Portanto, a ousadia do diretor Antonio Carlos de Fontoura foi essa na condução da adaptação da biografia Renato Russo: O filho da revolução para o cinema. Muitos estariam aguardando o impacto dos costumes do universo da Lapa “estadonovista” do filme “A Rainha Diaba” (1974), porém o público juvenil que vai ao encontro dessa nova narrativa de Fontoura nasceu, em grande maioria, após o Plano Real (1994).
São os filhos da americanização em tempos de estabilização que reencontram a Brasília em tempos de Ditadura Militar. Muitos aguardavam um novo e longo Clipe musical, mas assistem os dilemas da classe média brasiliense diante do desmoronamento do “milagre econômico”. A temporalidade do filme é de 1976-1982. Tudo começa na simbólica queda de uma bicicleta entre as quadras da cidade projetada por Oscar Niemeyer em um esforço de relação da câmera do cineasta com a Antropologia Urbana.
Renato Russo ainda é “Reinato” Manfredini. Ele é mais um exemplo das interpretações sobre o papel da personalidade na História presente na literatura marxista russa. Contudo, o diretor deixa que escolhamos a melhor oportunidade de interpretar diante a ebulição do “movimento Punk” na Brasília em fins dos anos 70. O espectador americanizado poderia pensar em simples estilo de se vestir, mas um rápido diálogo no começo do filme demonstra que poderia ser também uma forma de protesto contra a repressão militar. Atenção a referência ao “Sex Pistols” no filme!!!



Pixação do Aborto Elétrico (Banda Punk em tempos de Ditadura Militar)

Se o ABC paulista foi palco das manifestações operárias através das greves, o filme sugere que o chamado “Rock Brasiliense” tenha sido politizado por não apenas pela influência “punk” mas também pelas condições de termos um segmento juvenil diante do dilema de ou dar continuidade aos “anéis burocráticos” emergente da repressão seja no Brasil ou em outras nações (pensem no caso do Guitarrista Petrus do “Aborto Elétrico” ao se apresentar ao serviço militar da África do Sul) ou deixar de ser como nossos pais.
O filme é uma arte de reflexão para os tempos de “neochanchada” do cinema nacional. A escolha da trilha sonora foi muito bem incorporada ao roteiro. “Faroeste Caboclo” ganha um peso de canção universal tanto para as Cidades Satélites que emergiram à margem da americanização perversa em Brasília quanto a vida cotidiana numa Zona Oeste carioca ou na Zona Leste de São Paulo. Mais uma vez a Antropologia Urbana ganha peso na narrativa cinematográfica como um importante papel no diálogo dos liberais com os excluídos.
Fomos tão americanizados que “O Homem de Ferro” ainda ganha filas de espera no duelo com “Somos tão jovens”. Entretanto, há outras possibilidades para o americanismo diante da possível reintrodução da aceitação da pluralidade contra os desvios inquisitoriais do “atraso” que tomou de assalto a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados. É possível uma versão mais democrática que hoje percebemos na consultoria de Hermano Vianna (puxa...o irmão do Hebert que está no filme!!!) ao programa “Esquenta” aos Domingos. Diante de nossa democracia juvenil  “Nem foi tempo perdido / Somos tão jovens”.

domingo, 21 de abril de 2013

"Querida, vou comprar cigarros e volto já" - MINHA OPINIÃO



Experiência e Pobreza na vida de Ernesto

Por Vagner Gomes de Souza

“(...) Podemos agora tomar distância para avaliar o conjunto. Ficamos pobres. Abandonamos uma depois da outra todas as peças do patrimônio humano, tivemos que empenhá-las muitas vezes a um centésimo do seu valor para recebermos em troca a moeda miúda do "atual". A crise econômica está diante da porta, atrás dela está uma sombra, a próxima guerra. A tenacidade é hoje privilégio de um pequeno grupo dos poderosos, que sabe Deus não são mais humanos que os outros; na maioria bárbaros, mas não no bom sentido. Porém os outros precisam instalar-se, de novo e com poucos meios. São solidários dos homens que fizeram do novo uma coisa essencialmente sua, com lucidez e capacidade de renúncia. Em seus edifícios, quadros e narrativas a humanidade se prepara, se necessário, para sobreviver à cultura. E o que é mais importante: ela o faz rindo. Talvez esse riso tenha aqui e ali um som bárbaro. Perfeito. No meio tempo, possa o indivíduo dar um pouco de humanidade àquela massa, que um dia talvez retribua com juros e com os juros dos juros.”
Walter Benjamin (1933)

A Argentina está em “alta” diriam os entusiasmados jornalistas. Messi e Papa Francisco. Futebol e religião seriam os paradigmas mais simples de propaganda para o senso comum em nosso país. Entretanto, a Argentina “política” e “histórica” é nossa desconhecida como tantos outros desconhecimentos nossa sociedade tem sobre nós mesmos. A Argentina é o país sulamericano que já recebeu dois Oscars de Melhor Filme Estrangeiro (“História Oficial”, 1986 e “O Segredo dos seus olhos”, 2010) em Cinema e ainda tem uma presença rarefeita no circuito de distribuição de filmes apesar das recentes renovações de títulos variados em variados gêneros.
Ver um filme Argentino nos obriga a estudar uma nação limítrofe e constatar que muito podemos aprender nesses filmes se estamos inspirados pela aventura da pesquisa no “Google”. Diferentes narrativas cinematográficas tem sugerido que eles não estão satisfeitos com o “kichnerismo” além da recente polêmica do ator Ricardo Dárin referente ao patrimônio da Presidente de seu país. Agora, a comédia “Querida vou comprar cigarros e volto já” dos cineastas Mariano Cohn e Gustavo Duprat não fogem as raízes da reflexão sobre a sociedade política argentina uma vez que os mesmos dirigiram o curioso documentário “Yo Presidente” (2006) com relatos dos candidatos a Presidência da Argentina desde 1983.
Em “Querida, vou comprar cigarros e volto já” (2011), o artigo “Experiência e pobreza” do filósofo alemão Walter Benjamin estaria presente ao trazer a luz o “peso” do passado nos resultado de nossas ações presentes. Então, viria o desafio: “Você aceitaria retornar 10 anos de sua vida com os conhecimentos que tem hoje?”. Uma oferta de provavelmente de um Anjo – não se esqueçam de que Lúcifer é um “anjo caído” – que é personificado num mercador do Norte da África imortalizado por motivos que vão além da estatística. Um filme da Argentina que começa num distante passado em Marrocos prende a atenção do público desde os primeiros minutos.


 O "Anjo Sinistro" (Eusébio Poncela) e Ernesto (Emilio Disi) 


O “pacto sinistro” é oferecido a Ernesto (nome sugestivo para um argentino e para a “esquerda chavista” contemporânea), porém esse é um simples medíocre numa cidadezinha medíocre numa vida medíocre. Aliás, o roteiro permite uma narrativa que nos apresenta ao autor do Conto Original que inspirou o filme. Alberto Laiseca aparece em alguns momentos do filme para comentar as ações dos personagens e suas concepções. Temos a sugestão da influência de Woody Allen no filme argentino diante do passado da mãe que pesa nas lembranças de Ernesto e as referências ao judaísmo. No filme temos a psicanalítica referência materna nas lembranças do personagem que seriam úteis para pensar seu melancólico destino. Além disso, Ernesto é o fracassado que nos faz lembrar os personagens que Allen nos fez rir com seriedade ao longo de sua carreira como diretor. “Alter-ego” do contista argentino captado pelos diretores ou tudo seria ao mesmo tempo para perceber uma sociedade argentina no Divã após anos de “Evita” e nos tempos da “mamãe” Cristina.


Alberto Laiseca


A cada viagem de Ernesto ao passado uma forma de perceber que o tempo é imutável em seus principais fundamentos. Um sujeito histórico limitado sempre será limitado mesmo com a vantagem do conhecimento. Essa seria uma importante lição diante dos fantasmas do passado “peronista” que exorcizam os argentinos. Há uma forma diferenciada de fazer oposição democrática nos Pampas que não perdeu senso de humor. Lições benjaminianas para enfrentar outras variáveis do fascismo no século XXI que é globalizado como se percebe na última cena do filme. Uma convergência a obra de Woody Allen - “Meia-Noite em Paris” - que também é de 2011.

Sobre o filme argentino “Elefante Branco” leiam a crítica abaixo:
http://votopositivo-cg.blogspot.com.br/2013/01/elefante-braco-critica.html

domingo, 14 de abril de 2013

FUSÃO PPS-PMN (OUTROS)


Diretório Nacional Aprova Resolução Política de 13 de Abril

A Política de Oposição e a Morte do PPS
Por Vagner Gomes de Souza[i]

A Conferência Política do PPS, encerrada em 13 de abril de 2013, teve o sugestivo título: “A Esquerda Política pensa o Brasil” e teria o objetivo de formular uma política clara para as forças oposicionistas diante de anos da hegemonia de um liberalismo social (Governos FHC somados aos 10 anos de Governo de Coalizão sob direção do PT). A antecipação da campanha eleitoral de 2014 influenciou na divulgação da Conferência e em algumas intervenções da mesma. No final, a Oposição continuou sem um discurso político que faça sua diretriz na política, pois não ficou claro se devemos aprofundar uma crítica “ultra-liberal” a gestão atual da economia ou se devemos ocupar uma postura à esquerda ao atual governo ou se devemos pautar pela Carta Constitucional de 1988 ou refundar o nacional-desenvolvimentismo Grão-Capitalista ou defender bandeiras temáticas...Enfim, o saldo da Conferência Política foi reafirmar uma UNIDADE sem política uma vez que se evitou um balanço político das ações do Governo no sentido de antecipar o debate eleitoral já que os atores políticos da oposição se sucumbiram na mesma equivocada ação.
Inúmeros políticos de diversas legendas estiveram nas tribunas da Conferência Política do PPS, mas foi raro os momentos em que a invenção política esteve presente. O cálculo eleitoral ou “eleitoreiro” contaminou o debate e as articulações ao longo da Conferência a medida que referência a “Esquerda Democrática” soava mais a um momento de retórica para um público interno. A “fulanização” da política foi uma de suas características mais lamentáveis ao ponto de promoverem uma Enquete sobre quem o PPS poderia apoiar nas próximas eleições presidenciais. A ideia de derrotar o Governo sob hegemonia do PT foi confundido pela política de buscar uma forma de derrotar a Presidente Dilma sem que houvesse uma percepção de que ambos poderiam estar em contradição nesse momento político. As sugestões recentes dos artigos do sociólogo Luiz Werneck Vianna não couberam nas reflexões da Conferência Política do PPS. O discurso oposicionista continua “vazio” e da política democrática. Portanto, as demais consequências e desdobramentos na Reunião do Diretório Nacional do PPS na tarde do dia 13 de abril revelaram o quanto a Oposição está trilhando o caminho impróprio aos antigos valores da formulação da Grande Política do antigo PCB (extinto no seu X Congresso em 1992).
A Resolução Política do Diretório Nacional do PPS de 13 de abril de 2013 é o legado da morte anunciada em tantos momentos da política pecebista na reflexão do PPS. O primeiro parágrafo da mencionada Resolução “fulaniza” a política na passagem “O país vem sentindo as consequências da irresponsabilidade que marcou as gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, (...)”. Um início fraco para uma possível formulação política que indica problemas no campo econômico e institucional. A retórica sem política recai numa denúncia de “golpismo” nas articulações do Governo no Parlamento o que é um perigoso recurso.
Vejam a passagem abaixo:

“(...)Na última semana, por exemplo, o Parlamento foi palco de uma escandalosa tentativa de golpe patrocinada pelo Palácio do Planalto, com pressões para que fosse aprovado um projeto de lei cujo intuito mais evidente é inviabilizar a criação de novos partidos, alterando regras vigentes e praticadas na atual legislatura.” (Grifos nossos)

Na verdade, trata-se de uma postura casuísta patrocinada pelo Governo e alguns partidos governistas (nunca citados na Resolução e a título deque temos essa ausência de nomeação) referente a regulamentação de uma postura sobre criação e/ou fusão de partidos políticos para inibir determinadas “janelas”. Contudo, já houve momentos que o mesmo PPS questionou esse processo de perda de tempo e recursos do Fundo Partidário que estaria sendo vedado na mencionada lei. Lembrem-se do caso da época da formação do PSD. Portanto, seria interessante dosar na retórica em relação a crítica ao “golpismo” pois trata-se de umas das consequências políticas da antecipação do debate eleitoral de 2014 no Parlamento brasileiro. Até o “Baixo Clero” renasceu na Comissão de Direitos Humanos com a inapropriada eleição do Deputado Federal Marcos Feliciano (PSC-SP) a sua Presidência, porém não podemos confundir esse outro casuísmo com “golpismo”. Sugerimos que a Resolução Política “aterroriza” para justificar seu próprio casuísmo político de convocar um Congresso Extraordinário na próxima quarta-feira (17-04) para numa fusão com o PMN e/ou outra ou outras agremiações políticas. A palavra “golpe” é mais presente na retórica diante de um estranho silêncio sobre “A esquerda democrática pensa o Brasil”.
Tudo indica que a “esquerda democrática” está anos-luz de distância dessa fusão sem política que faz os saudosos da cultura pecebista relembrar que o Golpe de 1964 encontrou na esquerda seus limites para pensar a democracia. A Frente Democrática construída no antigo MDB foi uma invenção que superou tantas limitações na Legislação de Organização dos Partidos Políticos uma vez que tinha um programa de oposição claro para ser apresentada a sociedade. Hoje, a retórica sobre o “golpismo” é em defesa do que? A passagem abaixo pode indicar algo sobre isso:

“(...)a tentativa de golpe busca atingir o PPS e o PMN, que vêm discutindo abertamente, já há alguns anos, a possibilidade de fusão e a criação de um partido de esquerda democrática. (Grifos nossos)

Uma postura de defesa do “corporativismo partidário” diante da ausência de um programa de reformismo forte. Há diversos exemplos de que trata-se de uma forma disfarçada de “janela da infidelidade” em benefício de parlamentares descontentes na “partilha” da hegemonia do Poder. Afinal, as coligações políticas não foram proibidas. Logo PPS e PMN poderiam estra aliados nas próximas eleições parlamentares. O PPS e o PMN poderiam formar um BLOCO no Parlamento Brasileiro para defender um Programa Alternativo de Oposição. Os partidos citados e outros poderiam manter suas identidades programáticas até as próximas eleições, porém desejam uma “fusão” sem política de oposição. Uma nova sigla para a “acomodação” de políticos reconhecidos na sociedade pelo pragmatismo uma vez que não lemos nenhum Manifesto Político convocando parlamentares de qualquer segmento político. Fica a dúvida no ar. Seja de Esquerda, Centro ou Direita, todos seriam bem vindos ao PCB (Partido da Confusão Brasileira) desde que afirmem ser oposição?
A morte do PPS nessa conjuntura é mais um sinal de antecipação da derrota da Oposição nas próximas eleições. Não se alimenta uma formação de opinião política sobre a situação que a sociedade está vivendo diante da carestia nos Supermercados. O importante é “correr contra o relógio” pensando que antecipar os fatos em política garante a garantia de uma “virtu”. O PPS não poderia sair do cenário político brasileiro nesse momento sem que tenha feito um balanço sobre os caminhos a seguir a Esquerda Democrática. Esse era para ser tempo de Refundação ao contrário de fusão. O Governo teria mais dificuldades de se firmar no campo da “centro-esquerda” se o PPS resgatasse a memória da Transição Democrática. Contudo, a sobrevivência dos mandatos de Parlamentares em aliança com a antiga “máquina partidária” está falando mais alto diante dos gritos que a falta de reflexão política. Essa morte joga uma História ao esquecimento em benefício das “hienas” que circulam na “Pântano” do Parlamento Brasileiro.



[i] Mestre em Sociologia pelo CPDA-UFRuralRJ e ex-militante do PCB de 1985 até 1992.

domingo, 31 de março de 2013

CÉSAR DEVE MORRER




A Política precisa Renascer

Por Vagner Gomes de Souza

Uma peça do Renascimento é inspiração para um Laboratório de Teatro num Presídio de Segurança Máxima na Itália (Rebibbia). Trata-se de “Júlio Cesar” do dramaturgo inglês William Shakespeare que inspirou o premiado “César deve Morrer”, ganhador do Urso de Ouro de Berlim de 2012. Dirigido pelos octogenários irmãos Paolo e Vittorio Taviani, o filme coloca em cena presidiários condenados por assassinatos, participação na Máfia, narcotráfico, etc. A sensibilidade do filme é muito inspiradora para aqueles que debatem politicamente os Direitos Humanos. Isso é marcada pelo predomínio do Branco&Preto no primeiro filme digital dos irmãos Taviani. Uma peça densamente dramática que gira em torno de um “tiranocídio” e seus desdobramentos deixa o expectador numa prévia tensão sobre o desenvolvimento do roteiro.
Em “César deve Morrer” a tensão aparece em elementos muito sutis e quase que atomizados. A caminhada do público para a o mundo da liberdade enquanto os detentos/atores vão para as celas. A forma em que os detentos/atores são apresentados. As falas em dialetos italianos quando um detento/ator responde “sou um cidadão do mundo”. O teatro do presídio em reforma, o que faz os ensaios ocorreram em espaços do complexo penitenciário. Uma rude discussão entre dois atores/personagens que não impede a volta ao centro. Seriam os exemplos marcantes de um filme que ensina o exercício do perdão pela arte da política ou seria a política pela arte.


Atores/detentos numa das cenas do filme

Surpreendente que “César deve Morrer” seja um filme de uma Itália em constante impasse político como a Roma do Século I A.C.. A Itália da crise de formação de um Gabinete após uma eleição parlamentar. Os ensinamentos do filme dos irmãos Taviani não chegaram a formação de atores políticos em plena capacidade de surpreender na política italiana. O Testamento de César incomoda o mundo da política contemporânea que está cada vez mais para “Romeu e Julieta” para lembrarmos-nos de outro drama de Shakespeare. Afinal, testemunhamos momentos de polarizações diante de uma “esquerda” que se cindiu entre o desencanto weberiano ou a ideologização. Assim, os temas contemporâneos não estão sendo reconhecidos nas instituições políticas aprofundando um fosso entre a sociedade e o Estado Democrático.
Nossa situação brasileira também teria muito que aprender ao assistir o filme “César deve Morrer” diante das opções polarizadas assumidas pelas duas vertentes em debate por exemplo na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. A eleição de um representante do “baixo clero” a Presidência da citada Comissão foi fruto da renúncia de atores políticos envolvidos no debate valorativo do segundo turno de 2010. Esse é um ponto que emergiu das sombras da confusa interpretação sobre a variável PL 122 (Criminalização da Homofobia entre outros temas) na campanha presidencial diante da submissão das candidaturas do PT e do PSDB ao compromisso com valores não republicanos. Agora, volta aos políticos a fala: “Ser ou não ser. Eis a questão!”




Está faltando política para fazer a Comissão de Direitos Humanos funcionar, pois interessaria aos grandes atores políticos a manutenção da ausência do debate político. Os setores da sociedade civil identificados com as causas dos Direitos Humanos devem buscar a serenidade dos detentos/atores de “César deve Morrer” para fazer a política Renascer. Uma possível saída seria formular uma pauta de trabalho sobre a situação da população carcerária no Brasil, o que é um ponto de ação comum com a atuação dos religiosos e militantes dos Direitos Humanos. Trata-se de um momento de reconhecer os pontos comuns: dignidade nas prisões, condenação a pena de morte, oposição a redução da faixa etária para a penalidade, uma política humana para casos da falta de acessibilidade e inclusão dos portadores de necessidades especiais, etc. A lista de possíveis pontos comuns é imensa se souberem exercer a política sem polarização ao contrário de “pós-modernos esquerdismos” que sugerem a renúncia dos parlamentares a atuação política na Comissão.

SERVIÇO: Se você mora no Rio de Janeiro e não assistiu ao filme “César deve Morrer”, nossa dica é que assista logo pois está em “fim de linha” no Circuito Carioca.
Semana – 29/03 – 05/04
Cine Santa Teresa: 14 h, 17:30 h
Estação Botafogo 3: 19:50 h

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

LINCOLN - CRÍTICA AO FILME


Lincoln: O Resgate de O Príncipe
Por Vagner Gomes de Souza

“(...) Enquanto os operários, as verdadeiras forças [powers] políticas do Norte, permitiram que a escravatura corrompesse a sua própria república, enquanto perante o Negro — dominado e vendido sem o seu consentimento — se gabaram da elevada prerrogativa do trabalhador de pele branca de se vender a si próprio e de escolher o seu próprio amo, foram incapazes de atingir a verdadeira liberdade do trabalho ou de apoiar os seus irmãos Europeus na sua luta pela emancipação; mas esta barreira ao progresso foi varrida pelo mar vermelho da guerra civil.
Os operários da Europa sentem-se seguros de que, assim como a Guerra da Independência Americana iniciou uma nova era de ascendência para a classe média, também a Guerra Americana Contra a Escravatura o fará para as classes operárias. Consideram uma garantia da época que está para vir que tenha caído em sorte a Abraham Lincoln, filho honesto da classe operária, guiar o seu país na luta incomparável pela salvação de uma raça agrilhoada e pela reconstrução de um mundo social.
Carta de Karl Marx para Abraham Lincoln (22-29 de Novembro de 1964)

O diretor Steven Spielberg mais uma vez provoca os sectários do campo ético lembrando que a ação política é uma atuação num terreno em resposta ao mundo real. Surpreendente as comparações “anacrônicas” de jornalistas/colunistas sobre cinema ao comparar as articulações para a aprovação da Décima Terceira Emenda da Constituição dos EUA e aos fatos políticos que levaram ao chamado “mensalão” no Primeiro Governo petista. Exageros da linguagem jornalística que acabam por limitar as grandes lições que o filme concorrente de 12 Oscars nos impõe. Lamentamos que esses pretensos especialistas em cinema não tenham mencionado que em 1993 o mesmo diretor brilhou na direção de “A Lista de Schindler” (1993) que narrava os métodos “corruptos” do empresário alemão Oskar Schindler salvar uma parcela considerável de judeus dos horrores do Holocausto.
Fazer comparações simplistas em Lincoln desvia o expectador da atualidade da política americana polarizada pelos Democratas (agora no Governo) e os Republicanos (majoritários na Câmara dos Representantes). Uma polarização que está presente em diversos pontos: Reforma da Saúde, Limites das Vendas de Armas, Orçamento, etc. O primeiro mandato do primeiro presidente negro dos EUA não foi simples diante dessa polarização acompanhada por uma continuidade dos reflexos da crise econômica de 2008. Lembre-se que Spielberg lança um filme sobre a Aprovação de uma Emenda que libertou os Escravos e muitos críticos temiam que os negros depois começassem a votar. Imaginem se eles soubessem do futuro.
Fazer prognósticos sobre o futuro é uma sutileza do filme. Lutar pela aprovação de uma Emenda em “curto tempo” diante dos possíveis impactos imediatos da eminência do fim da Guerra Civil Americana. O fim da escravidão impôs uma nova condição para a “Reconstrução” da unidade nacional federativa dos EUA. Assessores não compreendiam essa rápida avaliação do Presidente Lincoln. Ator e tempo em processo de longa duração estão presentes nesse filme. Digamos que Spielberg, depois de resgatar a memória da invasão da Normandia em “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), agora realiza o resgate da Política nascida em Nicolau Maquiavel.

domingo, 13 de janeiro de 2013

NO - CRÍTICA AO FILME



Sem Medo de ser Alegre
Por Vagner Gomes de Souza
“Não deve ser, portanto, crédulo o príncipe, nem precipitado, e não deve amedrontar-se a si próprio, e proceder equilibradamente, com prudência e humanidade, de modo que a confiança demasiada não o torne incauto e a desconfiança excessiva não o faça intolerável.”
Nicolau Maquiavel, O Príncipe.
O que o Chile teria a ensinar ao Brasil? O que o Brasil ensinou ao Chile em termos de transição política? Essas seriam duas perguntas que devem encantar aos especialistas acadêmicos brasileiros ao estudar a história chilena. O filme “No”, de Pablo Larraín, demonstra a força de um individualismo em processo de longa duração. A luta pela democracia em momento de americanização perversa.
Se a “revolução dos interesses” emergiu no interior da Ditadura Militar brasileira ao ponto de testemunharmos ao nascimento de um partido político após as greves do ABC, a campanha do Plebiscito de 1988 no Chile teria captado essa “revolução dos interesses” que estaria silenciada na sociedade por uma anacrônica polarização política diante de uma economia vencedora. Fugir da polarização política seria uma forma de captar os ganhos individuais de uma “nova economia”. O filme “No” instiga a pensar numa manifestação política antiditadura Pinochet próxima ao paradigma do individualismo metodológico proposto por John Elster.
No Brasil, o “sindicalismo de resultados” é anterior a publicidade política de um Duda Mendonça. Numa chave oposta, a “transição política de resultados” seria um processo posterior ao “marqueteiro” René Saavedra. Elementos de psicologia social em cenários políticos estariam presentes naqueles anos. A democratização chilena seria uma conquista para o indivíduo viver alegre no futuro.




“No” é um filme instigante nesse sentido. Os velhos atores políticos da oposição chilena estão expostos ao anacronismo de sua mensagem para a sociedade (qualquer semelhança com outras oposições políticas seria mera coincidência?). Particularmente inicialmente há uma rejeição das mulheres e da juventude ao Plebiscito e/ou campanha do No. Justamente os segmentos mais “abertos” as novidades e modas do mercado e tecnologia. Então, a linguagem da publicidade refunda essa oposição onde a “ética da convicção” foi cedendo espaço para a “ética da responsabilidade”.
Seria puro oportunismo? Seria René mais um ex-exilado político que se virou mercenário? Afinal, por que fazer uma campanha sem o objetivo de ganhar? Essas perguntas surgem em nossas mentes enquanto assistimos ao filme e compartilhamos da luta individual do protagonista em reconquistar o Amor da mãe de seu filho. Uma trama secundária que demonstra que o sucesso publicitário não lhe conferiu ganho na intimidade diante da cultura política ao qual sua ex-mulher era filiada.
As peças publicitárias da campanha do No são originais e foram inseridas na narrativa do filme sem que percebamos. Uma técnica cinematográfica que gradualmente dialoga com as convicções do público: qual seria o mal menor? A cópia da cópia da cópia da cópia da cópia....A sociedade já estaria pasteurizada e cada vez mais individualizada na condição de consumidor. Assim, os atores políticos foram transformados em cores de “arco-íris” numa mesma concertação. Porém não se enganem com o protagonista uma vez que ele também é sectário. Uma cena do filme ilustra esse sectarismo com a presença do líder da Democracia Cristã nas gravações da campanha. Então, mais uma vez, é a cultura política das alianças que aparece pela boca de um personagem identificado com o “comunismo” e faz prevalecer a política de unidade.
Alguns diriam que o filme reflete os tempos da pós-modernidade na política. “No” teria observado uma antecipação desses novos tempos no Chile onde o discurso político vira um produto a ser “vendido”. A escolha política estaria no mesmo nível que apresentar as vantagens do micro-ondas ou do Tablet nos dias atuais. Contudo, a cena de uma pichação na casa do publicitário o acusava de ser um marxista. Então, lembremos que Karl Marx foi instigante ao fazer a crítica da economia política no primeiro capítulo de O Capital dedicado “A Mercadoria”.

ELEFANTE BRANCO - CRÍTICA




A Busca do Milagre
Por Vagner Gomes de Souza
Seria um “milagre” o filme “Elefante Branco” ser exibido em qualquer sala de cinema na Zona Oeste carioca. Uma triste conclusão diante de uma antropologia local repleta de ações individuais inspiradas nos anseios da salvação pela fé. Nem a expectativa da visita do Papa Bento XVI na Jornada Mundial da Juventude auxilia nesse fenômeno sobrenatural. Afinal, o filme tem lições aos moradores que se orgulham de receber um empreendimento comercial capaz de ser um dos maiores shoppings da América Latina (ainda sem cinema; ainda sem teatro; ainda sem livraria). A carência pode ser a fonte psicológica dos que anseiam por milagres nos processos políticos sem “ator”.
Após o diagnóstico de um possível câncer na sociedade, falemos de um filme que começa na Amazônia Peruana junto ao tema mariateguiano dos indígenas. “Elefante Branco” leva o expectador até a periferia de Buenos Aires. O Padre Julian, muito bem interpretado pelo ator Ricardo Darín, faz a narrativa de mais um  “sonho socialista”: a construção de um Hospital Público proposto pelo primeiro legislador socialista da América, Alfredo Palácios. Idas e vindas fizeram do “sonho” uma obra inacabada que ganhou o apelido de “elefante branco” e deu origem a mais um conjunto de favelas.
Diante de diversos problemas sociais, o milagre poderia estar próximo a realizaçãon com o uma nova obra pública de reassentamento urbano. Saúde e moradia popular. Contudo, os sujeitos sociais de “Elefante Branco” vivem num purgatório diante da falta de perspectiva para a juventude que nem estuda e nem trabalha, das goteiras da Capela em dias de chuva, da violência, das ruas de lama, dos atrasos do pagamento aos operários da construção civil, da cúpula da Igreja Católica interessada na beatificação de um Padre assassinado em plena ditadura militar, etc. Em tempos de kichenerismo, seria uma visão profunda dos dilemas da fé na ação social.
A tensão social do filme “Elefante Branco” ajuda a despertar uma fé na necessidade de uma ação política. O Padre Julian vai expor os limites de viver a conjuntura apenas como expectador. A cúpula da Igreja Católica é surpreendida por sua atitude ao se unir aos moradores de sua paróquia quando a obra pública é mais uma vez suspensa. A velocidade das ações gradualmente ganha velocidade semelhante ao filme “Cidade de Deus” até ao momento da “redenção”. Se Jesus deu a vida para salvar a humanidade, outros seguem esse exemplo para deixar herdeiros para uma transformação social sem os Centros Sociais costumeiros que testemunhamos na Zona Oeste carioca e alhures. Porém, esse seria outro milagre.

domingo, 23 de dezembro de 2012

ELEIÇÕES EM ISRAEL

Foto: Parlamento em Israel

Israel: o fanatismo de coalizão

Por Vagner Gomes de Souza

Em janeiro do próximo ano haverá eleições antecipadas ao Parlamento de Israel que escolherá mais um mandato de Primeiro-Ministro. A possível reeleição de Benjamin Netanyahu sugere novos caminhos da mobilização do tema da religião ao cenário da política eleitoral. Portanto, apesar de distante geograficamente, as eleições legislativas em Israel poderá ser acompanhada como uma chave interpretativa sobre as ações políticas em sociedades influenciadas pela americanização como sugerimos no caso do Brasil (o leitor poderia ainda imaginar no “laboratório da micropolítica” da Zona Oeste carioca).
As eleições legislativas de Israel são fragmentárias. Por exemplo, após o êxito eleitoral do Labour Party em 1992 que obteve 34,7% dos votos, nenhum grupo partidário ultrapassou a marca dos 30% dos votos nas eleições posteriores (1996, 1999, 2003, 2006, 2009). Observamos um gradual “esvaziamento da base eleitoral” do Labour Party que não significou num consequente crescimento da esquerda. Pelo contrário, os votos do Labour Party e do conservador LIKUD se fragmentaram em diversas organizações políticas de vocação religiosa extremista enquanto surgiu uma “terceira via” política representada pelo “centrista” KADIMA.
Nas eleições de 2009, o Labour Party e o KADIMA cederam “espaço político” em relação as eleições de 2006 a medida que o Likud e Yisrael Beiteinu ganharam força. Identificamos no “movimento neo-sionista” do Yisrael Neitenu uma “nova direita” que emergiu em Israel com base na imigração de judeus originários do pós-fim União Soviética sob a liderança de Avigdor Lieberman. Nesse momento o Likud reassume o Governo de Israel com essa aliança mais à direita mas, sejamos claros, defensora de um reconhecimento do Estado da Palestina desde que profundamente enfraquecido em comparação até ao Tratado de Oslo.
Outras organizações políticas se somaram a coalizão de “centro-direita” com vocação fundamentalista religiosa além da participação de uma dissidência do decadente Labour Party. Essa dissidência se autodenominou “centrista” com o nome de Independent Party sob a liderança de Ehud Barak. As alianças assumiram um cálculo cada vez mais pragmático com diversas organizações seculares difundindo seu “fanatismo” centrista, mas se aliando aos “fundamentalismo” judaico, o que impede em muito a reorganização de uma força política de “centro esquerda” ter viabilidade eleitoral. Nas próximas eleições o pragmatismo do LIKUD vive o “dilema do prisioneiro” das propostas fundamentalistas e, consequentemente, ganha as eleições sem se impor politicamente. Os novos sujeitos sociais provavelmente estariam se impondo nessa reconfiguração da política israelense sob influência do “fundamentalismo religioso”.
Algo sugestivo se compararmos com algumas disputas eleitorais no Estado do Rio de Janeiro (vejam a “virada eleitoral” do PR no Segundo Turno em São Gonçalo nas eleições de 2012 com apelos ao neopetencostalismo e as campanhas proporcionais na Zona Oeste carioca). Não é estranho observarmos eleitores nessas regiões que falam sobre o povo de Israel como o “povo escolhido” segundo o Velho Testamento a viver numa Terra Prometida que fazem a mesma ponte com “Nova Sepetiba” ou as novas habitações do Programa Minha Casa Minha Vida. Tema que mereceria um estudo empírico aos “mapeadores eleitorais” da Ciência Política.