segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

BOLETIM ROMA CONECTION/NÚMERO 16 - ELEIÇÕES LEGISLATIVAS EM PORTUGAL


 Primeiro-ministro de Portugal, António Costa (PS) - Fotografia Agência Reuters

LUSOFRENTISMO

Por Vagner Gomes de Souza

 

No ano de 2015, a geografia política lusa foi reinventada pela formação da “Geringonça” que seria uma Frente Política opositora da política rígida de austeridade econômica da política fiscal recomendada para a União Europeia para superar os efeitos da crise econômica de 2008. O termo pejorativo veio de um líder da CDS-Partido Popular, organização política de inspiração democrata cristã e liberal-conservadora, mas ganhou gosto entre os novos partidos governistas.

A reinvenção se deveu pelo fato de o Partido Socialista (PS) ter organizado um Governo de Maioria mesmo com ficando em segundo lugar nos resultados de voto e número de assentos em 2015 (32,3% e 86 parlamentares eleitos). Em sequência, se uniu ao Bloco de Esquerda e a Coligação Democrática Unitária (PCP-PEV) para referendar a derrota política do “Portugal à Frente”, uma aliança entre PSD e CDS-PP. As legendas aliancistas deram uma errônea impressão de que se estava a começar uma “Era de Frente Popular”, ou seja, a “Geringonça” seria uma unidade da esquerda portuguesa em polarização com a Direita.

 Essa foi a origem dos erros políticos que levaram a derrocada dos atores políticos à esquerda nas eleições legislativas de ontem (30 de janeiro). Avaliavam que estavam num governo frentista para forçar as correlações de forças políticas internas no sentido de levar o debate programático orçamentário mais a esquerda no caso do CDU enquanto o Bloco de Esquerda começou a introduzir uma pauta mais “americanizada” na política das forças progressistas. Não perceberam que estava no interior de uma coligação de Centro-Esquerda que fez Portugal atingir um pleno emprego e ter uma elogiada política de vacinação da população no combate a pandemia.

Todavia, os indicadores positivos na geração de empregos não foram acompanhados pela redução das desigualdades sociais. CDU e Bloco de Esquerda mais uma vez calculavam que esses números forçariam que mais a esquerda o eleitor se posicionaria nas eleições legislativas. Nesse cálculo político se descartou o “eleitor silencioso”, ou seja, a parcela do eleitorado que começou a não votar desde 2005.

Nesse ano, 64,26% dos portugueses compareceram para votar e os números foram declinando em cada eleições até essa mais recente (2009 – 59,74%; 2011 – 58,07%; 2015 – 55,86%; 2019 – 48,57%; 2022 – 57,96%). Sugerimos que os eleitores “centristas tradicionais” foram aderindo a abstenção o que permitiu a “solução Geringonça”. Agora, esse segmento silencioso, como se fosse uma “revolução passiva” lusa teria comparecido as urnas para sufragar o PS.

O “eleitor silencioso” gravitou na busca da volta de Governos de Maioria como primado da moderação da política portuguesa. A “solução Geringonça” descartou o peso desse “centro político” que derrotou política e eleitoralmente Bloco de Esquerda e CDU que continuam com a “ilusão” de foram derrotados pelo “voto útil”, ou seja, eleitores deles teriam “migrado” para o partido de Antonio Costa. O ensaio político dessa “cegueira” não se permite a considerar que aproximadamente 350 mil eleitores agora teriam aderido a abstenção? Um erro primário em considerar que o eleitor da Esquerda não faz abstenção impede novas possibilidades analíticas.

Por outro lado, uma “Geringonça” de Direita (unindo PSD, CHEGA e Iniciativa Liberal) foi, por ora, adiada com a maioria absoluta conquistada pelo PS. Essa maioria eleitoral teria uma base mais “frentista” que “socialista” e/ou “social-democrata” uma vez que seria um voto de confiança pela continuidade de mudanças graduais e com estabilidade. Nas democracias do Mediterrâneo, o eleitor português deve temer as incertezas das eleições legislativas semelhantes à Espanha, Itália e Grécia. Portanto, o “Lusofrentismo” é uma noção conceitual ao qual propomos.

4 comentários:

Marco Antonio da Silva disse...

Excelente sua análise sobre a importância do voto cidadão, aquele depositado na urnas pelos que não se omitem, porém lutam por mudanças de forma democrática, através desse valioso instrumento da cidadania: o voto. Ótimo convite à reflexão! Ei, esquerda, avante!

Eduardo disse...

Excelente. Me fez entender, aqui do Brasil, um pouco da política portuguesa. Mas espero que os "silenciosos" não migrem para extrema direita. Se o radicalismo de direita "chega" ao poder, causará perdas irreparáveis no país, na democracia e até nos que se dizem "liberais".

Unknown disse...

Boa tarde! Precisamos dos eleitores que não fazem escolhas, preferem anular ou deixar em branco, precisamos dialogar para os eleitores enganados pela extrema direita que o Brasil tem solução, não merecemos o governo atual de Bolsonaro que insiste em dizer que não há corrupção em seu governo, precisamos dos evangélicos, eleitores, pois os líderes religiosos manipulam seus adeptos dentro das igrejas com doutrinas anti bíblicas, praticando adoração ao Presidente da República... Todos fazendo indicações para as próximas eleições votos á Jair Bolsonaro...
A exemplo de Portugal, precisamos estar atentos à tudo que ocorre no país e na política do país com interesse coletivo, democrático, justo para todos ( políticas com programas assistencialista e inclusivas á todos...
Ótimo artigo!!
Boa reflexão á todos ❤🙏

Unknown disse...

Uma observação importante na sua analise:
O aumento da participação política, demonstrando que a cultura política gera compromissos com a cidadania, bem como respostas para o radicalismo!
Parabéns!