Tocaia
Grande Norte-Americana.
Vagner Gomes de
Souza[1]
A Pensilvânia é um
estado que há décadas sofre com os dilemas da desindustrialização
norte-americana que empurrou muitos jovens para a migração interna em busca de
novas perspectivas em décadas de fuga da indústria têxtil e da crise do carvão
e da siderurgia. Um típico caso de desorganização da produção capitalista que
abriu uma transição com impactos profundos nos quais se observou um
investimento na educação na última década do século passado para promover a
diversificação da sua economia. Trata-se de um dos cinco “estados-chave” nas
eleições norte-americanas (Michigan, Arizona, Nevada, Geórgia são os outros)
que se faz pelo sistema de colegiado eleitoral. A candidatura de Trump já se
consolidava nesses estados e a lerdeza da candidatura a reeleição praticamente
se faz perceber na gravidade dos desafios a democracia.
Observamos um estado
com as características do “cinturão da ferrugem” nos quais a classe
trabalhadora se sente deixada em segundo plano pelos governos do chamado “sistema”.
Os eleitores do projeto MAGA trouxeram eleitores democratas para o populismo trumpista.
Todavia, a juventude segue sua caminhada abalada por uma ausência sobre as
consequências da pandemia da COVID 19 na sua saúde mental. Muito mencionada nas
falas das candidaturas legislativas americanistas que instrumentalizam seus interesses
individualizados. Identidades num universo cultural do discurso do ódio, como
estudado por Jeremy Waldrom[2],
nos impõe maior cuidado aos comentários sobre os possíveis impactos do
incidente no Condado de Butler às vésperas da Convenção dos Republicanos.
As manifestações das
forças democráticas pontuaram para os equívocos do de atitudes extremistas
alimentadas pela violência ao mesmo tempo em que o “herói predestinado” não se
materializou nas horas posteriores. O eleitor “independente” viu no jovem
atirador o perfil daqueles que alimentam as atitudes contrárias a limitação a
liberdade do uso e porte de armas. No mesmo estado, em 2006, um caminhoneiro de
32 anos invadiu uma escola Amish no Condado de Lancaster queria que as vítimas
fossem meninas, por isso amarrou as mãos delas e as pôs em fila diante do
quadro-negro, para matá-las com tiros na cabeça. Nunca saberemos suas verdadeiras
motivações mentais assim como a do jovem de 20 anos que subiu a laje para dar
os disparos num comício de Donald Trump.
Contudo, a liberdade de
acesso a arma é muito naturalizada ao ponto de um jovem do Clube de Tiro da
High School prestar uma entrevista sobre o perfil do jovem atirador. As trilhas
formativas num Clube de Tiro demonstra que os investimentos da Pensilvânia em
educação foram um “tiro no escuro” uma vez que uma Menção Honrosa em matemática
não afastou o jovem do desejo de praticar o tiro. Esse seria um alerta para
aqueles que não percebem que uma economia local em transição sem o olhar da
educação não impacta na vida de toda a sociedade. Enfim, sobrou aos Democratas
o “bagaço da laranja” diante das adversidades de uma candidatura retrógrada na
política externa e distante dos eleitores da juventude.
Errados aqueles que
teceram paralelos com a polarização por parte da candidatura favorita para as
eleições de novembro. A mensagem da escolha do seu companheiro de chapa
demonstra que o mesmo está observando os sinais eleitorais da França e
Inglaterra aonde as forças da frente democrática isolaram as opções mais a
direita. A retórica iliberal não impede que se abra um espaço para se
posicionar ao centro político mediante a valorização da pauta do liberalismo econômico
e social. Nenhuma intervenção político, pois o mercado precisa fazer a roda
financeira circular sem os “solavancos” de uma Guerra Civil. Entretanto, a
Democracia norte americana ainda se encontra tocaiada, pois inúmeros sujeitos
sociais provavelmente se afastem desse processo eleitoral empurrando o
legislativo para uma composição mais reacionária. O tempo urge por uma atitude
de grande política por parte de Joe Biden.
Um comentário:
O tiro no Trump foi a facada no Bolsonaro?
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