quarta-feira, 7 de julho de 2021

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 23


 Imagem retirada desse site https://www.brasildefato.com.br/2021/06/18/ardendo-igual-fogueira-de-sao-joao

A Questão da Juventude

Para minha filha Frida: que nunca se cale!

Por Vagner Gomes de Souza

 

A imprensa alinhada ao posicionamento liberal, como O Estado de São Paulo, tem feito um esforço para empreender uma análise mais smithiana a questão da juventude no Brasil. O arauto do pensamento da grande burguesia paulista deve ter noção do quanto o segmento juvenil 15 – 29 anos serão fundamentais para uma possível mudança do cenário político nas próximas eleições. A questão da juventude poderia realinhar as forças de um centro liberal em favor de uma candidatura mais competitiva uma vez que o “voto de fúria” no atual Presidente em 2018 não trouxe ganhos políticos, sociais ou existenciais. Portanto, é importante acompanhar os editoriais desse diário sobre o tema uma vez que há uma “crise” na formação de novos quadros na faixa mencionada. A demanda liberal da juventude é facilmente “capturada” nas linhas dos Editoriais. A ideia de mercado é hegemônica até nas mentalidades daqueles que se pronunciam como “esquerdistas”, porém manifestam seu livre direito de manifestação de suas ações individuais num terreno imaginário em “coletivo”. As demandas dos jovens trabalhadores estão ausentes uma vez que o impacto do desemprego é mais grave nesse segmento e muitos sonham com o “neoludismo” que seria tentar desprecarizar um mercado de trabalho já estruturalmente se consolidando na automação e digitalização. Mais Inteligência Articial e menos empregos para a juventude num momento em que o mundo sindical assume um perfil do último baile de Terceira Idade.

Vamos começar em ordem cronológica aos comentários sobre três Editorias do porta-voz da Faria de Lima como alguns dizem. No dia 9 de junho foi publicado “Fuga de Cérebros” que faz uma abordagem sobre a situação dos “jovens altamente qualificados que buscam no exterior, especialmente em países que mantêm programas de atração de talentos, postos de trabalho que não conseguem ter no Brasil.” Em suas linhas, o problema é apresentado sempre preservando a gestão da economia em “cortar gastos públicos”. A redução de 87% nas bolsas de Doutorado e Pós-Doutorado é atribuída ao “negacionismo”, mas esse seria a manifestação da imposição de um programa que continua defendendo o “Teto de Gastos”. A gestão desastrosa precisa ser mais bem atribuída tanto ao ultraliberalismo do Ministro da Economia quanto a omissão do Ministro da Educação. Os números de “Fuga de Cérebros” são assustadores, mas também ficamos assustados com o silêncio nessa atribuição de responsabilidade. Além disso, não outra forma de manter essa mão de obra qualificada em C&T sem a ampliação dos gastos públicos nas Universidades que foram colocadas à deriva por um Ministro da Educação que “aparelhou” o MEC para um segmento religioso empreendedor na educação. No lugar da palavra “genocídio” deveria voltar ganhar força nos debates da juventude a palavra “exploração”, pois formamos uma juventude praticamente condenada a ser “exército de reserva” do mercado de trabalho no infinito.

No dia 12 de junho, “Retrato da Juventude Brasileira” faz uma abordagem do o levantamento da FGV Social Jovens: Projeções Populacionais, Percepções e Políticas Públicas. Numa base de 50 milhões de brasileiros é muito estranha a falência das juventudes partidárias na mobilização desse potencial político. E o sucesso dos YouTubers como formadores de opinião deslocou em muito os índices de ativismo a partir do que se leu. O Retrato dessa geração já se expõe na frase: “EU VI NUM VÍDEO QUE....” Diferente de décadas no passado que fazia-se a frase: “EU LI NO JORNAL OU NO LIVRO QUE...”. Uma mudança na antropologia de uma juventude que se diz mais insatisfeita. Onde estão as organizações da Juventude? Alguns diriam que estimulando o “Parque das Diversões” do ativismo com fortes graus de aprisionamento aos domínios do mercado até em níveis existenciais. O ator político é um incômodo para uma geração que sofre a “coletivização” de Hayke com se fosse bandeiras libertárias. O Editorial destaca o empobrecimento da juventude sem essas nuances da política. Simplesmente o ingrediente da preocupação não estaria formando uma Frente Democrática na juventude, mas a deixando a deriva sob perigosas influências. “(...)O levantamento mostra que o jovem brasileiro confia menos nas instituições do que a média mundial.(...)”.

Contudo, observamos a grande preocupação do órgão oficial da Avenida Brigadeiro Faria nessa passagem: “O fenômeno é global. Até 2060, o porcentual de jovens deve diminuir 95% no mundo. Isso significa menos força de trabalho e mais gastos com saúde e previdência. O Brasil precisa pensar agora em políticas para lidar com essa transição. Os gastos com educação devem diminuir, mas o sistema previdenciário precisará de reformas periódicas.” Nada sobre a geração de empregos ou sobre o entendimento que a política social poderia ser aprofundada sem receios com os gastos públicos. A transição demográfica para o envelhecimento da população seria uma fatalidade para alimentar novas reformas. Mas para não dizerem que lemos apensa pontos negativos, concordamos que o otimismo da vontade da juventude de fato precisa se expressar na necessidade de colocar esses jovens na vida pública. Uma tarefa que muito motivou um pensador sardo antes do advento do fascismo na Itália.

Agora, encerremos nossa breve resenha sobre esse olhar da questão da juventude pelo viés da burguesia de São Paulo ao comentar “O País que Queremos Ser”, de 28 de junho. Esse seria a terceira parte desse esforço programático sobre o tema, que chama a atenção para uma juventude se afastando do país. Não seria esse um jornal crítico do Estado Nacional? Então, a ideia de jovem do Brasil convive com o desalento da linha editorial do jornal, pois não reconhece os limites do liberalismo em tempos de pós-pandemia. Não se espanta que estejamos com jovens que não acreditam no progresso através do trabalho num momento em que as sequelas da Reforma Trabalhista se expõem no cotidiano. Redução na cobertura de direitos sociais poderia estar nessa resposta da juventude. Outro momento que nos obriga a chamar a atenção para a ausência dos atores políticos.

Se a insatisfação com o Governo Federal é elevada na juventude, o sentido da  responsabilidade das atividade políticas devem se fazer presente para superar um universo de individualização nas manifestações de rua. O Palanque dos Discursos políticos cederam espaço para os cartazes nas mãos dos indivíduos. O que está se formando politicamente com essa dinâmica? A questão da juventude precisa ocupar os programas formando palanques que reintroduzam a política com “P” maiúsculo. Afinal, teremos uma longa transição pela frente. O desafio é que os cartazes nas mãos dos jovens virem um debate programático. Para isso leitura e escrita se faz fundamental para essa geração dos caracteres do Twitter. O desafio é muito maior para o campo democrático, pois requer incomodar uma sensação da política como resultados eleitorais e espaços conquistados. Há muitos jovens afundando no Titanic Brasil sem a boia da política que seria o papel do “ator”.


7 comentários:

DaniloC disse...

Muito interessante a preocupação abordada com o impacto dos ultimos anos de política na vida dos jovens. Acho que texto com uma escrita mais simples poderia ser mais eficiente em alcançar público já que muitos não compreenderiam certas passagens. Gostei que não apresenta respostas sólidas para o problema e apresenta o texto com algumas informações com intuito de gerar a discussão e dentro do possível levar esta discussão para fora da página. OBS:existem alguns breves erros de digitação no texto, nada que prejudique. Parabéns pelo texto.

Unknown disse...

É triste ver esse desmonte do ensino superior, dessa forma ao longo prazo será visto uma desigualdade maior.

Unknown disse...

Bom, Comentário. Imagino que temos neste momento, desafios e necessidades ainda maiores, reverter um quadro pintado pela genial e excludente burguesia, que também encontra em um acumulo de bens, e capitais. Mais só isso não vai garantir, sua existência.
Pois o conhecimento e novas idéias serão obrigatório para que possam continuar com protagonismo, cada vez mais verticalizado.Na referida sugestão de jovens, ainda é predominante a mensagem vindo de seus cordões umbilicais, pois uma pessoa só pode ser reconhecida, pela consideração sócio cultural e sócio econômica. Privilégio do nepotismo e agregados ao estado burguês que odeia comunismo e/ou socialismo? Uma retórica que enjoa, pois, sabemos quem paga a conta, porém está na hora da revelação de fatos, cujo estado democratico é aquele que garante tanto ao pobre, quanto ao rico, pois uma sociedade civilizada deve reconhecer o direito alheio, como o seu próprio, mais apropriar indevidamente é dominação de má fé. Narrativa deve ser desconstruída no debate que devem ser de diálogos e não repressão, de tipos comuns que viram na política uma oportunidade de fazer negócio e não de enfrentar demanda de seus sócios (povo) que a séculos vemos os mais pobres pagarem para os mais ricos, bolsas escolas, beneficios de toda ordem, auxílios de valores altos e muita mordomia, para quem já recebe muito. Punir os jovens com estado excludente e policial é um erro, pois não é idéia de quem sabe quem recebe e quem paga.

Unknown disse...

Muito interessante a forma como foi abordado o atraso a excludente burguesia e o Estado em sua inércia quando o tema é o ensino superior. É hora de tornar claro que a democracia é garantista dos direitos de todos.

Bia e Vinnicius disse...

Muito verdade tudo o que foi abordado, precisamos sim cooptar essa juventude com objetivos certeiros.
Concordo com um comentário acima de que a linguagem poderia ser um pouco menos rebuscada, até para que seja mais compreendida.
Parabéns.

Unknown disse...

Parabéns, perfeito 👏🏽👏🏽👏🏽

Regiane Oliveira disse...

Excelente!Parabéns pelo tema.