segunda-feira, 25 de abril de 2022

BOLETIM ROMA CONECTION/NÚMERO 23 - DESAFIOS PROGRAMÁTICOS (ELEIÇÕES 2022)


Sem terra prometida

 

Ricardo José de Azevedo Marinho[1]

 

Às vésperas de tomar posse na Academia Brasileira de Letras, Fernanda Montenegro ofereceu uma longa entrevista à Revista Ela. Num dado momento a entrevistadora pergunta: segundo Míriam Leitão, “Vivemos uma tragédia grega. Seis milhões de pessoas mortas no mundo por uma doença da qual o presidente do Brasil debochou. Vemos um ditador matando um povo diante de nossos olhos, E a cultura sendo tratada como se fosse coisa de marginais. É hora de ouvir dona Fernanda”.

Não é possível descrever como ela respondeu, mas está escrito que: Quando a Segunda Guerra acabou, eu tinha 15 anos. Veio a esperança da construtividade. Hoje, vejo que era um arrebatamento romântico. Mas chegamos a isso... Então, hoje a esperança, mais do que nunca, tem que ser ativa. Estamos com esse trágico governo, um presidente que faz como símbolo da sua atividade presidencial uma mão (faz o gesto de Jair Bolsonaro) que é uma arma ou o sexo de um homem. É um emblema sórdido. Agora, esse homem só está no poder porque todos os governos que o precederam, embora mais simpáticos, mais democratas, não fizeram o suficiente. Dou como exemplo as favelas. É uma herança. Por que não tiraram esse homem do poder? A carência social não deveria estar tão potente.

Este ano e os próximos e muito além, o principal desafio será gerir a pandemia de Covid-19 e as suas consequências. Para isso seria preciso responder dona Fernanda dizendo o que é suficiente e de como sair da crise, enfrentar o aumento do desemprego, as falências, como promover a recuperação económica e gerir a dívida privada e pública: estas questões serão manchetes e estarão no fulcro das questões políticas.

Apesar de toda a importância destes desafios dramatizados no curto prazo, as dificuldades que antecedem a Covid-19 continuam e muitas vezes até foram agravadas pela pandemia. É por isso que, quanto antes nos debruçarmos e analisarmos essas questões que são grandes desafios a serem enfrentados, entre tantos outros.

Responder aos desafios globais enfrentados por nossas sociedades exige novas abordagens analíticas e o surgimento de novas ideias, especialmente após a crise global da saúde.

Como são muitos os desafios, pensemos de saída em três de grande impacto: mudança demográfica e climática e desigualdade econômica. No quesito das mudanças climáticas não resta dúvida que é hora de agir. O trabalho do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) destacou o papel das nossas atividades nas mudanças climáticas e a importância de agir agora para limitar o aumento das temperaturas a pelo menos 2 graus Celsius em comparação com a era pré-industrial (antes da segunda metade do século XVIII). Com este objetivo em mente, e após a assinatura do Acordo de Paris em 2015 e a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021 (COP 26), é preciso que o Brasil estabeleça o objetivo de ser neutra em carbono até 2050. Se nos comprometermos hoje com essa política e estabelecer metas claras e credíveis, o Brasil pode vir a recuperar seu papel de liderança na ação climática internacional. Para tanto se faz necessário apresentar uma estrutura analítica e propostas para acelerar o alcance desse objetivo.

A desigualdade e insegurança econômica impõem medidas para uma economia inclusiva. Proteção social, redistribuição fiscal e social justa e eficiente. Mesmo que o Brasil esteja em uma posição melhor do que a maioria dos outros países da América Latina, para garantir que a economia beneficie o maior número possível de pessoas e seja distribuído de forma justa, o Brasil deve atuar em várias frentes e em diferentes estágios da vida das pessoas.

Por fim, enfrentar a mudança demográfica urge: envelhecimento, seguridade, saúde e imigração. Envelhecer implica encontrar um equilíbrio justo e eficiente entre os períodos de emprego (coisa que não está no horizonte) e de aposentadoria. Para isso, é necessário dotar de modernidade o sistema previdenciário, mas também apoiar os idosos nas suas atividades. Isso inclui o fortalecimento da formação profissional e a prevenção e tratamento de doenças crônicas. Para se fizer tudo isso, precisamos examinar os fatos e o seu tamanho antes de elaborar uma série de recomendações concretas.

Tudo isso e muito mais é um nó de marinheiro tanto em política como em economia e não só. 2022 deve ser a hora de se discutir como desatá-lo. Teremos que nos arriscar nessa tarefa, para ver como conseguimos afrouxar o aperto excruciante que ele exerce e, quiçá, sem esquecer o risco de deixá-lo ainda mais ajustado.

 

15 de abril de 2022



[1] Professor do Instituto Devecchi, da Unyleya Educacional e da UniverCEDAE.

5 comentários:

Wellington Lacerda disse...

Hum... A opção é clara. O ex presidente Lula GOVERNOU 8 ANOS sob essas premissas. O atual foi anti científico, anti ambientalista, anti inclusivo, misógino e mais mentiroso que Pinochio no Cio.
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#LulaNoPrimeiroTurno

Unknown disse...

O atual governo é, em outras palavras, apenas mais uma representação do quanto a educação, a informação, o conhecimento e o senso critico são importantes e necessários em nossa sociedade. Já que fomos nós(o povo) que elegemos um presidente que faz saudação a um torturador(ex-chefe do DOI-CODI) da ditadura militar Carlos Alberto Brilhante Ustra

TonyRossini disse...

Enquanto não tivermos educação de qualidade para todos, corremos o risco de eleger outros presidentes como o atual.

Pablo De Las Torres disse...

Qual a política para idosos nos 8 anos? Quem fez a reforma da previdência foi ele! Menos messianismo e mais proposições Wellington!

Anônimo disse...

Dona Fernanda, vive em sua bolha privilegiada e nao notou os avancos que o país teve nos governos do Presidente Lila, ele botou o povo para comer, estudar, nissa auto estima cresceu, foi um salto de qualidade de vida para todos, embora sigamos tendo muitos problemas, agora de forma bem mais grave.