As
escolhas políticas na sucessão carioca
Vagner Gome de
Souza[1]
Nos tempos de ausência
da democracia, o Vice-presidente Aureliano Chaves afirmou que o “Vice não é
nada!” um momento que provavelmente marcaria seu afastamento do regime militar
até apoiar a Aliança Democrática sob a cabeça de chapa de Tancredo Neves que
teve a consciência política da moderação ao convidar José Sarney para seu
companheiro de chapa. Diferente do bordão de Jô Soares (“Vice não é nada.
Tirando Aureliano, que fala, o resto, ó!…”); numa eleição majoritária a escolha
da candidatura a Vice pode em muito contribuir para influenciar os resultados
eleitorais. O comportamento político e eleitoral da sociedade pode ser observado
nesses momentos de anúncio. Muitas vezes a escolha se faz de uma forma “mecânica”
o que não indica que tenha resultados perceptíveis.
Não há o melhor momento
para o anúncio de uma candidatura a Vice. A dobradinha Lula-Alckmin, que uniu
dois adversários políticos numa Frente Democrática, foi anunciada muito antes
das convenções partidárias para acalmar os prantos de “gregos e troianos” que
teimavam na linha política da Frente de Esquerda com a falcatrua da Frente
Ampla. Em muitos casos, por conta de correlações partidárias complexas ou para
alçar a dinâmica da campanha eleitoral o anúncio da candidatura a Vice se faz
quase que ao limite do que se é permitido pela legislação eleitoral. O
fundamental é que os dois nomes tenham sintonia política e não seja uma
imposição de circunstâncias. A bela bibliografia política do candidato a Vice
muitas vezes não soma votos a um processo político que já esteja comprometido
como vimos na sucessão estadual do Rio de Janeiro numa das candidaturas de
oposição.
A clareza programática
também se faz necessária ao ponto que crie uma sinergia de forças políticas
renovadoras até as eleições. Portanto, muitas vezes, buscar um Vice pela tabela
do perfil do eleitorado é um risco político se não houver a percepção do
eleitor de que aquela dobradinha soar como uma escolha artificial por indicação
de um nome externo ao processo. Esse é um dos desafios de uma das candidaturas
de oposição a sucessão carioca ao considerar que o “peso eleitoral” do segmento
evangélico, negro e feminino transfere votos para sua candidatura pela escolha
de uma Deputada Estadual sob o patrocínio de um antigo Presidente da Câmara dos
Deputados. Ou seja, bons nomes políticos muitas vezes surgem em contextos
políticos desfavoráveis uma vez que se antes o questionamento era em relação ao
desconhecimento da cultura política carioca do adversário da oposição agora se
acrescenta com a indicação feita pelos “Laboratórios de Consultorias Políticas”
sem levar em consideração aos ensinamentos de Maquiavel.
Eleições ainda têm
muito de elementos da “fortuna” e também da “virtú”. Nas palavras do pensador
de Florença, “o primeiro método para estimar a inteligência de um governante é
olhar para os homens que tem à sua volta.” Esse é um fator determinante nas
escolhas políticas na sucessão carioca porque temos que demonstrar que passamos
pelo “furacão” das contas públicas municipais, mas o cenário no futuro não é de
calmaria. Portanto, a experiência passada para uma equipe de Governo é
determinante para que o Rio de Janeiro não busque atalhos numa nacionalização
do voto que simplesmente nos empurraria para a ausência do debate programático.
Sabemos em muito que alguns opositores se movem pela ganância por negociações
no futuro.
Consequentemente, a
candidatura à reeleição de Eduardo Paes num conjunto de forças políticas
aliadas suprapartidárias fez uso da sabedoria do autor de O Príncipe uma vez que “quando um homem é bom amigo, também tem
amigos bons.” O anúncio de seu companheiro de chapa demonstra muito a prudência
da política associada a possibilidade de renovação dos quadros políticos
carioca com nomes que sejam abertos a ouvir a experiência. Para além de uma
configuração “puro sangue”, observamos sim a mais pura grande política na cultura
política carioca diante dos desafios de uma cidade que será Capital Mundial do
livro em 2025. Se os livros são veículos essenciais para acessar, transmitir e
promover a educação, a ciência, a cultura e a informação, esse é um caminho a
se aprofundar no debate eleitoral carioca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário