sábado, 23 de julho de 2022

SÉRIE ESTUDOS - RESENHA DO LIVRO "O EU SOBERANO"


 Estátua de Lênin é derrubada em Jarkov (Ucrânia) - 2014

O Narciso da Providência

 

Marcio Junior[1]

O termo soberania, na nossa língua, tem certa amplitude e é preciso maior apuração para entender com mais exatidão do que se trata. Dizer que algo é soberano, sem contextualização, explica pouco. Como adjetivo, precisa se referir a alguém ou a algo, e sem a “substância”, está fadado a se perder como uma palavra vazia, dando margem a todo tipo de equívocos. Mas não só: trata-se de um conceito que, como todos, têm história e seu significado depende do tempo e do espaço.

Nesse sentido, a tradução brasileira de O eu soberano: ensaio sobre as derivas identitárias (2022), da francesa Elisabeth Roudinesco, nos impõe essa tarefa logo no seu título. Vamos ao título original (sem a necessidade do subtítulo): Soi-même comme un roi. Em tradução literal: Eu mesmo como um rei. Agora com maior nitidez sobre o seu emprego, o conceito de soberania está relacionado à ilustração da autora, referida à soberania sobre tudo e toda exercida pelo monarca, cujo posto foi ocupado por figuras importantes ao longo da história da França, marcada pela experiência monárquica.

Este exercício de tradução, apesar de útil, exige um esforço modesto frente ao que a historiadora da psicanálise faz nas páginas do ensaio. Afinal, trata-se de tentar explicar como os movimentos sociais e não só foram contaminados pelo que chama de hipertrofia do eu: a mudança de rota em direção ao detrimento do que é universal em prol do particular e intrínseco ao indivíduo. A busca pela mitigação de desigualdades, por exemplo, não se trataria mais de uma luta que também é global, mas sim de indignação pessoal onde não há espaço para o diferente. As sociedades, então, seriam convertidas em identidades hierarquizadas, encerrando a noção do sujeito que pertence a determinada comunidade e assimila, inclusive em si, o outro.

         Na análise, essa perspectiva, seja em relação às mulheres e homens, aos homossexuais e heterossexuais, aos negros e brancos ou à teses sobre emancipação do colonialismo, resulta no surgimento e fortalecimento de um pensamento obscuro e reacionário, muitas vezes delirante e cheio de conspirações, repleto de neologismos e leituras erráticas de intelectuais, principalmente do mundo francófono, que nada tiveram a ver com isso, como Michel Foucault, Frantz Fanon e Simone de Beauvoir. Nesse caos também de negligências conceituais, onde se esvazia propositalmente a história dos conceitos para que eles encaixem a outras situações, tudo é permitido para atender determinadas sanhas. Se a obra de determinado autor não atende aos interesses, não seja por isso: os conceitos são distorcidos e esvaziados do contexto em que foram usados para que atendam.

                       Cena do filme O Nome da Rosa (1986)

Não se trata de algo novo na história do pensamento; em O Nome da Rosa, Umberto Eco ilustra o esforço de intelectuais do medievo para preservar obras de autores da antiguidade, enquanto outros buscavam destruí-las. Porém, o que de fato importa é que, no presente, o fenômeno que é, ao mesmo tempo, causa e consequência desses equívocos é outro e não é novo: o eu se nutre e cresce frente ao nós; buscando se afirmar mesmo que atropele todo o resto: enquanto portador de pele negra, por exemplo, o indivíduo estaria condicionado à sua característica biológica e, por conta dela, seria ele o afirmador da reparação, movida pela indignação, de uma ideia abstrata de passado escravista, onde quer que ela seja encontrada. Caso não haja, em outrem, esta característica biológica, este representa o ideal daquilo que se quer combater, afinal é a biologia pura que define a identidade e, portanto, a hierarquia que dispõe as forças na arena da luta social. As classes, portanto, estariam ultrapassadas enquanto, inclusive, categorias analíticas.

Como é possível imaginar, não é uma lógica que opera dentro da Democracia e da República; muitas vezes são alvos. Podemos imaginar como que sociedades divididas pela lógica reacionária das identidades hierarquizadas possuam dificuldades em operar democraticamente, como o caso libanês que, além de ter sido citado pela autora, é muitíssimo bem ilustrado no filme Incêncios, de Denis Villeneuve; do ponto de vista da República, basta lembrar as estátuas, monumentos que fazem parte da coisa pública e podem ser utilizadas para boa e crítica reflexão históricas, que foram queimadas como portadoras de um ideal de passado colonial.

         Porém, é necessário refletir que o fenômeno pode vir a ser sintoma de algo mais profundo e mais complexo. A derruição progressiva do tecido social, das relações entre as pessoas, está à vista de todos e a afirmação excessiva de si mesmo contribui para minar os laços de solidariedade. Essa anomia é complexa e deriva de um novo mundo em que estamos marcados por mudanças profundas e dolorosas. O adoecimento da sociedade segue seu curso, obrigando os indivíduos a confrontarem a si próprios ao modo de um Narciso. A incapacidade social de dar respostas concretas aos seus problemas gera, inclusive, sofrimento psíquico: não é possível uma sociedade minimamente onde todos são reis e estão acima dos outros, em eterno conflito.

         Na festa de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, a voz da atriz Regina Casé ecoou, em português, pelo Maracanã e por todos que assistiam no planeta: “Chega de briga. Estamos aqui hoje para buscar as nossas semelhanças e, principalmente, celebrar as nossas diferenças”. Seremos nós, os brasileiros, sociedade altamente miscigenada, como nas concepções de um Gilberto Freyre e de um Mário de Andrade, que iremos abrir mão do que melhor produzimos em termos de pensamento e celebrar nosso bicentenário dando ao mundo a piora da doença e não o remédio para superarmos esses tempos de anormalidade? 



[1]Doutorando em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela UFRRJ e professor do Instituto Devecchi.


BOLETIM ROMA CONECTION - NÚMERO 29 - SOBRE A INTERRUPÇÃO DO DEBATE PROGRAMÁTICO: O CASO DOS EUA


 

Mudança jurisprudencial na interrupção da gravidez nos EUA 

Ricardo José de Azevedo Marinho[1]


A decisão Dobbs v. Jackson Women's Health Organization da Suprema Corte dos Estados Unidos da América que muda a jurisprudência sobre a interrupção da gravidez num grande número de estados constitui de fato uma das mais complexas decisões em termos das liberdades nos últimos anos naquele país. Embora existam várias maneiras pelas quais os defensores do direito das mulheres de decidir livremente sobre seu estado físico no sentido de poderem limitar e/ou neutralizar os efeitos dessa decisão, o impacto é inegável. Há muitos ângulos a partir dos quais o complexo resultado de meio século de luta dos norte-americanos contrários à interrupção da gravidez pode ser analisado como tem mostrado o procurador e professor Cassio Casagrande em sua coluna O mundo fora dos autos do JOTA; vamos ver duas, uma relacionada à estratégia que os ativistas favoráveis à liberdade de escolha seguiram há cinquenta anos e aquela que eles podem intentar agora.

Vamos primeiro entender a lógica do movimento a favor à liberdade de escolha das mulheres e seus aliados políticos. A partir da decisão da Suprema Corte dos EUA de 1973 que permitia a interrupção da gravidez no território norte-americano, todos se consideravam mais ou menos bem atendidos. O movimento descansou nos louros e não houve insistência em buscar um corolário legislativo para Roe v. Wade. Pelas mesmas razões que muitos ativistas negros e latinos nas décadas de 1970 e 1980 preferiam travar suas batalhas por direitos no tribunal em vez de diante das câmeras, os defensores do direito à liberdade de escolha ficaram satisfeitos com sua vitória no tribunal.

Entre 1973 e o 24 de junho de 2022, houve três momentos em que havia uma possibilidade - de formar alguma certeza - de que ambas as casas do Congresso dos EUA pudessem ter aprovado o equivalente à Lei Simone Veil (1927-2017) que legalizou o assunto na França em 1975. Entre 1977 e 1980, durante a presidência de Jimmy Carter, os democratas tiveram uma maioria confortável na Câmara dos Deputados e 61 votos no Senado. Como se sabe, devido à chamada regra de obstrução, são necessários 60 votos para aprovar uma lei controversa no Senado. Os democratas os tinham. Claro, nem todos os senadores eram favoráveis à liberdade de escolha, mas havia alguns republicanos que se juntariam a eles.

A mesma coisa aconteceu com Bill Clinton em 1993-1995, com apenas 57 senadores, mas com o apoio de senadores republicanos que provavelmente teriam falado a favor. E com Obama, durante os dois primeiros anos de seu mandato, até a morte de Edward Kennedy (1932-2009), ocorreu a mesma configuração. Nenhum dos três presidentes, nem mesmo as esposas do segundo (Hillary Clinton) e do terceiro (Michelle Obama), insistiram em lutar para aprovar uma lei que legalizasse a interrupção da gravidez. Teria sido exaustivo, teria polarizado a sociedade e impedido o progresso em outras frentes (Obamacare em 2009), sem dúvida. E nada garantiu - nem garante hoje - que uma lei dessa natureza não pudesse um dia ser revertida por uma maioria republicana, embora o partido de direita não atinja a cifra de 60 senadores há muitas décadas.

Ministro da Suprema Corte Clarence Thomas

Uma segunda reflexão refere-se à estratégia que agora se segue. Por várias razões, há uma grande tentação de abraçar a tese da interseccionalidade e equiparar a luta das mulheres à liberdade de escolha com a dos homossexuais e lésbicas pelo casamento, o direito à adoção e a dos transgêneros, contra um conjunto de práticas discriminatórias. Entre outras razões, destaca-se, evidentemente, a opinião do Ministro Clarence Thomas (o segundo negro a integrar a Suprema Corte), que afirmou que o mesmo raciocínio jurídico sobre a liberdade de escolha, a saber, que a Constituição não prevê o direito à liberdade de escolha para a interrupção da gravidez, nem à contracepção, nem aos casamentos de do mesmo sexo, nem relações homossexuais consensuais, devem se aplicar a esses outros pleitos.

Mas os ativistas favoráveis proponentes de Roe v. Wade e o direito à liberdade de escolha para a interrupção da gravidez nos EUA podem estar errados se eles amalgamassem todas essas lutas. Há uma importante maioria da sociedade norte-americana a favor do direito de interromper a gravidez. Este está começando a ser, ao que parece no que tange aos casamentos gays (embora não inteiramente), mas certamente não com questões de transgêneros. Nem falemos da teoria crítica da raça e/ou da explicação da história dos EUA através do racismo sistêmico com a qual o Ministro Clarence Thomas também não deve concordar. Mas reunir tudo isso em uma grande luta de minorias oprimidas contra o heteropatriarcado, neoliberais e racistas nos EUA é um risco sem chance de mitigação. E eles podem estar prestes a fazê-lo e poderão angariar outros dessabores.

 

17-18 de julho de 2022



[1] Professor do Instituto Devecchi, da Unyleya Educacional e da UniverCEDAE.



segunda-feira, 18 de julho de 2022

CRÔNICA DE PALOMA AMADO - MEDO


Medo[1]

Por Paloma Jorge Amado

 


Estou com medo. As manobras para o golpe estão sendo feitas escancaradamente no nosso nariz, sem o menor pudor. O presidente do Congresso, sentado na pilha de pedidos de impeachements que residem inquietos em seu escritório, determina voto remoto para aprovação da Pec que atende, não às necessidades reais do povo que passa fome, mas  a uma eleição que o monstro quer ganhar a todo o custo.

Monstro sim, que tenta inverter a culpa no brutal assassinato de um pai que festeja seu aniversário com alegria. Monstro que não é capaz de se condoer com o drama das mulheres estupradas na hora do parto, por outro monstro que se faz de médico.

O monstro que se faz de Presidente da República ri da nossa cara dizendo não incitar à violência, quando o País estarrecido vê seu filho, com a filhinha no colo, “apagar as velinhas” de um bolo de aniversário em forma de revólver, dando continuidade à educação para a morte, única que conhece.

Estou com medo. Fico pensando para onde fugir, no dia que a Democracia for definitivamente extinta, com muito sangue e publicação no Diário Oficial. 

Nasci no exílio, minha morte terá o mesmo fim?



Por ser neta de anarquistas, a Itália negou cidadania a minha mãe, em cujas veias corriam cem por cento de sangue italiano, e a mim por tabela. Minhas origens portuguesas me levam aos Amado sefarditas que fugiram da inquisição e vieram de carona com Nassau para a nova pátria. O escravo que casou com a menina Amado, gosto de pensar que tenha vindo do Benim, mas não sei na verdade de qual tribo foi arrancado naquele então, para o mais cruel dos destinos, a escravidão.

Resta-me minha Tchecoslováquia natal, atual República Tcheca, que me garante cidadania européia. País que tem sofrido com a guerra sua vizinha e onde se fala língua difícil, mais difícil que o português. Para ter passaporte tcheco, preciso falar tcheco e também morar no país por cinco anos… Será que ainda me restam cinco anos? Até lá terei a idade de Tati Moreno, meu amigo escultor — e que escultor maravilhoso! —, que morreu esta semana. A ele todas as minhas homenagens.

Tudo que sei da língua tcheca, aprendi com meu irmão Juca, o único da família que realmente dominou esta língua um dia.  Aliás, ele pintou e bordou em tcheco na sua tenra infância.  Conto aqui duas historinhas que me foram contadas inúmeras vezes por minha mãe, acontecidas antes de eu nascer.

Um dia tomaram um ônibus para irem de Dobrîs, onde moravam, a Praga. Juca vinha sentadinho ao lado de mamãe, o ônibus cheio, todos quietos. Como silêncio não era com ele, começou a falar bem alto, para que todos escutassem:

“Eu sou um menininho brasileiro que vive no Castelo de Dobrîs. Meus pais são exilados e não podemos voltar para o Brasil. Meus pais têm bicicletas, eu não tenho. Na bicicleta do meu pai e na da minha mãe tem cadeirinha para mim. Quando é uma subida, eu vou com a minha mãe, para descer ladeira eu vou com meu pai…”

O ônibus em peso caiu na gargalhada, inclusive mamãe… O tcheco falado dele era bom, ele contava sua história e distraia o público nos 20 km de viagem.

Era menorzinho, quando cometeu traquinagem fatal, ainda no Castelo de Dobrîs. Ao entrar no seu escritório para trabalhar, papai encontrou Juca derramando todo o conteúdo do tinteiro sobre o tapete.

 

— João Jorge Amado!


Ao ouvir seu nome completo, dito assim até com sobrenome, Juca soltou o tinteiro e saiu correndo, papai atrás dele.  A picula foi pelo castelo inteiro, salas, cozinha, corredores sem fim. Já exausto, voltou ao local do crime, ajoelhou-se frente ao retrato de Lenine, pendurado na parede, postou as mãozinhas como se fosse rezar e implorou por ajuda:

 

— Nenine…

 

Invocava o líder com o nome que entendia. Deu resultado. Papai, botando os bofes pela boca, morreu de rir. Se houvesse a intenção de uma palmada na bunda, essa morreu aí.

Nunca apanhamos, nem surra nem uma simples palmada, em tempos que a prática era comum. Chamar pelo nome completo fazia tremer, depois vinha uma conversa séria, que sempre terminava em abraço carinhoso.


Em nossa casa, vivemos sempre em paz e pela paz. Meu nome é um de seus símbolos, e o desejo de vivê-la plenamente, eu o introjetei por completo. Quando nasci, ganhei presente precioso de meu padrinho Nicolas Guillén, poeta cubano, que me fez um poema. Os versos iniciais dizem assim:

 

Paloma, la Reina Maga,

de un Reino de Paz es dueña:

a vivir em paz enseña

la Brasileña de Praga.[2]

 

Tudo o que desejo hoje é ver o Brasil de volta ao seu caminho democrático e pacífico. Peço encarecidamente o voto na chapa Lula & Alckmin no primeiro turno. Não é que seja uma garantia de não ter golpe, por eleger-se o presidente ao mesmo tempo em que deputados e senadores, mas é uma esperança.

Não importa se você gosta do Lula ou do Alckmin, basta gostar do Brasil e de seu povo, por ele ter respeito. Eu, pessoalmente, agradeço de coração.

Bom domingo a todos.



[1] Paloma Jorge Amado gentilmente autorizou que nosso BLOG republicasse sua crônica “Medo” que foi divulgada no domingo de 17 de julho de 2022. No início postamos uma passagem de uma entrevista da mãe Zélia Gattai sobre o exílio de seu pai Jorge Amado e família na Europa.

[2] Estou publicando a foto do original do poema, se quiserem ler os demais versos, é só dar uma olhada e sentir o peso de minha responsabilidade. Todas as fotos são no Castelo de Dobris. Juca com meus pais na bicicleta; eu no colo de meu padrinho Guillén.

sexta-feira, 8 de julho de 2022

SÉRIE ESTUDOS - STRANGER THINGS

 

O Mistério de Stranger Things[1]

Por Vagner Gomes de Souza


Na distante década de 80 do século passado um vírus foi responsável pelo desaparecimento do ator e dramaturgo Charles Ludlam. Diagnosticado com AIDS em 1986, veio a falecer em maio de 1987. Sua obra teatral mais conhecida foi O Mistério de Irma Vap que misturava as referências de filmes de terror com muito do burlesco é de 1984. O sucesso do texto teatral atravessou as fronteiras de seu país de origem – os Estados Unidos da “Era Reagan” para chegar aqui no Brasil da “Era Collor”. O Clip “Thriller” de Michael Jackson talvez tenha inspirado Ludlam, pois foi lançado em 1983. E muito poderíamos hipoteticamente escrever sobre a resistência do mundo da cultura a ascensão do neoconservadorismo através de uma nova linguagem no suspense e no terror. Portanto, o mundo do mistério e do encanto se fez presente nas possíveis interpretações daqueles anos 80 que a nostalgia contemporânea esconde seus tempos sombrios. No Brasil, a novela Roque Santeiro projetou o sucesso do professor Astromar Junqueira que se transformava num lobisomem.

Os anos 80 foram anos de um escurecimento da vida social com as aberturas para as fraturas nas relações sociais na década seguinte. A individualização suprimindo as amizades e outros laços afetivos. O medo como constante exercício do controle das pautas progressistas. Então, poderíamos identificar uma leitura desse contexto no desenvolvimento da série Stranger Things que ganhou uma audiência mundial e crescente desde seu lançamento em 2016. A muito da memória coletiva da cultura pop e de sua força no processo de globalização. Mas persiste o mistério em relação a adesão de segmentos juvenis a um seriado no qual há muito de altruísmo em seus personagens principais. Essa preocupação com o outro e a localidade em que vivem é uma mensagem que nos permite ter esperança com os passos das futuras gerações diante dos enfrentamentos do provir. Todavia, devemos atravessar o rubicão em algum momento diante dos desafios do conhecimento que um dia teriam sido ensinados pelos “Jedis”.


Ronald Reagan antes do Demogorgon

O professor Scott Clarke é uma sútil homenagem aos educadores que alimentam o exercício da curiosidade com os benefícios da dúvida em seus alunos. Não se distanciava de seus alunos mesmo naqueles tempos dos anos 80. Busca ser um “tradutor” dos mistérios do universo para aqueles que desejam crescer em tempos turbulentos. Se há um delegado investigador (Jim Hopper), não se esqueçam das chaves abertas pelo professor investigador.

O desafio do conhecimento científico é instigado em Stranger Things seja pela complexidade da explicação da aplicabilidade da “Teoria do Universo Paralelo” assim como para que as novas gerações identifiquem passagens e referências históricas daquele momento. Como se o tempo fosse visitado por um “portal” de análise no qual se faz necessário a mediação em que ainda mais a leitura e a ressurreição da educação se faz ainda necessária. O ambiente escolar se faz presente no desenvolvimento das tramas. A sua relevância já se faz presente na primeira temporada com seu clímax no último episódio.

 Demogorgon depois de Reagan

A primeira Temporada do seriado seria um alerta sobre os perigos que circulavam nos Estados Unidos de 2016 (ano da vitória de Donald Trump) no centro oeste norte-americano. Se Hawkins é uma localidade imaginária, o mesmo não ocorre com os resultados eleitorais no estado de Indiana, aonde ela se localizaria massivamente favorável a candidatura antissistema. Nada mais semelhante ao “mundo paralelo” quanto a busca de superações das crises através da antipolítica. Então, o desaparecimento de Will anuncia a chegada do Demogorgon como “provedor do mal”. Não deixemos de estar atenta a possível liberdade interpretativa em que o “tempo de Reagan” teria se congelado na mentalidade política de muitas pessoas. A referência a sobrenatural pela via grega muito nos revela também quanto a Democracia estaria sob ameaça nos dias atuais. O lado sombrio e seus “devoradores de mentes”. E desvendar esse mistério em Stranger Things é um estimulante desafio para aqueles que desejam lembrar que sempre se derrota o inimigo comum através de unidade de todas e todos.


[1] Esse artigo será o primeiro de uma série de artigos reflexivos sobre o que já se chama “Universo Stranger Things”.


quinta-feira, 7 de julho de 2022

BOLETIM ROMA CONECTION - NÚMERO 28 - HISTÓRIAS DE INDEPENDÊNCIA

O Bicentenário da Independência e o arroz com feijão da Democracia[1]

 

Ricardo José de Azevedo Marinho[2]

 

Onde a roda da fortuna vai parar? Essa é uma permanente dúvida. Mas como entender ela? Claro que ela implica numa suspensão voluntária e temporária do juízo para dar espaço e tempo a alma para que ela coordene todas as suas ideias e todo o seu conhecimento.

A dúvida estimula o discernimento e a reflexão sobre a reação visceral, imprudente e impulsiva.

Victoria Camps, a filósofa espanhola nos diz em seu livro Elogio da Dúvida (Edições 70, Coimbra, 2021) que duvidar como diz Montaigne (1553-1592) é dar um passo atrás, distanciar-se de si mesmo, não ceder à espontaneidade do primeiro impulso. É uma atitude reflexiva e prudente. A regra do intelecto que busca a resposta mais justa em cada circunstância.

Há aqueles que têm grandes suspeitas das virtudes da dúvida, principalmente na política, veem um divórcio entre a dúvida e a ação que consideram tarefa própria do político. Torcem o nariz diante dela e acreditam que ela está destinada a provocar ações sempre marcadas pela moderação e lentidão, quando não pela paralisia total da ação.

Eles preferem à reação emocional repentina, instantânea, a resposta forte e clara, mesmo que seja grossa e grosseira. A abordagem categórica que se baseia em dizer “ao pão, pão e vinho, vinho”, mesmo quando não é (e não há) pão nem vinho.

A dúvida não significa paralisia da ação, ela abre a possibilidade de realizar uma ação fundamentada que não elimina os erros, algo que não é fácil neste mundo onde todos buscam certezas, mas que ajuda a reduzi-los.

Imagino que, ao contrário, Vladimir Putin despreza a dúvida na política e seu desejo é recuperar o espaço da Rússia Imperial. A única linguagem que faz sentido para ele é a força, destruição e morte. Ele declarou que a Ucrânia não existia e depois a invadiu. Mas a realidade é teimosa, a Ucrânia tem uma história antiga e sofrida, é composta de diversos povos, de diversas línguas, passou por grandezas e tristezas. Kiev que foi o berço da Rússia, a que mais tarde foi submetida, mas acabou por optar por ser, no final do século XX, voluntariamente em Estado-Nação. Uma estrutura democrática foi estabelecida e, contra todas as probabilidades, resisti ao que deveria ter sido uma ocupação relâmpago. O que os une, o que lhes deu essa tremenda força? Claro, sua longa existência histórica.

A Ucrânia é uma democracia perfeita ou mesmo bem-sucedida? Não! Basta ver seus números, tem muitos problemas e iniquidades, mas estão unidos pelo desejo de liberdade e democracia.

Vejamos o debate (ou seria a ausência dele?) até agora sobre o bicentenário do Brasil. Praticamente ele se encontra com pouquíssimo espaço para o pluralismo, substitui a dúvida por convicções identitárias e ideológicas que se apegam a um único eixo discursivo de acordo com a conveniência. O evento envolvendo a Medalha Biblioteca Nacional - Ordem do Mérito do Livro, em alusão ao Bicentenário da Independência do Brasil (1822-2022), constituiu, lamentavelmente, mais um triste episódio.

Ler a história do Brasil de forma tendenciosa, onde apenas dominação, abuso e humilhação parecem ter existido é negar o que de melhor a historiografia produziu. É claro que isso, dolorosamente, existiu e está nela, mas também nesses duzentos anos foi criado um tecido social extremamente complexo e mestiço. De tudo isso, surgiu uma poderosa miscigenação, que moldou o nosso Estado-Nação com um valioso poder sincrético cultural.

Tivemos a vantagem histórica da emancipação numa "revolução sem revolução" no rico conceito de Gramsci (1891-1937) e da criação de um Estado laico, em que, embora subsistisse o patrimonialismo, ao mesmo tempo e de forma sobreposta, as ideias do Iluminismo e da Ilustração tiveram seu reconhecimento.

Os povos originários graças a eles e aos intelectuais se juntaram a eles como o Marechal Rondon (1865-1958), Darcy Ribeiro (1922-1997) e tantos outros persistem no Brasil, aliás, com seus direitos, suas línguas, seus costumes, seu valor cultural e seus próprios espaços de desenvolvimento que seguem sendo reconhecidos. Mas o processo de miscigenação foi enorme, foi reforçado pela migração de várias latitudes planetárias nos séculos XIX e XX, e continua sendo reforçado pela migração ibero-americana e de outras paragens no século XXI. Não há cidades puras no Brasil. Ninguém pode reivindicar pureza em nosso país.

Então temos algumas dúvidas, mas não devemos ter, porém, sobre a existência de multiculturalismo e multietnicidade neste país mestiço.

Não estamos no caminho certo, é preciso duvidar, refletir e dar espaço aos interesses gerais democráticos para termos um caminho que nos ajude a conviver e reforce aquele “nós” que Ernest Renan (1823–1892) exigiu de uma Nação, e que Norbert Elias (1897-1990) reconfigurou, pois como nos mostrou Pascal (1623-1662), antecipando Dostoievski (1821-1881), não devemos apostar a nossa integridade a roleta que aí está.

 

5 de julho de 2022.


[1] Artigo originalmente publicado em Democracia Política e novo Reformismo com o título “História da Roleta”.

[2] Professor do Instituto Devecchi, da Unyleya Educacional e da UniverCEDAE.

sábado, 25 de junho de 2022

BOLETIN ROMA CONECTION - NÚMERO 27 - A COMUNA 13 NAS ELEIÇÕES COLOMBIANAS


A sombra de Órion

 

Ricardo José de Azevedo Marinho[1]

 

Montoya, Pablo. La Sombra de Orión. Bogotá: Random House, 2021. 428 págs.

 

Imagine uma montanha numa cidade, que o tempo encheu de cadáveres e lixo, que alguns relatam como a maior vala comum da Colômbia. Graças à literatura, esses fantasmas saem dos escombros e da morte, para contar sua história. Essa é a grande narrativa do romance A sombra de Órion (2021), de Pablo Montoya.

A sombra de Órion é uma obra literária que comporta em si pontos de vista díspares, é de uma densidade significativa que ao leitor desatento pode confundir, pois sua estrutura literária é de uma polifonia de vozes na melhor chave de Mikhail Bakhtin (1895-1975) e um olhar retumbante sobre o Operação Órion, que foi uma das dezessete operações militares que ocorreram há duas décadas na Comuna 13 de Medellín, e suas terríveis consequências. Essa multiplicidade de memórias póstumas enriquece o romance e as lembranças coletivas.

Além do personagem fictício deste trágico episódio, Montoya investigou minuciosamente sua origem, causas e entrevistou alguns protagonistas. A paisagem é apocalíptica; goles, amargos; as imagens, comoventes, que forçam uma leitura calma e dolorosa. Alguns dirão que é exagerado, mas para a nossa realidade e a colombiana supera qualquer comparação com ela. A Operação Órion cria uma novo patamar de atrocidades onde o leitor encontrará grande parte do carma colombiano (será que só deles?): a cruel aliança entre pessoas jurídicas da liderança nacional e alguns bandidos, os paramilitares como as Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), para afastar outros bandidos, as milícias e guerrilhas como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército Popular (FARC-EP)[2], o Exército de Libertação Nacional (ELN) e os Comandos Armados do Povo (CAP), impossibilitando a pavimentação para qualquer caminho ao direito e perpetuam a impunidade infinita que se espalha pela pátria sem pátria.

O romance é escrito como se estivesse abordo da Operação Órion, através de um álter ego, Pedro Cadavid, o que permite uma reflexão aguda dos fatos. Este dialoga com os mortos de Órion e os posteriores desaparecidos (a grande ferida nacional que não cicatriza), que segundo parentes das vítimas estão enterrados na montanha de La Escombrera (um terreno de cerca de três hectares de lixões, utilizados para esconder os corpos das suas vítimas e não só), local de exploração sonora para o músico Mateo Piedrahita; onde na verdade à própria é enterrada dia após dia em um país anômalo com um sistema de justiça de horror.

Nesta descida ao inferno, o romancista, que também é protagonista, cai dominado pela depressão. "Estou cheio de mortos", diz ele, em meio as tempestades mentais. Ele ouve vozes, mergulha na irracionalidade, faz perguntas a si mesmo, e num epílogo delirante encontra cura no yagé (bebida dos povos originários utilizada na medicina ancestral sul-americana também por muitos povos colombianos).

Se não bastasse tudo isso, nos últimos anos, a Colômbia tem enfrentado um período de crescente polarização política, insatisfação popular e protesto social. Agravada pela pandemia da Covid-19, os acontecimentos que se desenrolam a partir de 28 de abril de 2021 são inéditos. Por cerca de três meses, grande parte do território do país ficou paralisada. A maioria dos comentaristas destacou a brutalidade da repressão policial (a sombra de Órion), as inúmeras mortes e demais atrocidades cometidas pelo Esquadrão Móvel Antidistúrbios (ESMAD, na sigla em espanhol).

Por conta desses eventos, anunciou a época que deixou de representar o país em eventos culturais, literários e acadêmicos internacionais num gesto simbólico de protesto contra essa situação e para se solidarizar com o descontentamento popular colombiano.

Como se vê, a história da Colômbia é escrita em medidas menores. A incursão artística de Montoya indica outros caminhos para se aproximar da verdade. Junte todas as peças novamente para sair desse imbróglio e tentemos ajudá-los a abolir os hábitos não saudáveis do passado. Eis, se possível, o início da tarefa gigantesca de Gustavo Petro, Francia Márquez (a Alma Agudelo, a personagem feminina da trama; sua simbologia associada a Origem, a Pachamama – Mãe Terra, abre-se a múltiplas possibilidades; com ela, está o passado e quiçá o futuro da Comuna 13) e a grande frente democrática que os elegeu.

 

23 & 24 de junho de 2022



[1] Professor do Instituto Devecchi, da Unyleya Educacional e da UniverCEDAE.

[2] PÉCAUT, Daniel. As FARC: uma guerrilha sem fins? São Paulo: Paz e Terra, 2010.

A DOCE POLÍTICA NO CINEMA - NÚMERO 11 - BATMAN E OS SEGREDOS DE NOSSA GOTHAM


The Batman: o pessimismo da razão na Gotham hodierna

Por Pablo Spinelli 

Dedicado à professora Maria Alice Rezende de Carvalho e ao centenário de Bibi Ferreira

 

Batman é o herói das HQs que melhor transmite a conjuntura que vivemos por conta da sua flexibilidade, maleabilidade justamente por conta de suas fragilidades emocionais e psíquicas. Ele não tem poderes especiais além daquilo que o intelecto, a agilidade física e o dinheiro podem adquirir. Nessa linha de raciocínio entendemos o Batman dos anos 1960 dentro da conjuntura hippie-lisérgica; dos anos 1980-90 que Tim Burton deu sua marca do expressionismo alemão para falar dos EUA destruído pelos anos Reagan e nas suas anomalias, o dos anos 2000, de Christopher Nolan dentro do significado do 11 de setembro e da guinada conservadora da sociedade em busca de um Homem Providencial e, agora, o Batman de Matt Reeves (disponível em streaming) é uma densa análise do mal-estar da civilização nos dias atuais e resgata o perfil investigativo do personagem.

“The Batman” protagonizado por um ex-vampiro que vira um homem-morcego encontrou na palidez e na introspecção de Robert Pattison um ideal-tipo weberiano do cenário da juventude moderna. Sem um passado de referência e sem um futuro de perspectiva, mergulhado na dor da depressão sem saber qual caminho trilhar. Sua pulsão é o uniforme. Ali há vida. A sua certeza é que não há certezas. Tudo piora quando descobre os problemas psicológicos da mãe (uma ousada abordagem sobre os fantasmas do baú das famílias Wayne-Arkham). Seu papel em Gotham City não está bem definido nem para ele e nem para a cidade. Sua mola propulsora é a vingança e a redenção de um legado que aos poucos se mostra nada menos que uma idealização diante do mundo real.

O elenco é primoroso e consegue brilhar em cada pequena cena ou detalhe. Zoe Kravitz (Crimes de Grindewald) deu uma releitura à Selina Kyle que mostra uma determinação superior a de qualquer homem, com exceção da do vilão principal. É dela a percepção que a cidade irá matar Batman, pois o mata em vida. Paul Dano inteligentemente aproveitou bem a releitura do Charada. Pela primeira vez esse personagem saiu do caricato e do extremo para um serial killer que acha que tem que “lutar contra tudo que está aí” em busca da verdade. É o personagem da antipolítica, contra o sistema. É o Trump, o Bolsonaro, o Duterte, o “Fora FHC”, o “Fora Itamar”, o “Ele não”, o PCO e demais personagens que acham que fazem parte de uma Cruzada moral contra o Mal. Paul Dano reviveu com sabedoria seu personagem em “Sangue Negro” através do Charada. Colin Farrel (Minority  Report)  fez do Pinguim uma releitura de Al Capone, um pistoleiro de terceira linha que vai subindo no crime organizado a partir de traições e mortes dos superiores. Assim ocorreu com a Liga da Justiça da Zona Oeste até a famigerada narcomilícia que nos assola. John Turturro (Faça a coisa certa), filho de italianos, usa todo o seu talento para fazer de Falcone a liderança do submundo que tem menos “sub” do que se imagina. Jeffrey Wright (Jogos vorazes) é a última reserva de moral da cidade como Gordon.

Apesar do elenco competente, o personagem central é a cidade de Gotham e a sua política. Nunca houve uma Gotham mais suja, mais depravada, mais doente, mais sem esperança do que em “The Batman”. Não há sol sobre a cidade. O diretor faz uma homenagem logo na abertura à Blade Runner (1982) e Bruce Wayne, assim como o caçador de androides é o personagem-narrador, uma alusão aos filmes noir dos anos 1940 e 1950, quando o cinema americano mostrava o lado B da sociedade americana pós-guerra em filmes preto e branco e com personagens imorais ou amorais. The Batman resgata esse cinema, a releitura de “Chinatown” (1974) e a influência dos excelentes “Seven” (1995) e “Coringa” (2020) para que Gotham torne-se um simulacro urbano universal.


 Em um ano de eleição para Governador, senador e deputados, Gotham nos tem muito a dizer. Um projeto de “Renovação” que não seguiu adiante por oportunismo eleitoreiro – despoluição da Baía de Guanabara; revitalização da região portuária; soluções midiáticas de combate ao crime (do candidato que dizia que ia acabar com a violência em 6 meses a UPP e o fim do crime no Complexo do Alemão sendo televisionado ao vivo) que na verdade são formas de reorganizar em termos nada republicanos a privatização da cidade nas mãos de grupos políticos, empresariais e criminosos. Gotham, como diria o octagenário e imortal Gil, é aqui. Médico/Empresário empreendedor pede favor a um criminoso para calar a imprensa; o bastião contra a corrupção é um dependente químico numa zona de prostituição; o fanático religioso quer recriar uma nova Jerusalém a partir da destruição diluviana da Sodoma moderna; o exército psicopata de cidadãos de bem (termo aparece no filme mais de uma vez) armados pela deep web; policiais servindo de escolta para criminosos, a sutil denúncia de pedofilia em um orfanato, tudo sob as mais variantes versões musicais de Ave Maria na trilha sonora e os tons metálicos e cortantes em uma homenagem ao argentino Lalo Schifrin, compositor dos filmes de Dirty Harry.

A película é o que na literatura se chama de “romance de formação”. Batman vive aquilo que um pensador (talvez não devesse ser referenciado por conta do “patriarcalismo branco ocidental”) categorizou como de estado de transição: o passado não morre e o novo não nasce. Aguardemos a saída do palhaço de Arkham e a governança de uma mulher jovem negra na prefeitura da cidade. É o otimismo que pairava com a vitória de Kamala Harris – que Biden magistralmente conseguiu sepultar – e que se renova com a segunda mulher seguida na vice-presidência da Colômbia. Nesse filme barroco há uma forte denúncia: Gotham é um exemplo da separação moderna de democracia e da República. Batman foi para a direita, Mulher-gato foi para a esquerda. Que não sigamos a perspectiva niilista de Bruce Wayne que diz "que para melhorar ainda há que piorar mais". O Brasil e o Rio de Janeiro não aguentam descer mais círculos do inferno dantesco que nos assola.