terça-feira, 16 de julho de 2024

BOLETIM BRASÍLIA CONECTION - BBC 050 - TIROS NA PENSILVÂNIA

Tocaia Grande Norte-Americana.

Vagner Gomes de Souza[1]

 

A Pensilvânia é um estado que há décadas sofre com os dilemas da desindustrialização norte-americana que empurrou muitos jovens para a migração interna em busca de novas perspectivas em décadas de fuga da indústria têxtil e da crise do carvão e da siderurgia. Um típico caso de desorganização da produção capitalista que abriu uma transição com impactos profundos nos quais se observou um investimento na educação na última década do século passado para promover a diversificação da sua economia. Trata-se de um dos cinco “estados-chave” nas eleições norte-americanas (Michigan, Arizona, Nevada, Geórgia são os outros) que se faz pelo sistema de colegiado eleitoral. A candidatura de Trump já se consolidava nesses estados e a lerdeza da candidatura a reeleição praticamente se faz perceber na gravidade dos desafios a democracia.

Observamos um estado com as características do “cinturão da ferrugem” nos quais a classe trabalhadora se sente deixada em segundo plano pelos governos do chamado “sistema”. Os eleitores do projeto MAGA trouxeram eleitores democratas para o populismo trumpista. Todavia, a juventude segue sua caminhada abalada por uma ausência sobre as consequências da pandemia da COVID 19 na sua saúde mental. Muito mencionada nas falas das candidaturas legislativas americanistas que instrumentalizam seus interesses individualizados. Identidades num universo cultural do discurso do ódio, como estudado por Jeremy Waldrom[2], nos impõe maior cuidado aos comentários sobre os possíveis impactos do incidente no Condado de Butler às vésperas da Convenção dos Republicanos.

As manifestações das forças democráticas pontuaram para os equívocos do de atitudes extremistas alimentadas pela violência ao mesmo tempo em que o “herói predestinado” não se materializou nas horas posteriores. O eleitor “independente” viu no jovem atirador o perfil daqueles que alimentam as atitudes contrárias a limitação a liberdade do uso e porte de armas. No mesmo estado, em 2006, um caminhoneiro de 32 anos invadiu uma escola Amish no Condado de Lancaster queria que as vítimas fossem meninas, por isso amarrou as mãos delas e as pôs em fila diante do quadro-negro, para matá-las com tiros na cabeça. Nunca saberemos suas verdadeiras motivações mentais assim como a do jovem de 20 anos que subiu a laje para dar os disparos num comício de Donald Trump.

Contudo, a liberdade de acesso a arma é muito naturalizada ao ponto de um jovem do Clube de Tiro da High School prestar uma entrevista sobre o perfil do jovem atirador. As trilhas formativas num Clube de Tiro demonstra que os investimentos da Pensilvânia em educação foram um “tiro no escuro” uma vez que uma Menção Honrosa em matemática não afastou o jovem do desejo de praticar o tiro. Esse seria um alerta para aqueles que não percebem que uma economia local em transição sem o olhar da educação não impacta na vida de toda a sociedade. Enfim, sobrou aos Democratas o “bagaço da laranja” diante das adversidades de uma candidatura retrógrada na política externa e distante dos eleitores da juventude.

Errados aqueles que teceram paralelos com a polarização por parte da candidatura favorita para as eleições de novembro. A mensagem da escolha do seu companheiro de chapa demonstra que o mesmo está observando os sinais eleitorais da França e Inglaterra aonde as forças da frente democrática isolaram as opções mais a direita. A retórica iliberal não impede que se abra um espaço para se posicionar ao centro político mediante a valorização da pauta do liberalismo econômico e social. Nenhuma intervenção político, pois o mercado precisa fazer a roda financeira circular sem os “solavancos” de uma Guerra Civil. Entretanto, a Democracia norte americana ainda se encontra tocaiada, pois inúmeros sujeitos sociais provavelmente se afastem desse processo eleitoral empurrando o legislativo para uma composição mais reacionária. O tempo urge por uma atitude de grande política por parte de Joe Biden.



[1] Doutorando no PPGCP-UNIRIO.

[2] WALDRON, Jeremy.  Ver o Ch 1. In The harm in hate speech. Cambridge-Mass., Harvard University Press, 2012.

Um comentário:

José Bezerra de Oliveira disse...

O tiro no Trump foi a facada no Bolsonaro?