segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

BOLETIM BRASÍLIA CONECTION - BBC 005 - LIÇÕES SOBRE FRENTE DEMOCRÁTICA

Visão sobre os graves incidentes de Brasília

 

Para Frida Pimentel Gomes de Souza para saber um pouco sobre Filipinas e Frente Democrática.

Por Vagner Gomes de Souza

 

Imaginemos uma família de filipinos acompanhando os graves incidentes de Brasília no dia 8 de janeiro e seus desdobramentos. A longínqua Filipinas teve um governo centralizador de 21 anos de Ferdinand Marcos que foi eleito em 1964 (ano do Golpe Militar do Brasil). As sucessivas reeleições foram questionadas como fraudulentas e feitas por uma administração corrupta desse quase desconhecido país que foi colonizado pelos hispânicos. Seu processo de independência, muito diferente do brasileiro, foi “abortado” pelo Tratado de Paris em que passou a ser um "protetorado" dos Estados Unidos. As forças do Eixo invadiram esse país na Segunda Guerra Mundial agravando sua desigualdade social. A vitória das forças coligadas contra o Nazifascismo garantiu que ela se tornasse independente em 1945. A Segunda República das Filipinas é uma dádiva da luta antifascista o que não impediu a triste política autoritária que vai durar de 1965 até 1986.

Sem falar das extravagâncias da esposa do Presidente, Imelda Marcos, Aos 18 anos de idade, Imelda Marcos venceu um concurso de beleza local, conquistando o título de "Rosa de Tacloban". Depois venceu concurso semelhante, conquistando o título de "Miss Leyte". Em 1950, conquistou o título de "Musa de Manila", uma espécie de prêmio de consolação que ganhou do prefeito de Manila, após ter sido derrotada no concurso para eleger a Miss Manila. Imelda teria contestado o resultado desse último concurso, alegando que sua derrota não teria passado de "marmelada". Em 1954, ela conheceu o então deputado Ferdinando Marcos. O noivado foi brevíssimo: 11 dias depois eles se casaram na Catedral de Manila. Para manter seu estilo de vida extravagante, Imelda desviou milhões de dólares dos cofres públicos para comprar joias, roupas, casas e apartamentos em diversas partes do mundo. Costumava fazer compras em lojas caras de Nova York e de cidades da Europa. Ela comprou diversas propriedades em Manhattan, entre as quais os edifícios Crown e Herald Centre.

Nossa família fictícia de filipinos poderia muito opinar sobre os descaminhos dos laços familiares na política uma vez que Imelda Marcos chegou a ser eleita Deputada após o retorno a Filipinas e dois filhos do casal seguiram na carreira política ao ponto do atual Presidente ser um Marco (acrescentemos que a Vice é filha do autoritário Rodrigo Duterte). Os traços do patriarcado não se acabam por decreto ou outros atalhos nos territórios e lugares de fala.


Em 1986, Corazón Aquino tomou posse na Presidência fazendo um "L"

Essa seria a distante possibilidade de visão distante que nos recorda o quanto não se pode distanciar das lições da vitoriosa  Frente Democrática no segundo turno no Brasil. Corazon Aquino não foi uma oposicionista feminista, mas a esposa de um líder assassinado que chegou a ter um filho na Presidência. Os sucessores Fidel Ramos e seu próprio filho não impediram que uma política reacionária de Duterte/Marcos se instalasse pela via do voto. Recordemos que nossa Frente foi vitoriosa por uma histórica pequena margem de votos o que nos ensina a ser cautelosos nas posturas de governança e nas falas em todos seus lugares. Uma vez que os fantasmas do populismo reacionário são um espectro muito real a rondar as ações antipolíticas e antidemocráticas. O isolamento e possível derrota política dessas forças requerem muito tempo, paciência e saber fazer pontes com todos aqueles que se sentiram até iludidos pelos “acampamentos pacíficos”.

O inimigo comum não pode ser esquecido pelos cálculos eleitorais, o que estava a se desenhar. Muitos estavam também iludidos que o jogo de 2022 já estava jogado. Não se preveniram da pulsação de um movimento internacional iliberal que se consolida nas Filipinas e deseja reverter a situação aqui no Brasil pela via do voto. Não nos iludamos que querem fazer do voto uma arma para que se instale a “soberania das multidões” como uma ameaça do igualitarismo empreendedor. Uma soberania do social pela base sem mediação de atores da política uma vez que os Partidos Políticos são vistos como lugares de construção de espaços políticos individuais até por figuras do campo progressista. Menos individualismo se exige das novas lideranças que devem defender a República e a Democracia. Olhai as vinhas sem vinho da ira dos nossos hermanos do Chile para se ver que temos que aprofundar os caminhos de respostas institucionais aos graves acontecimentos de Brasília. “Democracia Sempre” será uma tarefa para uma maior unidade com as forças da Democracia desde já nesse movimentado ano de 2023 pois 2024 está para “brotar” na política como diria no “carioquês”.

6 comentários:

José Bezerra de Oliveira disse...

Excelente! Compartilhando!

Pacelli Lopes disse...

Excelente texto! A saída apontada é por vias republicanas, que é incompatível com o caminho da extrema-direita e com o trilho raso do mundo identitário.

Anônimo disse...

Excelente análise... os partidos progressistas, as organizações e comitês de luta precisam se reinventar

Anônimo disse...

Sensacional!!!

Pablo De Las Torres disse...

O exemplo da família filipina é similar a achar que os Bolsonaro não possam voltar mais e melhores pelo voto! Não adianta ter governo com 138 representando um nicho da sociedade com Pazuello sendo eleito no Rio. Como falar de anistia se nem processo há? O texto mostra que temos que ser ardentes pacientes!

Anônimo disse...

Excellent artigo. DEMOCRACIA tem que ser defendida