domingo, 18 de dezembro de 2022

A DOCE POLÍTICA NO CINEMA - NÚMERO 13 - AS AVENTURAS DE PINÓQUIO (2022)

As Aventuras de Del Toro

Por Vagner Gomes de Souza

 

As Aventuras de Pinóquio foi escrito em capítulos na Itália a partir de 1881. Seu autor, Carlo Collodi, lançou o livro com ilustrações em 1883. Coincidentemente, esse é o ano de nascimento de Benito Mussolini numa localidade há quase 65 quilômetros de Florença (cidade de Collodi e também de Nicolau Maquiavel). Portanto, trata-se de uma obra de literatura infantil tardia do renascimento uma vez que o boneco é a melhor expressão do conceito de antropocentrismo. Além disso, há passagens do texto que sugerem um diálogo entre O Príncipe e Leviatã até chegar ao clímax do “peixe monstro” que engoliu Gepetto. No livro há muito a valorização da educação vide o esforço do marceneiro em vender seu casaco para comprar os livros escolares do boneco.

A unificação italiana (1848 – 1871) teve um possível balanço pelas linhas que se assemelham a uma história de terror. O clássico de animação da Walt Disney (1940) buscou introduzir o reformismo liberal do New Deal associado a cobrança de uma “ética na política” que seria o incomodo em relação as forças políticas do populismo norte-americano – a força simbólica do nariz a crescer a cada mentira do boneco. Os Estados Unidos ainda não estava na Segunda Guerra Mundial que mostrava o terror do fascismo na Europa. Então, o “Grilo Falante” e a “Fada Azul” dialogavam com a ética protestante de Max Weber para que o boneco se transformasse num ser humano correto e moldado para esse novo mundo.

Entretanto, As aventuras de Pinóquio sob a direção de Guilherme del Toro nos vem depois das idas de Joe Biden para o “picadeiro” do Circo mundial numa aterrorizante pré-estreia do que pode ser uma “Segunda Guerra Fria”. Há momentos que uma obra cinematográfica está muita empenhada a falar do momento político contemporâneo. A contribuição do diretor de O Labirinto do Fauno é muito importante para todas as gerações.  Ele transmite ao público esses sinais de alerta sobre os perigos que a rotinização da democracia. Não se podem trilhar os erros americanizados, pois um sardo, provavelmente lido pelo grilo Sebastian C., escreveu que em política gera o fascismo.


O perigo do fascismo contemporâneo, com suas novas roupagens na tecnologia das redes sociais, ainda precisa de estudos aprofundados. Todavia o gênero do “terror”, que muito atraem adolescentes e jovens, poderia ser mais uma oportunidade para que façamos uma unidade. Alfred Hitchcock e o “cancelado” Roman Polanski seriam “escolas” revisitadas pelo diretor/roteirista/produtor mexicano.

 Em sua obra há uma universalidade que ganhou o mundo talvez por ter vivenciado as mazelas do hegemonismo do Partido Revolucionário Institucional – PRI (1929 – 2000) no México. E, em 2001, lançou um filme de terror ambientado na Guerra Civil espanhola (A Espinha do Diabo) o que lhe permitiu ser um cineasta com grande percepção internacional. O Brasil e a questão amazônica estão presentes no premiadíssimo A Forma da Água (2017). O público brasileiro assistiu, mas não perceberam os alertas sobre o tema da ciência que nos atingiria anos depois. Um monstro amazônico que era tratado como folclore dos povos originários. Um outro ponto para nos permitir alcunhar Guilherme del Toro como o Mariátegui do cinema na atualidade.

Agora, em As Aventuras de Pinóquio de Guilherme del Toro é uma lição sobre a biologia do fascismo. O ressentimento com a I Guerra Mundial na perda de um filho e o fator religioso. Os espíritos da floresta ganham força contra as forças ocultas da morte. Um Grilo que deixa de ser falante para ser um intelectual que narra sobre o tempo. Gepetto demora a ver no boneco o seu filho, mas a fuga do interior do monstro marinho foi um ato de unidade. Antes, que os spoilers incomodem os leitores encerrará por aqui nossas conexões possíveis, mas convidando para que assistam ou revejam ao filme como uma importante oportunidade de uma transição com todas e todos.

 


4 comentários:

Pablo De Las Torres disse...

Excelente e rico texto. Espero que peguem as referências e busquem no Google. Interessante que a técnica de filmagem é a mesma de O Estranho Mundo de Jack e de A Noiva Cadáver, ambos de.Tim Burton, de Wandinha.

José Bezerra de Oliveira disse...

Assistirei assim que puder! Obrigado pelo belo texto!

Anônimo disse...

Excelente texto sobre uma primorosa animação dirigida por um diretor genial. Parabéns!

Anônimo disse...

😍👏👏👏 Irei assistir com a nova visão agora.