Lacerdismo
a doença infantil do sectarismo carioca
Vagner Gomes de
Souza[1]
Poucas semanas nos
separam das eleições municipais e ainda observamos que muitos
analistas/militantes atribuem que no caso carioca é momento de fortalecer o
tema da democracia. A ideia é uma tímida forma de declarar apoia a relevância
do centro político no arcabouço da reconstrução do município que já foi a
Capital do país. A nacionalização para justificar um apoio sem pontuar os
compromissos programáticos. Adesismo não é uma boa escola para a prática da democracia
ainda mais se vier de personalidades que se identificam como da Esquerda.
Por outro lado, há uma
mobilização ainda mais vazia que faz ressurgir o moralismo do lacerdismo em
suas críticas a alianças favoráveis a reeleição do atual Prefeito. Esses “neolacerdistas”
da classe média carioca e/ou funcionalismo público tijucano e seus assemelhados
se consideram a verdadeira esquerda. Anunciam que estão “sempre alertas” as
aproximações que atribuem como desqualificadoras do apoio a gestão municipal
que tem buscado fazer o Rio de Janeiro superar sua grave crise. Uma crise
gravíssima que o assim autodenominado candidato da “saída pela esquerda” acha
que a “mágica” dos números do IPTU seria uma solução viável.
A política não pode
conviver com o fanatismo de convicções que se negam a perceber a realidade.
Governar uma cidade cosmopolita como o Rio de Janeiro não pode se fazer como se
fosse a pregação do Beato José Maria ao liderar a Guerra do Contestado.
Precisamos exorcizar esse lacerdismo político da cultura política da Zona Sul
carioca que não consegue dialogar para além do Tunel Vice-presidente José de
Alencar – se esquecem que as voltas da política real se faz sempre. Então, fazer
insinuações contrárias a determinadas alianças é um sectarismo que cheira muito
do oportunismo.
“O Senhor é meu Pastor
e minha bancada não diminuirá”. Esse é o salmo eleitoreiro desses sectários
infiltrados em cargos comissionados que temem voltar a realidade de não terem
nem emprego e nem uma bolsa CAPES/CNPQ para se sustentar. Portanto, fazem uma
oposição por fazer uma “guerra de posição” de leitura tortuosa de Gramsci para
justificar manter ou ampliar uma bancada de vereadores que se caracteriza por atuar dialogando aos bastidores com aquele que dizem fazer oposição. Então,
pedem a transparência política como fiscais do caos na política, mas desejam se
manter nos gabinetes como uma “burocracia de militantes” distantes cada vez
mais dos cariocas.
Na verdade não aceitam
as convergências e divergências que perpassa uma Frente Democrática uma vez que
a mesma nunca fez parte da “cultura política” do lacerdismo carioca uma vez que
o original Carlos Lacerda, no máximo, aderiu a uma Frente Ampla. Portanto, lamentamos
que não haja uma esquerda democrática coerente e programática nas eleições
cariocas, mas um mosaico de “adesismo” e “neolacerdismo” que defendem a
maximização de cargos de DAS seja no executivo ou no legislativo. Não
alimentemos ilusões com esses atalhos narrativos uma vez que não atingem a
grande parcela da sociedade.
Aliás, em que ganhamos
democraticamente ao desqualificar um líder político evangélico e conservador
que se afastou do bolsonarismo carioca? Devemos reler um pouco melhor A Carta Acerca da Tolerância de John
Locke para fazer uma prática política que assimile o crescimento dos
evangélicos na cultura política carioca. O conservadorismo se afastar daquilo que
chamam de extremismo de direita é uma vitória política que devemos contribuir
para consolidar pelas vias do pluralismo. Esse sectarismo pode fazer que houvesse
uma “reação termidoriana” nas eleições ao legislativo carioca aonde o voto de
veto se faça presente na nova representação legislativa carioca. Portanto,
relembremos o saudoso Vianinha, um pouco de pessedismo não faz mal a ninguém.
Acrescentemos que um pouco de emedebismo ajudaria tanto aos cariocas quanto aos
“paulistes”.
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