quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A Raposa e os Ministérios

Novidade em relação ao próximo governo é a atuação do futuro Vice-presidente Michel Temer nas articulações políticas pela composição do novo Ministério. A cada citação do Deputado Federal Michel Temer (PMDB-SP) na imprensa, muitos começam a sentir saudades do atual Vice-presidente (José Alencar) e do Senador Marco Maciel (DEM-PE) quando Vice-Presidente no antigo PFL na gestão de FHC. Entretanto, o atual Presidente nacional do PMDB representa o momento de maior aproximação desse Partido no Executivo nacional desde 1990. Nos últimos 20 anos, sucessivas derrotas e divisões marcaram a história eleitoral desse partido. A vitória da coligação governista trouxe a novidade do PMDB como aliado vitorioso e decisivo na vitória de Dilma em muitos estados da federação. Aos poucos, o Vice-Presidente eleito lembra aos analistas que carisma é importante mas que se vota em partidos políticos, ou seja, a coligação governista teria se beneficiado de palanques regionais "costurados" pelo PMDB. Muitos comparam essa pressão a atitude de Ulisses Guimarães em relação a José Sarney na Constituinte. Sarney reagiu estimulando a criação do "Centrão" para equilibrar o jogo mudancista. Hoje, o BLOCO PMDB-PP-PR-PTB-PSC é uma demonstração que viveremos os quatro anos mais propícios aos experts da política. Não se pode imaginar que o "lulismo" se mantenha sem uma reação pelo movimento social o que implica em futuros e saudáveis debates políticos. As contradições do no campo governista devem ser acompanhadas de perto diante da necessidade de temas polêmicos: 1) Reforma Política - não vai adiante com esse "blocão"; 2) Reforma Tributária - só com adesão da sociedade e 3) Reforma social - não haveria muito mais que aprimorar os programas sociais já existentes. As "raposas da política" desejam as uvas dos investimentos públicos voltados para a Copa de 2014 e Olimpíadas 2016. Muito dinheiro público em circulação. Muita influência política em jogo enquanto a sociedade "patina" na luta pela transparência democrática dos gastos públicos. O chamado "Blocão" coloca na "sinuca política" os pleitos do aliado mais à esquerda do governismo que é o PSB. Observamos um silêncio nas citações de Ciro Gomes na imprensa e o governador reeleito de Pernambuco deverá demonstrar capacidade de reação política. Enquanto isso, a cooptação do Deputado Michel Temer age no campo político da oposição com diálogos com o Presidente Regional do DEM-SP que pode resultar numa mudança partidária do mesmo e seu "grupo político" numa possível "janela na fidelidade partidária. Todavia, uma reação da sociedade pode vir na defesa da Reforma Política através de um movimento semelhante a luta pela Lei do Ficha Limpa. Por isso, é necessário a existência de uma oposição avançada na defesa da radicalidade democrática.

domingo, 7 de novembro de 2010

TROPA DE ELITE 2 - Comentário Final

VOTO POSITIVO publica a conclusão do artigo sobre o filme Tropa de Elite 2 de autoria de Pablo Spinelli. O leitor que não leu a primeira parte pode faze-lo acessando em seguida as duas postagens após essa.


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Voto e Sangue em Tropa de Elite 2: “Como podemos salvar nossas maçãs?”
(Conclusão)
Por Pablo Spinelli

O filme tem algumas lacunas. A principal é que não diz com clareza que não é apenas a comunidade que inicialmente aplaude a entrada da milícia que “a livra” do tráfico. Há uma parcela significativa da população que torce pela milícia, a mesma que foi “esculachada” por Nascimento – a classe média. Esse anti-herói que não deveria ser amado mas,  pela força do carisma do seu intérprete e da construção (bem mais madura que no primeiro TE) do personagem. Embrutecido pela corporação que o formou, forjado pela política do bandido e mocinho que predominou na Segurança Pública, Nascimento, nesse seu papo de botequim, nos revela uma visão multifacetada e com ela formamos a nossa. A sociedade é ambígua. O mocinho pode ser vilão, o vilão virar mocinho. Exemplo disso são as palmas que Nascimento recebe da população num restaurante de classe média alta – é o único momento em que há a crítica à postura de setores da classe média carioca que apóiam a repressão, a menoridade para infratores, a pena de morte, após ter supostamente comandado a execução de bandidos em Bangu I.
Não é por acaso que Nascimento é o nome desse personagem. Devemos pensar em que tipo de segurança e ordem pública queremos que nasça em nossa sociedade. Além disso, o sobrevôo de Brasília feita por uma câmera que nos aponta o cerne do problema – a desvirtuação da POLÍTICA, das ações republicanas -, tem como objetivo dizer que o problema é o SISTEMA, como nos antigos filmes políticos de Hollywood nos anos 1970. O sistema aqui pode ser o clientelismo político – o que abre para um TE 3 questionar as ações de Centro Sociais em regiões carentes de atendimento do Estado como a Zona Oeste e Baixada Fluminense – onde a corrupção é dos dois lados. Pode ser também o sistema da mídia que apela para apresentadores “fanfarrões” que colocam na cabeça do espectador as forças do “bem” contra as forças do “mal” (o candidato que apostou nessa dicotomia recentemente se deu muito mal).
Acreditamos que a população fluminense sofreu e absorveu criticamente o impacto do filme e mostrou isso nessas eleições do Rio de Janeiro. Nesta houve a presença do Prefeito há época de muitos daqueles acontecimentos do filme que classificaria a milícia como um “mal menor”. Foi desbancado por um candidato vindo da Baixada Fluminense que se coligou com o governo das UPPs.
Vale ressaltar que o filme coloca de maneira subliminar o futuro das UPPs. Caso esse “sistema” permaneça apodrecido e vulnerável, pelo seu hermetismo, aos ataques de interesses e ações nada republicanas, a UPP de hoje – idéia original com eventuais modificações de um dos autores do livro “Elite da Tropa”, que deu origem ao primeiro filme, o sociólogo e, não por acaso, ex-secretário de segurança, Luis Eduardo Soares que foi demitido através da mídia pelo então governador Anthony Garotinho - pode virar a milícia de amanhã. Devemos salvar essas jovens maçãs.

VOTO NOS ESTADOS UNIDOS



A Previsível Derrota de Obama
Ricardo José de Azevedo Marinho*

A resposta eleitoral das pessoas, brancas e negras, hispânicas e asiáticas, entre tantas de tantos outros lugares, etnias e raças, por causa da pífia gestão de Barack Hussein Obama como 44º Presidente dos Estados Unidos da América é aprova mais eloqüente da fraqueza de sua política. A história da gestão Obama era para ter sido mais uma história revolucionária que começaria no momento em que ele convocou para inspirar o seu governo à revolução dos Fundadores e com eles passar pelas outras revoluções da trajetória norte-americana como a Reconstrução e o New Deal no intuito de abolir as injustiças hodiernas com a força do constitucionalismo popular que a história da sua democracia fez possibilidade.Mas, ao contrário, caminhou em dois senderos tradicionais e que sempre se cruzam: o do status quo e o dos costumes morais e civis (o common law). Ou seja: a esperança que ele havia angariado para as políticas democráticas teve e têm inimigos encarniçados dentro do seu governo e, ao que tudo indica, ele mesmo feneceu diante dessas forças. E todos aqueles que interpretarem a derrota de Obama como um sinal da força da cultura política liberal compreenderam bem as lições de Tocqueville sobre a América do Norte e a sua democracia.
A derrota de Obama é um sinal desta questão, mas não a sua conclusão ou o seu fim. Desde 2008 aquela sociedade bem como outras do mesmo naipe estão dilaceradas pela questão liberal (que, certamente, não é nova). Una o status quo e o common law e as suas mais diversas interpretações. E por trás destas diversas interpretações se oculta à aspiração política e ideológica liberal. Obama obteve uma ampla derrota e ela foi quase unânime. É o primeiro presidente da história dos EUA a obter uma derrota legislativa e estadual de proporções gigantescas e, o que é pior, previsível.
Obama representa agora uma viagem ao mesmo lugar onde o otimismo da vontade se encontra esmaecido. Hoje o pessimismo e a condição de mal-estar que engendraram a vitória do Partido Republicano se tornam preocupante porque ele e o Tea Party foram capazes de carrear para si esse espírito liberal-conservador que se amplia rapidamente. Daí Obama ser o sinal da impotência diante da crise de 2008 e seus desdobramentos até aqui. E mais: os democratas que conquistaram a Virgínia, onde começou a Guerra Civil, além de ser o estado de Thomas Jefferson, o pai espiritual da razão iluminista, o fizeram em oposição a Obama. E Obama que vem de Illinois, o estado de Abraham Lincoln, viu uma das preciosas cadeiras do Senado transitar dos Democratas para os Republicanos.
O sonho norte-americano da recuperação do estrago de 2008 e o tãodesejado soerguimento não se materializaram com Obama. O ethos da cultura liberal está todo ai. Os vendedores de ilusão estão de volta. E para o infortúnio de todos tornaram Obama num igual.

Brasil, 7 de novembro de 2010

* Ricardo José de Azevedo Marinho é professor da UNIGRANRIO.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Segundo Turno: A Zona Oeste Carioca e o Fator Marina Silva


Alguns mitos foram mobilizados pelas “máquinas eleitorais” na recente campanha eleitoral a Presidência da República para que se credenciassem para as eleições de 2012. Esses mitos caem por terra se analisarmos as tabelas dos votos num setor do Eleitorado da Zona Oeste do Rio de Janeiro. São esses os mitos mais comuns que ouvimos:
1- A candidatura de Marina Silva retirou mais votos da candidatura governista;
    2-  A propaganda da “direita religiosa” prejudicou muito a candidatura governista;
   3- No segundo turno, o candidato oposicionista teve votos graças a uma aliança com setores conservadores e ao “clientelismo político” de uma Deputada Estadual recém-eleita na sua legenda partidária.
Nesse artigo estamos recortando a Geografia do Voto nas Zonas Eleitorais 120, 122, 242, 243, 244, 245, 246 (Campo Grande e arredor). Usamos os dados de 2006 e 2010 para comparar numa primeira etapa se essas tendências ocorreram. Os votos dados a Lula e Alckmin em 2006 são comparados com Dilma e José Serra respectivamente em 2010. Para os votos “fora da polarização” PT e PSDB, efetuamos para 2006 a soma dos votos de Heloisa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT) e comparamos com a votação de Marina Silva (PV) sem considerar a votação de Plínio de Arruda (PSOL). Vejamos as tabelas:

Eleições 2006                                                                                  Eleições 2010
PT
Lula                                                                                                   Dilma
ZE 120 -> 48,2%                                                                              ZE 120 -> 42,7%
ZE 122-> 49,5%                                                                              ZE 122 -> 45,2%
ZE 242 -> 49,8%                                                                              ZE 242 -> 44,4%
ZE 243 -> 49,7%                                                                              ZE 243 -> 44,5%
ZE 244 -> 47,1%                                                                              ZE 244 -> 43,4%
ZE 245 -> 49,4%                                                                              ZE 245 -> 46,8%
ZE 246 -> 54,4%                                                                              ZE 246 -> 47,9%

PSDB
Alckmin                                                                                             José Serra
ZE 120 ->25,9 %                                                                              ZE 120 -> 18,2%
ZE 122-> 25,9%                                                                               ZE 122 -> 17,7%
ZE 242-> 26,8%                                                                               ZE 242 -> 18,8%
ZE 243-> 27,6 %                                                                              ZE 243 -> 21,6%
ZE 244-> 27 %                                                                                 ZE 244 -> 18,5%
ZE 245-> 25,4%                                                                               ZE 245 -> 16,8%
ZE 246-> 23,5 %                                                                              ZE 246 -> 17,9%

PSOL & PDT
Heloísa+Cristovam (SOMA)                                                                                 Marina Silva (PV)
ZE 120 -> 21,3 + 4,2% 25,5%                                                                              ZE 120 -> 36,2%
ZE 122-> 19,8 + 4,2% 24%                                                                                  ZE 122 -> 34,6%
ZE 242-> 18,8 + 4,1% 22,9%                                                                               ZE 242 -> 34,3%
ZE 243-> 18,7 + 3,6% 22,3%                                                                               ZE 243 -> 31,8%
ZE 244-> 20.2 + 5,1% 25,3%                                                                               ZE 244 -> 35,4%
ZE 245-> 20,4 + 4,1% 24,5%                                                                              ZE 245 -> 36,8%
ZE 246-> 18,4 + 3,3% 21,7%                                                                              ZE 246 -> 33,7%

Observamos que tanto Dilma quanto José Serra tiveram uma votação menor que seus companheiros de partido nas eleições de 2006. Entretanto, o candidato do PSDB perdeu mais votos comparados a 2006 que a candidata do PT. Portanto, na Zona Oeste carioca a candidatura Marina Silva atrapalhou mais a candidatura da coligação oposicionista que a candidatura situacionista. A surpresa da votação de Marina Silva, pelo menos na Zona Oeste carioca, não surgiu, portanto de uma base eleitoral que já existia em 2006. Observem que PSOL e PDT tiveram somado mais de 20% dos votos nas Zonas Eleitorais pesquisadas. Logo, não foi uma “onda de votos” evangélicos, mas uma “onda de votos de Terceira Via” acrescidas de um eleitor flutuante que veio mais da própria oposição.
Logo os Votos da "direita religiosa" em Marina Silva na região estudada não foi muito expressiva como a imprensa fez divulgar. Houve um senso de oportunismo político das lideranças políticas evangélicas em capitalizar o total do eleitorado de Marina Silva, porém a base seria de uma “Centro-esquerda” de terceira-via. Esse leitorado não teve uma visibilidade política no discurso do segundo turno, pois os candidatos finalistas optaram por dialogar com temas conservadores para resgatar seu eleitorado flutuante à medida que os eleitores clássicos à esquerda se dividiram numa ou noutra opção.
Desse ponto de vista observamos que a soma dos votos perdidos pelo PT e PSDB em 2010 comparados com 2006 forem somados com a votação de PSOL/PDT em 2006 teremos a votação de Marina da Silva em 2010 na Zona Oeste. Há uma diferença para baixo que se atribui ao fato de não somarmos a votação de Plínio de Arruda (PSOL). Como esse texto é de um Professor de História e a filmografia brasileira indica que somos ruins em matemática, sugiro que peguem uma calculadora e façam as contas para cada Zona Eleitoral acima. Em todas, chegamos a esse resultado, o que desmonta o segundo mito dessas eleições logo na Zona Oeste em que os evangélicos são muito importantes nas eleições proporcionais.
Por fim, vejamos quantos votos o candidato oposicionista teve no Segundo Turno para verificar que ele teve mais do que o eleitorado conservador. Parte dos eleitores da “esquerda de terceira via” votou em José Serra, o que é uma novidade na região se compararmos com as eleições de 2006 em que o candidato do PSDB teve até redução de votos no segundo turno.

José Serra (PSDB) Segundo Turno 2010
ZE 120 ->36,6% Ganhou mais 18,4% que o Primeiro Turno
ZE 122-> 34,6% Ganhou mais 16,9% que o Primeiro Turno
ZE 242-> 35,9% Ganhou mais 17,1% que o Primeiro Turno
ZE 243-> 38,3% Ganhou mais 16,7% que o Primeiro Turno
ZE 244-> 35,9%  Ganhou mais 17,5% que o Primeiro Turno
ZE 245-> 34,3% Ganhou mais 17,5% que o Primeiro Turno
ZE 246-> 31,8% Ganhou mais 13,9% que o Primeiro Turno

Muito seria simplificar que os eleitores flutuantes que abandonaram o PT e o PSDB fossem todos da “direita religiosa” e que 100% tenham optado por votar no PSDB no segundo turno logo após a assinatura da Carta de Princípios da candidata vitoriosa com as lideranças políticas evangélicas. Mesmo assim, essa diferença é inferior ao total de votos agregados ao PSDB no segundo turno. Portanto, uma parte significativa do eleitorado de “terceira via à esquerda” migrou para o candidato oposicionista na Zona Oeste carioca. Uma demonstração que é possível construir uma faixa eleitoral mais Democrática e Progressista de oposição nas eleições de 2012 desde que haja uma melhor interpretação da Zona Oeste.
A Zona Oeste politicamente não está prisioneira da Idade Média, mas expressa a emergência de uma força política conservadora semelhante ao Tea Party e não consegue dar organicidade ao eleitorado de “Centro-esquerda” na região, pois falta uma liderança política nessa faixa. Entretanto, a máquina assistencialista que trabalhou para a candidatura da oposição não deve ser responsabilizada pelo eleitorado agregado, mas deve ser um motivo de outros “centro-esquerdistas” terem anulado, ausentado do processo ou votado na candidatura governista. Assim, consideramos que o avanço do Voto Positivo na Zona Oeste carioca deve partir da premissa que há um segmento eleitoral consolidado entre 20 – 25% que não tem impacto maior nas eleições proporcionais, pois votam de forma fragmentada. Por outro lado, é possível uma vertente Democrática Progressista emergir em 2012 com forte base eleitoral na região desde que haja unidade e um discurso mais reformista.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

TROPA DE ELITE 2

VOTO POSITIVO começa publicar uma série de 2 partes sobre o filme Tropa de Elite 2. Eles faziam parte de um longo texto, porém, com autorização do autor, decidimos postá-los em parte para que o debate sobre o filme ganhe espaço de interpretação política entre nossos leitores. Portanto leiam, divulguem e comentem.
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Voto e Sangue em Tropa de Elite 2: “Como podemos salvar nossas maçãs?” (PARTE 1)
Por Pablo Spinelli

O que torna Tropa de Elite 2 (a partir de agora, TE) um fenômeno não é sua temática sobre a violência urbana. Tal abordagem foi feita em “Salve Geral” e este não foi um sucesso de público. Também não está a sua enorme popularidade calcada nos recursos técnicos. O que há na verdade, em nossa opinião, é a síntese interessante de discurso reflexivo com uma montagem moderna – quase televisiva, mas esse quase está mais para um seriado como “24 horas” do que para as novelas globais – passando, é claro, pelas interpretações titânicas de um Seu Jorge que carrega nos olhos algo do Sandro do “Ônibus 174 até um Wagner Moura que na sua postura física e no olhar carrega um fardo nas costas, bebe água, é presa, é predador. Isso sem grandes trejeitos e nem berros.
A sua narração tem uma interpretação singular. Não é uma simples narração, é um bate-papo tomando um chopp no bar da esquina. Esse recurso é um achado que deu certo no primeiro filme e mais ainda no segundo, pois aproxima o espectador do personagem, justamente o que faz esse TE diferente do primeiro TE.
Outra coisa que faz esse TE 2 diferente é o foco na POLÍTICA. Essa, ausente de debates públicos como na recentíssima corrida presidencial, surge nas telas atendendo um público cuja demanda hoje não é suprida por partidos políticos, sindicatos, ONGs. No filme dirigido pelo José Padilha há traços da história recente de nosso Estado onde, numa metralhadora giratória e tensa, muito tensa, não sobra nada para ficar de pé. Políticos, policiais, classe média, favelas, mídia. Todos esses ídolos de pés de barro são demolidos. Ao fundo uma crítica de que a POLÍTICA hoje em dia no Brasil e o Rio de Janeiro, em particular, está fadada a imitar a rotina dos Estados Unidos: O voto pelo voto, partidos políticos que são máquinas eleitorais sem penetração no tecido social, políticos que querem o poder pelo poder, menor distinção do que é liberal de conservador, entre outros pontos.
Nessa pegada, Padilha explora as ligações do voto com o desenvolvimento das milícias, organizações paramilitares de “fascismo de mercado” que ganharam terreno no vácuo deixado pelo Estado às comunidades carentes. Com a prática da milícia a cidadania deixa de existir e o cidadão fica refém de uma prática perversa: a de pagar para continuar vivo. O filme, numa perspectiva fora do “filme-de-comunidade”, abre os bastidores da Política por onde passam Secretários de Segurança corruptos, deputados “padrinhos” de comunidades, policiais militares que usaram do cálculo empresarial para “administrar” qualquer comunidade como uma empresa onde não há demissão e sim, execução.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

MISTÉRIO EM CAMPOS

Campos dos Goytacazes comandou a vitória da candidatura  oposicionista de José Serra no Norte e Noroeste Fluminenense. Nesse município, José Serra teve 52% dos votos contra 47% dos votos em Dilma. Aparentemente, o Deputado Federal mais votado do Rio de Janeiro trabalhou "silenciosamente" para esse resultado político para demonstrar ao Governador Reeleito que não tem plena hegemonia política na região na disputa do pleito municipal de 2012.
Garotinho ameaça o PMDB no interior do Estado do Rio de Janeiro com a organização do PR. Além disso, sua filha poderá ser uma alternativa política no cenário político carioca numa vertente oposicionista religiosa. Há um mistério nesse momento que se atribui aos motivos de Picciani não se empenhar muito na vitória petista na "região de Garotinho". As conjecturas indicam um provável "acordo de cavaleiros" dos políticos que apoiaram Lula em 2002 e foram "abandonados" em 2010. Sérgio Cabral Filho deve estar ciente de que teve votos oposicionistas no contexto federal no conjunto de sua votação para a reeleição. Portanto, seria importante refundar seu Governo em torno de uma Carta de Princípios que visasse um diálogo com políticos, movimentos sociais e intelectuais no sentido de uma alternativa democrática para a realização de da Copa do Mundo (2014) e das Olimpíadas (2016).

sábado, 30 de outubro de 2010

MEU VOTO

O que fazer com esse meu voto?
Dedicado a memória de Caio Prado Júnior



Muitos me perguntam sobre meu VOTO AMANHÃ (31 de Outubro). Acham que há uma polarização DILMA E SERRA como a imprensa faz noticiar. Não sou adepto de mitos e crendices...Sei que estamos há 16 anos numa mesma trajetória de partidos de social-democracia paulista. Logo, fantasia falar em melhor ou pior projeto se os dois representam o mesma política de despolitização. 
Lembro que diante da URNA teremos 4 opções. BRANCO / NULO / SERRA / DILMA. 
Tarefa inglória que não tenhamos uma Campanha com Política para nós da Esquerda.
Minha cultura política sempre repudiou as duas primeiras opções.
Acredito que uma vitória "apertada" de um ou outra será uma VOLTA AO CANAL de negociação por um Programa de União.
Logo, desejo fazer uma Opção por quem Assinou a Constituição de 1988 e receba a Oposição Competente de que esteve 8 anos no Governo.
Enfim, continuaremos nos caminhos e descaminhos de nossa política sem política. 
Um abraço
Vagner Gomes - Editor do BLOG VOTO POSITIVO (contato vagnergomes2331@bol.com.br)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

ZONA OESTE-RJ - Cidade Futura


Engarrafados na via da Democracia
Por Antonio Semog

O usuário de transporte público na Zona Oeste teve seu estilo de vida modificado pelos constantes engarrafamentos nos Centros Comerciais de Realengo, Bangu, Campo Grande e Santa Cruz. Pequenos trajetos custam muito tempo para serem cumpridos em determinados horários. O trabalhador que depende do ônibus ou dos Transportes Alternativos (regularizados ou não) está nas mãos de um Governo Municipal que se encontra impotente para encaminhar uma solução democrática para além do Bilhete Único.
Na política eleitoral muitos falam no incentivo ao transporte público de massa, mas estamos colhendo nas ruas da Zona Oeste os efeitos da política de incentivo fiscal para a compra de carros para reduzir os efeitos da Crise Econômica de 2008. Menos impostos. Mais carros vendidos. Crise econômica contornada pelo consumo interno de veículos, mas nenhuma política de Transporte Público. Não se pensou na sociedade mais saudável, pois trilhou o caminho do economicismo. Diante dos lucros da Indústria Automobilística, muito observamos nas ruas engarrafadas, pois o centro político está engarrafado sem que haja uma intervenção à esquerda.
Não desejamos repudiar a indústria dos carros. Na verdade, estamos a exigir uma continuidade de seus efeitos com uma Política Ambiental que promova menos engarrafamentos. O PMDB no município do Rio de Janeiro sinalizou com a Ciclovia até o bairro de Santa Cruz. Haveria uma política de incentivo fiscal para a compra de bicicletas? Muitas delas hoje importadas da China demonstram que a política cambial gera efeitos nebulosos ao falar de transporte público. Não sabemos o que essa vocação social-democrata paulista nas duas candidaturas finalistas poderia intervir numa política paras ciclovias, pois os “marqueteiros” simplesmente encaminham dádivas sobre um “trem bala” de bilhões e sobre Metrô para todos. Não há “pudor” nas promessas. Não há valorização do elemento ambiental na organização de um Transporte Verde e que reduza os engarrafamentos.
A nossa região fica acompanhando promessas sobre melhorias em estradas federais no meio de grandes engarrafamentos. Não devemos deixar de lado um debate com soluções mais próximas de nossa realidade. Por isso, fazemos votos para que tenhamos grandes avanços para o debate do transporte público tendo em vista a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

DEBATE DE CONJUNTURA


O INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
GALILEU GALILEI CONVIDA:
“DEBATE LEGAL
TEMA:
“OS DESAFIOS, CAMINHOS E DESCAMINHOS DO BRASIL NOS PRÓXIMOS 4 ANOS”

Palestrantes
         Prof. Arthur Damasceno
         Prof. Rodrigo Piquet
         Prof. Ricardo Marinho
         Prof. Vagner Gomes
Mediação
         Prof. Pablo Spinelli

SEXTA-FEIRA
DIA 29 DE OUTUBRO
18 HORAS
Rua Cinco de Julho, 254, Copacabana, Rio de Janeiro
Tel. 2256 8714 – 2255 0993

domingo, 24 de outubro de 2010

ZONA OESTE-RJ - CIDADE FUTURA

Sorria: Nasci no Rocha Faria
Por Antonio Semog



Começo esse artigo com um relato de ex-professor do Ensino Fundamental numa escola pública nos tempos de Fernando Henrique Cardoso (FHC). Entrei em sala de aula e falei de fazermos uma linha do tempo com fatos marcantes de nossa vida para introduzir uma noção de mudança temporal. Então, para exemplificar, escrevi minha linha do tempo onde começava “7 de novembro de 1937 (foi uma data para causar curiosidade nos alunos) nasci no Hospital Rocha Faria – Campo Grande – RJ”. O silêncio da turma de adolescentes nascidos após 1985 foi desfeito por diversas gargalhadas. Perguntei o motivo e recebi essa resposta padrão: “Como conseguiu isso? Lá só serve para morrer gente!!!”. Esse é um retrato muito curioso, pois esses adolescentes escondiam que também tinham nascidos em Maternidades Públicas. Eram usuários “clandestinos” de serviços públicos de saúde. Diante das reportagens negativas sobre a saúde pública seus anseios eram que seus pais tivessem emprego com Plano de Saúde.

No balanço desses últimos 16 anos após essa experiência, percebemos que o atendimento na Saúde foi se privatizando a medida que muitos Planos se generalizaram com as mais diversificadas ofertas de serviços e para as mais diversificadas faixas de renda. A universalidade de atendimento público é ainda um desejo. A realidade desse atendimento na Zona Oeste uma dificuldade, pois a população, aos poucos se americanizou, e deseja recorrer ao serviço particular por meio dos Planos. Por isso, os Hospitais Públicos viraram o espaço do atendimento de Emergência ou o momento de despedida. A população se acostumou a essa interpretação perversa da americanização na saúde. Vive para pagar um Plano de Saúde ou espera a Morte na rede pública de saúde. Portanto, muitos declaram que nosso principal problema é a saúde, mas não significa que deseja uma saúde universal e pública. Deseja uma saúde de qualidade e mais liberal.

As duas candidaturas de vertente social-democrata (Serra e Dilma) não apresentaram uma leitura que pudesse superar esses limites para nossa região. Não é só de UPA que podemos pensar sobre a saúde como assunto público. O combate ao Fumo tem um impacto positivo para a saúde pública, mas seu idealizador não expõe isso na campanha política por causa do “marqueteiro”. Há diversos ganhos sociais no Governo Atual com a venda de remédios mais baratos para a população de baixa renda, porém a candidatura governista não fala numa Reforma Tributária que possa reduzir o preço dos remédios para a população em geral, pois não há Programa de Governo nessa campanha. Votaremos numa perspectiva de futuro sem que as candidaturas apresentem propostas. Há uma “chuva” de boas intenções que ajudam a movimentar o Horário Eleitoral, mas como fazer isso? Voltaria a CPMF? Qual o papel da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANSS) que regulamenta os Planos de Saúde?

O silêncio para essas questões demonstram que há muito ainda por se falar em saúde mesmo que um candidato ache que é o especialista e a outra candidata fale que está tudo um sucesso. O fundamental é revelar que a saúde privada lucra nesse país. A saúde privada ganha muito com planos de saúde que não funcionam nos momentos mais emergenciais. Os Planos de Saúde aliviam o número de usuários na Rede Pública. Por isso, não se pode polarizar com eles, mas nada explica esse silêncio do Governo Atual em relação ao descaso deles com seus clientes. O impacto de uma vida que se perde na Rede Pública é muito grande na mídia, mas ela (que recebe dinheiro de publicidade dos Planos de Saúde) está em silêncio sobre os abusos dos Planos. Infelizmente, não há um programa de “centro-esquerda” para a Saúde nas duas candidaturas que atenda aos anseios de nossa região. A idéia emergencial do Mutirão da Saúde do candidato oposicionista faz lembrar o CPC da UNE na versão Saúde na Rua no século XXI. Imaginamos uma peça: “A Diabetes vai acabar seu Edgar!” Entretanto, é pouco, mas necessário diante do quadro que vivemos.

Sejamos claros. Quantos “sacos de batata” valem um leito no Hospital Rocha Faria? Quantos são os votos que a máquina do assistencialismo faz movimentar diante desse mundo que divide a população entre aqueles que têm ou não tem Plano de Saúde. Vivemos numa região onde a baixa qualidade na saúde mobiliza a significativa votação em determinadas candidaturas que se alinham ao governismo seja um ou outro. Muito dinheiro público. Muito voto. Muita pouca mobilização popular. Esse é o que constatamos diante de uma população que aponta a saúde como problema, mas que não deseja ser a protagonista dessa solução. Essa é a fronteira que faz muitas candidaturas democráticas serem derrotadas pela política de troca de favores que nesse momento apóiam um ou outro candidato a Presidência da República.

Hoje, os herdeiros dos movimentos sociais por uma saúde pública estão silenciosos, pois foram cooptados na atual administração federal. Muitos falam em UPA e ficam em silêncio sobre a sua gestão que é de “Cooperativa disfarçada”, ou seja, a terceirização na área social que denunciavam que FHC faria hoje é uma solução desde que a população seja atendida. Logo, devemos deixar esse espírito conformista e lutar por uma pressão da sociedade seja quem for vitorioso no próximo domingo. O momento é de definir...Quem vai ser mais coerente para aceitar a pressão popular por mais saúde? Essa é a forma de melhor começar a se preparar para a pressão em associações comunitárias.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

ZONA OESTE-RJ - Cidade Futura


Sobre a Educação ou A Gamsci com Carinho
Por Antonio Someg
Escrevo pensando num filme que fez sucesso há muitos anos atrás e que emocionou uma geração de educadores. Trata-se de Ao Mestre Com Carinho que trabalhava com referenciais sobre inclusão social e educação no contexto saxão. Esse modelo educacional saxão é uma provocação no momento em que podemos pensar no contexto de “revolução e restauração” da política brasileira. Por isso, Antonio Gamsci surge num título sobre educação uma vez que desejamos que a juventude usasse esses próximos dias de campanha política sem Grande Política uma oportunidade para estudar um pouco a análise de uma conjuntura.
Em primeiro lugar, não podemos deixar que um clima político de fatos e acusações de lado A ou lado B atrapalhe nossa clareza no julgamento das propostas que poderíamos defender diante de uma grande dúvida que poderia passar pela cabeça do eleitor da Zona Oeste do Rio de Janeiro. De onde virá o dinheiro público para cumprir as promessas de campanha?
Na Educação, existe um exemplo dessa situação para qualquer eleitor da região que atua no magistério ou que é um jovem estudante. Antes de falarmos em quantidade. Falemos de qualidade. Meu caro leitor. Você avalia que um jovem hoje sai da Escola (Pública ou Privada) melhor preparado do que há 8 anos atrás? Antes que denunciem esse artigo de oposicionista, respondam: um jovem saia melhor preparado em 2002 que em 1994? Segundo os indicadores de avaliação externa do MEC houve avanços na qualidade educacional nos dois momentos citados. Então, o que cria essa sensação de que há algo de errado na educação. A leitura de Democracia na América poderia levar a uma chave interpretativa, ou seja, na sociedade americana há uma valorização das idéias gerais como explicação de um mundo num contexto de igualdade de condições. A massificação da educação brasileira contribuiu nesse processo e observamos isso na nossa região onde muitos jovens conseguiram somar anos de estudo além da média de seus pais mais repetem um senso comum cheio de ideias gerais.
Tamanha situação não pode ser debatida em poucos dias de campanha diante da ausência de um Programa de Governo das duas candidaturas. Na verdade, falta uma esquerda que problematize esse tema da educação para sairmos dos lances dos marqueteiros de plantão. Programa democrático para educação não é criar expectativas por milhares de creches, FATEC´s, duas professoras em sala de alfabetização, ampliação da rede universitária, etc. Aqui deixamos claro que todos esses itens seriam mínimos para melhor a rede de ensino, mas falta uma grande política para realizar uma nova forma de agir no processo educacional público.
Os limites das promessas para a Zona Oeste aparecem na radiografia de nossa rede escolar pública uma vez que não vemos mais uma antiga bandeira da esquerda que dizia: “Verba pública para a escola pública!”. Não entendam que estamos condenando o financiamento privado feito pelo PROUNI, mas estamos apenas esclarecendo que não se trata de uma política de esquerda ou “centro-esquerda”. Nesse momento, a nossa região tem diversas instituições de ensino privado que vive graças ao complemento da verba pública do PROUNI. Entretanto, já que as Universidades Particulares da região ganham dinheiro público, deveriam ser reguladas de uma forma mais pública em relação ao cumprimento da qualidade dos serviços oferecidos aos seus alunos e a execução de atividades de extensão no bairro como critério para receber subsídios do Governo Federal. Uma biblioteca atualizada e aberta a comunidade é muito importante além de explicar aos usuários dessas instituições as medidas tomadas diante dos inúmeros cursos com conceito D ou E atribuídos pelo MEC.
Lamentamos esse silêncio na campanha das duas candidaturas. Lamentamos que não houvesse uma ousadia em dizer que rede particular não poderia ganhar esses subsídios públicos estando com dívidas com o FGTS, Previdência Social e em atraso no pagamento dos trabalhadores de educação. Antes, de anunciar mais propostas educacionais sem uma fonte comprometida. Deveriam criar critérios mais democráticos para as verbas públicas que alimentam esse mundo privatista na educação.
Uma triste constatação. Gostaríamos de estar debatendo uma CEFET em Campo Grande. A ampliação do Colégio Pedro II em Realengo. Uma Universidade Federal em Santa Cruz. Milhares de creches nos bairros da Zona Oeste, mas sabemos que o que já temos vive na precariedade. Como ampliar a rede educacional se a estrutura atual está desejando reformas urgentes? Uma política para Educação não é simples como apresentam no programa eleitoral da TV. Uma política para a Educação precisa evidenciar o valor democrático da análise da verba pública que já está sendo aplicada hoje. Após o segundo turno, ganhe quem ganhar, esperamos que o Gramsci da juventude, que defendia uma “neutralidade combativa”, se faça mais presente entre nossa juventude escolar. Aqui necessitamos de associações juvenis que debatam a educação ao estilo das Escolas Bíblicas nas Igrejas Protestantes, ou seja, associativismo e disciplina são necessários mais uma vez.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ZONA OESTE-RJ - Cidade Futura


Eleição não se resolve com empurra-empurra

Por Antonio Semog

O eleitor da Zona Oeste do Rio de Janeiro não precisa reeditar uma falsa “guerra de rua” para considerar que estamos num segundo turno de polarizações de programas muitos distintos. As duas candidaturas presidenciais não apresentam programas, mas um conjunto de princípios e assinaturas de compromissos do passado.
Na periferia do Rio de Janeiro, Dilma e Serra recebem apoio das “máquinas políticas” mais variadas que agrupamos em três tipos: “máquina sindical”, “máquina do candidato derrotado ao Senado oriundo da ALERJ”, “máquina do assistencialismo”. Essas clientelas podem se Xingar pois estão “demarcando seu território político” na região projetando as eleições municipais de 2012. Quem é mais fiel nessa batalha sem política será mais premiado com fontes de recursos nas eleições de suas representações para o legislativo municipal.
 Podem fazer empurra-empurra diante de uma imprensa que deseja “esquentar” o debate político sem que haja realmente um debate da Grande Política. Entretanto, esse conflito de grupos sem política não fortalece a política democrática. Assim, desejamos escrever sobre alguns temas que precisam ser refletidos nos próximos dias pelos eleitores antes de votar. Há 10 dias das eleições a Zona Oeste deve demonstrar que eleição não é “Guerra Santa” ou “Bang-bang de novo tipo”. Por isso, vamos começar desfazendo alguns mitos ideológicos pois não apresentam fundamentos políticos:
1)      “Vivemos uma eleição polarizada entre Esquerda X Direita” => isso não existe uma vez que as duas candidaturas precisam do Centro Político para vencer as eleições;
2)      “Vivemos uma eleição polarizada entre Estatistas X Privatistas” => não há nenhum movimento de privatização no Brasil na atualidade. Não é por postura do Governo Federal mas porque não há mais um “onda neoliberal” como vivemos nos anos 90 em todos os países da América Latina copiando o modelo Norte-americano/Inglês dos anos 80;
3)      “As privatizações foram um roubo da nação com muita corrupção” ou “Esse é o Governo mais corrupto da História” => Não há um “Corruptômetro” (medidor de corrupção). Os casos divulgados na atualidade de corrupção e suas investigações são conquistas da sociedade democrática, ou seja, a atuação do Ministério Público com poder investigatório conferido na Carta Constitucional de 1988, onde lamentavelmente um partido que se diz de Esquerda não assinou por acusá-la de beneficiar a Elite. Por outro lado, corrupção existe na esfera pública e privada como demonstram os filmes Tropa de Elite 1 e 2 fazendo chave com a Segurança Pública. Logo, se a Privatização foi ROUBO...Por que não foram investigadas nesses últimos 8 anos?;
4)      “Vivemos a polarização entre Emprego X Desemprego”. => Criação de empregos não se resolve na eleição de um Presidente. Os eleitores dos EUA entenderam isso nesses dois anos de mandato de Obama. A política econômica mundial que apresenta seus limites de acordo com os interesses da grande burguesia;
5)      Por fim, o mito da “herança maldita” de FHC que substituiu o mito da “herança conservadora” de Vargas na simbologia do lulismo => Nada muda a percepção que estamos na conclusão do quarto mandato de FHC em termos de compromisso com a estabilidade monetária nos termos da reunião feita pelo então Presidente com os principais presidenciáveis em meados de 2002. Os leitores poderão pesquisar a disputa eleitoral de 2002 mês a mês e verificarão isso. (Sugiro a leitura do livro de Luiz Werneck Vianna – Esquerda Brasileira e Tradição Republicana: Estudos de conjuntura sobre a era FHC-Lula, Editora Revan, 2006)
Sem esses mitos ideológicos que beneficiam o debate da “pequena política” desejamos que o eleitor em geral, particularmente o da Zona Oeste carioca, acompanhe nossa reflexão nos próximos dias buscando compreender o que Dilma ou José Serra pretendem para nosso país. Na verdade, nosso objetivo é verificar os limites reais dessas duas vertentes políticas do liberalismo político paulista para a realidade da região. As duas candidaturas são herdeiras do desenvolvimentismo o que não implica que tenhamos mais desenvolvimento econômico com um ou outro. O desenvolvimento das forças produtivas na Zona Oeste pode contribuir para um processo de contradição das relações sociais de produção desde que façamos um debate que problematize que os grupos dirigentes das duas campanhas em nossa região estejam nas mãos de políticos que praticam a política tradicional. Por isso, debater política é uma forma de colaborar nesse processo. Por isso, não se pode ficar omisso, neutro ou defender um postura pela anulação. Simplesmente refletir. Analisar cada artigo. Fazer uma opção. Depois...VOTAR.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

CARTAS DE UM NOVO ABOLICIONISMO

Clientelismo

Por Joaquim Ocuban

Muitos leitores de Voto Positivo devem achar que somos contra a Assistência Social aos que mais precisam. Muito pelo contrário. Defendemos que aqueles que tenham renda maior ajudem os mais necessitados. Nosso princípio é a redistribuição de renda. Enquanto ela não chega, nada impede os chamadas "obras de caridade". Elas existem há séculos na humanidade. A sociedade pode se auto-organizar em sua luta pela assistência social nas Organizações Não-Governamentais que, em regime de parceria com iniciativa pública ou privada, pode ser uma alternativa democrática aos Centros Sociais atrelados aos projetos políticos.
Muitos leitores citam pontos positivos desses Centros Sociais. Não vamos defender aqui a extinção desses projetos, mas eles não podem servir de "trampolim" para que postulantes a cargos públicos tenham privilégios em eleições. A sistema eleitoral deve oferecer a maior proximidade da igualdade na competição. Um princípio que os usos e abusos do Poder Econômico já macula no processo eleitoral. Por isso, o Centro Social não pode ser mais um "cativeiro do Voto" para um determinado grupo político.
Não há liberdade para um eleitor caso ele vote por uma troca de um bem que devia ter recebido do poder público. Afinal, o perfil dos políticos que se credenciam pelo Centro Social é muito próximo aos que se aliam ao governismo seja ele de qual orientação política. Eles feudalizam territórios políticos nos municípios e não aprofundam a transformação democrática.
Voltamos a dizer que o problema não é o Centro Social. O problema está na "politização" do Centro Social que sempre recebe o nome de políticos de práticas clientelistas. Negociam sua "base eleitoral" com políticos com grandes fortunas e que jamais defenderão a redistribuição de renda. Enfim, contribuem para o escravismo moderno do voto pois inibe a liberdade do eleitor em escolher. Muitos votam por temer que o Centro Social acabe ou por gratidão. Não há um debate de Política Pública mas a aceitação da apropriação de serviços públicos para interesses de grupos políticos privilegiados. 
O clientelismo na política é uma chaga silenciosa que impede o avanço da democracia. Impede um Voto Positivo pois vive em torno da reprodução do poder econômico na política. Os gastos do Centro Social não passam pela fiscalização da Justiça Eleitoral o que é um exemplo da falta de transparência desse processo. Portanto, novas regras na Reforma Política devem ser criadas para coibir que um bem da Centro Social seja manipulado para práticas politizadoras. Todos que fazem assistência social em nome de valores humanos devem ser valorizados. Entretanto, não se deve abrigar no assistencialismo a manipulação do voto.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Campos de Fé e de Petróleo

O estudo do Professor Cesar Romero Jacob (PUC-RJ) sobre o Mapa do Voto Presidencial no Primeiro Turno indica que a candidatura oposicionista ganhou no Norte Fluminense com destaque para o município de Campos dos Goytacazes. Campos já foi apresentada como um "berço do voto conservador" católico. Hoje o movimento "neopetencostal" cresceu muito nesse município com uma liderança política que vai além desses limites religiosos que é o Deputado Federal Garotinho (PR). Entretanto, a questão da partilha dos Royalties do Petróleo deve ter viabilizado esse resultado  pró-Serra, que teve impacto no Estado do Espírito Santo, e não deve ser colocado em segundo plano. No momento, Garotinho anunciou uma "neutralidade temporária" condicionado ao PNDH-3, porém esquece do tema da partilha para que a negociação política tenha um valor mais democrático.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

ANÁLISE: VOTOS NA ZONA OESTE


Zona 122-RJ - Decifra-me ou te devoro!!!

VOTO POSITIVO escolheu a Zona Eleitoral 122 no Município do Rio de Janeiro para fazer alguns comentários sobre o resultado do Primeiro Turno de 2010. O critério para a escolha foi o fato de ser nessa Zona Eleitoral (ZE a partir de agora) em que se concentrou a maior parcela da votação de Vagner Gomes a Deputado Federal. Nela, a campanha do EDUCAR PARA AMPLIAR A DEMOCRACIA-VOTO POSITIVO ficou em 83º lugar com 65 VOTOS (12º lugar se considerarmos os candidatos da Coligação O Rio de Janeiro Pode Mais – PSDB-DEM-PPS).
A ZE 122 abrange Campo Grande, Santíssimo e Senador Vasconcelos. Totaliza 65 mil eleitores inscritos e teve 14% de abstenção aproximadamente. Nas eleições majoritárias para a Presidência da República, esse foi o resultado dos 3 (três) principais candidatos em votos válidos:

DILMA ROUSSEFF   45,20 %

MARINA DA SILVA 34,55 %

JOSÉ SERRA              17,73 %

A votação do candidato da coligação O BRASIL PODE MAIS (PSDB-DEM-PPS) ficou na metade da candidata do PV, o que refletiu no baixo desempenho das candidaturas proporcionais dos partidos coligados de oposição na ZE. Somente o Presidente Nacional do DEM ficou entre os 10 candidatos a Deputado Federal mais votados que foram:

PR- GAROTINHO                                                        7,60 %
PTdoB - JOSE DE AZEVEDO                                    5,41 %
DEM- RODRIGO MAIA                                             3,36 %
PMDB - EDUARDO CUNHA                                    3,19%
PCdoB - JANDIRA FEGHALI                                   2,96%
PSC- FILIPE PEREIRA                                                2,94 %
PMDB - RODRIGO BETHLEM                                  2,90%
PMDB - PEDRO PAULO                                             2,79 %
PSOL - FRANCISCO ALENCAR                               2,70%
PRB - VITOR PAULO                                                  2,67%

Uma comparação com o resultado eleitoral nas eleições de 2006 delimita alguns elementos de continuidade na tendência eleitoral nessa ZE que pode ser uma hipótese para todo o eleitorado do Bairro de Campo Grande. Observamos:
1)      a presença dos candidatos vinculados a máquina pública do município. Em 2006, Indio da Costa, Solange Amaral e Ayrton Xerez representavam a máquina municipal do DEM. Nessas eleições há os representantes Rodrigo Bethlem e Pedro Paulo que representariam o situacionismo municipal do PMDB;
2)      a votação expressiva de candidatos vinculados ao discurso da centro-direita religiosa. Em 2006, Eduardo Cunha (PMDB), Vinicius de Carvalho (PTdoB) e Manoel Ferreira (PTB e hoje no PR sem se candidatar a reeleição). Nessas eleições, Eduardo Cunha é reeleito com uma propaganda crítica ao PNDH-3, apesar de ser contado como governista pela imprensa, Felipe Pereira e Vitor Paulo melhor representam essa tendência;
3)      a presença de uma candidatura vinculada ao “assistencialismo bairrista”. Em 2006, foi Almir Rangel (PSC). Nessas eleições, o destaque foi José de Azevedo (PTdoB) sem esquecer a significativa votação de Marcelo Gregory (PRTB) que ocupa o 11º lugar.
Tanto em 2006 quanto em 2010 a tendência do eleitorado predominante fez emplacar o “campeão” de votos na ZE. Assim, a tendência da máquina municipal conferiu a Rodrigo Maia o primeiro lugar em 2006 a medida que a tendência da votação religiosa fez Garotinho ocupar essa colocação nessas eleições. Talvez a variável seria a votação de Jandira Feghalli (PCdoB) e Chico Alencar (PSOL) entre os 10 mais votados, porém, para além de classificarmos a ZE122 como a “Zona Vermelha” de Campo Grande, chamamos a atenção que os dois foram candidatos nas eleições municipais de 2008. Jandira teria se beneficiado disso e do fato de ter feito acolher votos de candidaturas de seu perfil eleitoral uma vez que Carlos Santana (PT), Edson Santos (PT) e Edmilson Valentim (PCdoB) tiveram sua votação reduzida a metade comparada com 2006. Por sua vez, Chico Alencar (PSOL) aparentemente herdou os votos que Gabeira teve em 2006 uma vez que desde 2002 seu eleitorado esteve na faixa de 600 eleitores na ZE122 e foi acrescido em mais 600 votos que se assemelham a votação do candidato derrotado ao Governo do Estado do Rio de Janeiro. Na estranha racionalidade do eleitor não há contradição em votar no PV aliado ao DEM para o Governo Estadual e num candidato do PSOL para Deputado Federal, pois se trata de uma identidade eleitoral mais “ética” do que de esquerda.
Diante dessa rápida radiografia eleitoral da ZE 122, há a confirmação de velhas tendências do eleitorado de toda Zona Oeste que se expressa na votação maciça em 3 (três) máquinas: a municipal, a religiosa e a assistencialista local. Uma candidatura do campo democrático é viável nessa região, pois se concentra quase 25% de votos na chamada esquerda, porém é necessário ganhar visibilidade ou esses votos ficam pulverizados em diversas candidaturas sem garantir uma vitória eleitoral. Uma organicidade da sociedade nessa localidade poderia formar essa ponte contra a fragmentação dos votos do campo democrático. Mais uma vez, numa política de frente, as organizações religiosas podem ser uma vertente para essa reforma moral e intelectual.