quarta-feira, 27 de março de 2024

ESPECIAL - 1964/2024 - NÚMERO 02

60 anos do Golpe Militar 

Giovana Freire, Valença-Rj

1964 poderia ser o primeiro ano do voo de um Conde Chileno[1], sinceramente nunca foi apenas um regime. Um golpe articulado pelas diretrizes da época que resultou em mais ou menos 434 pessoas mortas ou desaparecidas, fora as que foram torturadas ou privadas de seus direito diante dessa ferida que segue sem muita reflexão histórica na nossa República Federativa.

Em nossa pesquisa, relembremos o relatório “Brasil: Nunca mais”[2] que enumerou pelo menos 1918 prisioneiros políticos que testemunham terem sido brutalmente torturados entre (1964-1979), este documento -  elaborado sob apoio da CNBB - descreve duzentas e oitenta e três diferentes formas de torturas utilizadas pelos militares durante a ditadura.

Além de ler e estudar sobre, fui atrás de pessoas que viveram durante tal regime, ouvi relatos de pessoas próximas, e infelizmente só após essas pesquisas veio ao meu entendimento que sou neta de um jovem nascido em 1953 que tinha 11 anos quando tudo começou e sou filha de uma criança que tinha 8 anos quando a ditadura acabou.

Tendo por início da derrubada do então presidente João Goulart em menos de um mês do Comício da Central do Brasil (13 de março de 1964). Provavelmente, foi um fato história de nossa democracia pouco se estuda. Além disso, poderemos mencionar como relevante que o Marechal Humberto Castelo Branco ter sido decisivo na articulação de um Golpe com apoio de civis.

Portanto, que tais desvios da trilha democrática nunca mais se repitam. Ainda mais diante do que foi o 8 de janeiro de 2023 com a tentativa desastrosa e criminosa dos apoiadores  do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro[3], nem tão pouco a pouco estudada depredação de 24 de maio de 2017  em que o vandalismo imperou em alguns Ministérios do Governo precedente ao de Bolsonaro o que motivou ao presidente temer a solicitar a convocação de forças do Exército[4]. A complexidade do tema se refere a intuição do protagonismo militar um ano antes da questionável intervenção na Segurança Pública do Rio de Janeiro. As palavras de ordem “Intervenção Militar Já” e “Diretas Já” pouco sentido se faz sem uma melhor pesquisa das fontes primárias em questão.

Infelizmente mesmo após tanto anos do 1964 nada foi devidamente feito para reparação de tais fatalidades impostas. Vivemos e ignoramos todo o ocorrido desse capítulo obscuro da história brasileira. Como uma jovem nascida 17 anos após 1985 eu nasci dezessete anos após o (fim da Ditadura Militar), todas as vezes que eu ouvi a respeito  ao tema era ou com ar de desdém, ou com dores e medo da época. Por anda o papel dos intelectuais sobre o tema na Educação Básica?

Nossa Constituição de 1988 deve ser de fato um marco e não apenas mais um alvo de novos golpes, queimas, torturas, massacres e chacinas violentas ao povo Brasileiro. Eu sei que sou jovem mais como uma pessoa que está graduando para lecionar, gostaria que todos os ensinamentos fossem expostos de maneira nítida e clara.

Que nossos posicionamentos políticos não sejam mais vendas, mas que sejam pontes que todo o extremismo e radicalismo sejam “vacinado” e erradicado de nosso país. Tempos de moderação aprendendo com o passado nosso passado, os mortos tem mais conhecimento do que os vivos diria uma percepção de um livro sobre o golpe de Napoleão III. Então, não vamos nos esquecer dos que morreram por não aceitarem a nossa República a ser fazer na Cidadania.

Sejamos todos uma nação instruída, para não nos permitir cometer os mesmo erros e passar pelas mesmas situações que como diz em nossa bandeira que haja “Ordem e Progresso” e que Deus abençoe o Brasil; não só hoje como nossa pátria amada sempre e, amém!

segunda-feira, 25 de março de 2024

ESPECIAL - 1964/2024 - NÚMERO 01

1964: seis décadas depois

John Lennon

  

Ao optar pelo silêncio oficial, sobre uma reflexão dos 60 anos da ditadura militar ou cívico-militar, sobrou para os autores políticos, formadores de opinião, especialistas no mundo universitário, estudantes, seja lá quem for, é de suma importância falar sobre 1964. É de se assustar pelo tal silêncio, do Governo com disposição para se desalinhar no anacronismo histórico no uso da expressão do Holocausto na acertada crítica a ausência de um cessar fogo nos conflitos em Gaza que está a tirar vidas de inocentes.

O silêncio é uma perda de oportunidade para expor aos mais jovens o que foi essa época dura, aonde a censura, autoritarismo reinava. A ausência da memória da História é um ponto que desafia a nossa Democracia. Como explicar a um jovem, que com o seu celular, tem total liberdade, para opinar, fazer perguntas, pesquisar, e se expressar, o que de fato rolou em 64?

Para os nascidos nos anos 90 já é de grande dificuldade tal assunto, quem dirá para essa geração que nasceu no berço da tecnologia. Porém a história está aí, não tem como fugir. Esses jovens que viram o que foi 2022 estão reféns de uma polarização avaliam o passado com linhas tortuosas.

O que deixou marcado para a história brasileira nesses anos turbulentos, foram as práticas de torturas, mortes, perseguição, opressão, mas outras marcas não se apagam, a geração artísticas, a própria Igreja, estudantes, imprensa, intelectuais, entre outros, fizeram uma pressão para as Diretas já, deixando um legado que hoje se pode ter essa liberdade.

Tanto em 1964 quanto em 2022 houve uma presença de setores religiosos favorável a uma ditadura, ou seja, sair da trilha democrática para reintroduzir os passos conservadores. Contudo, muitos se arrependeram por apoiar o Golpe 64 uma vez que as forças conservadoras se distanciam das forças reacionárias. Observo, o mesmo fenômeno na atualidade aonde muitos se desligando da polarização, porém não encontrando acolhida nas forças centristas por inúmeros motivos.

Portanto, as lições dos tempos contemporâneos, fazendo um paralelo entre os 21 anos de Ditadura Militar e os tempos atuais, é que para se construir uma Frente que se encaixam todos que está disposto a virar essa página de anos turbulentos, isso inclui todas as alas, seja os conservadores em suas diversas matrizes, a direita democrática, os setores empresariais, que fogem de um radicalismo, que muitos abraçaram a necessidade de uma estabilidade política sem a necessidade de uma “política do espetáculo”. Caso não faça uma reflexão do passado, a derrocada da Democracia é logo ali. Temos os sinais das forças obscuras rodeiam a Democracia. Testemunhamos o retorno do Trumpismo nos EUA com o eleitorado hispânico e negro omisso ou aderindo e a Argentina com Milei apresenta índices de aprovação acima de 50%.

E com tal polarização, não ganhamos nada, só a radicalização que ganha espaço, dado que a antipolítica é um argumento que se pega e espalha rápido, há sempre um fantasma a ser enfrentado, e o nosso é a Ditadura Militar, que tem que ser sempre lembrado, como anos turbulentos.

sábado, 16 de março de 2024

SÉRIE ESTUDOS - AGUARDANDO O OTIMISMO DA VONTADE


Mega-Tretas


Ricardo José de Azevedo Marinho[1]

 

Mega-ameaças: dez perigosas tendências que ameaçam nosso futuro e como sobreviver a elas, do turco Nouriel Roubini. Tradução de Maria de Fátima Oliva do Couto; Revisão técnica de Andreia Marques Duarte. São Paulo: Crítica, 2023.

 

Quando em 2010 foi publicado A grande aposta, de Michael Lewis onde ele mostra que pouquíssimos tinham visto o que se passara nos anos anteriores e foram incapazes de prever a crise de 2008. Dado esse número ínfimo de pessoas que viram o que se aproximava, nada tem de surpreendente que não estejamos mais bem preparados do que agora.

Nouriel Roubini foi um dos poucos que conseguiu ter emitido avisos terríveis, em 2006, de que o mercado hipotecário subprime nos EUA era um acidente à espera de acontecer o pior e que quando a bolha arrebentasse estaríamos num mundo de dor. Ele ganhou o apelido de “Dr. Destino”. Roubini faz isso diversas vezes, embora prefira descrever-se como “Doutor Realista”. E em Mega-ameaças ele está de volta.

Mas não há nada remotamente alegre em suas advertências. Ele vê sérios problemas pela frente. As dez tendências distintas que ele identifica podem parecer um pouco megalomaníacas. Só que não. Começa com o rápido crescimento da dívida, que, após uma pausa pós-crise, recuperou-se com força, estimulada pela flexibilização quantitativa. Isto leva a uma discussão sobre a instabilidade financeira, da qual a dívida é uma das causas. Nesta mistura entra o envelhecimento da população, que pesa sobre o crescimento da produtividade e sobre as finanças públicas, cria-se uma bomba-relógio demográfica. As responsabilidades com aposentadorias e pensões revelar-se-ão um enorme problema para os governos num futuro próximo.

Passando das finanças para a política, Roubini acredita que a globalização está, na melhor das hipóteses, em compasso de espera. Ele não é tão pessimista como alguns outros, que veem barreiras comerciais a serem erguidas por todo o lado, mas o cenário mais otimista é o da “desaceleração”. A política chinesa mudou claramente, e não no bom sentido. Temos de reconhecer que a China está no caminho para se tornar a potência dominante mundial.

Ele acrescenta as alterações climáticas a este complexo de problemas. Os que negam as alterações climáticas têm explorado incertezas marginais na comunidade científica para resistir a uma ação eficaz e colocar-nos no caminho equívoco de um aumento de temperatura de pelo menos dois graus. O impacto será devastador.


Este pode parecer um território familiar, mas Roubini acrescenta outro ingrediente preocupante: a inteligência artificial (IA). A IA tornará muitos, muitos trabalhadores dispensáveis. Um pequeno número de trabalhadores de grande conhecimento no topo da pilha sobreviverá à revolução da IA. A maioria dos outros não tem as competências necessárias para competir, pelo que o desemprego e a desigualdade de rendimentos seguiram aumentando acentuadamente.

Os dez fenômenos interagirão claramente entre si. Roubini tenta esboçar o futuro que resultará. É uma visão dantesca. A inflação fará subir as taxas de juros, o que levará as economias à recessão e conduzirá à “Grande Crise da Dívida Estagflacionária”. Este será o pior período de estagflação que o mundo já viu. Ele não concorda com as previsões de aterrisagem suave apresentadas pela Reserva Federal (FED) dos Estados Unidos da América (EUA). A realidade estará em algum lugar entre um pouso forçado e um acidente de pista em grande escala.

E isso é apenas o começo dos nossos problemas. O persistente déficit comercial dos EUA e a forma como os EUA transformaram o dólar em arma, através de sanções e outros meios, resultarão no fim da hegemonia financeira norte-americana. A introdução da moeda eletrônica pela China acelerará o seu declínio e os EUA enfrentarão uma aliança entre a China, Rússia e o Irã, e muitos outros países que aderirem a ela. Outras crises serão precipitadas por este coquetel. A Itália pode ir à falência, levando ao colapso a união econômica europeia. Enfrentamos uma viagem acidentada numa noite muito escura.

Então, o que deve ser feito? Os últimos capítulos de Roubini são cuidadosamente singelos. Ele sugere que os investidores devem aumentar a proporção dos seus ativos detidos em dinheiro. Isso faz sentido, mas não vai impedir o aquecimento do planeta. A mudança tecnológica pode ajudar, mas as tecnologias que podem retardar o aquecimento global parecem ainda estar muito distantes. A renda básica universal poderia ser uma resposta à corrosão da IA, mas apenas se conseguirmos fazer com que a economia seja sustentável. Enquanto isso, fechar as escotilhas pode ser o melhor que podemos fazer.

Roubini é sempre provocativo e instigante. Mega-ameaças têm ambas as características em abundância. Ele tem menos segurança na Europa do que nos EUA. Mesmo assim ele mostra que o populismo anti-UE e anti-Euro não está aumentando. As sondagens têm dito o contrário, e o flerte da Sra. Le Pen e da Signora Meloni com as políticas anti-Euro não duraram muito. As últimas sondagens mostram que o apoio público ao Euro está no seu nível mais elevado.

Mas estas são queixas. A principal tese de Roubini, de que temos vivido acima das nossas possibilidades, confortados por uma visão de mundo Panglossiana, que precisamos mostrar seus pés de barro. Afinal, ele já esteve certo antes e nada nos aponta o contrário agora.

 

14 de março de 2024



[1] Presidente do Conselho Deliberativo da CEDAE Saúde e professor do Instituto Devecchi, da Unyleya Educacional e da UniverCEDAE.




terça-feira, 12 de março de 2024

BOLETIM BRASÍLIA CONECTION - BBC 035 - CHEGA SURPREENDER

O resto é engodo

Vagner Gomes de Souza

 

Quem vai ter um “papo reto” com a juventude? A quatro anos do anúncio da pandemia da COVID 19 pela OMS ainda muito temos que falar sobre o segmento da juventude que estaria na faixa de 16 a 34 anos. Nos primeiros momentos, tinha-se a ilusão que esse segmento estaria imune de níveis de letalidade. Apesar de muitos esforços em contrário, foi um segmento que pouco se apercebeu do que estava a ocorrer ao seu redor com as devidas exceções e aos casos de lutos familiares.

Uma parte desses jovens perderam momentos de convívio escolar num processo que impactou o desempenho escolar de muitos. Há um escandaloso “silêncio” sobre crianças e adolescentes que são analfabetos, ou seja, temos uma situação muito grave na educação. Não satisfeitos com isso, a implementação de uma reforma no ensino médio seguiu suas trilhas diante de alunos que estavam sem aulas no ensino fundamental. Escolhas ainda são feitas por jovens que consideram que copiar trechos de um artigo seria estar expressando opinião. Temos um exército de copiadores como nos antigos mosteiros da Idade Média.

Aliás, é essa a sensação que muitos educadores percebem ao vivenciar o dia a dia escolar. Aulas de Ciências reduzidas ou sem conexão com o ensino de humanidades nos faz testemunhar jovens que não validam a importância da vacinação. O negacionismo da ciência dos setores extremados é compactuado pelos defensores de uma austeridade educacional com ajustes na grade curricular. A vida está muito pior para os jovens e acham que os estudos de Projeto de Vida seriam a melhor saída. Provavelmente, para as editoras que já vendem livros com para essa inovadora disciplina. Na Ditadura Militar, período que um em cada 10000 jovens não saberá definir o que foi esse momento da história brasileira, tinha Moral e Cívica e OSPB como se fosse a solução para formatar a sociedade de crescimento econômico, mas de profunda concentração de renda.


A concentração da riqueza é a marca de nossa modernização. Crescemos ainda hoje para além das previsões, porém não é para todo esse mundo paradisíaco da prosperidade. Não teremos prosperidade diante de um quadro de “morte” do emprego como vemos emergir das seguidas revoluções industriais. Hoje estamos numa transição que causa esse incômodo social que explica em muito as figuras extravagantes que aparecem no cenário político com grande simpatia entre o eleitorado da juventude. Afinal, fazer uma política pública voltada para os jovens não é como se fosse fazer um “pé de meia”. O que virá depois?

Sabemos que a leitura está cada vez mais perdendo espaço na humanidade. No nosso país, até aqueles jovens que gostam e amam os livros veem suas vidas podadas por uma ausência de uma Política Cultural que abra espaços para a leitura. Ler e compartilhar livros com aqueles que não podem ler. Uma ideia simples, mas temos um arquipélago de Editais de Cultura formando “caixotes identitários”. Editais para aqueles que tenham condições de fazer prestação de contas, ou seja, um conhecimento acima do adequado ou que contrate especialistas. E os livros possivelmente a compartilhar não gera um cargo comissionado sequer.

Cobramos a distância da juventude da prática e valorização da democracia. Tememos que tenhamos um “ovo da serpente” a se chocar. Mas, o que as forças do campo democrático tem feito para fazer um “papo reto” com esse segmento? As chamadas juventudes partidárias faliram com os atores políticos pois servem para renovar quadros de assessorias parlamentares ou de alguns órgãos do executivo. Temos uma Secretaria Nacional da Juventude que se silencia diante da falência da educação. Talvez achem que os jovens apareçam pelo número de likes marcadas por “bolhas” de si. Sejamos francos. Não há um sorriso para nossa juventude.

Se me vierem com números da Conferência Nacional da Juventude, muito facilmente se pode dizer que no “socialismo real” os números maravilhosos eram sempre divulgados. E, em 1989, de que lado estava a juventude do Leste Europeu? Fez seu salto para a abertura do capitalismo e entramos nos estagnados anos 90. Os jovens foram se envelhecendo e se entregando a uma “guerra de narrativas” se afastando da sua própria realidade. Individualização cada vez mais marcante e os atores pretéritos da juventude com “Escola de Líderes” de gabinetes. Então, um choque de realidade se fez presente no século XXI. Esse século que ainda não trouxe um momento de bons ares para a humanidade. Do fundamentalismo islâmico a outros que vieram a se somar. A juventude mundial cada vez mais se deixou levar por uma teia da morte.

A Inteligência Artificial é uma realidade cada vez mais próxima e há um ano alguns jovens ainda riam quando qualquer educador lhe dissesse que ela viria para ficar em suas vagas de emprego. A precarização do trabalho ainda é uma fase de transição para o fim desse universo para muitos, porém ainda querem nos colocar num debate sobre o “decolonial”, o “biopoder” ou outros devaneios. Na verdade, o silêncio dessa juventude agudiza o tema da democracia ainda mais diante do envelhecimento da população.


terça-feira, 5 de março de 2024

BOLETIM BRASÍLIA CONECTION - BBC 034 - SEJAMOS SENHORES DA REPÚBLICA E DA PAZ


Águas de Março

 

Ricardo José de Azevedo Marinho[1]

 

Em muitas ocasiões, os verões brasileiros trazem a ideia de um devaneio de lazeres, de uma pausa no cotidiano, em que se esperam dias claros, diversão, leitura para alguns e, em todo momento, alegrias proximais emocionais. E no Brasil de hoje, viagens recreativas dentro e fora do país.

De fato o nosso país, que tem uma grande paisagem natural, costuma mostrar que está natureza variada e bela não é, como diz o nosso hino nacional com otimismo, “de amor eterno seja símbolo”, que tem nos faltado esse sentimento, por vezes indo a aspereza, dureza que franze a testa ao Grande Número, justo nos momentos em que menos queremos: no verão.

A esse azedume que nunca foi nosso juntam-se várias pragas e com o aumento do calor que as mudanças climáticas nos trazem, contando também com a ajuda da negligência, do desleixo e do mal, surgem chuvas e queimadas gigantescas e letais, catastróficas, para os quais nunca ninguém está totalmente preparado, a despeito da sua previsão.

É também muito triste quando perdemos mentes como a do Samuel Pinheiro Guimarães Neto (1939-2024) e a de Luiz Jorge Werneck Vianna (1938-2024), personagem que a despeito de suas idades avançadas, continuavam a servir de forma importante a vida democrática do país.

Quando tudo isto se combina, dores privadas, perdas e choques profundos que servem para nos recordar a fragilidade da condição humana, o verão torna-se voraz. Mas não só o nosso verão está sendo tenso, pois enquanto nós estamos no verão, no hemisfério norte estão em pleno inverno e esse inverno também tem sido dificílimo, mas mais do que por catástrofes naturais, tem sido por ação humana.

Na verdade, o mundo não vai bem, estamos chegando ao 1.º ¼ do século XXI com um forte fosso entre o progresso científico e tecnológico e um esvaziamento da democracia, da convivência social, da tolerância e da densidade moral.

Vivemos duas guerras sangrentas, uma causada pela cultura anacrônica czarista cuja ambição cresce cada vez mais e está pronto para repristinar o poder da Rússia, para semear cadáveres na Ucrânia e causar a morte dos seus adversários internos.

O conflito entre Israel e o Hamas surge hoje sem solução, pois ao cruel e inaceitável terrorismo do Hamas juntou-se uma resposta brutal e desproporcional do grupo da liderança israelita liderado por Netanyahu, longe em tudo do espírito das bases fundadoras de Israel.

As vozes que exigem consideração não são ouvidas, quer venham do Vaticano ou dos EUA, ou de qualquer outro lugar. Como conseguir um mínimo de acordo entre duas realidades políticas que negam à outra o direito de existir?

É muito desanimador olhar para um futuro em que a situação atual poderá não só continuar, mas também piorar.

Quem em sã consciência consegue imaginar uma situação como a atual em que, diante do autoritarismo, uma das democracias mais antiga do mundo fosse governada por Trump?

Os países democráticos e a comunidade internacional como um todo não podem parar de combater o desânimo, devem trabalhar por uma solução pacífica e justa para as guerras em curso. Neste cenário mundial, nós, brasileiros, devemos refletir seriamente sobre como viver juntos.

É claro que habitamos um território complexo e que exige muita resiliência, o que nos obriga a ter instituições fortes e que funcionem.

Não podemos avançar com um conflito social exacerbado. Com uma visão polar, concebendo o público e o privado, a criação de riqueza e o bem-estar social como questões avessas. Ao longo desse caminho tortuoso, o nosso potencial se recolheu.

Os problemas que enfrentamos inclusive o da segurança pública são muito difíceis de enfrentar, ao mesmo tempo em que são urgentes e complexos passa pela estrutura urbana e rural da polícia e da justiça, passa por uma coordenação que não deveria estar sujeita ao interesse político e imediato.

É importante e louvável a simbologia republicana demonstrada pela nota de pesar do Presidente Lula com a perda do ex-Presidente conservador Sebastián Piñera (1949-2024), do Chile, que não deveria passar despercebida, exceto para aqueles para quem está simbologia não faz sentido porque não se enquadra no seu fanatismo e mesquinhez.

A oposição faz um mau trabalho ao se comportar atávica nas suas posições; a negação mútua de “sal e água” nunca trouxe progresso e coexistência democrática em lugar algum e em qualquer tempo histórico. É verdade que talvez seja tarde para que esta abordagem seja ouvida porque o ambiente já começa a ser eleitoral e as eleições exigem que se destaquem as diferenças, mas os partidos e os candidatos deveriam aprender a olhar mais de perto as pesquisas de opinião que mostram uma ampla área a meio-termo no país e que deseja ver avanços, mesmo que paulatinos e não reconstrutivismos e/ou regressismos.

Quem sabe se o sucesso desta vez estará do lado de quem fala com sensatez, para o bem do Brasil.

                            5 de março de 2024



[1] Presidente do Conselho Deliberativo da CEDAE Saúde e professor do Instituto Devecchi, da Unyleya Educacional e da UniverCEDAE.

domingo, 3 de março de 2024

VAMOS AJUDAR NÚMERO 002 - IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA PRIMEIRA INFÂNCIA


 Fotografia do autor na infância 

Os livros e o Tik Tok

 

Ricardo José de Azevedo Marinho[1]

 

Sempre mergulho na leitura, principalmente nos romances que são quase sempre adiados durante o ano pelos livros de história e política por obrigação e conduta profissional. Tive uma infância sempre na presença dos livros do meu irmão mais velho que era também um grande leitor. Na biblioteca dele e que me apresentou e dividiu comigo, foram as obras-primas das nossas vidas: toda a coleção dos romances da Agatha Christie (1890-1976), a Dama do Crime com informações históricas e geográficas diversas, e depois, o universo infinito da literatura.

Hoje o livro está em desvantagem. A compulsão quase obsessiva por telas está privando as novas gerações do instrumento insubstituível que é a leitura. Como a argumentação bem fundamentada é uma premissa, precisamos racionalizar porque a leitura é importante.

Pois bem, a invenção da escrita é possivelmente um dos marcos primordial no processo civilizatório, porque permite a preservação e transmissão do conhecimento de geração em geração e, pessoalmente, a aquisição, análise, avaliação e processamento de informação. Evocar novas perspectivas, mergulhar em outras realidades e outras culturas. Sem ele não é possível acessar todas as disciplinas como história, ciência, arte, ética e filosofia.

É o que permite o desenvolvimento intelectual e o pensamento crítico, a imaginação e a comunicação, e com isso a capacidade de resolver os mais diversos problemas. A imprensa e o livro disponibilizam o conhecimento adquirido a públicos mais vastos e este é um fator insubstituível na criação de uma cultura e mentalidade democrática e de maior autonomia.
Fotografia do autor em 03/03/2024

É através da leitura que é possível desenvolver um vocabulário mais rico e extenso, que por sua vez é um requisito essencial para adquirir e articular ideias complexas e compreender a realidade com todas as suas nuances e sutilezas.

Há estudos que mostram que uma das maiores fontes de desigualdade é o fato de que, enquanto os mais vulneráveis ​​como as crianças usam muito poucas palavras, entre os mais lidos e lidas esta percentagem é várias vezes superior.

A literatura aproxima-nos de países desconhecidos, leva-nos a universos imaginários, dimensões alternativas e permite-nos descobrir novas ideias, novos personagens, diferentes vidas e experiências e novos horizontes. Mais do que isso, o romance é a pedra angular da empatia e da inteligência emocional, porque permite uma melhor compreensão da natureza humana e faz crescer a compaixão e a tolerância e valorizar e conectar-se com outro diferente.

Não resta dúvida de que a nossa caminhada moral não foi construída apenas a partir de normas, mas principalmente a partir de livros clássicos e outras fontes das humanidades.

Nossas convicções antirracistas se consolidaram, por exemplo, com Madame Butterfly. Poderá haver melhor introdução ao horror da pobreza e à desolação que ela traz do que Os Miseráveis de Victor Hugo? Ou uma melhor compreensão da diversidade infinita da natureza humana do que A Comédia Humana de Balzac, ou dos conflitos entre política e poder do que as peças de Shakespeare? Ou compreender a força do amor sem Neruda?

Existe uma ligação muito forte entre a literatura, a democracia e a valorização dos direitos humanos. O romance, ao promover a empatia e a compaixão, permite-nos identificar-nos com o sofrimento dos outros e isso é parte constitutiva da cultura democrática. Uma população esclarecida torna possível a participação ativa e informada nos assuntos públicos e uma vida cívica mais fecunda.

Agora, relendo esse breve texto, percebo o quanto é difícil para a racionalidade competir com a gratificação fácil e imediata do Tik Tok!

 

29 de fevereiro de 2024


[1] Presidente do Conselho Deliberativo da CEDAE Saúde e professor do Instituto Devecchi, da Unyleya Educacional e da UniverCEDAE.




SÉRIE ESTUDOS - BANALIZAÇÃO DA REPRESENTATIVIDADE


 Ficção da Representatividade

Vagner Gomes de Souza

 

O tema da representatividade racial foi aos poucos dominando o mundo globalizado a partir de suas fontes norte-americanas. Tanto lá como cá se faz comum em dizer num “lugar de fala” que hipoteticamente estaria a espelhar a face subjugada de um segmento da população. Esse viés hipermoderno esvaziaria a ampla contribuição de obras como a de Karl Marx que fez uma ampla análise do nascente mundo operário sem tocar suas mãos numa máquina fabril.  Assim, editoras, livrarias, imprensa, programas e novelas de TV, enredos de Escola de Samba, Disciplinas foram se fechando para outras interpretações ou temáticas em nome da pretensa apresentação da representatividade. Seria o momento de uma necessária “reparação histórica”, porém ela é modulada por uma elite econômica e social.

Debate muito antigo nos EUA sobre como as “derivas identitárias” estariam deslocados da realidade. O cientista político Mark Lilla muito tem contribuído nessas observações e lamentavelmente não tem uma nova edição de seus livros no Brasil desde a ascensão, nos dizeres de Peter Burke, do “mundo da ignorância” em nosso país (O progressista de ontem e do amanhã: desafios da democracia liberal no mundo pós-políticas identitárias merece uma segunda edição). Logo, seria um equívoco entender esse debate como do “campo da esquerda” uma vez que se insere nas colocações sobre o nível de uma democracia espelhada como se depara em alguns estudos da Ciência Política.

Aos poucos, alguns intelectuais e formadores de opinião se manifestam com maior intensidade sobre o tema “nadando contra uma maré” uma vez que beneficia o mercado. Imagine desejar pleitear uma indicação ao Oscar num momento em que essa problematização de representatividade fez conferir um anacrônico discurso nacionalista para diversos movimentos políticos extremistas tanto no “Make América Great Again” quanto no “Chega” do mundo ibérico.

O filme “Ficção Americana”, em exibição na PRIME vídeo, faz esse desafio de reflexão no quais muitos que resenharam seu enredo tentaram ficar alheios ao seu principal ponto. Seria possível fazer um drama familiar com atores negros sem a necessidade de reprodução de estereótipos. Negros de classe média que atuam numa saúde privada como médicos (um deles é cirurgião plástico) e não tem condições de pagar à custa da atenção a mãe em início de degeneração da memória. Todavia não se trata de um filme sobre a “saúde preta”, mas uma sátira política social de como a ficção da representatividade afasta o debate do bem estar social. Parece revolução, mas é tudo neoliberalismo.

O seu diretor é estreante na função. Muitos podem apontar os chamados clichês cinematográficos, porém o debate sobre a representatividade é uma sequência de clichês. Cord Jefferson, assim como Barack Obama, é filho de pai negro e mãe branca (os avós maternos nunca aceitaram essa relação ao contrário do acolhimento que houve pelos avós maternos do ex-presidente), mas tem a melanina raramente acentuada. Entendemos que o drama familiar seria a base de um filme sobre a busca de um representatividade no mundo real.

Cord Jefferson: Black or White nos dizeres de Michael Jackson

Cord faz um belo roteiro adaptado do romance Erasure de Percival Everett[1] o que demonstra ser um filme de opinião com o objetivo de corrigir essas “derivas identitárias”. A escolha do elenco foi nesse sentido uma vez que observaremos atores negros que atuaram em séries de TV e filmes a margem da “onda da representatividade” apesar de seus talentos conferidos em Ficção Americana.

Jeffrey Wright é o protagonista do filme depois de ter sido Felix Leiter nos filmes de James Bond estrelado por Daniel Craig entre essas aparições ele está em Cassino Royale (2006), Quantum of Solace (2008) e No Time do Die (2021) e o tenente James Gordon em Batman (2022). O ator teve um bacharelado em Ciência Política que pode lhe ter ajudado na construção desse personagem diante do tema da representatividade. Ele é Monk. Um escritor negro brilhante, mas seus livros não são populares já que ele se recusa a retratar negros de forma estereotipada em seu trabalho. Ele decide criar uma obra comercial e escreve uma história carregada de preconceitos como piada. Só que o livro se torna um best-seller da noite para o dia. Com o dinheiro caindo em sua conta, mas com a consciência pesada, Monk é obrigado a encarnar um personagem do gueto para manter a farsa.

No decorrer do filme temos o drama romântico e outros dramas vividos por negros e outros seres humanos diante do mundo real. Por exemplo, o que faz uma Clínica de Programa de Controle de Natalidade ter detector de metais? Os fundamentalistas defensores da vida usam armas e ameaçam a vida de médicos que fazem a prática humana do aborto nos EUA. Essa contradição sutilmente entre nesse filme de reflexão aonde um negro não esconde sua homofobia. E o Diretor, nascido em Tucson (Arizona) faz uma piada sobre sua cidade natal.



[1] Autor que só tem uma publicação traduzida no Brasil (As Árvores) com um valor de capa inacessível para uma previsão de entrega de 110 dias segundo o site de uma grande rede de livraria. Uma demonstração que falta um debate sobre os livros nacionais e traduções no atual Governo das Representatividades.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

LUIZ WERNECK VIANNA - PRESENTE!

O sorriso esperançoso de Luiz Werneck Vianna

 

Ricardo José de Azevedo Marinho[1]

 

Luiz Werneck Vianna é a redenção do Brasil. Sua grande vida é um exemplo para a hora que vivemos. Ele viveu como quis, isto é, da maneira mais digna. Castigado pela vida e perseguido por quem o temia, nunca conheceu o medo nem o desânimo, por isso foi um vencedor. Ele lutou por cada minuto de toda a sua existência, mesmo quando a morte o atingiu.

Sempre soube abraçar as palavras para se fazer ouvir pelos humildes sobre cujos ombros chegou à última morada. Sua vida heroica foi seu único discurso ouvido até o último canto do país por inúmeros brasileiros que, hoje velando a morte do Mestre, aguardam a sua hora.

Nós que estivemos e estaremos sempre com ele, já conhecemos um caminho que nossos descendentes, a nova geração, seguirão.


Se ele queimou a sua vida nas chamas do amor e da ciência, ansioso por iluminar corações e mentes, a tocha vermelha que acendeu para iluminar o caminho seguirá de mão em mão entre a multidão de hoje que ainda treme, que ainda só conhecem o suplicar. Elas e eles só sabem que o amanhã é grande e que terão que deixar rastros de suas vidas no caminho.

Werneck fica para nós como exemplo e como mandato. Werneck é um símbolo, e hoje é também um sinal.

Os leves sorrisos esperançosos de Werneck! Fluíam de sua alma e alcançavam seus olhos como uma chama. Acima da miséria moral e intelectual dos outros, que sempre o perseguiam, o seu sorriso espalhava-se como um sol.

Sorriso que iluminaram todos os caminhos, que iluminaram todas as inteligências, que confortaram todos os corações. É a aurora de dias melhores que ele sempre buscou prever; era sua bandeira, sua canção.

Vejo mais que o rosto, o sorriso do otimismo da vontade de Werneck. Era toda uma gama: gentileza, ternura, ironia, zombaria, expressada por seus lábios, mestres na arte de sorrir. E quando o sorriso saia dos lábios, se adentrava, eram os gorjeios de um pássaro louco, seguro de sua liberdade apesar de sua conjuntura. Quanta alegria, quanta força.

Acontece que para sorrir assim é preciso ter visto a verdade de frente sem tremer. Só os heróis sorriem assim e Werneck foi um grande da cultura heroica.

O sorriso esperançoso era sua arma mais certeira. Com ela puniu a covardia, com ela encorajou e abriu caminhos desconhecidos para nós. Quem caminha pelas estradas virgens sorri com o sorriso do Mestre.

Werneck: ao sopro de seu sorriso esperançoso um mundo se abriu.

 

21 de fevereiro de 2024


[1] Presidente do Conselho Deliberativo da CEDAE Saúde e professor do Instituto Devecchi, da Unyleya Educacional e da UniverCEDAE.



domingo, 11 de fevereiro de 2024

SÉRIE ESTUDOS - SERENO DA DEMOCRACIA

 

A Coruja da Harmonia Democrática

José Mauro (em memória) – Mestre Sala e Professor

Vagner Gomes de Souza

 

Os envelopes ainda não se abriram para verificar se o GRES SERENO DE CAMPO GRANDE cumpriu seu objetivo de seguir na Série ouro do Carnaval Carioca. Todavia, ela já pode se considerar como a grande revelação do Carnaval de 2024 pela garra de seus componentes.

Apesar das falhas em alguns quesitos, a Sereno de Campo Grande não se abateu diante das circunstâncias e demonstrou que a diversidade de forças reunidas por um objetivo é capaz de fazer uma diferença significativa na Marquês de Sapucaí. Foi um desfile que afastou as “manchas polarizadas” que descaracterizaram a cultura política de um bairro trabalhista nos anos 50/60 do século passado.

Nos 40 anos do Sambódromo – que coincidem com as manifestações das Diretas Já – a Sereno apresentou um desfile maduro e com um perfil semelhante a pluralidade das forças envolvidas naquele momento histórico de isolamento das forças reacionárias e alheias aos anseios populares.

Todos que viveram os dias de 1984 sentiram reviver essa magia da unidade na grandeza do desfile da Sereno de Campo Grande que elevou a alegria de um bairro de trabalhadores em convívio com uma classe média que sempre dialogou com eventos culturais e iniciativas populares. Se a ocupação da democracia se faz de forma gradual no bairro, nada nos impede de “furar as bolhas” das derivas de identidade que fraturam nossa percepção das instituições.

A Sereno de Campo Grande compreendeu a grandeza do momento ao apresentar o enredo “4 de Dezembro” que dialogou com a liberdade religiosa muito necessária diante das mudanças sociais ascendentes no bairro e seus arredores. Nada que apresentasse as outras escolhas como equivocadas, mas abrindo a perspectiva para que se compreenda a riqueza do sincretismo religioso como parte integrante de uma sociedade aonde a religiosidade não pode ser manipulada por intenções obtusas.

A sabedoria da coruja se fez presente na encenação da passagem do filme “O Pagador de Promessas” (1962) na abertura do desfile. Teatro, Cinema e Samba (além das novelas) fizeram parte da cultura política de Dias Gomes que sutilmente esteve presente na Marques de Sapucaí como se fosse um lembrete de que Campo Grande não pode ser uma Sucupira com “Zecas Diabos” deformados.

O carnavalesco Thiago Avis foi muito feliz em suas escolhas que puderam exibir muito da nossa riqueza na construção de uma religiosidade popular. Seria o “Ulisses Guimarães” do Carnaval carioca ao perceber os momentos necessários aos recuos em determinadas escolhas. A harmonia da democracia veio pelas vias moleculares da agregação de um movimento de solidariedade e desprendimento de muitos que nem se conheciam.

O retorno da Coruja para a Marquês de Sapucaí é uma lição do quanto há uma potencialidade cultural marcadamente democrática num bairro estigmatizado por uma intelectualidade que confunde Zona Oeste carioca com a “territorialidade da periferia”. Há força nordestina com miscigenação nesse bairro popular de Campo Grande. Não se podem deixar as lentes dos devaneios acadêmicos criar barreiras ao desenvolvimento sereno dessa Escola de Samba.

A superação do anacronismo de algumas posturas se faz presente na leveza de muitas ações em que amplos encontros se realizam. Foi feito história na agremiação independente dos resultados e se abriu uma avenida de boas novas para a Zona Oeste carioca. Portanto, há muito para se festejar com o desfile de ontem da Sereno de Campo Grande que pode contagiar outros corações para o transcorrer do ano de 2024.