Democracia
e República: Sem gestão não há solução
Por Vagner Gomes
de Souza
As instituições democráticas
passam por um momento de “teste” na sua capacidade de responder as açãos antisistêmicas
exercidas como um projeto político de viés autoritário que permita uma “feira
de negócios” em nosso combalido capitalismo. A economia brasileira não oferece
sinais de recuperação diante do equívoco na ausência de uma seriedade no
combate a pandemia prolongada por variantes e surtos diante de uma campanha
nacional de vacinação lenta. Milhões de desempregados, com certeza, não vão
retornar ao mercado de trabalho de imediato e/ou com a mesma renda anterior a
março de 2020. Enquanto isso, serviços públicos essenciais como saúde e
educação estão sob a gestão de Ministros que sempre atuaram em empresas
privadas. A situação se agrava com os devaneios de uma Reforma Administrativa
(PEC 32) que desmontaria de vez a capacidade de gestão weberiana das políticas
públicas, pois servidores públicos sem estabilidade implicam em
descontinuidades na gestão das coisas públicas.
A Presidência da
República é o aríete dessa movimentação que encaminha o esfacelamento das
linhas sociais consolidadas na Constituição de 1988. Uma personificação de uma
guerra de movimento da antiguidade com investigações de sobre possíveis ligações
com grupos de “centuriões digitais”. Nesse terreno de movimento as forças
retrógradas ganham corpo uma vez que não se abalaram com a sequência de
mobilizações populares nas ruas organizadas por uma oposição não articulada organicamente
num programa. As ruas não fizeram pontes políticas com as instituições partidárias.
Pelo contrário, perdeu-se tempo e energia sobre “tapas e beijos” em relação a
uma agremiação partidária que surgiu no ano da Carta de 1988 questionando as
barganhas políticas do “Centrão”.
A Democracia se arranha
pelas ações e discursos que limitam uma prática de oposição em 2021 com um
ressentimento por derrotas recentes. Se ganha força no enfrentamento dos passos
retrógrados com posturas que ampliem o canal político das forças democráticas
através de um debate programático. O ex-Presidente Lula se manifestou nas redes
sociais sobre a necessidade de uma reconstrução de nossa Democracia.
Concordamos com esse ponto de vista e aprofundamos a ideia do quanto esse será
um longo processo de reencontro de nosso país com a formação de quadros para
uma gestão pública coordenada. Não se alimenta uma gestão administrativa com
gasolinas incendiárias de nosso passado, mas com um compromisso de uma
renovação republicana a partir desse momento de debate sobre o bicentenário do
começo de nossa formação como Estado Nação.
Não se faz política com
calculadoras de coeficiente eleitoral. Essa deveria ser a postura das forças
democráticas para melhor enfrentar essas ameaças autoritárias que visam
subtrair a capacidade de gestão administrativa do Brasil que ganhou fôlego após
1930. Há anti-Revolução Passiva para todos os gostos nesse mosaico político,
mas a política democrática ainda precisa de se firmar com laços e aliados
programáticos no centro político. Portanto, a gerência programática é condição
para formação de futuros gestores em conexão com a vida pública. Não podemos
deixar de reconhecer que há forças de oposição que não compreendem ainda
tamanha a importância da moderação da Democracia nesses tempos turbulentos,
pois atacam o Presidente da República como se estivessem nas eleições de 2018.
Esse trágico ano precisa ser superado não só pela ampliação da Frente
Democrática assim como pela introdução de uma nova orientação programática.
Esse é ainda o papel de valor dos Partidos Políticos se estiverem, de fato,
compromissados com a questão democrática uma vez que formação de quadros se faz
numa gestão programática e não com agrupamentos de militantes de um jardim de interesses.
Se o Partido Político ainda poderia ser entendido como o “Moderno Príncipe”, a
gestão democrática das coisas públicas fortalecerá a luta pela reconstrução das
instituições desde que também superemos os anéis burocráticos disfarçados em “narrativas”.