sábado, 22 de outubro de 2022

BOLETIM ROMA CONECTION - NÚMERO 35 - ESTAMOS DE FATO NA RETA FINAL?

Sob a ameaça de Torquemada

Em memória de Lyncon Guidion

Vagner Gomes de Souza

 

Tomás de Torquemada foi um inquisidor-geral espanhol que viveu no século XV. Esteve a serviço da Igreja Católica em nome de um fanatismo que lhe qualificaria em muito a mentalidade distinta do iberismo hispânico em relação ao português. Sebastián de Olmedo o chamou de "O martelo dos hereges, a luz de Espanha, o salvador do seu país, a honra da sua ordem". Essa era a “espinha” dorsal de uma unificação sob a égide da religião como discurso de Estado. Estima-se que foi responsável por aproximadamente 2200 pessoas levadas ao suplício da fogueira.

Nesses tempos de “linchamento virtual” presentes em tantos quadrantes políticos, expor o ódio contra a afeição se tornou cada vez mais uma ameaça a Democracia no mundo. A mobilização nas redes sociais contribuiu para aceleração da individualização da sociedade numa lógica de um profundo individualismo metodológico em que muitas vezes as instáveis aproximações seriam em contextos de tentar ter algum benefício individual como se fosse um “efeito carona”.


Novos inquisidores se materializaram como vozes rudes que refletem uma sociedade fraturada e muito mais aberta aos pronunciamentos reacionários. O medo dos fantasmas de um sistema político que deixou de existir desde a queda do “Muro de Berlim” se observa muito nesse universo inquisitorial de Torquemada na sua busca identitária. Nada abala as concepções dos fanáticos como observamos nas lições sobre o fascismo (uma das múltiplas correntes do extremismo de direita) surgido no entre guerras junto com a pandemia da “Gripe Espanhola”.

Não nos estranha que o temor de que tenhamos “Casas de Banho” Unissex não tenha sido solidário no repúdio as falas e práticas infelizes sobre as jovens venezuelanas. Os olhos estariam vendados para a sensibilidade e a racionalidade numa política cada vez mais “Barroca”. O mundo do absolutismo está se tornando mais forte nesse contexto que se permite condenar a globalização ao contrário de orientar para sua republicanização. Os desafios são inúmeros, mas percebemos na leitura da fundamentação programática do bloco governista a “manipulação do medo” em relação ao novo e as mudanças.

As palavras do candidato a reeleição ressoam forte ao vaticinar na noite do dia 2 de outubro sobre os perigos de abraçar as mudanças. Todavia, desejam que se ande para trás em inúmeras conquistas sociais em relação ao poder de compra dos assalariados e aposentados/pensionistas. No país da “fila do osso” há aqueles que acreditam nos devoradores de cães acima da linha do Equador. Aqueles que desacreditaram que havia mortos nos caixões por conta da COVID-19 seriam os mesmos a acreditar numa ameaça a liberdade religiosa. Não confortaram as famílias e órfãos da COVID-19 e cinicamente dizem que defendem os valores da família. Não é somente as perdas da pandemia,  mas também a perda gradual da afeição. O mundo reacionário é movido pelo ódio e pela mentira.

A Carta Constitucional de 1988 está sob a ameaça dos visionários fechados as boas novas anunciadas na partilha do Pão. E anunciam cada vez mais novos retrocessos que vão atingir as mulheres e a juventude uma vez que há fratura em nossa Terra Prometida uma visão do paraíso. Sob ameaça de Torquemada surgem parlamentares que insinuam a inquisição de jovens universitários que seriam “taxados” como “filhos de papai”. Esse é mais um exemplo do perfil ignóbil de uma sociedade adoecida uma vez que se indultou um parlamentar condenado por atacar um dos Três Poderes (ao mesmo tempo em que mais de 19% de eleitores sufragaram, mesmo sub judice, esse candidato ao Senado enquanto que o mesmo teve aproximadamente 25% dos eleitores num bairro predominantemente evangélico na capital carioca).

Não é liberdade de expressão que está sob ameaça, mas seus limites republicanos impostos pelos marcos legais. Nesse momento a força da Cruzada Iliberal contra um Brasil muito abalado economicamente pela pandemia precisa de que a juventude dedique mais tempo de ocupação das ruas para dialogar com eleitores indecisos. A fase das Lives e dos influenciadores já passou. As ruas estão abertas para que os jovens falem para os jovens que se deixaram mobilizar pelas fake news. Os segmentos mais idosos precisam ser acolhidos pelo ânimo desses eleitores novos para que suportem a travessia de reconstrução nacional. Por fim, as mulheres seriam mais bem acolhidas pela juventude nessa dinâmica eleitoral. Aqueles que não tenham tempo nesses próximos dias que justifiquem no futuro, aos seus filhos e netos, o motivo de sua omissão. Não façam como o memorialismo sob a Alemanha Nazista registrou diversas respostas evasivas sobre atitude: “Não sabíamos de nada”.


3 comentários:

José Bezerra de Oliveira disse...

Excelente artigo! Quem acompanhou nos últimos 30 anos o crescimento dos grupos/igrejas evangélicas via a tragédia anunciada: milhões de pessoas mentalmente, economicamente, espiritualmente doentes aguardando um porta-voz pra dar voz/corpo ao ressentimento.

Anônimo disse...

Pura realidade. Estamos avisando ..

Anônimo disse...

Sensacional! Pena que lemos muito pouco, pouco sabemos da história e a nossa ignorância nós embaça a realidade. Precisamos lutar contra essa direita reacionária que tenta levar a sociedade ao obscurantismo.