A
Pílula do Doutor Caramujo
Por Hermes
Messger
Formado em
filosofia e criador de cabras.
Nas contínuas mutações
vivenciadas pela humanidade no mundo que a cada dia se constrói, observa-se um
debate no campo das realidades, assim como nos imaginários. A representação no
imaginário tem seu desenrolar impulsionado pelas redes, no campo da realidade
por sua vez acontece nos becos, nas ruas, nas vielas, usualmente em locais
insalubres e renegados. As pesquisas de intenção de voto a cada dia desenham um
cenário (cada dia mais palpável) de liderança de Lula, com possibilidade de
vitória em primeiro turno e, em havendo segundo turno, também com vitória com
margem considerável sobre o atual presidente.
Em primeiro lugar,
deve-se pontuar que os cenários na política são extremamente dinâmicos e o
presidencialismo, o patrimonialismo e os inúmeros artifícios que a “máquina”
(Leia-se poder) oferta ao presidente de turno é inegavelmente poderosa. A
dinâmica do “Centrão” segue seu curso na busca de uma maioria no Parlamento.
Potencializados pela
relação despreocupada e obscena que se viu entre o executivo e o congresso com
orçamentos secretos, emendas dos mais variados tipos e direcionamento de verbas
sem o menor rigor e/ou assombro. Segue-se a “bomba” preparada para a gestão
pública nos anos vindouros por Paulo Guedes.
Retornando ao tema
inicial, os números das pesquisas não são fruto do imaginário, pelo contrário, reflete
a realidade que se impõe ao debate, com desemprego elevado, fome, inflação
alastrante, custo de vida insuportável, redução de salários, qualidade de vida
em queda, felicidade em declínio e ansiedade e incertezas como poucas vezes
vistas e vividas.
Nessa dicotomia social
temos sempre núcleos de debate com maior ou menor grau de influência do
imaginário e da realidade, as camadas mais pobres da sociedade estão menos
suscetíveis ao abstrato, sentem a realidade em suas próprias vidas e nos
desafios cotidianos, e se não o sentem, uma singela olhadela para o lado os faz
reconhecer nos olhares que se cruzam nas comunidades.
Algumas parcelas da
sociedade, usualmente com mais poder aquisitivo (no entanto menor expressão
numérica na sociedade – visto a desigualdade vigente) se permite delirar e
migrar sua vida do real para a virtual (seria o tal metaverso?) onde se
aglutinam em formação de defesa contra o avanço do comunismo… contra a rede
mundial de banqueiros socialistas… posicionamentos diversos de
pseudo-religiosos sobre o que seria a vontade divina.
Curiosamente, até parte
considerável dos militares brasileiros imergiu em bolhas de opinião (ou uma
espécie de “Negativismo”) e vivem o mundo da imaginação, não se atendo aos seus
limites constitucionais e ignorando o quão perigoso é que forças de estado
estejam alheias a realidade e mal consigam identificar os reais inimigos (os
que atentam contra a democracia).
No debate político dessa nova era, deve-se
entender que a realidade sempre se impõe aos mais fracos, estes não tem opção
para se proteger dela, cedo ou tarde terão de enfrentá-la. Os discursos de
Bolsonaro apelam continuamente ao mundo imaginário, a realidade paralela, até
onde se observa o efeito eleitoral não é significativo para além de sua base
fiel, cabe entender qual o efeito em outros caminhos que se acredite viável
para a manutenção do poder e qual o custo disso para o país.
Cabe àqueles que
defendem a democracia, seja qual for o espectro político, sempre que desviado,
retornar a atenção do debate para o mundo real, Jair Boslonaro sempre conduzirá
o debate para o seu mundo, aonde teorias conspiratórias diversas conduzem a
vontade divina de sua reeleição, o mundo real por sua vez o deixa incomodado,
mostra os descaminhos do Brasil e que há sim escolhas para redirecionar o país
para um caminho de desenvolvimento e sustentabilidade.
Há um clássico do cinema, onde o debate é
travado pela escolha com sabedoria da pílula. Entretanto, estamos num “mar de
toalhas” e a tagarelice não falta por causa talvez da outra pílula: do Doutor
Caramujo diante da crise dos preços do Diesel do Poço do Visconde.
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