De
Secretário por um dia
Por João Sem
Regras
Numa noite distante
estava eu num retiro na minha distante casa de campo. Recebi um telefonema de
um antropólogo que não tinha ido para a Amazônia com teria sugerido um
Ex-presidente para que considerasse uma possibilidade de alianças eleitorais.
Nem mais me lembrava de como seria o Rio de Janeiro após uma semana distante.
Ele estava muito jovial, pois teria visto uma possibilidade de mudança no
cenário eleitoral. Estávamos em tempos de eleições e sempre gostavam de ouvir
minhas opiniões para seguir caminho contrário.
Tempos de curiosidades
e ternura para se falar ao telefone. Mas eram dias de operações da Justiça,
Ministério Público, Polícia Civil e tudo que houver direito. Tão esperançado!
Meu amigo pensou que os números eleitorais seriam somente a soma das intenções
de voto em pesquisas feitas por telefone. Tinham esquecido que um Ex-Juiz,
agora em desgraça nas linhas dos Pasquins Liberais, saiu do quase anonimato
para a glória por causa dos grupos de Zap! Fingi muito interesse pelos
argumentos, mas estava deveras cansado para meditar sobre a situação.
Numa semana agitada
pelas operações de “limpeza da política” eu muito temia que aquilo tudo pudesse
gerar uma monstruosidade. Ninguém parece ter lido os ensinamentos do autor de Liberalismo e Sindicato no Brasil que
brincava com o a cidade do Homem Morcego. Uma pandemia teria surgido por causa
de um morcego, mas a doença carioca já tinha muitos anos. Minha esposa olhava
para mim com expressão de ansiedade. Sempre temia que eu descesse para a
Capital como um “coronel de Esquerda” típico de alguns seletos parlamentares.
Todavia, estou mais para um peão nesse tabuleiro vazio de programas.
Eu poderia estar
saboreando um iogurte que por ter a marca em diminutivo poderia parecer um
apelido em tempos da Universidade. Girava minha mente. E minha amorosa
companheira de passeios, cada vez mais interrogativa. Então ouço a frase ao
telefone.
- O pior – falava meu
ilustre amigo e articulador político – é que ainda não achei secretário.
- Não? Mas secretário
de que?
- Secretário para o
Governo de Salvação do Rio de Janeiro.
- Ainda nem começou a
campanha. Como pode pensar nisso?
- Ah! Precisamos
mostrar que estamos capacitados para assumir esse barco sem “Capitão”.
- “Capitão”!?! Esse tem...
Mas está no outro lado do navio. Muito bem à extrema direita.
Risos de meu
interlocutor. Ele muito estava animado com a situação. Achava que abria uma
janela de oportunidades numa cidade que majoritariamente teria votado num
reacionário dois anos anteriores. Fui ouvindo os argumentos pensando nas
conversas que eu tinha num fim de tarde com os camponeses da cidade. Até que um
grito me alertou para voltar a realidade.
- Tenho uma brilhante
ideia... Quer você conversar com o nosso Deputado?
Não sei o que lhe
retruquei.
- Você tem perfil de “frentista”
– continuou ele -, não precisa estar na cota das forças políticas. Você poderia
ser um bom Secretário Municipal.
Minha alma saiu de
minha matéria terrena muito mais explicitamente como estou hoje. Pensei no
perigoso devaneio dessa proposta num momento de tamanha delicadeza para o Rio
de Janeiro. Encarei a situação fixamente. Respirei aquele ar serrano, e não
tive ânimo para dizer um “não”. Até porque nada se concretizaria nas próximas
horas diante das pouca capacidade de termos notícias animadoras da cidade
maravilhosa. Perderia tempo em perguntar sobra a formulação do programa ou se
estavam levando em consideração os impactos de quase uma década da pandemia.
Muito menos teríamos um orçamento flexível e uma hegemonia fiscalista na
imprensa me assustava. Na verdade, desconfiava que de um “nada” na política um
nadador poderia acabar surfando na “antipolítica” ou que por “WO” os fantasmas
dos praieiros de 1848 rondariam aquele pleito. Mas fui premiado por uma
pergunta.
- Você terminou seu
Doutorado?
- Não. – foi minha
resposta.
- Puxa! Agora ficou
difícil ganharmos algo. Estávamos que essa eleição no “papo”.
De fato, fui Secretário
nem por um dia, mas por algumas horas. E a Esquerda Carioca perdeu por minha
culpa.
7 comentários:
Excelente texto.
Parabéns excelente texto.
PERFEITO
Perfeito texto!!!
Sinceramente incrível o que esse texto realça
Maravilha. O cenário é a metade do século 19, mas os personagens e o enredo estão no futuro, nas primeiras décadas do Século 21. Parabéns!!!
Rapaz. Passou um filme na minha frente essa narração. Parabéns
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