Contatos
Imediatos com o Cinema
Gina
Lollobrigida, PRESENTE!
Por Vagner Gomes de Souza
Entrar num cinema é uma
diversão cada vez menos associada as camadas populares no aguardo da “Terra
Prometida” da picanha e cerveja. As salas de cinema saíram da convivência com
as ruas das grandes metrópoles e foram inseridas nos Shoppings Centers como já
denunciava uma das temporadas de Stranger Things. Além disso, o avanço
tecnológico do audiovisual reduziu as intervenções do homem como se um filme
fosse uma obra de arte “pasteurizada” na inteligência artificial. Por fim, o
filme foi “uberizado” pelas redes de streeming em ascensão nesses tempos de pandemia.
Mais dinheiro, mais tecnologia, mais mercado, morte dos empregos gerados pelo
ir ao cineminha. Na residência o telespectador fica isolado do espetáculo do
cinema e pode fraturar um filme para cuidar seus outros afazeres. Ganha espaço
as séries em episódios de menos de 40 minutos e um filme se fragmenta mais
ainda na mente do público. As cenas de ação ganham mais velocidade e menos
tempo é dado para longos diálogos ou longos dramas. Não se espera ouvir os
personagens ou destrinchar seus sentimentos, mas simplesmente compartilhar um
pouco de adrenalina com menos reflexão. Aparentemente, o grande cinema estaria
morto pelos novos tempos, que são sombrios, pois devemos refletir mais e nos
reeducar a ouvir os outros.
Então, eis que o
diretor de Indiana Jones (Steven Spielberg) nos faz o convite para viver a emoção do cinema numa trajetória de uma família
Os Fabelmans deu título ao filme que se apresenta como a frente democrática na
resistência as derivas autoritárias que esse mundo sem cinema está fazendo. O
diretor não aceitou fazer um lançamento nos streemings, pois deseja que o
público vá ao local aonde ele teve seu primeiro contato com a sétima arte.
Antes da exibição, nos lembrando de Alfred Hitchcok que aparecia em seus
filmes, Spielberg faz um agradecimento ao público que saiu de sua residência
para viver um momento de sonho e emoção no cinema. O filme começa em 1952,
tempos em que o macarthismo (caça aos comunistas norte-americanos como
atividade contra a pátria) desestruturava a vida de muitos artistas e
intelectuais que tinham se aproximado da União Soviética por causa da luta
antifascista[1].
Consequentemente, os
personagens não são apresentados como
paradigmas da essência tóxica, mas se abrem para que o espectador busque
compreender suas motivações. Está em aberto muito do que se assiste para que se
pense muito. Até que nos aproximamos aos momentos da belíssima interpretação de
David Lynch que merece destaque por muito bem caracterizar um John Ford entusiasmado
com o olhar para frente. Spielberg realiza uma justa homenagem ao diretor de Rastros
de Ódio (1956) e nos brinda com Lynch magnífico sob a sua direção. Enfim, tudo
como o bom velho cinema nos ensina a ser para sempre como espaço democrático de convivência.
[1]
Há inúmeros filmes em Hollywood sobre esse período, sugerimos Trumbo – Lista Negra direção de Jay Roach
(2015).
Um comentário:
Muito boa a análise, Professor.
Postar um comentário