Sorria: Nasci no Rocha Faria
Por Antonio Semog
Começo esse artigo com um relato de ex-professor do Ensino Fundamental numa escola pública nos tempos de Fernando Henrique Cardoso (FHC). Entrei em sala de aula e falei de fazermos uma linha do tempo com fatos marcantes de nossa vida para introduzir uma noção de mudança temporal. Então, para exemplificar, escrevi minha linha do tempo onde começava “7 de novembro de 1937 (foi uma data para causar curiosidade nos alunos) nasci no Hospital Rocha Faria – Campo Grande – RJ”. O silêncio da turma de adolescentes nascidos após 1985 foi desfeito por diversas gargalhadas. Perguntei o motivo e recebi essa resposta padrão: “Como conseguiu isso? Lá só serve para morrer gente!!!”. Esse é um retrato muito curioso, pois esses adolescentes escondiam que também tinham nascidos em Maternidades Públicas. Eram usuários “clandestinos” de serviços públicos de saúde. Diante das reportagens negativas sobre a saúde pública seus anseios eram que seus pais tivessem emprego com Plano de Saúde.
No balanço desses últimos 16 anos após essa experiência, percebemos que o atendimento na Saúde foi se privatizando a medida que muitos Planos se generalizaram com as mais diversificadas ofertas de serviços e para as mais diversificadas faixas de renda. A universalidade de atendimento público é ainda um desejo. A realidade desse atendimento na Zona Oeste uma dificuldade, pois a população, aos poucos se americanizou, e deseja recorrer ao serviço particular por meio dos Planos. Por isso, os Hospitais Públicos viraram o espaço do atendimento de Emergência ou o momento de despedida. A população se acostumou a essa interpretação perversa da americanização na saúde. Vive para pagar um Plano de Saúde ou espera a Morte na rede pública de saúde. Portanto, muitos declaram que nosso principal problema é a saúde, mas não significa que deseja uma saúde universal e pública. Deseja uma saúde de qualidade e mais liberal.
As duas candidaturas de vertente social-democrata (Serra e Dilma) não apresentaram uma leitura que pudesse superar esses limites para nossa região. Não é só de UPA que podemos pensar sobre a saúde como assunto público. O combate ao Fumo tem um impacto positivo para a saúde pública, mas seu idealizador não expõe isso na campanha política por causa do “marqueteiro”. Há diversos ganhos sociais no Governo Atual com a venda de remédios mais baratos para a população de baixa renda, porém a candidatura governista não fala numa Reforma Tributária que possa reduzir o preço dos remédios para a população em geral, pois não há Programa de Governo nessa campanha. Votaremos numa perspectiva de futuro sem que as candidaturas apresentem propostas. Há uma “chuva” de boas intenções que ajudam a movimentar o Horário Eleitoral, mas como fazer isso? Voltaria a CPMF? Qual o papel da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANSS) que regulamenta os Planos de Saúde?
O silêncio para essas questões demonstram que há muito ainda por se falar em saúde mesmo que um candidato ache que é o especialista e a outra candidata fale que está tudo um sucesso. O fundamental é revelar que a saúde privada lucra nesse país. A saúde privada ganha muito com planos de saúde que não funcionam nos momentos mais emergenciais. Os Planos de Saúde aliviam o número de usuários na Rede Pública. Por isso, não se pode polarizar com eles, mas nada explica esse silêncio do Governo Atual em relação ao descaso deles com seus clientes. O impacto de uma vida que se perde na Rede Pública é muito grande na mídia, mas ela (que recebe dinheiro de publicidade dos Planos de Saúde) está em silêncio sobre os abusos dos Planos. Infelizmente, não há um programa de “centro-esquerda” para a Saúde nas duas candidaturas que atenda aos anseios de nossa região. A idéia emergencial do Mutirão da Saúde do candidato oposicionista faz lembrar o CPC da UNE na versão Saúde na Rua no século XXI. Imaginamos uma peça: “A Diabetes vai acabar seu Edgar!” Entretanto, é pouco, mas necessário diante do quadro que vivemos.
Sejamos claros. Quantos “sacos de batata” valem um leito no Hospital Rocha Faria? Quantos são os votos que a máquina do assistencialismo faz movimentar diante desse mundo que divide a população entre aqueles que têm ou não tem Plano de Saúde. Vivemos numa região onde a baixa qualidade na saúde mobiliza a significativa votação em determinadas candidaturas que se alinham ao governismo seja um ou outro. Muito dinheiro público. Muito voto. Muita pouca mobilização popular. Esse é o que constatamos diante de uma população que aponta a saúde como problema, mas que não deseja ser a protagonista dessa solução. Essa é a fronteira que faz muitas candidaturas democráticas serem derrotadas pela política de troca de favores que nesse momento apóiam um ou outro candidato a Presidência da República.
Hoje, os herdeiros dos movimentos sociais por uma saúde pública estão silenciosos, pois foram cooptados na atual administração federal. Muitos falam em UPA e ficam em silêncio sobre a sua gestão que é de “Cooperativa disfarçada”, ou seja, a terceirização na área social que denunciavam que FHC faria hoje é uma solução desde que a população seja atendida. Logo, devemos deixar esse espírito conformista e lutar por uma pressão da sociedade seja quem for vitorioso no próximo domingo. O momento é de definir...Quem vai ser mais coerente para aceitar a pressão popular por mais saúde? Essa é a forma de melhor começar a se preparar para a pressão em associações comunitárias.
4 comentários:
Ótimo, texto, é lastimável que a população esteja acostumada a agir como uma imensa criação de gado, tendo água e pasto tá tudo uma maravilha.
Aluna : Alaine DA Costa Turma:1001
Jeannette S. C. Mannarino
O texto é muito interessante, pois é verdade que as pessoas dizem que a saúde é um problema, e com isso elas acabam votando em candidatos que prometem a fazer planos de saúde, ou melhorar os hospitais públicos, e quando elas ganham não fazem nada.
Carolina ANdrade - t:1001
creio que as redes privadas de saúde são muito mais eficazes que as públicas que infelizmente andam sempre lotadas, conturbadas e sem suporte. Deveria sim, que o governo atribuísse melhoras na saúde, principalmente na zona oeste, mas o prefeito está mais ocupado gastando milhões trocando as placas dos LAPIS das escolas municipais pra botar a cor AZULZINHA e trocando as cores de ônibus, convenhamos... sabemos muito bem que isso é desnecessário comparado a outras vertentes que movem o nosso Rio de Janeiro. Saúde e educação, creio que seja abase, não sou eu que tenho que pensar isso pois não voto, não sou eu que votei no Sergio Cabral ou no Eduardo Paes, não sou eu que vou escolher entre as opções MUITO BOAS E DIFERENTES entre Dilma e Serra. temos que nos conscientizar para votar certo e reinvidicar melhorias no nosso sistema de saúde. E graças a Deus que eu tenho um bom plano de saúde...
Aluna:Thayná Nascimento
C.E Jeannette de S.C Mannarino
Turma:1001
Muito Interessante o que diz o texto , pois na maioria das vezes as pessoas não tem condições necessárias de ter um plano de saúde próprio , que acabam votando crente que esses candidatos propostos vão fazer algo que melhore o problema da saúde da população , e que depois que passou a eleição eles ao mesmo não modificou nada e depois que elas caem na real que vão ver a palavra de ''confiança'' de verdade que eles disseram . falam só por falar , pois depois que tudo passa parece que nada aconteceu .
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