Sobre a Educação ou A Gamsci com Carinho
Por Antonio Someg
Escrevo pensando num filme que fez sucesso há muitos anos atrás e que emocionou uma geração de educadores. Trata-se de Ao Mestre Com Carinho que trabalhava com referenciais sobre inclusão social e educação no contexto saxão. Esse modelo educacional saxão é uma provocação no momento em que podemos pensar no contexto de “revolução e restauração” da política brasileira. Por isso, Antonio Gamsci surge num título sobre educação uma vez que desejamos que a juventude usasse esses próximos dias de campanha política sem Grande Política uma oportunidade para estudar um pouco a análise de uma conjuntura.
Em primeiro lugar, não podemos deixar que um clima político de fatos e acusações de lado A ou lado B atrapalhe nossa clareza no julgamento das propostas que poderíamos defender diante de uma grande dúvida que poderia passar pela cabeça do eleitor da Zona Oeste do Rio de Janeiro. De onde virá o dinheiro público para cumprir as promessas de campanha?
Na Educação, existe um exemplo dessa situação para qualquer eleitor da região que atua no magistério ou que é um jovem estudante. Antes de falarmos em quantidade. Falemos de qualidade. Meu caro leitor. Você avalia que um jovem hoje sai da Escola (Pública ou Privada) melhor preparado do que há 8 anos atrás? Antes que denunciem esse artigo de oposicionista, respondam: um jovem saia melhor preparado em 2002 que em 1994? Segundo os indicadores de avaliação externa do MEC houve avanços na qualidade educacional nos dois momentos citados. Então, o que cria essa sensação de que há algo de errado na educação. A leitura de Democracia na América poderia levar a uma chave interpretativa, ou seja, na sociedade americana há uma valorização das idéias gerais como explicação de um mundo num contexto de igualdade de condições. A massificação da educação brasileira contribuiu nesse processo e observamos isso na nossa região onde muitos jovens conseguiram somar anos de estudo além da média de seus pais mais repetem um senso comum cheio de ideias gerais.
Tamanha situação não pode ser debatida em poucos dias de campanha diante da ausência de um Programa de Governo das duas candidaturas. Na verdade, falta uma esquerda que problematize esse tema da educação para sairmos dos lances dos marqueteiros de plantão. Programa democrático para educação não é criar expectativas por milhares de creches, FATEC´s, duas professoras em sala de alfabetização, ampliação da rede universitária, etc. Aqui deixamos claro que todos esses itens seriam mínimos para melhor a rede de ensino, mas falta uma grande política para realizar uma nova forma de agir no processo educacional público.
Os limites das promessas para a Zona Oeste aparecem na radiografia de nossa rede escolar pública uma vez que não vemos mais uma antiga bandeira da esquerda que dizia: “Verba pública para a escola pública!”. Não entendam que estamos condenando o financiamento privado feito pelo PROUNI, mas estamos apenas esclarecendo que não se trata de uma política de esquerda ou “centro-esquerda”. Nesse momento, a nossa região tem diversas instituições de ensino privado que vive graças ao complemento da verba pública do PROUNI. Entretanto, já que as Universidades Particulares da região ganham dinheiro público, deveriam ser reguladas de uma forma mais pública em relação ao cumprimento da qualidade dos serviços oferecidos aos seus alunos e a execução de atividades de extensão no bairro como critério para receber subsídios do Governo Federal. Uma biblioteca atualizada e aberta a comunidade é muito importante além de explicar aos usuários dessas instituições as medidas tomadas diante dos inúmeros cursos com conceito D ou E atribuídos pelo MEC.
Lamentamos esse silêncio na campanha das duas candidaturas. Lamentamos que não houvesse uma ousadia em dizer que rede particular não poderia ganhar esses subsídios públicos estando com dívidas com o FGTS, Previdência Social e em atraso no pagamento dos trabalhadores de educação. Antes, de anunciar mais propostas educacionais sem uma fonte comprometida. Deveriam criar critérios mais democráticos para as verbas públicas que alimentam esse mundo privatista na educação.
Uma triste constatação. Gostaríamos de estar debatendo uma CEFET em Campo Grande. A ampliação do Colégio Pedro II em Realengo. Uma Universidade Federal em Santa Cruz. Milhares de creches nos bairros da Zona Oeste, mas sabemos que o que já temos vive na precariedade. Como ampliar a rede educacional se a estrutura atual está desejando reformas urgentes? Uma política para Educação não é simples como apresentam no programa eleitoral da TV. Uma política para a Educação precisa evidenciar o valor democrático da análise da verba pública que já está sendo aplicada hoje. Após o segundo turno, ganhe quem ganhar, esperamos que o Gramsci da juventude, que defendia uma “neutralidade combativa”, se faça mais presente entre nossa juventude escolar. Aqui necessitamos de associações juvenis que debatam a educação ao estilo das Escolas Bíblicas nas Igrejas Protestantes, ou seja, associativismo e disciplina são necessários mais uma vez.
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