segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

SÉRIE ESTUDOS - HUMOR NO NOVO MUNDO RURAL

 Seria o PIB do Centro-Oeste em comparação com o do RJ? Apesar das evidências, ambos teriam crescido na faixa de 2,4 % segundo as projeções

Centro Oeste é uma peça

Vagner Gomes de Souza

 

“E nessa loucura de dizer que não te quero

Vou negando as aparências

Disfarçando as evidências

Mas pra que viver fingindo

Se eu não posso enganar meu coração?

Eu sei que te amo!”

Evidências - Chitãozinho & Xororó

 

As placas tectônicas da sociedade brasileira se movimentam gradualmente sem os grandes abalos sísmicos de nossos vizinhos da “Terra do Fim do Mundo” ou do não vizinho Equador. O censo demográfico de 2022, aos poucos, nos revela uma interiorização que foi inaugurada por JK e seu “nacional desenvolvimentismo”. Aliás, uma modernização conservadora que teve sequência em tempos ditatoriais. Assim, o exclusivo agrário brasileiro se abriu no Outro Oeste com uma “ilha de servidores públicos” que vem a ser Brasília.

Essas movimentações moleculares se observa no filme “Minha Irmã e eu” que trabalha a dicotomia “litoral” e “sertão” presente na obra Os Sertões de Euclides da Cunha. Esse é o estranho momento em que os espíritos do passado fazem um filme popular de humor andar em suas próprias pernas por temas delicados e sorrateiros. Direção, nas mãos da experiente Susana Garcia, os roteiristas e atores colocam diante dos olhos da sociedade brasileira um mundo rural mais conhecido pela música sertaneja. Um “novo e velho” mundo rural de onde surgiu o personagem Mazaropi. 

As irmãs Mirian (“sertão”) e Mirelly (“litoral”) seria a melhor metáfora para essa mutação na sociedade brasileira. Vivem seus conflitos desde criança ao ponto de não realizarem o sonho da mãe – em interpretação brilhante de Arlete Salles. Numa estória que se faz sob olhar feminino ao contrário dos atalhos que vertentes pós-modernas poderiam sugerir. A dialética sem síntese sem os atores da política nos faz reconhecer um outro estado de Goiás que já teve Pedro Ludovico (que talvez explique a predileção da elite local pelo curso de medicina) pai do ex-Governador cassado na ditadura militar Mauro Borges (nascido na mesma Rio Verde das personagens do filme).

Ambos, dirigentes políticos viveram no Rio de Janeiro em tempos diferentes da personagem Mirelly, protagonizada por Tatá Werneck. Esse Rio de Janeiro do filme é a expressão da ilusão de um antigo glamour diante de uma estrutura social falida (vide as referências aos assaltos). Nesse mundo, os ventos do americanismo do filme “Minha Mãe é uma Peça” se faz presente ao trabalhar inúmeras nomenclaturas do cotidiano social. A família repensada de uma forma humorada. Por outro lado, a irmã mais velha é Mirian (protagonizada por Ingrid Guimarães) que vive a ilusão da família perfeita. Viveu a continuidade em Rio Verde seguindo a vida óbvia da música “Cotidiano” de Chico Buarque no Centro Oeste aonde o café cede para o frango com alçafrão. Todavia, uma mudança residencial impacta no problema demográfico brasileiro. “Quem vai cuidar de mamãe?” Em que “mundo” de ilusões se assumirá os cuidados de uma idosa que fez 75 anos?

O nosso conservadorismo segue seu curso sem se deixar levar para os extremos. “Quando eu digo que deixei de te amar / É porque eu te amo (...)” é o começo da música “Evidências” (Chitãozinho & Xororó) muito bem usada no filme e que nos revela muito bem esse transformismo nesse “ziguezague” a procura de uma frente. Seria três personagens (Miriam, Mirelly e a mãe) a procura de um novo sentido que evidencie um Brasil mais brasileiro pela via de uma recomposição da política. Logo, não é apenas a busca de uma mãe, mas também a busca de uma interpretação para esse novo país que emerge. “Eu tenho medo de te dar meu coração / E confessar que eu estou em tuas mãos” segue esse outro trecho da música para ajudar a compor nossa percepção diante de uma região que nos deu uma Ministra do Planejamento.

O filme promoveu o reencontro do público brasileiro com o cinema nacional. Uma vez que o mundo real clama e há uma necessidade de fazer a agregação das pessoas de todos os segmentos por uma vida mais republicana e democrática. “Eu preciso aceitar que não dá mais - Pra separar as nossas vidas” seria uma possível provocação para aqueles que não acreditam nos valores da Frente Democrática assim como se vê na cena final do filme. Ouçamos a realidade nesse ano de desafios na recomposição democrática do centro político.

 

Um comentário:

Anônimo disse...

👏👏👏👏