O DEBATE
SOBRE O LIVRO Lindolfo Hill: um outro
olhar para a esquerda
Por Micaela
Luz
Um dos temas caros para a política
brasileira no cenário que nos encontramos é aquilo que o pensador florentino
Maquiavel escreveu na sua mais célebre obra, O Príncipe, quanto à necessidade
de uma boa governança a partir da aliança entre a virtú e a fortuna. De
maneira bastante superficial, destacamos que a virtú seria os posicionamentos, ações, cálculos do ator político e
a fortuna, bem, a fortuna seria aquilo que não depende do
ator, mas que com uma virtú bem
afinada seria capaz de trazer a má sorte em um cenário benfazejo. Os homens e
mulheres não criam a fortuna, mas podem ser capaz de dominá-la. Quando
apontamos que esse tema nos é inerente é por conta da necessidade urgente de
uma virtú potente que alie um programa político e econômico para o país – que
vive uma derruição de suas instituições republicanas e democráticas – a partir de um programa voltado ao futuro. Ao que parece, parte
da sociedade que se opõe ao atual estado das coisas prefere a face de Jano
voltada para um passado, dias de um futuro esquecido pela juventude que não a
viveu. No caso do nosso folclore, precisamos fugir da tentação de sermos um
Curupira
Tendo isso em vista, se é do passado que
se pode extrair algo para um ano de difícil eleição – que terá uma mudança no
plano federal e estadual, tanto no executivo quanto no legislativo (ponto
central que muitos esquecem), é bom tirar da cultura política brasileira algum
ensinamento para o olhar quanto ao futuro. Dessa forma, resgatar as trajetórias
ziguezagueantes do PCB enquanto partido político mais longevo da república e
com presença ativa na cultura brasileira do século passado pode ser uma lâmpada
para nossos pés caminharem.
O PCB, fundado em 1922, marcha rumo ao
seu centenário. Juntamente a isso, a biografia de uma figura ilustre para o
partido é lançada. Lindolfo Hill tem sua trajetória imortalizada por Alexandre
Müller Hill no livro Lindolfo Hill: um
outro olhar para a esquerda, livro esse que foi discutido no encontro
online que contou com a participação do autor e de professores, jovens do
bairro de Campo Grande na Zona Oeste do Rio de Janeiro, além de remotamente,
várias pessoas de diferentes idades tantoto em Minas Gerais quanto no Rio de
Janeiro. A proposta do encontro teve como norte discutir o livro e também o
Brasil como anunciou o mediador Vagner Gomes.
Inicialmente foi apresentada pelo autor
uma pequena síntese de quem foi Lindolfo Hill e como seu pensamento e sua ação
dialogariam com o contexto atual do país. No livro, como comentado pelo
professor Ricardo Marinho, foi trazida a questão das perseguições, das prisões e
das torturas que o biografado sofreu pelo Estado brasileiro, o que justifica o
medo, ou melhor, o receio, de muitos familiares de Hill a se esconderem e não
participarem de relatos para o livro. O
professor ainda divaga sobre os desafios enfrentados pela democracia atual, de
modo a que ela se aplique verdadeiramente no país, visto que, em um período da
trajetória de Hill, a cassação dos políticos comunistas eleitos
democraticamente na década de 1940 acabava por revogar os papéis políticos
desses indivíduos.
O posicionamento de Lindolfo acerca da
eleição de Juscelino Kubitschek em 1955, trazido em forma de pergunta, é ainda
uma incógnita, de certa forma, pois Hill não teve apenas seus direitos
políticos cassados, mas também muitos documentos que revelariam mais de seus
posicionamentos e a ação política foram ou destruídos ou escondidos, o que
dificulta muito uma funda investigação de seu papel e posições no partido e
fora dele.
Em síntese, o encontro se fez de grande
importância para a abertura de uma discussão, mas, principalmente, para a
implantação de uma pesquisa mais aprofundada acerca da personagem central do
debate. Ademais, como afirmado por Ricardo Marinho, ainda há muito a ser
descoberto sobre Lindolfo Hill, sobre sua trajetória e posicionamentos, assim
como de outros quadros pecebistas. Ainda há, infelizmente, muitas limitações de
informações devido, sobretudo, à cassação supracitada, dificultando um total
entendimento dessa tão importante figura para o PCB e para Juiz de Fora, mas
essa tarefa cabe a nós, evoé, jovens à vista.