sexta-feira, 28 de junho de 2024

BOLETIM BRASÍLIA CONECTION - BBC 044 - O PRIMEIRO DEBATE TRUMP E BIDEN



Tudo começou com o Afeganistão

Vagner Gomes de Souza[1]

O primeiro debate entre os postulantes as eleições norte-americanas evidenciou a derrota política do programa externo do atual mandatário dos EUA. A sua postura “caduca” diante do mundo Globalizado o faz lembrar os anos da “Guerra Fria” e tudo começou na retirada confusa desse país do Afeganistão. Apesar de constar na plataforma das gestões de Barack Obama, esse processo se deu de forma lenta e gradual. Todavia, ato falho de Joe Biden, o Governo de seu atual opositor assinou um acordo de retirada em fevereiro de 2020. O debate expôs na conta democrata a desorganização acelerada de uma ocupação militar sem a garantia de uma transição democrática. Ficou uma distante lembrança da retirada das forças da antiga URSS que abriu uma longa estrada de atitudes fundamentalistas.

Diante da postura silenciosa e defensiva do postulante democrata, o discurso oposicionista foi ganhando maior força uma vez que mencionou que a retirada confusa do Afeganistão teria sido o sinal da fraqueza norte-americana o que permitiu a organização da Rússia para a ocupação da Ucrânia. De fato, muitas informações são negligenciadas por Donald Trump para se ter uma impressão que a Guerra da Ucrânia seria um evento ahistórico. Contudo, o Biden se colocou numa “sinuca de bico” interpretativo ao trazer ao debate a possibilidade de uma possível ocupação da Polônia que faz parte da OTAN, ou seja, essa investida seria um conflito de grandes consequências ao mundo. Diante da fraqueza em qualificar as ideias de coexistência global para enfrentar a emergência climática, a candidatura democrata se reposicionou como anti-globalização ao mesmo tempo que podemos observar um “trumpismo” preocupado com o fim da liberdade das mulheres afegãs. A fortuna se deixou conduzir pela “virtú” como nos ensinou o pensador florentino.

As vésperas das eleições legislativas na França e Inglaterra, o debate de Atlanta foi um sinal temeroso para as forças democráticas no mundo. Vemos os sinais da gradual aceitação do eleitor jovem francês pelo programa político da extrema-direita francesa. Anos de contrademocracia de Macron deu margem para esse perigo eminente enquanto uma Nova Frente Popular se formula num mosaico de posturas políticas americanizadas na sequência da aplicação na política do “Biopoder”. Por outro lado, a possibilidade da vitória trabalhista na Inglaterra nos faz pensar na máxima do segundo reinado brasileiro que dizia “Nada se assemelha mais a um ‘Saquarema’ do que um ‘Luzia’ no poder”. Tenhamos a sensibilidade em acompanhar esses movimentos às vésperas do desfecho das eleições municipais num país continental como o Brasil.

A nossa diversidade nos permite dizer que não podemos nos levar pela “armadilha” da polarização nacional uma vez que os sentimentos locais do eleitor em sua circulação de opiniões, ideias e convicções se faz pela tolerância mediada pelas lideranças locais. O antigo “cabo eleitoral” ainda faz muitos votos no mundo da disputa eleitoral e essa elite dirigente do voto não estaria contaminada pela pauta dos costumes. Um pregador numa pequena igreja neopentecostal num subbairro de Campo Grande (RJ) faz a política da boa vizinhança antes de ser uma simples “correia de transmissão” do bolsonarismo. Digamos que a política local, desde os ensinamentos de Victor Nunes Leal se faz como uma forma de reconhecimento de um sujeito como operador político.

As interpretações de calcificação da polarização da política brasileira impedem que um observador veja que Trump venceu Biden por questionar o “negacionismo” do Presidente Democrata diante do mundo pós-Guerra Fria. Diante dessas considerações ainda temos tempo para que haja um ajuste de rotas nessa campanha norte-americana e que sirva de lição para aqueles que desejam a plenitude da Frente Democrática em nosso país.



[1] Doutorando do PPGCP-UNIRIO

 


3 comentários:

Anônimo disse...

Excelente avaliação sobre o contexto global.

José Bezerra de Oliveira disse...

Estamos em tempos difíceis e o campo progressista está descolado da realidade.

Jess disse...

Quantos detalhes articulados na construção de um texto tão "globalizado". Obrigada por escrever