terça-feira, 12 de maio de 2020

A POLÍTICA FORA DA QUARENTENA - NÚMERO 7



A Fortaleza Narrativa de Bolsonaro

Dedicado à memória de Flávio Migliaccio
Por Vagner Gomes de Souza

Há dois meses muitos Governadores e Prefeitos adotaram medidas de distanciamento social para reduzir o impacto da pandemia do COVID19 no sistema público de saúde. O temor de um colapso generalizado da saúde sensibilizou muitos brasileiros naquilo que poderia representar um momento de unidade nacional. Contudo, já destoando com o então Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, a Presidência da República começou uma gradual narrativa de minimizar a situação da crise de saúde diante do perigo de um caos econômico social a ser gerado pela paralisação da economia.
Muitos ingênuos analistas que acreditaram num Presidente mais próximo da “ética da responsabilidade” no decorrer de um mandato presidencial ao contrário do Deputado de Extrema-direita de uma “ética da convicção” se viram decepcionados, pois não teriam ainda percebido que a “alma” da gestão de Bolsonaro é a política ultraliberal do Ministro da Economia Paulo Guedes. O silêncio do Ex-ministro Sergio Moro relativas aos Decretos dos Governadores e Prefeitos sugere que a fratura do núcleo governista ocorreu nesse processo em que o mandatário federal faz a escolha de uma política econômica em nome dos “empresários da morte” que marcharam em direção a uma constrangedora reunião com o Presidente do STF.
A crise da Pandemia seria acompanhada pelo aprofundamento da crise econômica (não esqueçam que o PIB de 2019 foi menor que o de 2018 mesmo com as liberações do FGTS). Ninguém poderia contar com a opção de um Presidente “cruzadista” medieval. Um cavaleiro que vestisse a “armadura” de uma narrativa de defender empregos sem nunca convocar a sociedade para um “pacto social” em favor da ampliação do investimento público no pós-pandemia. Muito pelo contrário, a gestão do Ministério da Economia foi “covarde” (na falta de um termo mais acadêmico) ao propor um auxílio emergencial no valor de R$ 200 (a ampliação para as faixas de 600 e 1200 foram resultados da atuação do Congresso Nacional que emergiu como uma instituição relevante apesar da baixa qualidade de muitos de seus integrantes).
 


Além disso, o Ministro da Economia se preocupou com insinuações de um novo “funcionário público” marajá com a geladeira lotada de alimentos sem dar alternativas para que os Governadores e Prefeitos façam uma gestão da crise com maior folga orçamentária. Enquanto isso aumentava o desemprego e o Governo Federal (com certeza com orientação do Ministro Ultraliberal) encaminhou a MP da redução da jornada de trabalho com redução salarial e não criou uma linha de crédito em condições de beneficiar os micros, pequenos e médios empresários. Um profundo silêncio sobre a eminência da precarização do mercado de trabalho à medida que a narrativa continuava na “tecla” da defesa da economia. Uma economia que já estava muito desigual não se pode defender. Deveria começar a adoção de uma nova política econômica o que implicaria numa outra “alma” para governar.

 O ultraliberalismo de Paulo Guedes não se sente maculado com as políticas de ampliação de assistência social uma vez que elas contribuem para a desorganização da classe trabalhadora. A política econômica ultraliberal não tolera é o investimento público que organize a expansão econômica menos dependente do sistema financeiro. Portanto, os analistas de plantão da política nacional cometem um equívoco ao avaliarem que Paulo Guedes caia por qualquer ampliação do chamado “assistencialismo”. Muito pelo contrário. Essa seria a linha de argumentação para aprofundar as chamadas reformas econômicas. Nesse sentido, a ascensão dos grupos políticos do “Centrão” não seria uma contradição no quadro da política federal. De onde surgiu o Senhor Presidente? Quem o levou para a boa prática de frequentar os templos religiosos como “burgos” eleitorais? Quem é Onix Lorenzoni? Aliás, o “Centrão” tem seu DNA também na gestão do “malufismo” em plena Ditadura Militar muitas vezes apresentada como refratária as práticas da corrupção.


A fortaleza narrativa do Jair Messias Bolsonaro segue mobilizando a grande cavalaria medieval da elite econômica dos ultraricos com apoio de uma ampla margem de “escudeiros” à margem das relações sociais de produção por causa do “mito”, que uma parcela de intelectuais de esquerda teria vendido para um segmento liberal mais progressista, da chamada “nova classe média”. De fato, emergiu uma “ralé social” ressentida em diversos aspectos (incluindo o psicossexual) que se alimentou na desqualificação da política e de uma postura de desmoronamento da muralha do “centrismo político democrático”. A crítica ao “presidencialismo de coalizão” nasceu na academia que hoje é tachada de “comunista” pelo bolsonarismo ideologizado. Diante disso, o caminho a se construir é para que haja uma repactuação das forças de esquerda com o campo do “centro político” já na apresentação de alternativas para as classes populares nesse grave crise que enfrentamos.

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