Último
Tango em Buenos Aires
Não fique
pensando no que aconteceu,
no que não
aconteceu, senão, vai ter mil passados e nenhum futuro.
(Citação de O
Segredo dos Seus Olhos)
Por Vagner Gomes
de Souza
Sem
uso de manteiga os argentinos acordaram hoje numa aventura de atração pelo
perigoso extremismo de Javier Milei. Ensinou-nos Bernardo Bertolucci que esse
relacionamento anônimo perderá controle. Os seguidores de Macri, distantes do
que um dia foi a União Cívica Radical, muito se arrependerão diante dessa nova
versão da americanização dos pampas.
A
política na Argentina está em transe uma vez que o centro político muito pouco
se fez presente na apresentação de um programa político. E o segundo turno foi
um debate sobre o equilíbrio emocional. Mas, o que esperaremos de uma sociedade
que convive com um Coringa a procura de uma Arlequina. E temos a ideia de
liberdade dos antigos diante de uma emancipação fantabulosa.
Fantabulosos
são esses Hermanos que tem em seu território um território chamado “Fim do
Mundo” como lembrou uma vez o Papa Francisco. Fantasmas da hiperinflação e de
um kirchnerismo próximo ao abismo da renúncia de dialogar com o princípio da
Frente Democrática. Apesar de Argentina,
1985 ter feito muito barulho na mídia brasileira com seu tom de
ressentimento às avessas, lembremos que Oscar de Melhor Filme Estrangeiro os
argentinos ganharam por História Oficial
(1985) e O Segredo dos Seus Olhos
(2009). Filmes que se ampliaram para o campo democrático em momentos políticos
significativos.
Enfim,
aguardemos as possibilidades de dialogo ainda abertas como assinalou o
presidente do Chile, que sente uma reversão política das expectativas em seu
país. Já se assinala que uma Internacional de Extrema-Direita está muito bem
articulada nas redes sociais e que tem um forte apelo de mobilização na
juventude em cada país. Dos jogos em celulares passando pelos aplicativos de
sucesso e empreendimentos até chegar a militância antipolítica. Temos um
cenário muito aberto para que novos sujeitos políticos venham a emergir com
faixas etárias menores, pois a acupação política do Estado a ser desmontado é
uma possibilidade para que esteja na geração “Nem Estuda e Nem Trabalha”.
Acrescentariam o terceiro Nem (Nem Programa).
Sem
o doce de leite dos alfajores, abre-se uma nova etapa na Argentina de Sarmiento
que fez a crítica ao caudilhismo em Facundo.
Vamos acompanhar e ajudar naquilo que for comum no conjunto do Sul da América
para que não haja uma instabilidade maior nas “Terras do Sul”. Em breve novas
eleições ocorrem na Argentina para renovar parte do Congresso Nacional e tudo
dependerá das forças políticas democráticas estarem atentas aos números da
economia com a desigualdade social agravada aos efeitos da emergência climática.
Duas
Guerras tortas (Ucrânia e Faixa de Gaza) estão deixando a Democracia no mundo
sem condições de respiração. Itália foi um primeiro sinal. O Paraguai emergiu
um obscuro político que faz um discurso cheio de xenofobia contra os
brasileiros. A celebrada vitória na Colômbia gradualmente vira um pesadelo. E
teremos eleições norte-americanas em menos de 12 meses aonde Trump com inúmeros
processos não perde capital eleitoral.
No
Brasil, os especialistas em eleições nas diversas franquias que se dizem de
esquerda parecem estar de bruços para a chegada de algum Marlon Brando. Não se atenta
ao som dos Helicópetros UH-1 Huey (usados na Guerra do Vietnã) que antecipam as
rajadas das metralhadoras ao som das Walquírias. O “modus operandi” das redes
sociais deixam em germinação as sementes das heras venenosas que serão colhidas
nas eleições municipais. Não se pode fazer encontros tranquilos e defender
Frente de Esquerda nas capitais brasileiras depois do que houve na Argentina.
Não ampliamos a margem da vitória acidental de 2022. Sejamos mais cautelosos
com as movimentações pré-eleitorais diante de uma sociedade que não se
considera atendidos nas demandas mobilizadas em campanha sem debate
programático. Tem muitos ajudando a empurrar o eleitor de Centro-direita para
os braços do extremismo. Porém, temos estrategistas distantes da realidade que
esnobaram Damares, Mourão, Moro e outros nomes como viáveis eleitoralmente na disputa ao
Senado.
A realidade foi outra. Não há autocrítica
sobre as eleições ao parlamento pois fazem uma métrica colorista ou de gênero.
Na verdade, como o Aipim de Santa Cruz e outros lugares a mandioca cresce para
baixo junto com os defensores da Frente de Esquerda. Assim que o som do samba
tiver atravessado a Avenida e os blocos de rua, teremos o fim dos efeitos da
fortuna. A ausência de um Partido Republicano e Democrático se faz sentir.
Então, a serenidade se faz necessária para evitar o efeito Orloff.
Um comentário:
Estamos vivendo na política uma questão psicológica, não política.
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