Alguns mitos foram mobilizados pelas “máquinas eleitorais” na recente campanha eleitoral a Presidência da República para que se credenciassem para as eleições de 2012. Esses mitos caem por terra se analisarmos as tabelas dos votos num setor do Eleitorado da Zona Oeste do Rio de Janeiro. São esses os mitos mais comuns que ouvimos:
1- A candidatura de Marina Silva retirou mais votos da candidatura governista;
2- A propaganda da “direita religiosa” prejudicou muito a candidatura governista;
3- No segundo turno, o candidato oposicionista teve votos graças a uma aliança com setores conservadores e ao “clientelismo político” de uma Deputada Estadual recém-eleita na sua legenda partidária.
Nesse artigo estamos recortando a Geografia do Voto nas Zonas Eleitorais 120, 122, 242, 243, 244, 245, 246 (Campo Grande e arredor). Usamos os dados de 2006 e 2010 para comparar numa primeira etapa se essas tendências ocorreram. Os votos dados a Lula e Alckmin em 2006 são comparados com Dilma e José Serra respectivamente em 2010. Para os votos “fora da polarização” PT e PSDB, efetuamos para 2006 a soma dos votos de Heloisa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT) e comparamos com a votação de Marina Silva (PV) sem considerar a votação de Plínio de Arruda (PSOL). Vejamos as tabelas:
Eleições 2006 Eleições 2010
PT
Lula Dilma
ZE 120 -> 48,2% ZE 120 -> 42,7%
ZE 122-> 49,5% ZE 122 -> 45,2%
ZE 242 -> 49,8% ZE 242 -> 44,4%
ZE 243 -> 49,7% ZE 243 -> 44,5%
ZE 244 -> 47,1% ZE 244 -> 43,4%
ZE 245 -> 49,4% ZE 245 -> 46,8%
ZE 246 -> 54,4% ZE 246 -> 47,9%
PSDB
Alckmin José Serra
ZE 120 ->25,9 % ZE 120 -> 18,2%
ZE 122-> 25,9% ZE 122 -> 17,7%
ZE 242-> 26,8% ZE 242 -> 18,8%
ZE 243-> 27,6 % ZE 243 -> 21,6%
ZE 244-> 27 % ZE 244 -> 18,5%
ZE 245-> 25,4% ZE 245 -> 16,8%
ZE 246-> 23,5 % ZE 246 -> 17,9%
PSOL & PDT
Heloísa+Cristovam (SOMA) Marina Silva (PV)
ZE 120 -> 21,3 + 4,2% 25,5% ZE 120 -> 36,2%
ZE 122-> 19,8 + 4,2% 24% ZE 122 -> 34,6%
ZE 242-> 18,8 + 4,1% 22,9% ZE 242 -> 34,3%
ZE 243-> 18,7 + 3,6% 22,3% ZE 243 -> 31,8%
ZE 244-> 20.2 + 5,1% 25,3% ZE 244 -> 35,4%
ZE 245-> 20,4 + 4,1% 24,5% ZE 245 -> 36,8%
ZE 246-> 18,4 + 3,3% 21,7% ZE 246 -> 33,7%
Observamos que tanto Dilma quanto José Serra tiveram uma votação menor que seus companheiros de partido nas eleições de 2006. Entretanto, o candidato do PSDB perdeu mais votos comparados a 2006 que a candidata do PT. Portanto, na Zona Oeste carioca a candidatura Marina Silva atrapalhou mais a candidatura da coligação oposicionista que a candidatura situacionista. A surpresa da votação de Marina Silva, pelo menos na Zona Oeste carioca, não surgiu, portanto de uma base eleitoral que já existia em 2006. Observem que PSOL e PDT tiveram somado mais de 20% dos votos nas Zonas Eleitorais pesquisadas. Logo, não foi uma “onda de votos” evangélicos, mas uma “onda de votos de Terceira Via” acrescidas de um eleitor flutuante que veio mais da própria oposição.
Logo os Votos da "direita religiosa" em Marina Silva na região estudada não foi muito expressiva como a imprensa fez divulgar. Houve um senso de oportunismo político das lideranças políticas evangélicas em capitalizar o total do eleitorado de Marina Silva, porém a base seria de uma “Centro-esquerda” de terceira-via. Esse leitorado não teve uma visibilidade política no discurso do segundo turno, pois os candidatos finalistas optaram por dialogar com temas conservadores para resgatar seu eleitorado flutuante à medida que os eleitores clássicos à esquerda se dividiram numa ou noutra opção.
Desse ponto de vista observamos que a soma dos votos perdidos pelo PT e PSDB em 2010 comparados com 2006 forem somados com a votação de PSOL/PDT em 2006 teremos a votação de Marina da Silva em 2010 na Zona Oeste. Há uma diferença para baixo que se atribui ao fato de não somarmos a votação de Plínio de Arruda (PSOL). Como esse texto é de um Professor de História e a filmografia brasileira indica que somos ruins em matemática, sugiro que peguem uma calculadora e façam as contas para cada Zona Eleitoral acima. Em todas, chegamos a esse resultado, o que desmonta o segundo mito dessas eleições logo na Zona Oeste em que os evangélicos são muito importantes nas eleições proporcionais.
Por fim, vejamos quantos votos o candidato oposicionista teve no Segundo Turno para verificar que ele teve mais do que o eleitorado conservador. Parte dos eleitores da “esquerda de terceira via” votou em José Serra, o que é uma novidade na região se compararmos com as eleições de 2006 em que o candidato do PSDB teve até redução de votos no segundo turno.
José Serra (PSDB) Segundo Turno 2010
ZE 120 ->36,6% Ganhou mais 18,4% que o Primeiro Turno
ZE 122-> 34,6% Ganhou mais 16,9% que o Primeiro Turno
ZE 242-> 35,9% Ganhou mais 17,1% que o Primeiro Turno
ZE 243-> 38,3% Ganhou mais 16,7% que o Primeiro Turno
ZE 244-> 35,9% Ganhou mais 17,5% que o Primeiro Turno
ZE 245-> 34,3% Ganhou mais 17,5% que o Primeiro Turno
ZE 246-> 31,8% Ganhou mais 13,9% que o Primeiro Turno
Muito seria simplificar que os eleitores flutuantes que abandonaram o PT e o PSDB fossem todos da “direita religiosa” e que 100% tenham optado por votar no PSDB no segundo turno logo após a assinatura da Carta de Princípios da candidata vitoriosa com as lideranças políticas evangélicas. Mesmo assim, essa diferença é inferior ao total de votos agregados ao PSDB no segundo turno. Portanto, uma parte significativa do eleitorado de “terceira via à esquerda” migrou para o candidato oposicionista na Zona Oeste carioca. Uma demonstração que é possível construir uma faixa eleitoral mais Democrática e Progressista de oposição nas eleições de 2012 desde que haja uma melhor interpretação da Zona Oeste.
A Zona Oeste politicamente não está prisioneira da Idade Média, mas expressa a emergência de uma força política conservadora semelhante ao Tea Party e não consegue dar organicidade ao eleitorado de “Centro-esquerda” na região, pois falta uma liderança política nessa faixa. Entretanto, a máquina assistencialista que trabalhou para a candidatura da oposição não deve ser responsabilizada pelo eleitorado agregado, mas deve ser um motivo de outros “centro-esquerdistas” terem anulado, ausentado do processo ou votado na candidatura governista. Assim, consideramos que o avanço do Voto Positivo na Zona Oeste carioca deve partir da premissa que há um segmento eleitoral consolidado entre 20 – 25% que não tem impacto maior nas eleições proporcionais, pois votam de forma fragmentada. Por outro lado, é possível uma vertente Democrática Progressista emergir em 2012 com forte base eleitoral na região desde que haja unidade e um discurso mais reformista.