Visão
sobre os graves incidentes de Brasília
Para Frida
Pimentel Gomes de Souza para saber um pouco sobre Filipinas e Frente
Democrática.
Por Vagner Gomes
de Souza
Imaginemos uma família
de filipinos acompanhando os graves incidentes de Brasília no dia 8 de janeiro
e seus desdobramentos. A longínqua Filipinas teve um governo centralizador de
21 anos de Ferdinand Marcos que foi eleito em 1964 (ano do Golpe Militar do
Brasil). As sucessivas reeleições foram questionadas como fraudulentas e feitas
por uma administração corrupta desse quase desconhecido país que foi colonizado
pelos hispânicos. Seu processo de independência, muito diferente do brasileiro,
foi “abortado” pelo Tratado de Paris em que passou a ser um "protetorado"
dos Estados Unidos. As forças do Eixo invadiram esse país na Segunda Guerra
Mundial agravando sua desigualdade social. A vitória das forças coligadas
contra o Nazifascismo garantiu que ela se tornasse independente em 1945. A
Segunda República das Filipinas é uma dádiva da luta antifascista o que não
impediu a triste política autoritária que vai durar de 1965 até 1986.
Sem falar das extravagâncias
da esposa do Presidente, Imelda Marcos, Aos 18 anos de idade, Imelda Marcos
venceu um concurso de beleza local, conquistando o título de "Rosa de
Tacloban". Depois venceu concurso semelhante, conquistando o título de
"Miss Leyte". Em 1950, conquistou o título de "Musa de
Manila", uma espécie de prêmio de consolação que ganhou do prefeito de
Manila, após ter sido derrotada no concurso para eleger a Miss Manila. Imelda
teria contestado o resultado desse último concurso, alegando que sua derrota
não teria passado de "marmelada". Em 1954, ela conheceu o então
deputado Ferdinando Marcos. O noivado foi brevíssimo: 11 dias depois eles se
casaram na Catedral de Manila. Para manter seu estilo de vida extravagante,
Imelda desviou milhões de dólares dos cofres públicos para comprar joias,
roupas, casas e apartamentos em diversas partes do mundo. Costumava fazer
compras em lojas caras de Nova York e de cidades da Europa. Ela comprou
diversas propriedades em Manhattan, entre as quais os edifícios Crown e Herald
Centre.
Nossa família fictícia
de filipinos poderia muito opinar sobre os descaminhos dos laços familiares na
política uma vez que Imelda Marcos chegou a ser eleita Deputada após o retorno
a Filipinas e dois filhos do casal seguiram na carreira política ao ponto do
atual Presidente ser um Marco (acrescentemos que a Vice é filha do autoritário
Rodrigo Duterte). Os traços do patriarcado não se acabam por decreto ou outros
atalhos nos territórios e lugares de fala.
Essa seria a distante
possibilidade de visão distante que nos recorda o quanto não se pode distanciar
das lições da vitoriosa Frente
Democrática no segundo turno no Brasil. Corazon Aquino não foi uma
oposicionista feminista, mas a esposa de um líder assassinado que chegou a ter
um filho na Presidência. Os sucessores Fidel Ramos e seu próprio filho não
impediram que uma política reacionária de Duterte/Marcos se instalasse pela via
do voto. Recordemos que nossa Frente foi vitoriosa por uma histórica pequena margem
de votos o que nos ensina a ser cautelosos nas posturas de governança e nas
falas em todos seus lugares. Uma vez que os fantasmas do populismo reacionário
são um espectro muito real a rondar as ações antipolíticas e antidemocráticas. O
isolamento e possível derrota política dessas forças requerem muito tempo,
paciência e saber fazer pontes com todos aqueles que se sentiram até iludidos
pelos “acampamentos pacíficos”.
O inimigo comum não
pode ser esquecido pelos cálculos eleitorais, o que estava a se desenhar. Muitos
estavam também iludidos que o jogo de 2022 já estava jogado. Não se preveniram
da pulsação de um movimento internacional iliberal que se consolida nas
Filipinas e deseja reverter a situação aqui no Brasil pela via do voto. Não nos
iludamos que querem fazer do voto uma arma para que se instale a “soberania das
multidões” como uma ameaça do igualitarismo empreendedor. Uma soberania do
social pela base sem mediação de atores da política uma vez que os Partidos
Políticos são vistos como lugares de construção de espaços políticos
individuais até por figuras do campo progressista. Menos individualismo se
exige das novas lideranças que devem defender a República e a Democracia. Olhai
as vinhas sem vinho da ira dos nossos hermanos do Chile para se ver que temos
que aprofundar os caminhos de respostas institucionais aos graves
acontecimentos de Brasília. “Democracia Sempre” será uma tarefa para uma maior
unidade com as forças da Democracia desde já nesse movimentado ano de 2023 pois
2024 está para “brotar” na política como diria no “carioquês”.