A Política precisa Renascer
Por Vagner Gomes de Souza
Uma
peça do Renascimento é inspiração para um Laboratório de Teatro num Presídio de
Segurança Máxima na Itália (Rebibbia). Trata-se de “Júlio Cesar” do dramaturgo
inglês William Shakespeare que inspirou o premiado “César deve Morrer”, ganhador
do Urso de Ouro de Berlim de 2012. Dirigido pelos octogenários irmãos Paolo e
Vittorio Taviani, o filme coloca em cena presidiários condenados por
assassinatos, participação na Máfia, narcotráfico, etc. A sensibilidade do
filme é muito inspiradora para aqueles que debatem politicamente os Direitos
Humanos. Isso é marcada pelo predomínio do Branco&Preto no primeiro filme
digital dos irmãos Taviani. Uma peça densamente dramática que gira em torno de
um “tiranocídio” e seus desdobramentos deixa o expectador numa prévia tensão
sobre o desenvolvimento do roteiro.
Em
“César deve Morrer” a tensão aparece em elementos muito sutis e quase que
atomizados. A caminhada do público para a o mundo da liberdade enquanto os
detentos/atores vão para as celas. A forma em que os detentos/atores são apresentados.
As falas em dialetos italianos quando um detento/ator responde “sou um cidadão
do mundo”. O teatro do presídio em reforma, o que faz os ensaios ocorreram em
espaços do complexo penitenciário. Uma rude discussão entre dois
atores/personagens que não impede a volta ao centro. Seriam os exemplos
marcantes de um filme que ensina o exercício do perdão pela arte da política ou
seria a política pela arte.
Atores/detentos numa das cenas do filme
Surpreendente
que “César deve Morrer” seja um filme de uma Itália em constante impasse
político como a Roma do Século I A.C.. A Itália da crise de formação de um
Gabinete após uma eleição parlamentar. Os ensinamentos do filme dos irmãos
Taviani não chegaram a formação de atores políticos em plena capacidade de
surpreender na política italiana. O Testamento de César incomoda o mundo da
política contemporânea que está cada vez mais para “Romeu e Julieta” para lembrarmos-nos
de outro drama de Shakespeare. Afinal, testemunhamos momentos de polarizações
diante de uma “esquerda” que se cindiu entre o desencanto weberiano ou a
ideologização. Assim, os temas contemporâneos não estão sendo reconhecidos nas instituições
políticas aprofundando um fosso entre a sociedade e o Estado Democrático.
Nossa
situação brasileira também teria muito que aprender ao assistir o filme “César
deve Morrer” diante das opções polarizadas assumidas pelas duas vertentes em
debate por exemplo na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. A
eleição de um representante do “baixo clero” a Presidência da citada Comissão
foi fruto da renúncia de atores políticos envolvidos no debate valorativo do
segundo turno de 2010. Esse é um ponto que emergiu das sombras da confusa
interpretação sobre a variável PL 122 (Criminalização da Homofobia entre outros
temas) na campanha presidencial diante da submissão das candidaturas do PT e do
PSDB ao compromisso com valores não republicanos. Agora, volta aos políticos a
fala: “Ser ou não ser. Eis a questão!”
Está
faltando política para fazer a Comissão de Direitos Humanos funcionar, pois
interessaria aos grandes atores políticos a manutenção da ausência do debate
político. Os setores da sociedade civil identificados com as causas dos
Direitos Humanos devem buscar a serenidade dos detentos/atores de “César deve
Morrer” para fazer a política Renascer. Uma possível saída seria formular uma
pauta de trabalho sobre a situação da população carcerária no Brasil, o que é
um ponto de ação comum com a atuação dos religiosos e militantes dos Direitos
Humanos. Trata-se de um momento de reconhecer os pontos comuns: dignidade nas prisões,
condenação a pena de morte, oposição a redução da faixa etária para a
penalidade, uma política humana para casos da falta de acessibilidade e
inclusão dos portadores de necessidades especiais, etc. A lista de possíveis
pontos comuns é imensa se souberem exercer a política sem polarização ao
contrário de “pós-modernos esquerdismos” que sugerem a renúncia dos
parlamentares a atuação política na Comissão.
SERVIÇO:
Se você mora no Rio de Janeiro e não assistiu ao filme “César deve Morrer”,
nossa dica é que assista logo pois está em “fim de linha” no Circuito Carioca.
Semana
– 29/03 – 05/04
Cine
Santa Teresa: 14 h, 17:30 h
Estação
Botafogo 3: 19:50 h