JFK@gov para Lula@pres
Ítalo Calvo
(Pseudônimo de um rubronegro muito famoso)
Prezado Lula
Estava conversando com
o Roosevelt e o Vargas com a intermediação de San Tiago Dantas e eles me
contaram que você representa o último líder do movimento operário do século
passado, uma classe praticamente extinta como os camponeses. Vendo a sua
campanha e seus debates com o seu adversário fiquei rindo pensando que Nixon
era um escoteiro comparado com o que vocês criaram no Brasil, terra que ajudei
com o “Aliança para o Progresso” e ganhei como retorno um local na periferia
chamado “Vila Kennedy” com gente sofrida, mas alegre.
Eu entrei para a
História por vários motivos, uns bons, outros ruins, como o meu fraco por
mulheres e o que fazia na Casa Branca. Vi que Trump fez muito pior, segundo me
falou George Bush pai. Um dos motivos pelo qual sou lembrado é o debate que fiz
com Nixon na televisão. Ele suava, eu fiquei mais calmo. Ele não sabia usar a
televisão, eu aprendi a usar a essa máquina fazendo o papel de bom-moço. O
programa dele era melhor que o meu, mas queriam “comprar” um produto e não,
ouvi-lo. Nixon e eu rimos disso outro dia num pôquer. Ele perdeu porque eu sei
blefar melhor. Minhas sugestões para essa reta final:
- Esqueça o voto evangélico. Não use essa expressão. Eu fui o único católico que presidiu os EUA e levei muita pedrada e nunca precisei fazer um pedido para qualquer outra religião. Na minha época já existia líder religioso picareta que depois entrou para a televisão. Eu incluí os negros, os latinos furiosos com Fidel. Acenei para os jovens. Fale para os jovens. Vi um rapaz fumando algo esquisito num programa e você falava sobre o que fará pelos jovens na geração 4.0. Foi algo positivo. Fale para os pobres. E diga algo legal: chame os evangélicos de Protestantes. Lembre que eles começaram protestando, Lutero era um revolucionário. Dica do Luther King que foi um ex-presidiário, como o Mandela.
- Os jovens têm
hormônios em ebulição como eu. Fale de novo que todo mundo vai namorar. Só não
diga “quem quiser”. Só namorar.
- Eu vi uma parte do
seu debate falando sobre Petrobras. Não entendi nada. Perguntei ao Lacerda, com
quem tenho boas relações e ele me disse: Lula nesse você “cirou”. Não entendi a
piada interna. Só sugiro: evite números demais. Nunca precisamos disso para
ganhar eleição nos EUA. O Dewey me falou que a garotada hoje presta atenção só
uns 5 minutos no que se fala. Menos número e mais emoção. Mas controle seu
tempo.
- Gostei da gravata.
Ela chamou a atenção. Repita. Faça a sua marca. Aposente as vermelhas. Tem uma
menina aí que já falou sobre isso. Teu povo fala sobre não ser vermelho e
esquece que o nome do país vem de brasa, vermelho. Fale mais do futuro. O JK me
disse que o slogan dele falava sobre futuro. Vargas me contou que ele sofreu
porque só falavam de passado.
- Eu não bato papo com
o Mussolini, mas meu pai tinha amizade secreta com ele por mais de dez anos.
Meu pai me disse que não adianta chamar fascista de fascista. É elogio.
Mussolini não gostava de lembrar das derrotas, como o desgaste na Etiópia e a
vergonha na II Guerra. Fale mais da pandemia. E lembre que Bolsonaro foi
expulso do exército. Patton ouviu uma frase um aliado seu e gostou: Quem nunca
foi um bom soldado, jamais será um bom comandante. Lembre que seu adversário
tem que sair expulso da presidência como saiu do Exército. Isso mexe com quem
tem o cheirinho fascista. Imagino que deva ser esquisito ter um adversário que
não é da sua praia. Tenha calma. Controle seu tempo. Ria. Roosevelt sepultou o
Lindbergh (o nosso) com temperança.
- Por último, o “sonho
americano” chegou com 100 anos de atraso. Os pobres não gostam mais de serem
chamados de empregados ou funcionários. Todos são colaboradores. E o “sonho
americano” agora é dizer que é “empreendedor”. Você teve e criou nos anos 1980
o sonho americano no sindicalismo. Não bata nisso dizendo que as pessoas são
exploradas etc. Diga que vai ajudar no sonho. Sabemos que é um pesadelo, mas as
pessoas gostam de sonhar.
Jacqueline mandou
recomendações. Disse que a anterior na sua campanha é melhor que a atual. “O
menos é mais”. Não entendi o que ela quis dizer.
Atenciosamente,
John Fitzgerald Kennedy
3 comentários:
Texto delicioso, emocionante! Compartilhando! Abraço!
Ajuda muito a refletir, não só Lula, mas os Ministros e nós mesmos, ativistas e militantes. Amei. Vou mandar para Lula.
Grata por me apresentar esse texto oportuno, bom para a reflexão da militância e de todos os Democratas.
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