domingo, 6 de novembro de 2022

BOLETIM BRASÍLIA CONECTION - BBC 001 - DESAFIOS NA EDUCAÇÃO

A Pandemia, a Deseducação e o Amanhã.

 

Ricardo José de Azevedo Marinho[1]

 

Todos os principais jornais norte-americanos na última semana do outubro passado dedicaram longas matérias de várias páginas a respeito dos resultados da primeira medição pós-vacinação na Pandemia Covid-19 do desempenho educacional nos Estados Unidos da América (EUA).

As médias em matemática e a proficiência em leitura caíram em quase todos os estados, de acordo com os testes da Avaliação Nacional do Progresso Educacional (National Assessment of Educational Progress - NAEP) de 2022.

Os testes, realizados em 450.000 alunos de quarta e oitava séries, em 10.000 escolas em todo o país, rendeu os piores resultados desde que a NAEP começou a crescer, no início dos anos 1990.

Em matemática, os resultados são especialmente devastadores. A eficiência média entre os alunos do 8º ano caiu de 38% em 2019 para 26% em 2022. Entre os alunos do 4º ano, a queda foi de 41% para 36%. Há estados com perdas muito maiores do que outros, mas em geral a tendência nacional é de uma elevação alarmante da tendência de queda, que já era visível antes da pandemia.

O Secretário de Educação dos EUA, Miguel Angel Cardona, fez de tudo, menos se esquivar diante dos dados: “Quero ser muito claro”, disse ele: “Os resultados deste teste são sombrios e inaceitáveis. Este é o momento da verdade em nossa educação. Como responderemos a isso dependerá não apenas de nossa recuperação educacional, mas também do lugar de nosso país no mundo”. Os resultados são dramáticos porque vêm de um esforço sem precedentes para conter os danos da pandemia.

Em 2021, o governo federal fez o maior investimento em escolas da história – 123 bilhões de dólares, 2.400 dólares por aluno – e exigiu que os distritos escolares gastassem pelo menos 20% desses recursos em recuperação acadêmica (assunto complexo e que exigira uma apreciação a parte).

Está claro, que muitos trilhões de dólares adicionais e mais anos de esforço serão necessários para tentar retornar aos resultados pré-pandemia, que já estavam em declínio, como mencionamos.

Mas se isso aconteceu nos EUA, não quero nem pensar no que terá acontecido no Brasil, ou como poderemos descobrir quem sabe indiretamente via Censo 2022, porque aqui o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) que tínhamos foi totalmente desmobilizado.

Com isso a realização principal deste governo que finda em 2022, a saber, os testes padronizados - os mesmos para todos os alunos e todas as escolas - sobre progressos ou retrocessos educacionais desapareceram no Brasil.

O Brasil manteve uma postura equidistante das avaliações educacionais da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, (OCDE), a despeito de aparentemente ainda estarmos em Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA).

O governo na última semana de maio passado anunciou a Política Nacional para Recuperação das Aprendizagens na Educação Básica. Ocorre que essa Política se valeu de uma Plataforma de Avaliações Diagnósticas e Formativas que em nada é equivalente às avaliações já citadas nem tampouco aos testes padronizados dos EUA ou de outros países.

Somado a tudo isso o Brasil com 26 semanas foi o segundo país em semanas de interrupção total das aulas presenciais, ficando atrás apenas das 48 do México e ligeiramente a frente das 23 dos EUA.

Todos esses números mencionados abrem a questão sobre o tamanho da perda educacional brasileira desde o inicio da pandemia.

A perda dos EUA, e à medida, que fica com apenas 3 semanas a menos de aulas suspensas que o Brasil teve, e com um investimento educacional durante a pandemia de 123 bilhões de dólares, orçamento inimaginável para a nossa experiência. O Brasil abriu mão da educação e dos instrumentos que tinha para medi-la. É a Deseducação e a renúncia ao conhecimento, a ciência, ao desenvolvimento tecnológico sério que lamentavelmente podemos relatar.

Nem tudo são sombras. A cultura heroica costuma aparecer em cenas dramáticas em momentos de transição. E agora ela está associada à professora Simone Tebet que já se colocou a disposição para enfrentar o desafio para dar início ao reencontro com o Amanhã e sua vocação educacional democrática e republicana, tal como inscrita no nosso texto constitucional.

 

5 de novembro de 2022

 



[1] Professor do Instituto Devecchi, da Unyleya Educacional e da UniverCEDAE.

3 comentários:

José Bezerra de Oliveira disse...

A Pandemia veio pra comprovar a deficiência cognitiva que já se mostrava para observadores mais atentos!

Anônimo disse...

Um grande desafio! Torcer para ser escolhido o caminho certo a se seguir a fim de mudar nossa educação.

Anônimo disse...

A educação é o alicerce para contrução de uma nação. Eu espero que os nossos novos governantes olhe com carinho e responsabilidade para essa questão, hiper mega importante para o futuro de nossas crianças e nação.