domingo, 12 de março de 2023

BOLETIM BRASÍLIA CONECTION - BBC 008 - QUARESMA: AJUSTES NECESSÁRIOS NA FRENTE DEMOCRÁTICA

Acertos e provações

 

Ricardo José de Azevedo Marinho[1]

 

O Carnaval passado não foi muito favorável para leitura e reflexão, pelo menos para os governos. As chuvas, ou melhor, a negligência com elas têm sido vorazes, terríveis e destrutivas, uma grande catástrofe das que vem acontecendo cada vez mais e não foi diferente há pouco.

Alguns feriados carnavalescos foram suspensos. Alguns sopraram a ideia de que tinham de ser adiados como fez uma cidade da região metropolitana carioca. De fato, o Carnaval que esteve desaparecido com a pandemia e sempre costuma estar no radar das altas responsabilidades governamentais.

O governo Lula e Alckmin fez bem em ter suspendido as suas férias momescas por ocasião do desastre do litoral paulista, e de imediato ofereceu a ação republicana responsável e foi apreciada pelos cidadãos tal como ocorrerá com a emergência yanomami.

Parece que o pior já passou e o país, e como nas ocasiões anteriores, vem dando o melhor de si.

Os bombeiros em primeiro lugar, as Forças Armadas e os Policiais, autarquias e funcionários públicos, trabalhadores, vizinhos e cidadãos apoiados pela ajuda de todas e todos mostrou que o país permanece a ter capacidade de resiliência diante das adversidades e uma generosidade de espírito que nos fez muita falta à bem pouco tempo.

É claro que a prevenção está longe de ser como deve, também é claro que as causas das chuvas não se enquadram apenas como fenômenos naturais. No antropoceno existe um percentual considerável da participação das humanidades, seja por motivos culposos (por leniência) ou dolosos. Ambos são sérios e não  devemos ignorá-los. Na ausência de uma Autoridade Climática (e que talvez nunca venha ou tarde a vir), os poderes constituídos tem o dever de proceder a uma investigação aprofundada e apurar a magnitude das componentes que deram causa as tragédias.

O esforço terá agora de se dirigir na reconstrução da devastação das chuvas, queimadas e desmatamentos com realismo e aplicação. O pior é fazer promessas no ar que podem se transformar em frustrações dolorosas em poucos meses. É preciso exercer a crítica, mas também ter prudência na análise do ocorrido. O Brasil não tem mostrado uma capacidade de resposta melhor à de outras experiências planetárias diante de catástrofes comparáveis.

É claro que as medidas para prevenir os riscos de desastres no país terão que ser reexaminadas à luz destas sucessivas tragédias. As medidas regulatórias devem situar a proteção dos assentamentos das humanidades nas áreas metropolitanas e turísticas, lembrando sempre que está ultima trata de uma atividade importante para a economia nacional e que é preciso aliar o bem principal de proteger as vidas com o esforço do desenvolvimento.

Liderar um país com responsabilidade é fruto de reflexão constante e não de impulsos. Como não entender que o Brasil está sob grande pressão econômica e social neste ano e nos próximos, mesmo quando a situação econômica mundial não apresentará alguma melhoria que nos ajudaria?

Como não entender que a necessária reforma tributária exigirá um esforço de acordos, mas não porque nenhuma força política tenha grande maioria? Como não inferir que essa pauta exigirá esforços claramente suprapartidários?

O que está em jogo hoje não são os vacilantes sonhos de todos os tipos, mas sim o perigo de que o país volte para o pior, que os nossos indicadores económicos e sociais estagnem ou desçam, e que a nossa convivência retorne a dureza dos últimos anos. Não é apenas um perigo do aprofundamento do declínio político, social e econômico, é também o perigo de se enraizar o declínio de nossa cultura cívica.

Não podemos nos acostumar a pensar que nosso sistema educacional seguirá sem melhorar e que as atividades culturais de qualidade continuarão diminuindo, que nossa língua será cada vez mais pobre, como se não houvesse o uso repetitivo e abusivo de rabiscos em nossas conversas e que tem sido cada vez mais curtas, com longos silêncios até nos ministérios.

Também não devêssemos pensar que é normal que reações irritadas e insultos fáceis tenham uma presença na vida cidadã e/ou se acostumar com o fato de que a leitura é uma atividade estranha para muitos jovens, quase uma raridade.

Nesse caminho, a atratividade do Brasil se abrigará apenas na sua pujante paisagem majestosa, enquanto o nosso povo persista se tornando cada vez mais ruinoso.

Claro, surge a pergunta, como reverter o curso? A resposta em sua gama de ações republicanas e democráticas é longa e complexa, mas o passo inicial não. É um esforço coletivo e plural que não faz da adversidade um muro intransponível contra os acordos básicos de cooperação que toda sociedade exige para avançar.

Trata-se de abrir-se à esperança de uma convivência de maior qualidade que evite que nosso ethos cidadão da brasilidade seja novamente invadido pela deterioração, insegurança e barbárie.

 

11 de março de 2023



[1] Presidente da CEDAE Saúde e professor do Instituto Devecchi, da Unyleya Educacional e da UniverCEDAE.

5 comentários:

Anônimo disse...

A reconstrução exige união da sociedade. Os sindicatos eram uma alavanca que movia os críticos. Precisamos voltar a exercer a cidadania. Parabéns pela reflexão.

José Bezerra de Oliveira disse...

Excelente! Recomendo a leitura!

Anônimo disse...

👏🏻👏🏻

Anônimo disse...

Por um lado você esta certo ,mas por outro, você esta coberto de razão, Parabens !

Anônimo disse...

Muito boa a análise, vamos compartilhar!!