A
Tropa e o Complexo de Édipo mal resolvido
Por Vagner Gomes
de Souza
A Tropa é uma oportunidade
para uma diversidade de brasileiros façam um balanço sobre o papel da
democracia em nossa História. Ameaçada muito mais pelo desafio de superar uma
crise econômica pouco debatida ainda nessa campanha eleitoral. Apesar dessa
nossa percepção brechtiana, texto de Gustavo Pinheiro demonstra uma inspiração shakespeariana
ao colocar um pai hospitalizado diante de seus filhos que lidam com o passado e
enfrentam dilemas em relação ao futuro. William Shakespeare foi o dramaturgo da
transição do feudalismo para o capitalismo e a peça se insere num momento de
descoberta de novos textos que contribuam para uma percepção positiva da nossa “revolução
passiva”
O conteúdo dramático
dessa peça não impede que o público tenha muitos momentos de risos, pois está
diante de seus olhos também as linhas tortuosas de nosso país. Faz-se no riso a
nossa resistência como ensinou o saudoso Paulo Gustavo que criou a “Senhora dos
Absurdos”. Afinal, fica evidente que esse pai centralizador, preconceituoso e
autoritário faz parte de segmento da sociedade que ganhou força no cenário
eleitoral brasileiro. Ele é a versão masculina da personagem do ator citado.
O pai, numa
interpretação magnífica de Otávio Augusto (fazendo justiça aos 60 anos de
carreira), é um coronel reformado que atuou na Ditadura Militar. Os detalhes
sobre suas responsabilidades nesse momento histórico do país não são de todo
revelados. Cada um na plateia faça seu juízo. Fica um espectro a rondar de forma
cinzenta que serve de convite para mais saber sobre esse período que foi de 1964
até 1985.
Além disso, os atores
que interpretam os filhos inseriram determinados tiques nervosos na sua atuação
ao palco que poderiam mobilizar a leitura da psicanálise freudiana diante da
morte de um dos irmãos num acidente que é um tabu. Abre-se um debate sobre a sua
responsabilidade. Revelam-se atributos do conservadorismo que muito se
evidenciam no complexo de Édipo mal resolvido. Uma instigante sugestão que a
crítica teatral brasileira poderia apresentar ao debate desse texto para se
rever nosso papel no mundo democrático em sua universalidade. Além disso, a
doença do pai atinge sua mente e não se sabe o tamanho dessa gravidade e suas
motivações.
Isso nos permite as
percepções sobre novas posturas autoritárias de grupos sociais fraturados na
sociedade brasileira como se o Rei Sol estivesse presente em cada um. A
soberania de só querer falar, mas sem saber ouvir. Entretanto, ainda não nos
desfizemos da memória positiva de um “pai dos pobres” que deixou um legado
forte de sentimento nacional e ainda mobiliza o carisma em política.
Todavia, o narcisismo
social colocou segmentos sociais numa “camisa de força” por busca frenética
pela soberania dos lugares de falas enquanto o país tem o neto de Roberto
Campos (citado da peça) como Presidente do Banco Central na mesma faixa etária do
primeiro filho. Neto de um Ministro do Planejamento do primeiro governo após o
Golpe de 1964.
Consequentemente, A
Tropa muito bem nos instiga a pensar sobre se nossa democracia imperfeita teria
condições de evitar os fantasmas golpistas. A Peça é uma grande terapia em
grupo que poderia partir da questão: “Quais seriam os melhores críticos a
pensamento econômico da Ditadura Militar nos dias atuais?” Ela é uma ficção que
faz um convite para que o público saia da camisa de força ideológica no seu
cotidiano e na formulação dos debates programáticos uma vez que teremos
eleições gerais em que há o importante desafio da democratização do perfil dos novos
representantes do Congresso Nacional.
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FICHA TÉCNICA – A TROPA:
Texto: Gustavo Pinheiro
Direção: Cesar Augusto
Assistente de Direção: Gabriel Albuquerque
Elenco: Otavio Augusto (Pai), Alexandre Galindo (Artur),Alexandre Menezes (Humberto), André Rosa (Ernesto) e Daniel Marano (João Baptista)
Assistente de interpretação: Mar Martins
Iluminação: Adriana Ortiz
Figurinos:Ticiana Passos
Fotos e Vídeos:Elisa Mendes e Fernandovisky
Assessoria de Comunicação: Alessandra Costa
Produção Executiva: Luciana Zule
Direção de Produção: André Roman
Coordenação Geral de Projeto: Alexandre Galindo
Realização: GêneseProduções e AR Produções
SERVIÇO:
Teatro PetraGold (Rua Conde de Bernadote, 26 - Leblon) - Rio de Janeiro
[1]
O jornalista Elio Gaspari escreveu uma série de quatro volumes sobre a História
da ditadura militar brasileira aonde só os títulos contribuem para pensar nos
filhos do Coronel. A ditadura
envergonhada ; A ditadura escancarada;
A ditadura derrotada, A ditadura encurralada servem como
sugestão de leitura para as curiosidades despertadas após assistirem a peça.